Capítulo 49: Lembranças inevitáveis
Nas duas semanas seguintes, Sarah fica supervisionando uma escavação em um sítio arqueológico para guilda, no sul de Niang. Após esse serviço, ela volta para casa e prepara tudo para sua viagem.
Em sua mochila só o essencial. Bronzeador, cartão de crédito, sua adaga, e dois livros pequenos. Um sobre histórias da era de ouro da pirataria, e o outro é o livro da Alvorecer Dourado. Também tem o pergaminho que trouxe dos montes.
Ela está vestindo uma calça Jogger preta; um top cinza; um coturno marrom escuro, e luvas pretas de dedos cortados. Depois de deixar várias migalhas de pão do lado de fora da janela e dar uma última olhada em seu carro na garagem do prédio. Sarah se põe a caminhar por vários minutos.
— Oi Chang. Me vê uma recheada? — Sarah para no caminho em uma lanchonete de calçada.
— Com tempero extra como de costume? — Chang a indaga já puxando algumas batatas de um grande saco em um canto.
— Por favor! — Sarah termina de sentar esboçando um leve sorriso.
— Você não está de carro hoje. Decidiu dar uma caminhada? — Ele puxa conversa enquanto já está lavando as mais bonitas.
— Estou indo viajar. Decidi ir a pé até a rodoviária. — Sarah já começa a salivar enquanto observa ele as descascando.
— Vai ficar muito tempo fora? — Ele olha de relance para Sarah mas logo retoma seu foco.
— Pretendo ficar um mês mais ou menos em Fiore. — Agora Sarah lança um olhar perdido para o gramado atrás da barraca e para as crianças brincando com espadas, escudos e adagas de mentira.
— Caramba em! Então você vai de praias paradisíacas. Pensei que você fosse mais do estilo, tour pela fronteira. Sabe, por causa de sua profissão. — Ele termina de falar com um sorriso tímido na boca, enquanto já está colocando as batatas na panela com água.
Sarah dá um largo sorriso sem intenção.
— Você não está errado! — Ela olha para a rua e para o movimento dos carros, para as pessoas nas calçadas, e para os postes com seus fios.
Chang repara que Sarah está olhando para o alto.
— Você andou tendo algum problema com a Intet ultimamente? — Ele a pergunta ao vento enquanto pressiona um núcleo avermelhado na frente de um pequeno fogão em um canto. Então surgem faíscas e um leve odor de gás, e depois fogo sob a panela.
— Não! Por quê? — Sarah responde olhando para as costas dele.
— Ficamos dois dias sem acesso em casa. Parece que bateram em um desses postes, que acabou caindo e cortando a conexão. — Ele da uma pausa no que está fazendo e se vira para ela. — Esses postes antigos, da época da energia por fio são fracos de mais. Deveriam encontrar algo melhor.
— Verdade. — Ela encara um poste novamente por um momento.
— Cara! Eu não consigo ficar mais sem Intet. Estou aprendendo muita coisa por lá. Dá até pra estudar, e assistir as coisas. Você que é arqueóloga, deve usar muito.
— Sim, um dos requisitos para o nivel intermediário da guilda é ter acesso a ela!
— Guardiã do passado, correto? — Chang em meio a leves dúvidas, cutuca as batatas com um garfo.
— Uhumm! — Sarah parece se perder um pouco em pensamentos. — Da pra encontrar mapas, histórias antigas, e sites com muitas informações. — Ela complementa enquanto dá uma rápida olhada para a panela.
— Dizem que existem alguns lugares ocultos nessa rede. Onde se pode obter informações secreta, como bases secretas dos androides. Expedições sigilosas da realeza. Até como comprar escravos etc. — O silêncio reina por um instante. — É claro, deve ser só boatos. — Ele tenta disfarçar o clima enquanto pressiona o núcleo novamente, e já vai puxando a panela para a pia.
Sarah olha para o vazio por um momento.
— Não. Esse mundo é cruel. Os seres humanos não são exceção. Ainda mais se tratando de uma rede criada pela realeza. Por mais que ela seja limitada a informações humanas e do nosso reino. Ainda assim, tem muita podridão por ai!! — Sarah solta essas palavras ao vento com olhar vago e distante.
— Eu vi em um site de notícias que graças a informações compartilhadas por Atlântis. Descobriram uma rede complexa de tráfego de crianças, no noroeste da Zona Periférica — Ele para novamente por alguns segundos a sua fala e retoma com cautela. — Você vem de lá… Não?
— … — Ela lança um olhar para ele. — Sim.
— Cara que perigoso. — As batatas começam a ser jogadas em uma bacia cheia de furos no fundo. — Ainda bem que agora que proibiram o tráfico humano. Essas redes devem ser desmontadas.
Ele faz uma rápida pausa no que está fazendo para beber um pouco de água da torneira com um copo, e logo retoma.
— Loucura né! Androides querendo escravizar outras espécies, eu até entendo. Eles são superiores sabe… — O olhar de Sarah começa a se transformar. — Mas, humanos da periferia escravizando os seus? E crianças ainda.
— Não se engane. Nem todas as informações encontradas na rede são verdade! — Sarah já com olhar mais calmo e respiração suave o adverte.
Ele fica em silêncio por um momento.
— É como você disse. Uma rede construída pela realeza. Com certeza deve ter dedo daqueles nobres podres nisso. Afinal. Foram eles que construíram aquele maldito muro para ficarem longes dos plebeus. — Dá para sentir o rancor em sua fala. — Sabe. Eu não acredito que androides fossem tão longe. E dentro do nosso próprio rein…
— Coloca as cascas para fritar também? — Ela o interrompe.
— Háá sim… Desculpa, eu fiquei com a mente distante. O especial da Sarah já vai sair. — O ambiente repentinamente fica mais leve, mas não menos amargo.
— Quanto vai custar? — Ela puxa outro assunto.
— Faz assim. Esse fica por conta da casa. Por sua fidelidade aos nossos serviços. E como presente para sua viajem.
— Obrigada Chang, você é o melhor! ― Com um sorriso gentil no rosto que até fecha os olhos ela o agradece.
Depois de vários minutos de conversa, e silêncio.
— Boa viajem para você. — Ele se despede a entregando um pacote marrom.
— Obrigada! E bom serviço para você.
E assim Sarah volta para seu percurso até chegar a rodoviária. Caminho cheio de pensamentos e lembranças. Como ainda falta algum tempo para o embarque. Ela não se aguenta, e logo vai abrindo o pacote marrom. O cheiro que sai de dentro, a escraviza de uma forma que faz seu estomago roncar.

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