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    Theresa carregava em sua mão uns papéis dourados que ilustravam os nossos rostos, muito mal desenhados. Sério! Eu tinha o rosto de um senhor de meia-idade e com alguns fios de cabelos de baixo de queixo, coisa que eu não tinha.

    — Aí sim! — Zernen sorriu, ele era quem mais estava gostando disso tudo. — Sempre quis ter um retrato só meu e olha só!

    — Eles foram tão rápido… — Meredith olhava para aquele papel que continha o seu rosto. Contudo, as nossas aparências exageradas cravadas naqueles papéis não eram o maior dos problemas, mas sim, o que estava escrito como legenda.

    Eu valia dez mil moedas de ouro. Zernen valia mil moedas de ouro e, Meredith apenas cem moedas de ouro.

    ” Espera aí…”

    Algo de errado não estava certo.

    — Por que eu sou o mais caro?

    — Não sei, mas se eu te entregar — Os olhos verdes do Zernen começaram a brilhar intensamente — eu vou lucrar bastante! Vamos, Jarves, faça esse sacrifício por nós!

    — Quê?

    Esse garoto endoidou só pode.

    — Até que eu não acho uma má ideia.

    — Você também? — Olhei para Theresa.

    — Eu tenho falta de frascos de vidros para colocar as minhas poções.

    — Theresa, onde você encontrou isso? — questionou Meredith, enquanto segurava o papel que ilustrava seu rosto.

    — Ah, um cliente que trouxe. Ele disse que esses papéis estão sendo espalhados nas guildas de aventureiros como missão principal deles. A missão foi classificada ao nível de emergência B.

    — Nível B?

    Níveis de emergências não tinham diferença com níveis de rank de cada aventureiro. Do mesmo jeito que o nível de aventureiro mais forte era o S, o nível de emergência mais alto era o S.

    Só mudava uma coisinha pequena. Os níveis de emergência eram classificados apenas para os primeiros três ranks mais fortes, o resto abaixo eram níveis medianos e baixos.

    — Com tantos problemas acontecendo no mundo, eles preferem gastar tempo com um grupinho de três pessoas?

    — Tenho certeza que isso tem o dedo da Istar — afirmou Meredith. — Já que ela é muito amiguinha do mestre das guildas.

    Ah, o chefe máximo responsável por gerenciar todas as guildas e um dos aventureiros rank S, que foge com o rabo entre as pernas dos comandantes do exército das trevas.

    — Essa tal Istar é aquela princesa que tentou me envenenar?

    Balancei a cabeça positivamente.

    — Eu só não percebo o porquê de tanta maldade… — Meredith baixou os olhos. — Ela não era assim quando éramos crianças.

    — As pessoas mudam conforme crescem — interviu Theresa e eu concordei com a cabeça. — A diferença, é que uns tendem a se tornar maus, enquanto outros bons. Tudo depende da sua perspectiva sobre o mundo que os rodeia.

    — Discordo. — Theresa olhou para mim com estranheza. — As pessoas podem ser influenciadas também. A sociedade muitas vezes é que cria o tipo de pessoas que elas mais detestam.

    — Mas aí você tá acrescentando e não discordando, Jarves.

    Ah, isso! — Cocei a cabeça enquanto sorria.

    Zernen apenas olhava de um lado para outro.

    — Já eu concordo com a Theresa — acrescentou Meredith. — Há pessoas que nascem e crescem em um ambiente bom e se tornam más, como no caso da Istar.

    — Já eu não entendo como é que saímos disso… — Zernen levantou o papel com o seu rosto, e uma legenda abaixo de 1000 moedas de ouro como recompensa. — Para essa conversa sobre pessoas boas e más.

    — Debates assim são necessários — disse Theresa. 

    Isso me lembrou muito os meus colegas de sala de aula. Havia vezes em que tínhamos debates tão complexos e profundos como esses. Que saudades daquela turma de idiotas!

    — Mas deixando esse assunto de maldade de lado, eu quero saber o que vocês vão fazer agora? Têm um prazo de três meses e algumas semanas para o surgimento desse reino das trevas.

    Theresa tinha razão.

    — Agora que penso nisso… — Coloquei a mão no queixo. Não me vinha nada a cabeça, se não fugir desse reino, com a família do Zernen, Theresa, Meredith e por último e não menos importante, a Alexandra.

    O resto que se dane.

    — Eu quero lutar com esse tal exército das trevas! O quão forte eles serão? Melhor, como eles são? Que tipo de magias eles usam? — Zernen ficava cada vez mais entusiasmado enquanto lançava perguntas ao vento.

    — Eu não quero ter que abandonar esse reino, tem muita gente importante para mim aqui… — Meredith baixou os seus olhos, cerrando os seus punhos.

    — Sem contar que seria difícil evacuar as pessoas para fora desse reino sem chamar atenção — acrescentou Theresa, olhando para mim.

    — Tá, tá, eu já entendi.

