Capítulo 97: Um Acordo sem Futuro
Assim que deixei o portal, meus olhos encontraram um lugar desértico no seu sentido mais literal. Não havia nada, senão areia e o sol que pairava no céu ausente de suas nuvens. Não importava o quanto eu girasse os meus olhos, não encontrava nada além de um horizonte desértico.
Isso estava estranho demais e muito assustador. Tentei gritar, colocando as mãos em forma de cone na boca, mas nada, a resposta era a mesma que a pergunta do eco da minha voz.
— E agora… — suspirei, me jogando no chão e depositei as mãos atrás da cabeça naquele solo seco nada confortável. — O que eu faço?
Assim que fechei os meus olhos, decidindo tirar um cochilo enquanto nada acontecia, ouvi rachaduras e estrondos bem próximos. Dei um pulo e quando olhei ao fundo, uma tempestade de poeira estava se aproximando enquanto parte do deserto começava a ser devorado, semelhante ao que havia acontecido no término da quinta fase.
— Essa agora…
Comecei a correr enquanto aquela poeira ficava mais perto, mas o pior era correr sem ter destino. O horizonte continuava se estendendo, com o adicional de nuvens que foram aparecendo, mas não para o meu bem, elas começaram a lançar pedras sobre a minha cabeça.
Foi um trabalho e tanto ter que me esquivar daquilo enquanto corria, algumas vezes retrocedendo, permitindo que a nuvem de poeira de destruição chegasse mais perto. Contudo, para a alegria dos meus olhos, achei uma corda, na verdade, cordas pôs cordas, que se estendiam a uma névoa e por baixo havia uma lama pegajosa.
A escolha era óbvia. Peguei na corda e comecei a saltar de corda em corda, deixando a nuvem de poeira que havia cessado sua investida. Agora estava concentrado no horizonte de névoa mais a frente, ainda continuando a pular como se fosse o Tarzan.
Assim que peguei a última corda, prestes a alcançar a superfície, fui puxado para o alto rapidamente e quando meus olhos atravessaram a névoa, pude ver… Havia uma parede cheia de pedras pontiagudas para me triturar.
— Só pode ser brincadeira… — Cerrei meu punho e o dirigi de imediato, destruindo aquela camada de terra. Tendo atravessado o buraco, encontrei outra superfície, que não tardou a romper-se em rachaduras, então tive que começar a correr em busca do horizonte que continuava uma névoa, escondendo seus mistérios.
Enquanto corria, de repente não senti mais os meus pés na superfície e descobri que aquele pedaço de terra havia acabado. Então cai, enquanto lançava um grito, logo avistando outra parede de pedra, que quando quebrei acabei arregalando os olhos pelo que me esperava.
Uma poça de lama. No fim, eu não consegui fugir.
Quando pousei naquela lama, comecei a afundar sem ter quem me amparasse. Ao passo que a névoa acabou se desfazendo, revelando um portal a metros de mim naquela superfície.
— Será que eu achei a saída da sexta fase?
Um sorriso preencheu os meus lábios. Se aquele portal havia aparecido para mim, isso queria dizer que eu havia ganhado na loteria. No entanto, não deixei de ficar triste por tê-lo achado sozinho. Se tivéssemos vindo todos juntos… Meneei a cabeça negativamente, e antes de pensar nisso, eu precisava sair dessa lama urgentemente se eu quisesse ver a sétima e última fase.
Com força de vontade e muito esforço — o que ansiedade não faz, não é? — eu consegui atravessar aquele lamaçal grudento e me vi na superfície todo sujo.
— Eu sou a pessoa menos indicada para ir à sétima fase… Espera? Espera? — Antes de entrar, impus minha mão no queixo. — Isso não está fácil demais? Digo, se comparado às demais fases… Ou talvez eu esteja pensando muito. Ahhhh! — Esfreguei minhas madeixas e decidi entrar de uma vez por todas. Deixaria as suposições para mais tarde, assim que descobrisse o que estava do outro lado.
— É o quê?
É, era fácil demais para ser verdade. Eu havia voltado ao mesmo lugar com muitos portais, com o diferencial de alguns estarem verdes enquanto os outros permaneciam azuis, e ah, o meu acabou desaparecendo completamente.
Não durou nem dois segundos e alguém saiu de um dos portais verdes, me deixando em prontidão.
— Jarves? Ué, eu pensei que tinha cumprido a prova… — Era Fred quem falava, todo cheio de arranhões, mas nada grave.
— Eu também pensei nisso.
— No fim voltamos para o mesmo lugar — Outra voz ressoou nos nossos ouvidos, vinda de um dos portais. Era o irmão da Frida que estava com as vestes e a espada coberta de sangue.
— Caramba! O que aconteceu com você? — questionei, espantado, ao lado do Fred, que compartilhava da mesma curiosidade.
— Fui atacado por lobos numa floresta.
— Parece que você pegou algo pesado — murmurei.
— Espera um pouco… Onde você estava? — Fred questionou, atraindo os meus olhos.
— Eu estive em uma dimensão desértica e… — Fui explicando, enquanto gesticulava as mãos, o tanto que sofri tendo que correr, ser arremessado e ser jogado aleatoriamente.
— Hum, foi bem fácil — disse Irmão da Frida e antes que eu lançasse minha indignação, ele acabou adicionando “se comparado a minha”
— Agora é tua vez, Fred — falei.
— O quê? Eu? Não foi nada especial!
Ele estava tão nervoso que suor transbordava no seu rosto.
— É, mas nós queremos saber esse nada de especial. — Encostei meu ombro no dele, e ele acabou aceitando.
