Capítulo 46: Por que Theresa está brava?
Depois de várias horas de viagem, finalmente chegamos ao bendito bosque, onde supostamente deveríamos encontrar o cara que nos faria escolta até o norte de Hengracia.
Nossos olhos investigavam para ali e para cá e nada do tal homem. Cheguei a pensar que o Sr. Alexodoro havia sido engando e que esse homem, na verdade, nem iria aparecer.
O terrível era que devido a nossa pouca mana, a nossa detecção de mana era menor, por isso seria ainda mais difícil encontrá-lo. Se ele estivesse a espreita, tinha de ser ele a vir ao nosso encontro, porque Theresa e eu nos cansamos de procurar, embora não houvéssemos saído da caravana.
Theresa estacionou a caravana num determinado ponto do bosque, perto a uma árvore frondosa, que ficava no meio de uma região de árvores.
Descemos da caravana, pousando nossos pés no gramado e respiramos aquele ar puro.
— Aquele velho não é um ex-aventureiro rank S? Por que ele não nos deu um item ou qualquer coisa que pudéssemos identificá-lo? Vou te falar, acho que vamos ter de partir sem ele.
Theresa cruzou os braços.
— Vamos aguardar mais um pouco.
— Tudo bem.
Theresa e eu fugimos do sol e fomos nos sentar ao pé de uma árvore frondosa; por sinal, a única que possuía folhas e galhos em fartura. Nossos olhos subiam até a face do céu, contemplando as nuvens andando de um lado enquanto esperávamos o tal homem aparecer.
Esperávamos e esperávamos, até que um barulho estranho chamou nossa atenção.
Nós nos mantemos atentos enquanto olhavamos na direção de onde vinha um som, um espaço ocupado de árvores magrinhas e poucos arbustos.
De pouco em pouco, os passos ressoaram mais alto, sua shilueta ganhou forma e ficou mais visível quando ele saiu detrás daquelas árvores. Era um ser bastante peludo, pareceria um gorila, na verdade.
— Um monstro?
— Será um gorila?
Levantamos. E eu nem tinha muita mana sobrando para combater um gorila.
— Acho melhor entrarmos na caravana — sugeriu Theresa, andando rapidamente para caravana.
— Espera…
O ser peludo caiu. Olhando atentamente, dava para perceber que não era um gorila, pois tinha uma pele como a nossa.
E o que o verdadeiramente lhe tornava humano era o cheiro de álcool que ele exalava. Ele bateu uma das suas mãos peluda enquanto murmurava palavras estranhas.
— Do tipo australopithecus.
— Austro o quê?
Pelo menos uma coisa que Theresa não saiba.
Pulei de felicidade e ela estranhou.
— Bem, vamos embora, Jarves.
— Não vai confirmar se ele está bem?
— Se ele tem força para beber até não aguentar, saúde é o que ele tem de sobra — Theresa pareceria bem brava. Ela se virou e começou a andar.
— Você por acaso tem algum problema com pessoas que bebem?
Ela não disse nada, apenas continuou andando.
Como dizia minha mãe, “quem cala consente.”
O homem levantou um dos braços e emitiu.
— Por favor, esperem.
— Jarves, eu vou te deixar!
Olhei para trás e Theresa não estava brincando mesmo. Ela até já estava com as mãos nas rédeas dos cavalos.
— Mas, Theresa, e se aquele homem for a nossa escolta?
— Você enlouqueceu?
— É que ele é a única pessoa que apareceu, justo quando estávamos esperando alguém. E veja só, aqui não tem nenhum bar por perto, então por que um bêbado aparecia do nada?
— Sua afirmação faz sentido, mas não significa que não hajam outros motivos
— Não estou te entendo, Theresa! Por que ficou assim de repente?
— Quer saber mesmo?
Balancei a cabeça.
— Eu odeio beberrões! E quero distância deles!
Quando Theresa disse isso, a pessoa se levantou rapidamente e, em instantes, estava em frente a Theresa, lhe encarando com os olhos severos.
— Kyaaaaaa!
Theresa começou a gritar como nunca havia gritado, como se aquele homem fosse um gorila prestes a lhe devorar.
