Capítulo 99: Reflexo e… Comida?
Logo que entrou neste espaço, a primeira coisa que Meredith viu depois do portal desaparecer foi o seu reflexo, uma mulher ruiva de olhos azuis, ataviada de vestes brancas e azuis, que lembravam uma amazona enquanto segurava uma espada em mão.
Mas não parou por aí, quando arrastou seus olhos por aquela região, percebeu uma sala branca repleta de espelhos que transmitiam o seu eu. Meredith agora era alvo de admiração dela mesmo. Não importava quanto caminhava, era o que via naquela grande sala quadrada que não tinha porta de saída e de entrada.
Quando acenou para um dos espelhos, percebeu que esse não respondia. Algo estava estranho. Foi quando… Seus olhos arregalados presenciaram a mudança na coloração dos que estavam cravados no espelho, alterando para rubro.
Meredith imediatamente se distanciou, mas não o suficiente para se esquivar do laser que se abateu contra o rosto, embora, por reflexo, tenha levado o braço que carregava a espada à cara, recebendo o dano.
Quando baixou o braço, percebeu que ele estava congelado de cristais cinzentos.
— O que é isso?
Ela procurou sair dali o mais rápido possível enquanto processava aquele acontecimento, sendo, em seguida, chutada no traseiro contra outro espelho que lhe dava um sorriso malicioso.
Imediatamente se desviou, mas outro reflexo já tinha um laser preparado. Meredith, rangendo dente enquanto franzia as sobrancelhas, protagonizou sua técnica de turbilhão de cortes, que não só rebateu o laser, como fatiou aquele espelho em pedaços, se deparando com outro.
— Turbilhão de cortes!
Era assim, qualquer espelho que cruzasse seu caminho era imediatamente abatido por seus cortes, que os despedaçava em pequenos pedaços transmissores de reflexos miúdos.
Assim, Meredith, em rápida velocidade, seguiu em zigue-zague como alguns estavam dispostos e cortou os espelhos, porém se esqueceu de que com isso estava reduzindo sua mobilidade naquele espaço.
Contudo, lembrou que poderia fazer suas sandálias ficarem mais pesadas, e assim evitava que fosse perfurada em seus pés. Com um sorriso triunfante, contemplou os últimos espelhos a serem abatidos, estes estavam rente à parede.
Não pouparam esforço em lançar seus lasers a Meredith que se desviou majestosamente, alcançando o último espelho, no entanto, antes que desferisse seus cortes, foi atraída por um som que ressoava a sua atrás, levando seus olhos a contemplar as peças de espelhos se juntando em restauração ao que outrora fora destruída.
— Não vou permitir… — Quando Meredith posicionou sua espada contra o pescoço para iniciar uma investida, sentiu uma pressão atrás e, quando olhou, viu sua testa sendo atacada por um dedo que saiu do reflexo de um espelho agora recomposto.
Ela voou contra outros espelhos e, antes que tombasse no chão, ainda cheio daqueles objetos cortantes, tornou suas vestes pesadas. Assim que pousou em terra firme, próxima à parede, não demorou a se levantar, contemplando uma colônia de espelhos novamente refletindo seu rosto, no entanto, dessa vez, todos os olhos estavam vermelhos e uma expressão cheia de raiva enquanto um sorriso manhoso se contorcia em seus lábios.
Em contrapartida, Fred agora estava pendurado no tronco de uma árvore, observando aquela flora se estendendo por aquela floresta. Aquele ambiente lhe era peculiar da quinta fase. Com um sorriso, se levantou daquele tronco e pulou, assentando seus pés no chão, que misturava areia, arbustos e relvados.
— Zernen veio parar aqui mesmo? — Começou a avançar, a cada passo, investigando com os olhos.
Após atravessar algumas árvores, sentiu cheiro de lenha ardendo e, quando elevou os olhos ao céu, conseguia visualizar uma nuvem fumaça. Correu o mais rápido que pôde, enviando suas unhas de antemão para fazer vistoria e captar a presença de qualquer que fosse naquele lugar.
