Capítulo 92: Duelo de Sobrevivência
Região da Savana
Mulher das cavernas não havia encontrado hora melhor para chegar, no entanto, ainda preferia que ela tivesse chegado mais tarde, ou melhor, que fossemos nós a ir ao seu encontro. Frida foi ágil e impôs suas duas mãos sobre minhas costas, transferindo toda sua energia para o meu corpo. Pude sentir a mana fluir pelas artérias do meu corpo como um formigueiro.
— Grrrrr! — Ela nos saudou com um rugido, aliado ao rosnar de seus animais, que jogava um vento imbuído em saliva contra nossas faces.
— Ei, calma aí… — Agora que me sentia forte, mudei meu olhar, fazendo um olhar ameaçador e feroz. Quem sabe assim, ela pedisse clemência… Bem, acho que era pedir demais.
Ao contrário, ela estava tão animada que adentrou a caverna, se encurvando um pouco enquanto apontava o cajado.
— Se quiserem lutar, é melhor que não seja aqui… — Frida alertou, provavelmente temerosa da caverna romper e os pedregulhos caírem sobre nós. Bem, ela tinha razão. Por isso… — Toma! — Ao arrastar meu punho, carreguei comigo uma pressão de vento que não só jogou os cabelos da moça para trás, mas ela e seus animais.
Depois disso, revirei os olhos para Frida.
— Fique aqui.
— Eu não tenho como sair… Toda minha mana agora está na sua responsabilidade. Cuide dela.
— É… — Dei um sorriso tenso enquanto ela se jogava ao chão, permanecendo deitada enquanto largava os braços a deveria. Só tinha um probleminha nisso tudo. Por possuir deficiência em mana, minha mana não demorava a se esgotar. Se o uso de um usuário normal era de 2x, o meu era de 4x, ou seja, eu consumia muito e produzia pouco, isso era deficiência de mana.
Com isso, cada punho, cada golpe, tinha que ser necessário. Por isso, fiz um zás, colocando os meus pés para trabalhar, com os punhos cerrados. Avistando a luz do dia, vi a mulher das cavernas e seus bichinhos se recompondo após embaterem contra um dos pedregulhos a metros, um pouco à esquerda da caverna.
— Mim gostar disso!!!
Ela deu um sorriso enquanto rugia.
— Homem agora ser homem! Mim gostar disso!
Ela parecia eufórica, as bochechas rosadas, pequenos suspiros, e o punho agarrado ao cajado. Acabou estendendo seu cajado para que seus animais não fizessem nada, que aquela luta era sua, uma batalha que determinaria se eu era digno de ficar com ela, embora eu não quisesse ficar com ela.
Em um instante, ela havia deixado aquele espaço, aparecendo bem perto de mim com o cajado prestes a me dar um tapa. Só um pouquinho, ela havia sido mais rápida que os meus olhos… No entanto, ainda assim, pude elevar o punho à face, me protegendo daquela investida e algo inusitado aconteceu assim que meu punho e o cajado entraram em contato. O cajado dela quebrou-se na ponta e uma pressão abismal foi capaz de abrir rachaduras, que culminaram na destruição de um rochedo bem volumoso na lateral.
Fiquei impressionado. De fato, essa não era a minha força normal… O que me levou à hipótese de que transferência de mana podia também estar associada a passagem de status.
Mulher das cavernas, arregalou os olhos e abriu um sorriso largo e repleto de dentes, demonstrando um espanto mesclado com admiração.
Antes que ela pudesse fazer qualquer coisa, direcionei meu pontapé contra sua cintura, arremessando-a milhares de metros enquanto o vento fazia um barulho semelhante aos aviões sônicos. Ela voou com seu cajado até embater em um pedregulho bem distante, fazendo com que o mesmo fosse completamente destruído.
Soltei um assobio enquanto colocava a mão contra as pálpebras, avistando uma nuvem de poeira.
Depois cerrei meus punhos.
— Se houve transferência de status, isso significa que a mana da Frida é muito forte e que, se ela fosse voltada ao combate, muito provavelmente estaria lutando bem melhor e mais tempo que eu… Incrível.
Os animais, preocupados com sua dona, foram ao seu encontro a passos largos, no entanto, no meio do caminho… Foram derrubados com forte pressão, que chegou a se abater contra o meu rosto, um vento tão ruidoso que facilmente poderia me deixar surdo e que apalpava as minhas vestes, as rasgando nas partes dos membros e do peito, um pouco abaixo.