Era a primeira vez que via Theresa dando um grito feminino e isso foi tão bom de ver… Digo, eu nem deveria me alegrar com esse evento único, na verdade, eu deveria ir protegê-la!
— Espera, Theresa! Estou indo!
— Você disse que odeia beberões! Retire! Retire o que disse!
— Sai, monstro!
Theresa tentava expulsá-lo, abanando suas mãos contra o rosto dele.
Eu preparei uma esfera para ele.
— Receba!!!
Lancei a esfera amarelada, e com um abano de sua mão, ele mandou para uma das árvores que caiu ao ser atingida.
E depois começou a rir enquanto se afastava de Theresa.
— Caramba, vocês são tão engraçados! Gostei de vocês!
Ele estalou os dedos e o seu bafo desagradável desapareceu. Depois retirou uma tesoura entre os seus muitos cabelos e cortou algumas partes de suas madeixas negras até conseguirmos ver melhor sua aparência.
Arregalei os olhos quando o vi de fato como era…
Um homem gordinho de olhos laranjas e sobrancelhas grossas, que usava vestes castanhas plebeias.
— Não pode ser, você é…
— Desculpa pela brincadeira, eu sou Zestas e serei o responsável por protegê-lo.
— Eu não pensei que o senhor Alexodoro pudesse contactar um aventureiro rank S para nos proteger!
Era sem dúvidas o Zestas do barril sem fundo, um apelido que muitos o deram devido ao seu vício em álcool. Não que ele pudesse fugir disso, afinal, disso dependia sua habilidade.
Ele era um personagem muito importante ao longo da trama e um dos meus favoritos entre os aventureiros rank S.
— Você, um aventureiro rank S? Não me faça rir!
Onde Theresa vivia para não reconhecer o grande Zestas? Na caverna com certeza.
Zestas começou a coçar sua barba por fazer enquanto olhava para Theresa, que continuava descrente.
— De fato, entre os aventureiros rank S, eu sou o que menos aparece, então não é surpresa que eu não seja conhecido.
— Theresa! Ele é um aventureiro rank S, pode ter certeza! O melhor dos melhores!
— Vejo que tenho um fã! Gostei de você, rapaz!
— Bem, pode até ser que ele seja um aventureiro rank S, mas se ele bebe, eu quero distância! Dis-tan-cia! — Theresa virou o rosto com a cara emburrada.
— Ei, parece que sua amiga não simpatizou comigo.
Zestas olhou para mim com carinha de cachorro abandonado.
— Acho que ela está naqueles dias…
— Oh, acho que entendi!
Não tardou até que Theresa atirasse uma seringa, que passou voando no meu cabelo e aterrou no tronco da árvore a minha atrás.
Arregalei os olhos, perplexo com aquela tentava de assassinato.
— Mulheres são mesmo perigosas, não é?
— Nem me fale — eu disse, acariciando os meus cabelos. — Não importa a época, o mundo ou planeta, nunca mudam.
— Mete esse ser na caravana e vamos embora.
Não estou gostando dessa mudança de personalidade da Theresa. O que será que aconteceu com ela? Tentei puxar na memória para ver se encontrava alguma informação sobre a Theresa ter algum traumatismo de bebida, mas nada vinha, justo quando eu queria essa informação, o meu cérebro me abandonou.
Mas de uma coisa eu tinha certeza, Theresa não tinha um passado bom não.
Enfim, enquanto eu não lembro do passado dela, vou tentar de tudo para que ela possa se dar bem com o aventureiro rank S.
— Sr. Zestas, mil perdões pelo comportamento da minha amiga!
Encurvei a cabeça e juntei as mãos em oração.
— Não tem problema nenhum — disse Zesta, bebendo mais do seu álcool, que estava numa garrafa castanha. — Eu já estou acostumado, já levei vários foras!
Embora o cerne da questão não fosse isso, mas tudo bem, eu compreendo.
— Sr. Zestas, aguardamos ansiosamente sua orientação sobre a viagem.
— Não precisa me tratar com tanta modéstia! Zestas está bom.