Sentiu um arrepio ao constatar que suas unhas haviam se destruído por um grupo.
Antes mesmo de se aproximar do local, escutou passos na mata, então procurou esconder sua presença, escalando e permanecendo entre os ramos de uma árvore robusta.
Seus olhos puderam captar monstros semelhantes a gorilas, mas que falavam.
— Eu tenho certeza de que foi aqui.
— É, acho que não tem nada mesmo. É melhor voltarmos… Ou será que não?
A fera olhou de repente para onde o Fred estava escondido, como se o estivesse avisando: eu te encontrei.
— Saí daí. — Acabou verbalizando.
— Não adianta nos enganar. — O outro colocou um dos dedos contra o nariz. — O nosso faro é o melhor.
Assim, Fred, não teve escolha se não se apresentar a eles. Priorizou o diálogo antes de partir para um ataque. Quem sabe, se cooperasse, ele conseguisse resolver essa situação pacificamente. Deu uma risada maliciosa, declarando que isso jamais aconteceria porque, se eram monstros e estavam ali, isso significava que precisavam ser derrotados.
— Aqui estou, cavalheiros!
Com um salto, apareceu diante deles enquanto levantava as mãos com um sorriso acolhedor.
— Eh, irmão… Ele é igual ao que capturamos, não é? — Este que falava era magrinho e tinha a cara de um palhaço, com seus olhos de amendoim e lábios grandes negros.
— É, mas isso só significa mais comida para a gente.
Já esse detinha um cabelo levantado como o de um galo em meio aos seus pelos.
“ Sinceramente, onde é que o rei dos bandidos apanha essas ideias? ” Com uma cara tediosa enquanto meneava a cabeça ligeiramente, Fred os encarou e tentou ser o mais pacífico possível, entrando na sua onda.
— Então, vocês querem me comer?
— Sim. Sim. — O gorila magricelo balançou a cabeça positivamente enquanto lambia os lábios com uma cara corada. — Gostamos de carne nova.
— Vocês não têm medo de que ela tenha um gosto ruim?
— Para isso temos o nosso provador — o de cabelo de galo disse, depois engrossando a voz. — Agora vamos. Siga-nos. Você será servido no almoço de amanhã.
— Tá… Só uma pergunta. — Ele levantou o dedo e eles assentiram, permitindo que falasse. — O igual a mim vai ser servido quando?
— Daqui a pouco. Creio que agora esteja sendo retirado da jaula para a fogueira.
— Então temos que nos apressar! — disse Fred, correndo enquanto os dois gorilas o mandavam parar, dizendo que não era para que fugisse. Mas Fred estava nem aí, queria salvar o seu amigo o mais rápido possível antes que virasse refeição dessas feras.
Assim que chegou ali, contemplou um espaço de areia que se delimitava em arbustos e árvores que formavam o círculo. Aliado a isso, havia uma fogueira de lenhas e algumas figuras sentadas no tronco ao redor, enquanto seu amigo era trazido amarrado de lianas por dois dos gorilas para ser assado naquela pequena assadeira formada por três paus. Dois deles seguravam o que estava horizontalmente posicionado.
— Não! Parem! — disse Fred com um tom imperativo, atraindo a atenção daqueles gorilas. Logo em seguida, chegaram os outros dois, encarregados de o capturar a suspirar ofegante enquanto seguravam seus joelhos.
— Eu disse para parar, comida!
— Quem é o chefe?! Eu quero falar com o chefe!
Um grandão, com o corpo bem-dotado de músculos definidos, com os olhos franzidos e lábios grandes como os seus subordinados, levantou-se do tronco em que estava e o observou severamente.
— Comida não fala. Comida tem que ser comida quieta.
— Ah, é? — Com um sorriso travesso, Fred fez com que muitas unhas saíssem do seu corpo e o rondeassem para o espanto daqueles animais. — Pois eu discordo. Agora, prepare-se para virar minha comida!
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