Capítulo 36: Preparativos
Chegando no portão, não vê ninguém, então segue o caminho em sua mente até onde JP disse que o mercadinho estaria. Alguns minutos andando pelos corredores, vai colocando as mercadorias em uma pequena cesta quadrada e vermelha. Ela avista um jovem branco, magro e alto, com um boné azul na cabeça e camisa vermelha.
— Olá tudo bem? Me chamo Leo! Quer ajuda moça? — Ele a indaga enquanto repara na cesta em suas mãos.
Está cheia de maracujás, batatas, três caixas de fósforos, um isqueiro. Também há dois pacotes de arroz, três de feijão, um jogo de talher e três pratos plásticos. Uma caneca preta grande de bebida, com uma careta sorridente estampada nela em amarelo.
— Não tudo be… Pera! Vocês por acaso vendem aqueles kits, com aquelas cápsulas pequenas de gás para cozinhar? — Com uma cara de ansiedade, o indaga.
— Ahh… Você fala dos kits de piquenique?
— Isso! Eu acho.
— No fundo, lá do outro lado tem alguns. — Leo responde apontando o dedo para a direção.
— Segura aqui para mim moço! — Sarah coloca a cesta nas mãos dele, enquanto apressa as passadas até onde ele indicou.
Quando segura a cesta, se vê obrigado a fazer uma tremenda força nos braços para evitar que as mercadorias caiam. Com a face enrugada em um misto de alguém surpreso com a de alguém fazendo força. Carrega a cesta até o caixa mais próximo, e a coloca ao pé do balcão. Ao soltar a cesta, a sensação de se livrar de um saco de milho cheio até a boca toma ele. Se escora no balcão e solta o ar preso quase como um gesto de agradecimento.
— Definitivamente vou começar a ir à academia. Sedentarismo tá forte. — Ele solta palavras ao ar.
Claudia, uma moça morena de cabelo cacheado que cuida do caixa, observa o sofrimento dele.
— Meu Deus Leo! — Termina sua fala já em meio a gargalhadas que se perdem no ar.
Após alguns minutos Sarah aparece no caixa com um carrinho de compra. Nele há duas cápsulas pequenas de gás, junto de vários acessórios para eles. Um galão pequeno cheio de água mineral, e um rolo de papel alumínio.
— Aqui está você! Obrigada por trazer a cesta para mim.
— Foi nada não moça. — Ele responde enquanto desvia o olhar para a cesta por um breve momento.
Claudia dá um leve sorriso enquanto começa a passar os códigos de barra no caixa.
Enquanto repara no serviço dela, Sarah repara em algo ali do lado que não poderia deixar de comprar. Barras de chocolate, até seu se encontra ali.
— Passa essas barras de Cristal Negro junto fazendo um favor? — Com uma feição empolgada, parece que está preste a embarcar em mais uma de suas aventuras.
— Duzentos e trinta e cinco coroas moça. Como você gostaria de pagar?
— Cartão, por favor!
Sarah já está saindo do mercadinho enquanto carrega várias sacolas. Sua mochila está toda estufada, mas por algum motivo volta até o caixa.
— Vocês por acaso teriam barraca de acampamento? — A cara de Sarah é a de alguém que pergunta algo com medo da resposta.
— Infelizmente não, mas ali na frente, no armazém tem! — Claudia a responde indicando a direção.
— Aaaah, então tá. Muito obrigada moça!
— Ei, fala que foi a Cláudia do mercadinho que te indicou, ok?
Com um aceno positivo de cabeça e um sorriso, Sarah segue seu caminho.
— Quais são esses esquemas que você tem com o dono do armazém? — Leo sussurra para Cláudia. — Eu quero participar também! — Novos sussurros surgem, mas ela finge que não ouvir e se vira para dar uma ajeitada em uma prateleira ali.
Chegando no armazém, Sarah vai de encontro ao atendente.
— Olá, boa tarde!
— Boa tarde moça! Em que posso ajudá-la? — Leon, um homem branco, careca, aparentando uns quarenta e cinco anos, a recepciona.
— Estou procurando uma barraca de acampamento.
— Venha comigo! — O atendente guia Sarah enquanto eles passam por vários utensílios e produtos dos mais variados tipos.
Após alguns segundos de caminhada, passando pelos mais variados tipos de equipamentos de pesca. Chegam a um setor com vários utensílios de acampamento, que vai desde barracas até prateleiras desmontáveis. Sarah fica impressionada com o tanto de coisas que existe para essas situações.
— Essa aqui moço! — Nesse momento ela olha para a barraca com um olhar distante.
— Boa escolha! Três lugares, tamanho ideal! Gostaria também de um saco para dormir? Posso fazer um desconto os dois juntos. — O atendente não bobeia em serviço.
Após alguns segundos olhando para a barraca, Sarah olha para Leon com uma feição de alguém que acabara de ser salva de cometer uma tremenda burrada.
— Sim, vou querer! — Com um sorriso “amarelo”, ela acena positivamente.
Após alguns minutos de ausência, ele volta com uma grande sacola. A barraca e o saco de dormir, sobram dentro dela.
— Mais alguma coisa moça? Leon faz uma última jogada.
— Para falar a verdade, eu preciso sim. — Sarah se escora no balcão com as mãos no rosto, e por alguns segundos faz um profundo exercício de buscar algo na memória. — Ahhh sim, preciso de corda, vou precisar de uns quarenta metros e um saco plástico grande e resistente.
Ele toma um leve susto com o tamanho da corda. Mas prontamente vai até o fundo e volta mais rápido ainda, com variadas cordas como amostra.
