Capítulo 04: A presa
— Acelera aí! Vamos nos atrasar!… — Bernardo tenta apressá-la.
— Ei, o Rômulo é um fofo, não é? — Marcela joga palavras despretensiosas no ar para sua amiga.
Sarah nada responde, e vira seu rosto para baixo em uma tentativa de escondê-lo.
— Do que você está falando??? — Bernardo a questiona sem entender o que está acontecendo.
Sarah se levanta e olha para ele com um leve sorriso no rosto.
— Pera… Haha… Você está apaixonada! — Sem perder a oportunidade ele tira sarro dela.
Ao passar por ele, ela dá um leve soco em seu braço, o suficiente para fazê-lo soltar um leve grito de dor.
— Aaaa Bernardo… vocês meninos são lerdos de mais. — Marcela começa a acompanhar Sarah e aproveita para tirar um sarro dele, enquanto faz um leve vislumbre dela com um menino lindo que ela gosta.
— Eu entendo sim! — Após um segundo de silêncio, ele toma a frente das duas enquanto eles caminham para a quadra, então ele se vira para elas e começa a caminhar de costas. — Eu até já beijei uma garota! — Seus olhos brilham, e ele abre um sorriso na frente de Sarah e Marcela.
Marcela olha para Bernardo, seus olhos começam a lacrimejar e então ela sai em disparada sumindo pelos corredores da escola.
— Ué? — Bernardo fica sem entender.
— Vocês meninos realmente não sabem de nada, agora pode ir atrás dela, pedir desculpa! — Sarah, com a feição mais séria, dá um ultimato para Bernardo.
— Fui! — Sem questionar aquela presença “maligna” a sua frente, ele sai em disparada à procura de Marcela.
Após alguns minutos andando devagar, Sarah chega no ginásio.
— Vixi… Lá vem o monstro! Ela é do nosso time, nem vem! — Jorge, um menino moreno alto de cabelo curto.
Ao vê-la, todos param o jogo enquanto Sarah se aproxima do local onde estão.
— Ahh não! Nem vem! Ela é do nosso! O time de vocês já está muito forte. — Lucas, um menino baixo de corpo entroncado, pele branca e cabelo preto curto, entra na disputa para ver quem ficará com ela para seu time.
— Desculpa Jorge, mas hoje eu não estou a fim de jogar, só vim aqui avisar que vou ali jogar xadrez. — Ela responde com a voz calma.
— Xadrez? Coisa de nerd, vem jogar bola! — Jorge insiste, enquanto ela já está seguindo seu caminho.
— Deixa ELE! Jorge, vamos jogar só nós, é melhor! — Gabi, um menino de altura média para idade, cabelo grande, castanho e jogado na testa, a provoca.
Ao escutar ela faz uma brusca parada enquanto serra os punhos.
— GABI!!! CUIDADO!!!! — Gritos ecoam entre os meninos que ali estão.
Quando ele se vira para ver o que está acontecendo, sem tempo de reagir, se vê caindo ao chão sem saber o que aconteceu, de repente uma tremenda dor surge em sua face. Ao levar a mão ao nariz ele percebe que tem sangue escorrendo, furioso, começa a procurar ao seu redor pelo culpado. Uma busca que não demora a terminar.
Ali está Sarah com seus punhos fechados e forçando passagem em meio a dois meninos que a segura pelos braços, enquanto outros pedem para ela se acalmar.

Gabi ao encarar a face e os olhos castanhos de Sarah, sente como se um predador estivesse ali forçando grades frágeis e prestes a sucumbir, pronta para atacá-lo e dilacerá-lo, os olhos dessa fera não se movem nem por um milímetro, suas pupilas estão contraídas e parecem enxergar somente uma coisa, sua presa.
O mais amedrontador de tudo é o silêncio que ela faz, definitivamente qualquer segundo de folga que os meninos derem ela não vai hesitar.
O olhar de Gabi rapidamente se transforma, suas pupilas dilatadas com as sobrancelhas levantadas, sua respiração trêmula com um leve bater de dente, tudo em seu corpo o impulsiona a se afastar dali o mais rápido possivel.
— O que está acontecendo aqui!? — Um homem mais velho, por volta de 40 anos, pele um pouco clara, barba rala e cabelo curto, chega no local instigado pela movimentação atípica que observou vinda dali.
Gabi se levanta e sai correndo em direção ao banheiro masculino. Enquanto isso, Sarah não desvia seu olhar nem por um segundo dele.
— Professor… A Sarah deu um murrão no Gabi! — Jorge explica o ocorrido.
Ela por alguns segundos não tira os olhos do banheiro masculino, até que uma voz começa a surgir em sua mente chamando seu nome.
— Sarah! Sarah! — Ele tenta acalmá-la enquanto a chacoalha pelos ombros.
Em instantes ela começa a relaxar seus punhos antes serrados, então ela olha para o professor e para os meninos e meninas ao seu redor que ali se acumulam.
— Olha para mim! Se acalma! Você está bem? — O professor tenta verificar o estado dela, porém, ela não responde com palavras, somente balança sua cabeça positivamente enquanto seus olhos ainda estão levemente em fúria.
— Jorge, acompanhe a Sarah até a pia para lavar o rosto e depois até o banco da diretoria!
O professor depois da ordem, se dirige até o banheiro para ver como Gabi está. Os demais que presenciaram a cena aos poucos vão se dispersando.
Jorge e Sarah saem dali, após alguns minutos sentados em frente ao banco da diretoria, a porta se abre. Marcia a diretora, que aparenta ter uns 30 anos, alta de pele clara, cabelo preto, usando óculos e uma roupa formal olha para Sarah sentada ali e dá um profundo suspiro.
— De novo? — Marcia indaga ao ar.
Sarah abaixa a cabeça desviando o olhar.
— O que aconteceu dessa vez? — Marcia volta a indagar, agora direcionando a fala para ela.
Sarah não a responde.
— Mexeram com ela de novo diretora. — Jorge tenta responder por Sarah sem prejudicá-la.
— Você está envolvido também, Jorge? — A diretora lança um olhar amedrontador para ele.
— Eu não! Só estou a acompanhando, o professor Marcos que pediu! — Jorge procura tirar o dele da reta.
— Rumm… Bom mesmo, pode voltar para a sala. — A diretora o despacha.
— Tchau Sarah, até mais! — Jorge em instantes some do local.
Sarah o observa com um olhar vago.
— Vem, me explique o que aconteceu — Marcia, agora com a voz mais calma, a convida para entrar. Sarah se levanta e se dirige para dentro da sala. Ao passar pela porta a diretora coloca a mão nas costas dela, dando aquele empurrão gentil enquanto deixa a porta meio aberta para que o professor Marcos veja que elas estão ali.
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