Capítulo 37: Reflexo do passado
Como sons de estrondos, seu coração pulsava com rapidez, um sinal de alerta que percorria todo seu corpo do perigo eminente. De tão perplexa que Meredith estava, um milhão de pensamentos atravessavam sua mente enquanto seus olhos contemplavam com pavor a rápida aproximação daquelas pedras que rasgavam o vento em um som sibilante.
Se ela pretendia agir, tinha que ser agora. Naquela pequena fração de segundos, entre a morte e a vida.
Mas a pergunta que ainda relutava em pairar em sua mente era,” Como irei proteger a mim e a eles?”
Ela estava nesse impasse. Um impasse que poderia custar vidas que jamais poderiam ser respostas.
“Filha…”
No meio daquele turbilhão de pensamentos, Meredith pôde ouvir uma voz tão calma e suave quanto a doce brisa do vento.
“Há uma coisa que você precisa saber agora que virou aventureira.
Repentinamente, as imagens das pedras foram substituídas pelas imagens de seu pai. Um homem de terno que sentava em um sofá de um assento contrário ao que Meredith sentava. Seus olhos se encontravam no meio da fumaça emanada das duas xícaras de chá sobre uma mesa retangular.
“O que, pai?”
“Muitas vezes podemos nos encontrar em uma situação de desespero. Mas quero que saiba que isso é inevitável, afinal, enquanto estivermos nessa terra corrompida certamente teremos aflições.
Meredith nada disse, apenas continuou observando os lábios do seu pai tecerem as próximas palavras.
“Mas quando estiver nessa situação”, ele pegou na xícara de chá e soprou a fumaça que subia ao teto creme. ” Acalme seu coração e faça a primeira coisa que lhe vier na mente. Porque quando há paz em nossos corações, há também paz em nossa mente.”
Meredith arregalou os olhos. A imagem do seu pai bebendo aquele chá, junto ao espaço que se encontravam desapareceu como uma simples fumaça levada ao vento. Agora seus olhos enfrentavam a dura realidade.
Mas dessa vez, ao invés de olhar tudo aquilo com desespero, Meredith apenas optou por suspirar, amenizando a pulsação do seu coração.
Em instantes, a confusão de palavras que invadia sua mente finalmente desapareceu e como num passe de mágica uma ideia surgiu em seus pensamentos.
“Pise com força! Com força!
— Com forçaaaaaa!
Meredith gritou o que seu coração lhe dizia para fazer enquanto erguia seu pé para cima. E não tardou em devolver com rapidez contra o chão. Seu pé afundou no chão, criando crateras que se espalhavam por todos aqueles tijolo. Arrastando o pé com toda força, Meredith levantou milhares de tijolos ao céu, estes que combateram as enxurradas de pedras.
Naquele meio tempo, ela removeu o manto e o atirou contra aquele homem desprotegido, que estava perto do Golem. O manto não balançava ao vento, apenas prosseguia como se fosse uma pedra arremessada, combatendo a gravidade numa velocidade retilínea.
Embora tenha sido rápida a agir, Meredith teve algumas partes do seu corpo atingidas. Como a testa e algumas de suas articulações. Acabou por cruzar seus braços para evitar que seu rosto fosse ainda mais danificado enquanto resistia com sua roupa que carregava um peso comparável ao de uma armadura.
Por sorte, quando deu uma leve olhadela para trás, percebeu que milagrosamente tinha acontecido como havia planejado. O manto estava servindo de proteção contra o corpo do Jarves, rebatendo todo tipo de pedras para ali e acolá. Em contrapartida, o único que não havia escapado do ataque de pedras era o Golem. De tanto ser bombardeado pelas pedras intensamente, crateras rompiam a superfície do seu corpo de pouco em pouco.
— Obrigado, pai.
Meredith desfez os braços cruzados contra o rosto e os desceu, olhando severamente aquele homem.