    Parece que eles estavam deixando tudo para mim, e isso tudo só porque eu era o que tinha o suposto poder de ver o futuro.

    — Eu tive uma ideia.

    Os seus olhos se fixaram em mim.

    — Como esperado do meu parceiro de negócios!

    — Eu sabia que podia confiar em você, Jarves! — Meredith sorriu.

    Oof, suspirei. “Quanta bajulação.”

    — Vamos iniciar uma revolução no reino de Hengracia.

    Bem, a minha ideia não foi recebida tão bem por aquelas duas. Zernen foi a única exceção, esse apenas sorria e seus olhos brilhavam de entusiasmo.

    — Que ideia maravilhosa!

    — Você enlouqueceu?!

    — Calma, Meredith…  — dei um leve sorriso.

    — Um grupo de quatro pessoas indo contra o reino, o que pode dar errado? — disse Theresa com ironia.

    — Deixem eu terminar de explicar então. Depois podemos fazer uma votação para ver quem está de acordo com a ideia.

    — Obviamente será empate — disse Theresa e Meredith balançou a cabeça:

    — Aham.

    — Só me deixem explicar primeiro.

    — Ok. Prossiga.

    Todos concordaram.

    — Eu planejo uma revolução pacífica, espalharemos a palavra de salvação a este povo. Aquele que crer, será salvo e o que não crer, está condenado por não crer na palavra que o poderia salvar — continuei com o meu discurso enquanto gesticulava as mãos com confiança. — Traremos a espada! Filho contra pai, mãe contra filha e sogra contra nora! Muitos serão presos, entregues e até morto, mas aqueles que nos apoiarem até o fim, garantiremos que em hipótese alguma pereceram!

    Suspirei.

    — O que acharam?

    — Expendido! — Zernen bateu as palmas freneticamente.

    — Muito profundo, mas será difícil colocar em prática — disse Meredith e Theresa balançou a cabeça.

    — Não espere que as pessoas aceitem isso.

    — Por isso eu disse que traremos a espada a esse reino.

    — Não custa tentar, pessoal! Além do mais, não vejo outra ideia melhor se não trazer a espada ao reino!

    — Isso pode muito bem iniciar uma guerra civil — observou Theresa.

    — Sendo assim, deveríamos falar com a pessoa mais experiente nesse assunto — eu disse, mantendo contato visual com todos.

    — Quem seria? — questionou Meredith.

    — O Sr. Alexodoro.

    — Que é esse?

    — É o meu avô! — Zernen respondeu, olhando para Theresa.

    — Esse nome… — Meredith pareceu lembrar de algo. — Lembro do meu pai ter mencionado esse nome antes.

    Agora que Meredith tocou nisso, lembrei de algo. O pai da Meredith e o avô do Zernen possuíam uma relação muito profunda. Acontece que o pai da Meredith foi um dos aprendizes do Sr. Alexodoro, mas era melhor eu nem contar isso para não estragar nada. Meredith só saberia disso no seu reencontro no outro reino, depois da destruição de Hengracia.

    — É o ex-aventureiro rank S, ele é muito sábio e experiente nesses assuntos.

    — Verdade. — Zernen concordou com a cabeça. — Então amanhã bem cedo iremos até a oficina do meu avô, não é mesmo?

    — Seria melhor hoje, porque não sabemos como estará a cidade amanhã depois deste mandado de busca e captura — sugeri.

    — Dê tempo ao vosso corpo — disse Theresa. — E, além disso, vocês são serão descobertos antes de amanhã se chamarem tanta atenção. — Ela apontou para janela, que ilustrava dois olhos verdes e fundos olhando para nós.

    — É um golem! — Zernen gritou de felicidade.

    — Então esse é o Golem que o Alecrim te ofereceu, Jarves?

    Concordei com cabeça.

    — Você precisa escondê-lo, Jarves. Ele já está chamando muita atenção lá fora. Eu até usei um pouco de medicina para fazer ele vir para trás da farmácia, mas você precisa mesmo esconder ele.

    — Mas não sei como posso fazer para escondê-lo.

    — Dê uma ordem a ele. Geralmente, golems tem capacidade de manipular o elemento terra com facilidade — Theresa sugeriu.

    Ah, mas é claro!

    Acabei de lembrar de um golem que Alecrim criou e deu alguns comandos específicos a ele, como…

    — Golem encolha! — Estalei os dedos.

    Parece que resultou.

    Seu tamanho começou a diminuir.

    — Agora golem, entre pela janela!

    Ele entrou pela janela, escalando aquela parede.

    — Perfeito! — Levantei o polegar.

    Uau! Que legal, Jarves! — Os olhos de Zernen se enchiam de brilhos enquanto contemplava o Golem. — Você tem um golem de estimação!

    — É mesmo uma grande façanha — disse Theresa. — Por serem monstros, golems geralmente são selvagens, mas este é diferente.

    — É, o meu novo parceiro. E o nosso novo transporte! — sorri, observando o Zernen carregando o golem como se fosse uma miniatura.

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