Era ela…
Tão rápida… Só me deparei com o seu soco contra o meu rosto. Nem dava tempo para desviar, então simplesmente tive que aceitar aquele golpe tão doloroso que me fez voar, meu corpo fazendo o inimaginável, transpassado um pedregulho. Normalmente, ele estaria destruído, mas estava apenas com dores bem fortes.
Enquanto continuava voando, me senti como se eu tivesse ficado overpower… Aí, fico pensando: e se eu tivesse esse poder, o quanto eu poderia ter feito para facilitar os meus caminhos neste mundo.
Mas enfim, agora não era a altura para pensar nisso. Precisava arranjar um jeito de travar, porque a mulher das cavernas estava ao meu alcance, agora sem seu cajado, mas com dois belos punhos para encher meu corpo de surra. Sério, como ela era tão rápida… Nem esperou eu aterrissar e já meteu um soco no meu estômago, que me fez cuspir uma grande quantidade de saliva enquanto continuava voando.
Depois, pegou minha gola e me arremessou ao alto, desferindo uma onda consecutiva de socos contra o meu corpo. Seus punhos nem precisavam me tocar, a pressão já fazia isso… Minhas roupas estavam sendo estraçalhadas, expondo minha pele.
Enquanto sentia a dor agonizando em meu corpo, num momento em que os meus olhos contemplavam as nuvens e o sol se escondendo no meio delas, cheguei à conclusão de que, na verdade, por mais que eu tivesse minha mana, jamais conseguiria bater de frente com essa mulher, porque mesmo agora… Lágrimas deslizavam dos meus olhos, sendo levadas pelo vento.
Ainda assim, fiz de tudo para suprimir essa dor enquanto cerrava os punhos, lembrando do sacrifício que Frida havia feito. Havia me confiado toda sua mana, não para que fizesse uma performance tão patética quanto essa, mas para que eu derrotasse essa mulher.
— Aaaaaah!!
Entrelacei minhas mãos e forcei meu corpo a descer. Aliado ao limite que eu havia alcançado, lancei um golpe contra sua cabeça, a pressão a derrubando para baixo.
Rapidamente, ela desceu e uma nuvem de poeira acabou se formando no lugar onde ouvi uma explosão de areia após sua colisão.
Eu também acabei descendo na mesma rota, pousando numa superfície macia e trincada. Só após olhar com firmeza em meio à névoa, me dei conta de que estava em cima dela, bem próximo ao seu rosto cheio de arranhões.
Trocamos olhares.
Mas eu não esperava que ela fosse ser tão baixo nível. Entrelaçou seus dois pés ao meu pescoço e depois me arremessou, me tirando de cima dela. Na falta de controle, acabei caindo, rolando sobre o chão.
E enquanto tentava me recompor, ela apareceu e colocou um dos seus pés sobre meu traseiro, inutilizando os meus esforços de tentar levantar.
— Mim gostar de você! Mas você não ser suficiente forte!
“ Menina, se isso não é ser forte para você, então desiste logo. Não existe homem que aguente. ”
Oceano era forte, sim, mas eu estava duvidando de que ele pudesse dar conta dessa mulher.
Mas tirando isso, eu realmente estava chegando ao meu limite, estava me sentindo mais fraco em comparação quando recebi esse poder da Frida.
Por isso…
— Aaaaaah!
Precisava liberar o meu último esforço para a derrotar de uma vez por todas.
— Queime minha mana!!!
Era assim que os personagens faziam quando se levantavam com pujança após tomar uma surra para dar a volta e derrotar o vilão. Consegui me levantar, expulsando-a de cima do meu traseiro.
Trocamos olhares enquanto ele cerrava os punhos, organizando sua postura ofensiva.
— Eu vou acabar com isso no próximo soco!
— Por favor, você me vencer!
Ela deu um sorriso caloroso.
— Ah, pode ter certeza. Mim vencer você.
“ Mas não para casar.”
Assim que uma rajada de poeira atravessou a separação que havia entre nós, eu mal vi ela se aproximando… Foi tão rápido, quando percebi, o soco dela havia invadido o meu abdômen, me arremessando contra um dos pedregulhos, e ao invés de transpassar, acabei colidindo, sentindo um crack na minha pobre coluna e uma dor imensa que me fez rugir como um lobo perante uma lua vermelha.
Realmente, ficar um pouco mais fraco contra ela fazia toda a diferença. Com passos largos, ela chegou a mim e agachou, puxando meus cabelos e fazendo meus olhos encararem o dela, que pareciam bem tristes.
— Esse ser o seu fim. Homem não cumprir promessa!
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