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    Emitindo uma voz imperativa misturada com frieza, Meredith ordenou que Faisal se retirasse da sala. Temendo deixar Meredith nas minhas mãos, ele começou a tagarelar com argumentos que se tornaram irrelevantes assim que pedi para que o Zernen usasse sua força para o tirar daquela sala.

    Tentou resistir, mas Zernen o golpeou na nuca e o fez desmaiar. Depois disso, ele ofereceu um último aceno para mim enquanto colocava aquele homem em um dos seus ombros, saindo por aquela entrada sem porta.

    — Agora que estamos a sós… 

    “Lá vem.”

    — O que quer com a minha família? Qual é o seu objetivo?

    — Eu só quero uma renda financeira… — Ela franziu as sobrancelhas. — Para aquisição de armas, é claro. É um negócio que o seu noivo se predispôs a fazer comigo.

    — Por favor, quem cai nessa? Ele pode ser um pouco inocente, mas…

    “De inocente ele não tem nada, isso eu garanto.”

    — Não tem como ele se aliar a um mendigo como você! Que há poucas horas estava lá pedindo esmolas e me chantageando com aquela bobagem de ” Ah, seu noivo vai te trair daqui a 3 dias.” — Ela encurvou dois dedos de cada mão e então continuou: — E agora, do nada, você faz negócio com ele? Que palhaçada é essa?!

    — O que tem um mendigo fazer negócio? Um dia eu teria que sair da pobreza, não é mesmo?

    — Mas do nada? Em poucas horas?

    — Minha avó costumava dizer que em um minuto tudo pode acontecer.

    — Então, o que aconteceu nesse um minuto?

    “Resumidamente: chantageei o seu noivo.”

    — Aquele homem que viu aqui é neto do dono de uma oficina de armas. Eu fui lá pedir trabalho e ele viu o meu talento, então decidiu me contratar.

    — Isso em um minuto?

    — Não, sua boba. Digo, não!

    — Você me chamou de boba?! — Ela franziu as sobrancelhas ligeiramente. 

    “Droga, essa era a fala que o herói usava quando a Meredith se fazia de idiota.”

    — É… — Estalei os dedos. — É porque é óbvio que isso não aconteceu em um minuto.

    — Mas não foi você que disse isso?

    — Eu estava sendo irônico.

    — Saiba que não estamos aqui para ser irônico. — Seus olhos azuis franziram enquanto emitia uma voz nada amigável. — Use uma linguagem mais direta, se tem amor pela sua vida.

    “Ela acabou de me ameaçar?”

    — Bem, é isso mesmo. Eu dei sorte e acabei saindo da pobreza.

    — Quanta sorte para uma pessoa… Mas não importa mais. — Cruzou suas pernas, mantendo ainda contato visual comigo.— Não vou mais questioná-lo sobre os métodos macabros que usou para dar volta a vida e sair da pobreza tão subitamente.

    “Métodos macabros?”

    Ergui uma das sobrancelhas, mas depois dei um sorrisinho nobre que caracterizava a postura de um negociante em situações como essas.

    — Eu agradeço.

    — No entanto, tenho uma e última pergunta a fazê-lo.

    — Se estiver ao meu alcance — falei, pegando uma taça vazia para aparecer mais elegante.

    — Sobre o meu noivo me trair… É mesmo verdade?

    Eu já deveria saber que era isso.

    — Sim. Seu noivo a traíra.

    Assim que disse isso, ela impôs a mão na testa e mordeu os lábios, enquanto seus traços se torciam em uma expressão triste.

    Eu me senti triste por ter dado essa informação para ela antes do momento, mas; ou era isso, ou eu continuaria sendo um zé-ninguém; sem dinheiro e sem nada.

    — Ok. — Seu semblante voltou ao normal, mas sua voz ainda carregada de frieza. — Supondo que isso vá acontecer, o que eu posso fazer para impedir isso?

    “O que eu digo agora?”

    Já fui longe demais nesse assunto, então melhor seria revelar tudo antes que ela tivesse a chance de conversar com o seu noivo e tirasse tudo a limpo. O que implicaria numa possível mudança do futuro, tornando impossível o meu cálculo de dias para a chegada dos monstros.

    Essa traição precisava acontecer em três dias, caso não, eu estaria ferrado.

    — Não há como impedir, porque ele já vinha te traindo antes.

