Não muito distante dali

    Um homem alto de pele clara, sentado à beira de uma mesa coberta por uma toalha escarlate sobre outra toalha maior na cor marfim, ostenta sua voz alta e firme que mesmo sem intenção se faz ouvir de leve pelos arredores.

    — Eu olhei nos olhos dela, com a última gota de esperança que ainda me restava, eu a confrontei! “porque?” — Ele para pôr um segundo sua história e delicadamente termina de mandar para dentro o último gole de vinho que balançava no fundo da taça.

    — Que trágico, e depois? — Uma voz suave e feminina esvai sutilmente da boca de uma esbelta mulher de cabelo loiro e vestido branco, que está sentada a frente do homem.

    — Ela partiu e nunca mais voltou… —  Ele termina de encher mais uma taça de vinho e olha para o belo lustre prateado com uma aura dourada acima deles. Suas pupilas brilham suavemente em um tom azul quase infinito.

    — E depois de todo esse tempo ainda se lembra dela, acho que estou com ciúmes. — Com um sorriso leve de canto boca, ela brinca com as palavras. Balança um pouco do vinho na taça e lança um olhar sorrateiro na direção dele.

    — huhuhmm… HAHA! — Você não para de me surpreender. — Enquanto fala, sua mão vai avançando até chegar um pouco acima da mão dela, e com calma a acaricia por cima.

    O olhar dele que está fixo na dança dos dedos entrelaçados, começa a correr de pouco a pouco pelo braço, pela pele clara com algumas pintas, aprecia por um instante os lábios vermelhos e chega ao destino. Quase como se estivessem olhando no fundo da alma um do outro.

    — Você realmente é humana? — Seu sorriso de boca fechada tira um sorriso de mesma proporção dela.

    — Me diga você! Você realmente não é humano? — Entre olhares e um último gole de vinho ela o retruca sem perder a gentileza.

    — Acho que nossas respostam se encontram na minha casa. — Ele solta palavras ao ar enquanto também se delicia com um grande gole de vinho.

    — Da última vez, encontramos somente respostas para mim, que tal agora procurarmos respostas para você… Na minha casa! — O olhar dela volta a encarar o dele profundamente.

    Após alguns minutos fechando a conta na recepção, eles despontam pelo tapete vermelho da entrada do restaurante andando de mãos dadas.  Logo o funcionário com um carro de luxo todo roxo e cromado.

    — Eu nunca me canso de ver essa beleza. — O olhar dela brilha com o vislumbre daquela estética automotiva.

    Ele abre a porta do motorista para ela e a oferece para entrar.

    — Sua casa, sua direção! — Sua voz que costuma ser alta e firme, até ficou mais sedutora que o normal nesse momento.

    Algumas horas depois do desenrolar de uma noite de descobertas, o sol já está em toda sua pose. Os feixes de luz já invadem o recinto onde ele se encontra deitado. Seus fios curtos e dourados resplandecem junto.

    — Acorda, preparei o café para nós. — Uma voz suave e sussurrada, escorrega dos lábios dela e o faz acordar com um sorriso no rosto.

    Ele a encara e logo se beijam carinhosamente no início e logo vai ficando mais e mais intenso. Então com um dedo nos lábios dele ela sessa o ato com um grande sorriso. Ela se levanta da cama o puxando pela mão.

    Uma leve olhada para trás para observar aquela escultura de peitoral novamente, seus olhos correm sem querer para baixo, uma mordida no canto do lábio sai sem querer.

    — O que foi? — Ele a indaga após observar.

    — Mesmo essa cueca sendo grande, ela parece pequena para você.

    Ele nada diz, só consente levemente envergonhado, nesse momento o tempo parece fluir lentamente ao redor dele, ele aprecia esse sentimento inesperado enquanto se indaga interiormente.

    “Será possível? Para um ser como eu… ter tal dádiva?”  Seu rosto serenidade.

    A manhã passa e os dois juntos, contam histórias, se divertem, observam o belo Fai-Fai com suas penas alongadas cantar imponentemente no fundo do quintal dela enquanto corteja uma fêmea.

    O almoço chega e se vai.  A tarde se apresenta, trazendo consigo um sinal vermelho piscando em seu braço sob sua pele. Sua expressão de paz e tranquilidade logo se esvai, e uma face fria com um olhar vazio encarna nele. Se levanta e olha para ela com um olhar levemente triste.

    — Preciso ir!

    Ela se aproxima dele e lhe dá um beijo em sua testa.

    — Se cuida!

    Ele a abraça fortemente e ela só se deixa levar pelo momento se entregando a situação.

    — Ottawa, esse é meu nome! — Ele deixa escapar essas palavras brevemente antes de partir pela porta.

    A pupila dela se dilata, enquanto ela se lembra da primeira vez que se conheceram:

    — Meu nome é Selene. — Ela gentilmente se apresenta para o homem que a ajudou a trocar a roda do seu carro uma estrada a beira de um belo campo esverdeado banhado pelo pôr do sol — Prazer.

    — Desculpe, não posso dizer meu nome para humanos.

    — Pelo menos posso te chamar para um almoço como forma de agradecimento?

    Ele gentilmente aceita.

    A porta se fecha e ela junta as duas mãos fortemente em cima de seu peito e com uma profunda expressão de felicidade uma lágrima escorre pela sua face.

    Ao chegar na sua casa, Ottawa logo vai abrindo uma porta secreta no fundo de seu guarda-roupa. Uma sala com uma suave luz branca, toda pintada de cinza se revela. Ele encara um traje todo roxo, seu olhar volta a ficar triste e distante.

    Após já estar vestindo o traje, coloca um capacete que se conecta a roupa e caminha em direção ao porão, duas pistolas roxas se destacam na sua cintura. Ele para pôr um instante em um canto, de frente para uma parede toda preta.

     A parte da frente de seu capacete se abre, e logo uma leve luz azul é emitida da parede que passa por toda sua face de cima a baixo, suas pupilas brilham em um tom forte de azul. Uma porta se abre em sua direção oferecendo passagem.

    Após alguns minutos andando por túneis estreitos, chega a um pequeno painel preto e quadrado a sua direita que repousa sobre uma camada de vidro.  Um núcleo arredondado e amarelo bem no centro se destaca, e ao tocá-la, aquela região em que ele está começa a descer revelando uma sala toda cinza. Corpos largados para enferrujar decoram o chão. Seu capacete volta a abrir a parte da frente.

    — Idiotas. — Ele sussurra enquanto começa a caminhar até uma janela aberta.

    Observa uma corda jogada por ela que vai até o fundo de um grande salão arredondado que cerca o local onde está, tudo está em chamas. Sua expressão fica séria, suas pupilas voltam a brilhar em um tom azul bem forte. Movimentos entre o fogo chama sua atenção. Em meio as escadarias ele vê crianças correndo. Um sorriso de ponta a ponta surge em seu rosto, e com uma última expulsada de ar pelo nariz, ele se joga pela janela enquanto o capacete vai se fechando.

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