Todas as pedras que haviam sido arremessadas agora estavam espalhadas sobre o chão. O sangue que fluía da sua testa invadia a superfície dos seus olhos, percorrendo desde as sobrancelhas as bochechas como se ela estivesse deitando lágrimas de sangue.
Traços de irritação se reuniam em seu rosto e formaram a expressão mais séria que Meredith alguma vez fez.
Ela ergueu a espada, apontando para aquele homem que balançava seus braços enquanto sorria maliciosamente.
Ver aquela mulher naquele estado tão deplorável lhe rendeu inúmeras risadas de satisfação.
— Parece que você optou por sacrificar seu corpo! Hahahaha! Com tantas feridas assim, já pode esquecer a hipótese de um novo pretendente, Meredith! — Colocou a mão contra o queixo e deu um sorriso largo. — Mas espere, acho que mesmo assim ninguém iria querer uma assassina de noivos, não é?
— Nikolas, eu juro pela memória do meu pai que irei arrancar sua cabeça!
— Opa! Parece que deixei alguém brava! Isso! Isso! É isso que eu queria! Eu quero te destruir psicologicamente e fisicamente para que aprenda a se colocar em seu divido lugar, sua maldita!
— Morra!!!
Como um zás, Meredith avançou com a espada, deixando para trás um pequeno rastro de poeira.
— Venha, Meredith, e tenha o seu fim pelas minhas majestosas mãos!
Nikolas arrastou seus braços, pegando milhares de pedras. Com um sorriso largo, que enunciava vitória contra aquela mulher, que não parava de avançar com a espada em mãos, ele arremessou aquela multidão de pedras.
Som sibilante cortava o vento.
Muito mais rápido do que os olhos do Nikolas puderam acompanhar, Meredith cortou uma aérea enorme do chão em um quadrado quase que perfeito. Uma poeira havia se formado, obstruindo a visão do Nikolas quanto ao que estava acontecendo por detrás daquela névoa.
— É tão hilariante quando os meros mortais entram em desespero. — Nikolas sorria continuamente enquanto observava suas pedras atravessarem aquela névoa e desaparecerem.
Quando menos esperava, seus olhos observaram uma parede quadrada gigante vindo contra si, e uma grande sombra cobrindo seu rosto no processo. Olhos arregalados, semblante estupefato, era o que tomava conta da feição daquele cientista.
— Tenho que parabenizá-la por sua tentativa inútil, Meredith. No entanto, parece-me que ainda não ficou claro de que eu sou uma entidade em um plano superior ao seu. — Dito isso, Nikolas lançou seus milhares de braços contra a parede. Cada golpe de seus múltiplos punhos dividia cada ponto daquela grande pedra em pedaços. Em instantes, milhares de pedras desciam ao chão e levantavam mais poeira.
— Hahahaha!
Nikolas continuou a rir enquanto observava a névoa de poeira cada vez mais densa aos seus olhos.
Mais tarde, os olhos de Nikolas foram atraídos para uma silhueta acima, que ofuscava o brilho do sol e fazia sua sombra resplandecer aos seus olhos.
— Então esse é o seu plano… Um plano inútil e patético quanto à sua existência jamais irá funcionar contra mim!
Nikolas lançou todos seus braços contra aquela mulher.
No entanto, Meredith, com a espada afiada já posicionada, cortava cada braço enquanto descia contra a cabeça do cientista. Milhares de gotas de sangue saltavam para o seu corpo e vestes no processo, porém ela mal se importava, continuava avançando.
Nikolas arregalou os olhos ao ver seu sangue descer ao chão como pequenos chuviscos, cada parte do seu braço degolada pela espada, agora no chão e formando poças de sangues.
No meio daquele espanto, quando deu por si, a espada da Meredith estava prestes a atravessar seu pescoço.
Naquela pequena fração de segundos entre as portas da morte, Nikolas viu o reflexo do seu eu mais jovem na lâmina que estava prestes a decepar sua cabeça. Um menino com sardas e nariz empinado, que esfregava os seus olhos numa tentativa falha de suprimir suas lágrimas.
“Eu vou morrer? Impossível…”
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