    — O que?! — Ela arregalou os olhos na companhia de suas pupilas dilatadas e de veias rebatendo as extremidades da sua testa enquanto sua voz subia de tom. — Mas por que ele me trairia…  Com quem ele me traiu?!

    — Graziela Teorena Frecchit.

    — Aquela mulher?! — Pasmada com a bomba,  cerrou os dentes enquanto franzia os punhos.

    “Sim, aquela mulher. Uma das que se dizia sua amiga.”

    Ela deu um suspiro e pressionou a mão contra o peito, enquanto tentava reprimir seus sentimentos de indignação na minha frente.

    — Bem que eu achei que ela estava próxima demais do Faisal, mas por essa eu não esperava.

    “Nem eu.”

    — Para você ver…

    — Mas essa eu não deixo passar! Eu vou tirar isso a limpo agora mesmo! — Ela se levantou do sofá, ainda com os punhos apertados, seus olhos refletindo a mais profunda decepção.

    — Espera!!! — Estiquei um dos meus braços no mais profundo desespero, atraindo seus olhos que desceram ao meu encontro.

    — O que mais quer de mim? Você já estragou o meu noivado com essa informação!

    — Bem, na verdade, não… — Tapei minha boca, havia deixado escapar.

    — O que?

    — Escuta, se você tirar satisfação com ele, ele negará tudo e você não terá alguma prova para confrontá-lo.

    — Isso é verdade, mas eu… — Ela voltou a sentar, mantendo contato visual comigo. — Não vou conseguir dormir sabendo que os lábios do meu noivo já pertenceram a outra!

    — Uma imagem vale mais que mil palavras. Se você o pegar em ação, ele não terá como negar nada. Agora se você falar com ele, ele poderá negar e passará a tomar mais cuidado ao se encontrar com a Graziela.

    — Mas como eu vou pegá-lo?

    Bem, isso aconteceu quando você decidiu viajar para o distrito real e no meio do caminho algumas coisas interessantes aconteceram e a viagem foi cancelada. E é aí quando você retornou a esse distrito, que você acabou descobrindo a infeliz cena.

    — Você não disse que iria viajar amanhã?

    — Disse.

    — Então não cancele os seus planos e veja o que acontecerá.

    — Hein? Quer mesmo que eu acredite nisso?

    — Eu já dei testemunho de que tudo que falo é verdade.

    — Acho bom. 

    Ela levantou-se e contornou o sofá, começando a caminhar para a entrada sem porta sem ao menos deixar um adeus. Seus passos eram largos e o último olhar que eu vi dela, mesclava tristeza e decepção.

    Segundos depois, Zernen entrou por aquela entrada enquanto assobiava, com os braços atrás da nuca.

    — O que vocês dois conversaram para ela sair com aquela cara, hein?

    — Nada de mais. — Levantei, mantendo contato visual enquanto abria um sorriso ligeiro. — Você não falou que o seu avô iria te espancar se chegasse tarde?

    — É…

    — Então vamos embora. — Comecei a caminhar por aquele piso prateado, dando adeus para aquela sala luxuosa.

    — Hum, a propósito… Agora que lembrei, não sei qual é o seu nome.

    — Pode me chamar de Jarves — falei, enquanto transitávamos da entrada para o corredor daquela mansão, que era repleta de candelabros dourados no teto, espalhando sua luz para aquelas paredes brancas com bordas douradas.

    — Oh? Jarves? — Ele encostou o seu cotovelo no meu ombro. — Parece que seremos ótimos parceiros de negócio!

    — 20% dos lucros para você e 80% para mim. O que acha?

    — Tá parecendo o meu avô na mesada. Aumenta aí.

    Eu ri.

    — 30%.

    — Você está esquecendo que eu te protege?

    — Ok. Ok. Você ganhou! 50 e 50!

    — Agora sim!

    Ele sorriu de satisfação enquanto desviamos para o próximo corredor.

    E assim, saímos da mansão do Faisal sem nenhum problema, passando por aqueles guardas que permaneciam estatelados na entrada.

    Um azul noturno cobria o céu repleto de estrelas, acompanhado da luz do luar que pairava sobre aquela cidade.

    E foi nessa noite profunda que descobri, eu não tinha casa para voltar.

    — É claro que pode ficar na minha!

    Ainda bem que o Zernen era um cara legal e aceitou quando eu perguntei a ele se podia ficar em casa dele até que Faisal organizasse todas as minhas moedas.

    Enquanto isso, eu estava rezando para que a Meredith não colocasse tudo a perder antes do tempo.

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