— Vou querer essa! — Ela escolhe uma que é usada em alpinismo e pelas forças armadas.
— Um minuto moça! — O olho do atendente chega a brilhar, pois Sarah acabou de escolher a corda mais cara que ele tem disponível. Seus olhos até parecem cifrões. Alguns minutos depois, ele volta com um bolo grande de corda enrolada e um saco plástico grosso preto dobrado. — Aqui está!
— Era só isso mesmo!
— Deu um total de 1.545.00 coroas, com desconto… fica 1.400.00 coroas! Como deseja fazer o pagamento?
— Cartão, por favor! — Sarah pega o cartão com receio, mas paga de bom grado.
— Volte sempre moça! — O atendente mal consegue conter-se de tanta felicidade.
Na saída, Sarah esbarra sem querer em dois homens por causa da sacola. Quando vai pedir desculpa, observa a varas de pescar dourada que um deles carrega em mãos. Mas logo desvia o olhar e segue seu caminho.
Já se passaram pouco mais de uma hora de seu “horário de almoço”. Tem que voltar logo para fazer os preparativos.
Chegando no portão do porto. Um senhor que aparenta uns cinquenta anos. Cabelo grisalho, pele já meio enrugada. Corpo levemente inchado, com uma camisa cinza e calça jeans azul. Passa por Sarah. Seus olhos estranham a cena que vê.
Uma jovem com a mesma roupa de trabalho que ele costuma usar. Carregando um monte de coisas aparentemente pesadas, porém, sem perder a compostura. Assim como ele, todos pelo caminho lançam olhares.
Ao chegar no vestiário, se vê obrigada a colocar as coisas que carrega a sua frente para poder passar pela porta. Lá dentro, há uma mulher que também olha estranhando pelo reflexo no espelho. Mas logo disfarça quando Sarah olha para ela.
Sarah chega até um canto perto de uma janela aberta. Sarah coloca suas coisas ali embaixo da janela, e se senta ao lado de suas compras. Após alguns breves segundos de silêncio, ela dá uma olhada para mulher que está terminando de colocar sua roupa para aparentemente ir embora.
— Sabe… eu quero muito ir acampar, mas quem diria que precisaria de tanta coisa assim. — Sarah solta essas palavras ao ar enquanto olha para a mulher que a olha de volta, mas nada responde.
Ela pega sua sacola azul com a roupa de trabalho dentro. Uma bolsa de ombro cor de rosa, e se retira rapidamente em silêncio do ambiente.
Sarah entorta a boca para o lado enquanto frange a testa. Não que isso seja ruim, pelo contrário. Alcança o saco preto e o abre, então coloca o galão de água e depois suas coisas ali dentro. Exceto a corda, que usa para amarrar bem o saco que, e depois o joga pela janela seguida da corda que repousa por cima. Depois ela mesma pula pela janela.
Após uma breve olhada ao seu redor. Com o saco em suas costas e a corda em seu pescoço, começa a se esgueirar pelas caixas e containers vazios que tem ali. Logo encontra uma caixa de madeira parecida com aquelas que ela passou a manhã ajudando transportar para dentro do navio. Puxa a tampa, joga suas coisas ali dentro, e em seguida só joga a tampa por cima.
Em seguida puxa a caixa para perto de algumas pilhas de outras caixas parecidas com aquela, para poder achá-la depois. Em seguida sai em busca de uma empilhadeira pequena.
Chegando até onde elas ficam, sobe em uma. Após passar a manhã observando JP, já entende um pouco como liga e conduz a máquina. Para sua sorte, a chave está ali no painel. Um tranco e a empilhadeira liga. Então Sarah começa a conduzi-la até onde deixou a “sua” caixa.
Pegando a caixa com a empilhadeira, dirige até a rampa de acesso para o navio que estava trabalhando mais cedo. Ao chegar perto, encontra o lugar onde JP estava almoçando. Sua lancheira ainda está ali, mas ele não se encontra no local. Sarah passa direto e com cuidado sobe a rampa.
Já dentro do navio, chega até o canto do outro lado, onde tem um container que ainda está aberto esperando o restante do carregamento. Ela leva a caixa até na porta do container e o desce ali. Abre a caixa e retira suas coisas. Depois empurra a caixa para dentro.
Sarah pega a corda e amarra uma ponta no saco. Já a outra ponta ela amarra na beira do navio. Então começa a descer o saco com cuidado até a água. Não demora e começa a afundar com o peso das coisas que tem dentro. Ela observa por alguns segundos, e depois da uma puxada na corda para ver se o saco ainda está lá. Assim confirma que tudo está certo.
Ela volta para a empilhadeira e quando já está saindo do navio acaba observando que JP está lá sentado na mesma mureta de antes. Agora ele está sem camisa, com ambas as mãos, uma de cada lado, apoiado na mureta. Seu tronco está jogado para trás. Sua cabeça também está caída para trás. Seu cabelo castanho e curto, está penteado para trás e reluz com o sol. Sarah repara atentamente nos músculos dos braços, no peitoral definido, em seu abdômen trincado. A empilhadeira já está quase passando pelo local onde JP está, mas seus olhos insistem em observar aquele monumento bronzeado e banhado pelo sol. JP escuta um barulho, e levanta sua cabeça para ver o que é. Observa a empilhadeira, mas não consegue ver quem está ali. Então volta jogar sua cabeça para trás. Enquanto isso ao fundo, a empilhadeira acaba se chocando com um container.
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.