Capítulo 88: Fúria das chamas
Embora relutante, Fred acabou aceitando ir com aquele homem, aparentemente um mistério a ser desvendado. Ainda assim, algumas vezes, dando um sorriso manhoso enquanto o seguia de costas, tentando realizar suas investidas que redundavam em fracassos sucessivos.
No fim, suas unhas acabavam por encontrar uma espécie de parede invisível e caíam no chão. Outras vezes, ele mesmo acabava ficando paralisado, se perguntando o porquê daquilo. Suas dúvidas não paravam de crescer, assim como o seu desejo de colocar aquele homem aos seus pés.
Adentrando aos corredores da escola a leste de Arhmanica, os ouvidos do Fred se contorciam de irritação pelos elogios que ouvia por parte das estudantes, que suspiravam de admiração com a mão contra o peito, por aquele homem considerado o auge da beleza e requinte naquela escola.
Oceano, usando da sua gentileza, acenava para algumas garotas enquanto lançava um sorriso que as fazia se derreter, algumas até mesmo cessando os comentários que teciam a respeito daquele brutamonte que o seguia por trás, se envolvendo em seus devaneios.
Fim dos passos, agora eles estavam contra a porta daquilo que era a sala daquele rapaz, um lugar a qual ele não queria mais ver hoje, mas, como sua curiosidade quanto àquele homem era tamanha, teve que engolir seu desgosto e entrar com ele, reunindo olhares de espanto e admiração.
— Nossa, ele conseguiu mesmo…
Era o que se murmurava, que Oceano havia conseguido domar a criatura que os professores tanto tinham dificuldade para o fazer.
— Muito bem, Fred, não é? Sente-se no seu lugar.
— Não precisa me dizer, eu sei.
Ranzinza, ele atravessou a fileira para o fundo enquanto lançava sua cara mal-humorada para seus colegas que ousavam o olhar. Apenas uma não se deixava abater por tal selvageria.
Sua colega de cabelos rosas e olhos violetas, que se sentara ao seu lado, compartilhando o fundo da sala.
— Tá olhando o quê?!
— Estou apreciando a aberração trazida do zoológico. Não posso?
— O quê?!
— Não queira passar vergonha. — Quando os olhos da Frida brilharam, Fred virou o rosto, porque sabia muito bem o que iria acontecer caso continuasse batendo de frente com aquela baixinha, já que também era contra seus princípios bater em mulher, ele só se contentava em as ameaçar e se isso não resultasse, só podia ignorar e ficar no seu cantinho.
— Bem, pessoal, ou melhor, Fred… Eu serei uma espécie de professor substituto da disciplina de magia, já que o vosso se encontra enfermo.
Fred nem sabia disso. Estava há dias sem comparecer às aulas. Ademais, a pergunta que não queria calar era: por que um nobre rico viraria um professor de uma escola básica como aquela?
Oceano disse que fazia isso por hobbie e por ter tempo livre, mas a profunda verdade era que sua mãe, indo contra seu marido, propôs essa ideia ao diretor da escola, que era seu irmão. Seu filho não havia passado por uma escola de magia, tudo quanto aprendeu e treinou foi com tutores e especialistas pessoais.
Então, sua mãe viu aquela oportunidade de ouro, para que seu filho, agora solitário e sem amigos, conseguisse se envolver em um ambiente estudantil, algo que ela sempre desejou.
— Dito isso, vocês já estudaram sobre magia básica?
Todos os estudantes discordaram, meneando a cabeça e, de princípio, Oceano estranhou, mas quando pegou o plano de estudos que havia lhe sido dado, confirmou que realmente aquilo não fazia parte dos planos de estudos. Isso porque magia básica era algo desvalorizado e possuía pouco valor em relação às magias especiais, então, na sua óptica, não era crucial que aprendessem. Quem, por amor à magia, quisesse aprender, teria que o fazer fora da instituição.
— Não está nos planos. — Oceano deixou o documento na mesa e lançou seus olhos sobre eles. — Mas vou dar uma aula teórica para vocês sobre isso, porque acho essencial. De resto, vocês podem aprender sozinhos, quital?
