Capítulo 32: Por você
Andando pela casa, Sarah encontra o banheiro. Ao fundo, avista o chuveiro. Revistando o lugar, ao abrir uma das gavetas que se esconde sob a pia de mármore branco. Uma toalha cinza repousa dobrada. Depois de tomar banho, agora enrolada na toalha. Volta a vasculhar a casa até que encontra um quarto.
Ocupando toda parede, um guarda-roupa cinza se estende de canto a canto. Roupas e mais roupas, todas penduradas por cabides se exibem com elegância. Infelizmente, todas grandes demais. Sarah se senta na beirada de uma grande cama com um lençol cinza e travesseiros roxos.
Olhando para frente enquanto pensa o que vai fazer, sua mente vai longe por um segundo, mas logo volta quando percebe uma cortina cinza a sua frente. Depois de encará-la por alguns segundos, a arranca da parede, expondo o quarto a claridade. Sarah joga a cortina sobre a cama, pega a adaga que deixou no banheiro, e começa a dobrar e cortar a cortina.
Vários minutos se passam desde então. Agora ela já se encontra na frente de um grande espelho. Se observa e admira o longo vestido cinza aberto na lateral que criou. Uma cinta prende a cintura.
O tempo passa e a noite cai. Sarah sai da casa pela porta da frente, descalça e com a adaga em mãos. Antes de começar a atravessar o quintal, repara que há uma garagem no lado da casa. Volta para dentro e procura a porta que leva a ela. Um carro de luxo todo roxo e cromado se destaca no meio do ambiente.
Puxando a porta do carro para cima, com suavidade ele se abre. Por sorte estava somente encostada. Então se senta no banco e fecha a porta. Quando vai colocar a adaga no outro banco, repara em um controle que repousa ali. Depois de apertar um botão verde dele, a porta da garagem se abre para cima enquanto se recolhe.
Por alguns segundos procurando pelo carro, repara que não há um lugar para colocar uma chave. Se lembra de ter vistos alguns carros de luxo em um jornal que ligam ao tocar em algum núcleo. Após passar a mão por todo o painel, atrás do volante e pelo volante. Uma pequena bola preta, que se mistura com a cor do volante, do lado direito. Agora brilha em roxo, o ronco do motor surge inundando o ambiente.
Depois de algumas aceleradas antes de deixar a garagem, ela dirige até a sua casa e estaciona na frente. Ao reparar que o portão está trancado, escala pelo canto do muro como sempre faz. Pula para dentro da varanda de seu quarto. Abre a porta que está encostada e entra na casa. Após algumas horas arrumando malas com suas roupas, ela para e olha para si mesma e começa uma breve reflexão enquanto se perde em pensamentos.
Tudo aquilo foi comprado com aquele dinheiro sujo, a cortina, o carro, as roupas na sua mala, após um instante ela começa a tirar o vestido.
Sarah vai até o guarda-roupa e pega algumas roupas que sua mãe costumava usar. Uma calça larga e marrom, uma regata cinza, um sobretudo fino e marrom que bate até metade de suas coxas, e um coturno também marrom. Após pegar o cartão que Leila lhe deixou, junta seus documentos, e os coloca em sua mochila com seu livro e a adaga.
Ao sair de casa, larga o carro ali na frente, e segue seu caminho montada em sua bicicleta.
Mal sabe como seu corpo ainda aguenta tal atividade física. Procura não pensar muito nisso e simplesmente continua pedalando por vários minutos até chegar à academia que está para fechar. Quem tranca geralmente é o próprio dono, felizmente ela consegue chegar a tempo.
— Júlio… eu posso dormir aqui está noite? Não vou estragar nada eu prometo! — Sua fala não é a de costume, uma fala mais frouxa e receosa.
Ele percebe que algo aconteceu com ela, mas não quer se intrometer.
— Você é sempre bem-vinda aqui, as cópias da chave do cadeado e da porta estão na minha mesa dentro da gaveta, tranque por dentro e não se esqueça de passar o cadeado tudo bem? — Ela acena positivamente com a cabeça. — Se você precisar de algo é só falar! — Ele a avisa enquanto já está na porta a encostando por fora. — Após alguns segundo ele volta na porta. — E vê se compra uma bicicleta nova! —Palavras que tiram um leve riso de Sarah, assim ele parte em definitivo dessa vez.
Algumas horas atrás. Pouco depois que Sarah deixou a casa por onde escapou.
A figura encapuzada que apareceu nas escadarias do subterrâneo, agora se encontra dentro da casa de Ottawa. Ele observa as pegadas marcadas no piso com um olhar distante, então uma coruja invade a casa pela porta aberta e pousa no chão ali perto.