Balancei a cabeça.
— E voltando ao assunto da viagem, tomaremos a rota da cidade de Ahrmanica para chegarmos bem rápido ao centro e por fim ao norte.
— A cidade de Ahrmanica, não é?
A cidade de Ahrmanica, se bem me recordo, era uma cidade que possuía uma grande favela e também era um grande paraíso para a bandidagem; um dos lugares mais perigosos do reino de Hengracia para se viver.
— Como estamos com o aventureiro rank S, não será problema, não é?!
— Isso mesmo, vejo que os nossos pensamentos estão alinhados!
Entramos na caravana. Depois que fechamos a porta, a caravana começou a andar rápido, mas muito mais rápido, como se Theresa estivesse descarregando sua raiva nas rédeas.
— Bem, vejo que vocês passaram por muitas batalhas. — Ele bebia mais da sua bebida enquanto observava aranhões entorno dos corpos de Meredith e Zernen, que estavam deitados nos bancos.
— É — sorri ligeiramente enquanto olhava para ele. — Inclusive o Sr. Alexodoro está lutando contra o Xavier.
— Hahahaha! Até o Xavier entrou nessa? A situação ficou ruim mesmo!
— Não só o Xavier, o Sr. Alecrim também, hahahaha!
— Até o Alecrim? Hahaha! Isso é bem grave então! Vocês estão sendo caçados pelos homens mais forte de Hengracia! O que raios fizeram, garoto?
Sorri torto enquanto olhava para ele.
— O Sr. Alexodoro não lhe contou?
— Me contou, sim, mas quero ouvir a informação diretamente da fonte! Vamos, desembucha!
Ele levantou sua garrafa enquanto sorria com seus dentões.
— Tá…
Contei do zero tudo que havia acontecido comigo até chegarmos até aqui
— Caramba! — Ele começou a rir. — Foi bem melhor ouvir da sua boca! Sr. Alexodoro conta como se estivesse dando algum tipo de aula!
— Bem, talvez seja a idade.
— Mas voltando ao assunto, quero que me fale mais sobre essas suas visões. Fiquei bastante curioso para saber!
Antes de mais nada, eu tinha de controlar as informações para não deixar vazar nada que comprometa a trama.
Contei a ele o essencial, que os seres que atacariam Hengracia eram anjos caídos, que lideravam uma horda de monstros e que o rei e sua família iam todos para vala, junto com a maior parte da população de Hengracia. Acrescentei o que ele com certeza queria saber, níveis de poder.
— Você e nenhum dos aventureiros rank S teriam alguma chance, pelo menos em batalhas individuais. Se três de vocês se juntassem e combatessem um único comandante, aumentariam as chances de vitória para pelo menos 60%.
— Pelo menos em chances de vitória superamos a metade em três. Agora o problema seria a quantidade deles. Quantos exatamente tem desses comandantes?
— Não sei dizer…
Não me lembrava com exatidão.
— Mas chuto que são o número de quantidade de aventureiros rank S. Uns 7, não é?
— Hum, entendi. Acho que terei que convocar a ordem dos aventureiros rank S.
— A ordem?
— Sim, o mestre das guildas está em Ahrmanica neste momento, então vou aproveitar para falar com ele sobre isso, já que o rei se recusa a ouvi-lo.
Os meus olhos se encheram de brilhos.
— Que bom! Acho que se chegamos a um consenso sobre isso rápido, é capaz de salvarmos Hengracia!
— Depois de ver o brilho nos seus olhos e a maneira como você fala, não tem como duvidar de que isso seja verdade. Obrigado, Jarves. Graças a você, temos uma chance de evitar um saquê, digo, massacre!
— De nada, esse também é o meu reino!
Entre aspas.
— E para comemorar essa benção, vai um saquê?
Ele me ofereceu mais outra garrafa que estava escondida na sua roupa e eu rejeitei, balançando a cabeça.
— O que há com esses jovens de hoje? Que não percebem a grandeza do álcool, hahahahah!
O tempo foi passando enquanto ele ria e bebia sem parar, infestando aquele lugar de álcool.
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