— Vocês vão rir, mas foi algo semelhante à primeira fase, pior, foi muito fácil. Eu só tinha que saltar de rocha enquanto tinha um abismo abaixo.
— Pó, mas se você caísse era game over.
— De fato — Irmão da Frida concordou comigo, de braços cruzados.
— Olha, pararem de palhaçada. Eu sou um aventureiro rank B. Aquilo não é nada. Tse! — Ele estalou a língua, indignado. Dei uma leve risada, olhando-o com olhos manhosos.
— Você queria algo mais intenso? Mesmo depois de ter falado aquilo?
— É, não… Enfim, aquilo era porque eu não tinha meus poderes. Mas não falemos mais disso, vamos no focar no que realmente importa.
Ele desviou assunto, mas tinha razão. Os portais que continuavam verde nos diziam que os nossos companheiros ainda estavam ali dentro, enfrentando qualquer coisa, que poderia ser muito terrível.
Eu estava mais preocupado com o Zernen, que havia sido teletransportado em um estado inconsciente, mesmo depois de ter suas feridas curadas. E se ele não acordasse a tempo, ou ainda não tivesse mana para combater? Isso fazia meu coração palpitar sem parar.
Agora, com Theresa nem tanto, já que ela possuía o Gaia consigo e, depois de tê-lo alimentado, tinha a certeza de que ele a protegeria de todos os perigos, e mesmo que isso não acontecesse, ela estava consciente para desistir, diferente do meu companheiro.
— Será que não podemos fazer nada por eles? — Franzi os lábios e pus-me a correr para o portal que havia visto Zernen adentrar, tomando um choque que me fez retroceder, envolvendo meu corpo em um arrepio.
— Mas que droga é essa… Por que é que os portais tem que aceitar somente uma pessoa?
— Talvez porque seja a regra dessa dimensão.
— Eu sei disso! — Fred virou-se contra o irmão da Frida, indignado. — Mas isso é injusto! Isso é trapaça!
— Rei dos bandidos, por favor, eu aceito te servir, mas apenas me deixe salvar meu amigo… Ele está inconsciente e não pode nem desistir para salvar sua própria vida!
Clamei, com os braços e olhos levantados. Se fosse necessário, eu daria a ele todo o conhecimento que tinha sobre o futuro apenas para salvar os meus companheiros. Nada nesse mundo os poderia substituir, suas vidas não tinham preço algum.
[Quais garantias eu tenho de que cumprirá com sua palavra?]
— Ei, espera… — Fred me fitou com os olhos arregalados. — Não faça isso…
O ignorei, focando meus olhos no teto pedregoso.
— Minhas palavras.
[Não. Você trocará de corpo comigo quando tudo isso acabar]
— Tudo bem!
Eu teria o corpo de um cara mais velho, mas se esse era o sacrifício que eu teria que pagar para salvar os meus companheiros, então estava valendo.
— Não. Você não pode fazer isso! — Fred era contra. Irmão da Frida também, vindo a mim com o rosto franzindo: — Você foi muito precipitado! Imagina o que ele poderá fazer com a magia de ver no tempo?!
“Nada. Porque eu não tenho. Hehehe!”
Se bem que a troca de corpo por si só não era capaz de conceder uma usabilidade da magia de outrem, porque era algo mais ligado à alma. Mas com a intervenção dos gêmeos musicais, talvez fosse possível… Todavia, qualquer das coisas que ele fizesse seria um fracasso e, no fim das contas, eu acabaria recuperando o meu corpo.
— Não se preocupem com isso. Por agora, vamos focar no presente. Não adiantaria se focar nisso agora, não é?
— É… — Fred acabou aceitando.
— Bem, você está certo. Quando vencermos essa, depois pensaremos nisso.
Irmão da Frida tirou as exatas palavras da minha boca e, logo em seguida, a voz mecânica ressoou novamente naquela caverna.
[O portal já se encontra acessível. Só entrará uma pessoa]
— Eu vou! — Fred tomou a dianteira, mas eu segurei sua mão fortemente.
— Ei, como assim? Eu é que vou!
— Você é o menos indicado. Eu sou um aventureiro rank B! E os mais forte daqui!
— Doeu… — murmurei, largando seu braço. Ele se desculpou, dizendo que não havia dito aquilo para se exaltar, mas era para deixar claro de que ele tinha mais chance de combate em relação a nós dois e eu reconheci. — No entanto, você tem que me prometer que vai trazer ele de volta!
— Ah, Claro! — Após levantar o polegar, ele atravessou o portal verde e desapareceu sem levar um choque.
— E se… — Tentei a sorte, indo contra o mesmo portal, mas acabei levando um choque que me catapultou para trás.
— E agora? Vamos entrar ou esperar? — Irmão de Frida questionou, descendo os seus olhos por mim.
— Vamos esperar. Se bem, que a qualquer momento seremos arrastados, mas quero ver se chega alguém.
Eu estava preocupado também pela demora dos demais, isso só me fazia pensar que eles haviam encontrado uma dimensão bem difícil, principalmente o Oceano que tinha um grande poderio.
— Eu acho que não vai dar para a gente esperar.
Enquanto estávamos sentados, encostados contra a parede rochosa, o irmão da Frida apontou para os portais que ficavam vermelhos, com exceção dos que já estavam verdes. Com um som uivante atravessando os meus ouvidos, assim como um ímã, fomos atraídos aleatoriamente para os portais espirais, aquele vermelho intenso me provocando a sensação de que algo desagradável poderia estar vindo por aí.
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