A figura se vira e observa atentamente com seu olhar violeta a pequena criatura penosa se transformar em um homem de estatura média, corpo entroncado e todo coberto de penas marrons com detalhes em branco, somente a parte do rosto abaixo dos olhos, o nariz, as bochechas, a boca, o queixo e as orelhas que não têm penas e sim uma pele de um tom branco de palidez.
A figura encapuzada começa a revelar sua face e seu cabelo enquanto tira o capuz. Respirando profundamente, suas pupilas se dilatam levemente.
— Ela está segura, por enquanto… — O homem solto suas palavras ao ar com um leve tom de preocupação. Sua voz serena e doce ecoa gentilmente pelo ar até encontrar os ouvidos da figura encapuzada.
— Quando foi a última vez que te vi nessa forma? — Sua voz rouca e baixa se faz notar no ambiente.
— Muito tempo. Mais do que eu me lembro ou gostaria. — Ele responde olhando no fundo dos olhos dela, que retribui o olhar enquanto observa encantada a espetacular visão de infinitas estrelas nos olhos dele. Um sorriso suave surge em seu rosto.
Ele começa a caminhar na direção dela, e passa por ela enquanto observa as pegadas no chão.
— Symphony… jura para mim? — Ele com a voz embargada, solta algumas palavras enquanto lágrimas escorrem pelo seu rosto conforme observa o sangue no chão.
Então Symphony se aproxima dele pelas costas e dá um forte abraço, o acolhendo como um todo. Alguns de seus fios dourados se lançam a frente e caem sobre ele junto do rosto quente dela sobre seu ombro. Ele então desaba de sua postura toda certa, relaxando um pouco enquanto deixa sua cabeça encostar na dela.
— Prometo! Vamos livrar ela desse fardo. E depois encontrá-la.
— E juntos poderemos sorrir novamente? — Um sorriso bobo surge no rosto dele enquanto seca seu rosto com as penas dos braços.
— Não só sorrir! — Ela não consegue se conter e logo uma lágrima escorre de seu olho, que não demora a ser enxuta por sua mão sorrateira. — Vamos!
— Sim! — Ele inicia suas passadas rumo ao porão.
— Sirin… Espera! Vou pegar meu escudo ali. — Ao chegar no porão ela o observa parado em frente à entrada fechada. Então inicia uma corrida abrupta colocando seu escudo comprido e pontudo a sua frente. Sem parar, derruba a parede que desmonta em pedaços como se fosse feita do material mais frágil do mundo. Após se recompor, lança um olhar para trás, e sem dizer nada começa a caminhar pelo túnel seguida de Sirin.
Após alguns minutos vagando por ali, eles chegam até a abertura que dá para o salão oculto. Ambos olham para baixo, observam o salão, o altar, e os destroços. Também é possível notar veios de sangue que escoam dos destroços em direção ao altar. Sem pensar muito, ele logo vai se transformando em uma coruja, e voando até o altar lá embaixo.
Sem ficar para trás, ela se lança também. Ao cair no solo, seu impacto abre uma nova cratera no chão, que faz a outra um pouco atrás parecer um arranhão no chão.
— Terremoto????? — Um homem vestindo amarelo indaga ao ar enquanto busca apoio em uma grade de janela.
O ambiente sucumbi ao tremor, até a iluminação despenca e se danifica parcialmente. Sobram somente alguns feixes de luz para guiá-los na escuridão.
— Deve haver uma passagem debaixo desse altar — Sirin já transformado novamente observa o sangue terminando de escorrer por uma fina fenda para debaixo do altar.
— Sim, estou sentindo uma vibração vinda lá de baixo. Com certeza é por aqui! — Ela termina de se aproximar do local enquanto vai jogando seu capuz no chão, revelando um corpo forte e entroncado, coberto por uma armadura ajustada ao corpo, toda feita de metal dourado com detalhes na cor do bronze. Sirin vai se afastando do local, já sabendo o que vai acontecer.
Ela levanta seu escudo e o lança para baixo com uma de suas pontas indo de encontro com o topo do altar. No primeiro impacto o ambiente treme novamente e o altar começa a rachar, no segundo impacto tudo termina de ser quebrado desabando por um buraco enorme no chão. Por consequência Symphony se vê sendo levada junto dos destroços com uma expressão de quem fez cagada.
Sirin se aproxima calmamente do buraco lançando seu olhar par baixo.
— Francamente. — Ele volta a se transformar, e se joga para baixo junto dela.
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