Índice de Capítulo

    Depois de algumas andanças ali e aqui, passando por corredores extensos e pisoteando os famosos pisos de mármore, finalmente chegamos às portas que davam acesso à sala do trono do rei.

    Dois soldados abriram aquela porta prateada. Nossos olhos contemplaram, à primeira vista, um longo tapete carmesim que levava ao trono onde o rei estava assentado. Seus longos cabelos loiros carregavam uma coroa dourada com pequenos diamantes adornando o redor dela. Seus olhos azuis fitavam-nos enquanto ele encostava o seu braço assente no braço do seu trono, na bochecha.

    Começamos a caminhar por aquele tapete carmesim, enquanto olhos severos eram direcionados para nós. Eram alguns dos soldados que estavam rente aos pilares enquanto seguravam uma lança em suas mãos.

    Meredith e eu encurvamos as nossas cabeças em respeito ao rei.

    — Minha sobrinha Meredith, como tem passado?

    — Bem, vossa majestade. — Levantamos nossas cabeças.

    — Isso é bom. Como vão os preparativos para o casamento com o Faisal?

    “Que tipo de resposta será que Meredith dará?”

    Olhei para ela. Seu rosto estava bem sério.

    “Espera… Por que eu estou pensando nisso, se a resposta é óbvia?”

    — Lamento informá-lo, mas não haverá mais casamento.

    “O quê?!”

    Eu pensei que ela iria inventar uma desculpa qualquer, não que diria a verdade.

    “Mas não se precipite, Jarves. Talvez a Meredith tenha algo em mente.”

    — Hã? Por que?

    O olhar daquele rei ficou mais frio. Seu punho contra a bochecha direita realçava ainda mais sua postura gélida.

    — Eu o matei.

    — O quê?

    “O quê?!”

    — O quê?

    Muitos “o quê” puderam ser ouvidos naquela sala. Os soldados ao pé dos pilares revelaram espanto e perderam a compostura, junto do seu rei, que arregalou os olhos.

    — Tem noção do que está dizendo, Meredith?

    — Tenho e estou disposta a assumir as consequências das minhas atitudes.

    — Então era esse o motivo da emergência, Meredith?! — O rei bateu o punho no braço do trono enquanto franzia o cenho. — Para me dizer que assassinou o seu noivo!

    — Não. Eu não roubaria o seu tempo com um assunto tão trivial quanto esse.

    “Meredith, você não está ajudando.”

    — Trivial?

    — Sim. O que venho tratar com o senhor tem a ver com a futura destruição do reino.

    — Hã? — O rei ergueu uma de suas sobrancelhas. Os soldados ao lado dos pilares acompanharam o espanto do seu monarca, contorcendo seus traços em uma expressão estupefata.

    — Esse reino será destruído pelas forças do exército do reino das trevas que invadiram este reino dentro de alguns meses.

    — Reino das trevas? Nunca ouvi falar.

    Porque até então isso não passava de uma lenda para o seu reino e toda a humanidade. Afinal, os heróis do passado selaram esse reino há milhares de anos até essa presente era.

    — Este homem… — Ela apontou os braços para mim. — Ele tem o poder de ver o futuro e com os seus olhos viu o destino terrível que o reino de Hengracia irá sofrer.

    — E você acha mesmo que irei acreditar nisso?

    — Perdão, meu rei. Mas o senhor precisa acreditar.

    — Deixa eu ver se eu entendi… — O rei começou a afagar sua barba dourada — Você vem para cá, diz que assassinou o seu noivo e depois diz que este rapaz que eu mal conheço viu um futuro em que Hengracia é destruída. E quer que eu acredite em suas palavras?

    — Sim, infelizmente. — Meredith balançou a cabeça positivamente.

    — Se tudo que disse é verdade, por que os deuses não me informaram?

    “Porque não existem, ué.”

    — Não acha que faz tanto tempo que os deuses abandonaram o nosso reino?

    “Para começar, eles já ajudaram em algo?”

    Comecei a rir internamente. Embora essa parte da conversa não estivesse no original, me rendeu algumas risadas.

    — Já ouvi o bastante. — O rei direcionou os seus olhos aos guardas nas laterais, perto dos pilares. — Soldados! Prendam a princesa Meredith!

    — Não… — Meredith trocava olhares com o rei enquanto eu fitava os soldados se aproximando de nós. — Por favor! Eu sei que abordei o assunto do assassinato do meu noivo de forma tão banal, mas peço que tome em relevância as minhas palavras de alerta.