— Quem é que quer saber disso?! — Fred levantou-se e ativou sua magia de unhas, as mantendo suspensas no ar. — Vamos batalhar aqui e agora!
— Eu sabia que o professor Oceano não tinha que ir atrás dele…
— É, esse louco.
Esses e entre outros murmúrios pareciam flechas cravadas contra o corpo do Fred. Então, ele direcionou seus olhos por toda a sala enquanto subia por cima da carteira.
— Algum problema comigo? Vamos, venham, se vocês são homens!
Os homens da sala franziram o cenho, tentando revidar, mas oceano levantou o braço e emitiu um basta, rumando em direção ao estudante rebelde. Chegando lá, eles trocaram olhares severos.
— Não deveria chegar perto de mim… Até mesmo você tendo isso…
Quando Oceano estalou o dedo, Fred permaneceu imóvel como uma estátua, sem conseguir se mover, o que provocou risadas e admiração das meninas, que ficaram fascinadas.
— Vai ficar assim até o fim da aula.
Com essas palavras, Fred deu um grande grito de indignação, que incomodou os ouvidos de quem ouvia: — Maldito!!!
Mais tarde, Frida amarrou sua boca com um pano e um profundo silêncio passou a reinar naquela sala de aula, enquanto o tão aclamado professor Oceano iniciava sua explanação sobre magia básica.
Segundo Oceano: magia básica era magia da mana. E, depois do conceito, explicou sua usabilidade histórica e culminou dizendo que para extrair magia básica na sua profundidade era preciso separar a mana da magia especial e isso apenas era conseguido com uma espécie de interação íntima entre o usuário, sua mana e magia, ao ponto de fazer uma separação ou desvio da mana.
Porque mana era um combustível, então o usuário precisava direcionar o combustível para fora do corpo e usá-lo e isso só se conseguia com uma relação íntima consigo mesmo, exigindo algumas vezes passar dias em jejum e longe do mundo como um monge.
Mas, salvo exceções, que raramente se falavam. Aqueles que não tinham magia alguma, para esses, não era necessário estabelecer nenhuma relação íntima, pois já nasciam com tal relação. A esses, era preciso apenas treinar a extração e transformação da mana em energia e partículas com força suficiente para travar possíveis batalhas.
Quando abriu os olhos, Fred percebeu finalmente o que deveria fazer. Com o fato de ter sua magia restrita, ele havia automaticamente estabelecido uma relação íntima com sua mana e agora precisava apenas avançar para o passo da transformação e extração de energia e isso, segundo o que lembrava da explicação do oceano, não exigia apenas esforço físico, mas uma mente calma e sobretudo a confiança de que sim, o usuário era capaz de usar magia básica.
Aliado a isso, pensou no processo em que fazia para extrair suas unhas das mãos e decidiu tentar isso como forma de extrair sua magia básica e a transformar, tudo isso com uma mente calma, recorrendo à memória de seus amigos, lhe dando incentivo durante seus treinamentos.
Com o rosto calmo, Fred podia sentir uma energia percorrer seu corpo, mas em direção às saídas dos seus membros, mãos e pernas, enquanto era carregado e prestes a ser crivado de ossos.
— Aaaaaah! — Com esse grito, Fred sentiu seu corpo sendo fortificado pela mana que saiu e rodeou seu corpo, uma energia que borbulhava em partículas. Esticando os braços para os lados, quebrou parte dos ossos e conseguiu se desprender daquela boca, pousando no chão com pujança.
— Quem diria… — Ele flexionou as mãos enquanto sorria, fazendo uma auto inspeção do seu corpo. Depois, lançando seus olhos contra os dinossauros ósseos, fez surgir uma esfera alaranjada em sua mão, que brilhava como fogo. — Que eu conseguiria despertar magia básica. — Deu um sorriso triunfante, enquanto contemplava a aproximação das criaturas. — Agora vocês estão ferrados comigo. Agora vocês serão extintos!!
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