Capítulo 09: As conexões que nos moldam
Enquanto apreciam uma noite privada só deles, o restante da grande parte das pessoas está em bares festando e flertando. Em festas dançando ao som das mais diversas músicas. Abraçados compartilhando o calor um do outro em um banco de uma praça iluminada por luzes amarelas, ou deitadas dormindo em suas camas aconchegantes.
Seja uma cama de papelão acompanhada de seu fiel companheiro, seja feita de espuma acompanhada de um amor casual ou para vida toda. Já no caso de Leila, abraçada em um travesseiro.
Assim mais uma noite se esvai. Aos poucos os raios do sol invadem seu quarto e com o tempo iluminam sua face sem sua permissão. Se espreguiçando, aos poucos ela desperta.
Pegando seu celular escondido atrás do travesseiro, procura onde marca as horas enquanto briga para abrir os olhos em definitivo. Pouco mais de 8 horas, é o que marca em um canto pequeno. Tudo que lhe resta é se levantar.
Em seus pensamentos Sarah ainda está dormindo. Então decide preparar o café da manhã com várias guloseimas que sua filha ama. Assim poderão aproveitar uma manhã agradável de sábado, onde nenhuma delas precisa fazer nada. Só largadas pela casa ou por qualquer outro lugar desfrutando do luxo da preguiça.
O café foi servido e rapidamente devorado. Entre muitas conversas e brincadeiras a manhã vai se despedindo sem ser percebida. Exceto pelo astro rei que assume seu posto no centro de tudo, e acima de todos que ousam olhar para cima.
E assim como um jogo bom do seu time favorito, o almoço marcado por uma caprichada lasanha e arroz com batatas, é apreciado como se fosse uma goleada irreparável. Leila não perde a oportunidade de desfrutar uma bebida amanteigada com um leve toque alcoolizado. Sarah até tenta beber um pouco, mas tudo que lhe é permitido, é um bom e tradicional copo d’água.
É claro que o café da tarde não poderia ser esquecido. Pão caseiro comprado de uma senhora que mora ali perto foi a bola da vez. Macio, feito com um pouco de leite jogado por cima e assado em um fogão a lenha que raramente é usado hoje em dia. As duas jogam mais conversa fora, Sarah conta histórias que viveu pela semana, não todas.
Leila se diverte ao ouvi-las, mas também não perde a oportunidade de contar uma. Dessa vez ela conta sobre quando esteve no arquipélago de Fiore e depois junto aos monges nas Montanhas da Redenção. Sobre seus hábitos estranhos, e até a sensação de que ali existia algo mais do que se podia imaginar. Clássico de uma arqueóloga, imaginar as maravilhas esquecidas pelas eras e que foram enterradas pelo tempo.
Ela até se relembra que um dia pretende levar Sarah para conhecer pessoalmente sua maior descoberta, que se tornou seu maior presente. Diz que os monges não querem que seja removido de lá, que eles ficam de guarda para evitar que alguém que não mereça alcance aqueles segredos.
Essas palavras em especial tocam no fundo do ponto fraco de Sarah, que já podia se imaginar no meio de monges meditando e explorando montanhas, descobrindo um pouco mais sobre o mundo e sobre si mesma.
A noite chega e Leila está há beira do fogão terminando de preparar uma janta especial para seu marido que volta hoje de viagem.
— Que cara é essa mãe? Parece que viu algo na parede.
— Eu acho que estou esquecendo de alguma coisa.
— Normal, não sei como você ainda não perdeu a cabeça por aí.
Leila olha para Sarah com os olhos serrados enquanto pensa em maneiras de torturá-la. Aproveitando que Sarah se virou em direção a geladeira, a ataca por trás, que não resisti muito e logo cai em gargalhadas. Leila conhece todos os seus pontos fracos.
Nesse momento a porta abre e após alguns segundos de caminhada pela casa, ali está a pessoa tão esperada da noite.
Cabelo castanho penteado para trás, baixo nas laterais, quase raspado. Barba rala e fechada. Olhos esverdeados que observam as duas se divertindo com a expressão de alguém que tem seus pensamentos distantes do momento que está.
— Que susto! — Leila repara que ele está ali as observando.
— Ahnn? AAA! Pai… — Sarah corre até ele e lhe dá um abraço de boas-vindas — Como foi a viagem?
— Foi produtiva, fechamos muitos negócios. — Com sua voz firme e marcante, Júlio responde enquanto olha para Leila vindo em sua direção.
— Que bom que tudo deu certo. Estamos terminando de preparar o jantar. — Leila o cumprimenta com um beijo rápido nos lábios enquanto termina de falar.
— Eu senti o cheiro lá da rua e estava bom, mas acho que agora está começando a me parecer que algo está queimando! — Ele termina a fala puxando um pouco de ar pelo nariz.
— Para Júlio! Eu nunca que iria deixar minha comida quei… — Leila dá um leve tapa em seu ombro carinhosamente enquanto fala, mas é interrompida.
— Não mãe! Acho que está queimando mesmo! — Sarah acompanha seu pai em sua constatação enquanto da passos em direção ao fogão.
Leila dá uma puxada de ar com nariz e rapidamente se direciona para a panela de arroz. Ao abrir a tampa, aquele leve cheiro de queimado se torna intenso. Ela relaxa o ombro como desânimo, olha para a direção de Júlio e Sarah com a testa frangida e a boca fazendo bico puxado para a direita.
Ao se deparar com aquela cena, nem Sarah, nem seu pai conseguiram se conter e começaram a rir.
Depois de improvisarem um pouco de carne, ovo, salada e algumas batatas. Todos ali se sentiram por satisfeito com o reencontro e com a noite. Esse clima perdura pelo restante da noite e se estende pelo domingo, que agora ganhou um reforço de peso. Júlio também conta um pouco de suas histórias sobre pequenas intrigas entre executivos e corporações, mas elas não são lá tão animadoras.
Uma família. Esse é o sentimento que toma conta de Sarah sempre para um pouco para refletir sobre o ambiente ao seu redor e do momento que está. Um conforto caloroso que logo de despedaçaria.
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