    — Nos vemos no julgamento. Lá, você terá todo tempo para falar e se explicar como deve. Por enquanto, vá descansar na prisão.

    Parece que a situação fugiu um pouco do meu controle. Com os eventos mudando dessa forma abrupta, desse jeito não terei como prever o que vai acontecer.

    É… Eu realmente tomei uma decisão errada em contar sobre a destruição do reino para Meredith.

    — Não me toquem! — Meredith ordenou aos soldados, que pretendiam colocar as patas sobre ela.

    Parece que terei que intervir mais uma vez.

    — Vossa majestade, Rei Argahen Zhur Hengracia, peço humildemente que me escute!

    Encurvei o meu rosto.

    — Fale.

    Os soldados pararam. Meredith olhou para mim com os olhos esperançosos.

    “Só espero reunir palavras suficientes para não piorar ainda mais nossa situação.”

    — Veja bem… Meredith está tão nervosa e confusa que não soube escolher as palavras certas para abordar esses dois assuntos tão importantes. Então, com a vossa anuência, eu poderia explicar?

    — Prossiga.

    “Perfeito!”

    Na verdade, nada do que eu disse há pouco eram as minhas palavras, mas sim as do herói.

    Uma vez, quando a Meredith acabou ficando nervosa e confusa, fazendo uma salada de informações, o herói acabou falando essas palavras que aplanaram o mau-humor do rei.

    “Muito obrigado, herói!”

    — Tudo começou quando… — Primeiro, contei sobre mordomo assassino que tentou tirar a vida da Meredith. Depois, contei sobre a ligação entre o mordomo e a mandante do assassinato, que no caso era a finada Graziela.

    Depois disso, comecei a dramatizar mais do que devia a cena em que Meredith encontrou a Graziela e o Faisal no flagra numa casinha.

    Eu desfigurava o meu rosto em uma expressão triste para deixar o rei mais comovido.

    — Então se entendi, você usou essa sua habilidade de ver o futuro para mostrar a traição da Faisal contra minha sobrinha?

    — Isso mesmo.

    — E essa mesma habilidade de ver o futuro viu a destruição do reino de Hengracia?

    — Infelizmente.

    — E quer mesmo que eu acredite nisso?

    “De novo isso, mesmo eu tendo explicado tudo detalhado.”

    — Quero.

    Acabei soando imperativo e deve ser por esse motivo que o rei não só ordenou que prendessem a Meredith, mas também a mim.

    Ela até tentou sair em minha defesa, insistindo que o rei acreditasse nas minhas palavras e nas delas, mas de nada adiantou.

    Os soldados acabaram por usar a força para nos levar à prisão. Um deles golpeou a Meredith na nuca e a colocou em seus ombros. Enquanto isso, o outro soldado me mandava marchar com a espada apontada contra as minhas costas.

    Passamos pelos corredores e fomos levados até o calabouço real, onde ficavam confinados alguns membros da família real.

    Bem… Pelo menos ficaríamos num lugar muito confortável; com comida ao nosso dispor, diferentemente de pessoas normais…

    “Ok, parece que eu me enganei.”

    Aquela definitivamente não era a prisão dos meus sonhos, estava tudo vazio e escuro.  Com apenas uma janelinha que deixava escapar pequena luz por aquelas quatro grades.

    É, eu estava vendo o sol aos quadradinhos.

    — É sério que vocês vão nos deixar aqui?

    Um dos soldados começou a rir enquanto o outro abria a sela, afugentando alguns ratos e baratas que estavam por ali.

    — Não é nada contra você, garoto. Mas espero que, no tempo em que passarem aqui, você e a princesa deixem de ser lunáticos — dito isso, ele me conduziu para dentro da prisão enquanto o outro pousava a Meredith com leveza no chão.

    Pelo menos os soldados desse rei eram um pouquinho pacíficos. Um deles fechou a porta da cadeia e seguiu caminhando ao lado do seu companheiro, deixando um aviso no final:

    — Nem tentem fugir, a segurança aqui é forte. Temos ordens para ferir qualquer um que tente deixar essa prisão.

    Aquilo me deu medo.

    Com o corpo contra aquela parede fria, encostei a cabeça da Meredith nas minhas coxas, passando a minha mão sobre os seus cabelos escarlates.

    “Parece que estamos ferrados.”

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