Índice de Capítulo

    Com o cair da noite e a ascensão da escuridão. Silenciosos caçadores, agora dominam a floresta. Com o sono de Sarah, tudo parece voltar ao normal. Os mais diversos tipos de vida, se aventuram novamente na corrida pela sobrevivência. Cobras rastejam até suas presas saltitantes a beira do lago. Morcegos voam de uma arvore a outra em busca de frutas. Até onças brigam entre si por uma refeição pequena, cheia de pelos, e que costuma se pendurar pelos galhos. Outras feras mais sagazes, esperam sua presa dormir para atacá-la.

    Com o retorno do astro rei, é chegada a hora de alguns irem para as cavernas, e outros saírem delas. Pequeninos e grandões, todos saltam entre as arvores fazendo-as balançar, junto a um frenesi de gritos. A floresta ganha vida novamente. E assim fica por mais algumas horas.

    Suas pernas e braços se esticam. Com um bocejo bem alongado, seu abdômen se estica ao limite, forçando a pele por cima dos gomos. Os músculos divididos em sua perna e coxa, estão demarcados sobre a pele um pouco mais bronzeada que o normal. Seu cabelo comprido e todo bagunçado, está jogado em sua cara. Seus olhos se abrem, e após retirar algumas folhas, feixes de luz que penetrar entre as copas, vem do alto e brilham sobre sua face.

     “Eu dormi tanto assim????”  Sarah repara a altura em que o sol está.

    Ela se levanta, pega sua mochila e desce da arvore, seu corpo está leve, a tempos ela não se sentia assim. Após algumas alongadas, repara que o silêncio persiste na floresta. Enquanto dá uma leve suspirada, ela olha ao seu redor e vê algo que a deixa incrédula. O que tinha sobrado do peixe parece que foi levado por algum animal durante a noite. Nem a folha foi poupada, restaram somente pegadas.

    Grandes pegadas do que parece ser um felino. Sem muito o que fazer, resolve deixar isso de lado. Pelo menos serve de alerta para a próxima.

    Sarah pega sua adaga e talha mais degraus na arvore em que está, até chegar bem no alto, dali ela vê que a praia não fica tão longe, e decide descer o rio até a sua foz.

    O que antes era um local temporário de dormir, com bambus, cipós, galhos e folhas, se tornou ao longo dos dias em uma pequena casa na arvore. Conforme os dias passam as pegadas continuam aparecendo. Sarah até tenta deixar um pouco de peixe assado e ficar à espreita para ver o animal, mas sempre que ela fica acordada, a floresta se silencia, e nada aparece por perto.

    Após um mês, decide tentar ficar em concentração para ocultar sua presença a fim de ver o animal. Porém, não consegue manter por muito tempo esse estado. Desde então, todos os dias ela fica horas e horas treinando para isso. E no final de dois meses ela melhorou tanto que consegue ficar o tempo todo como se fosse o estado natural dela. A sua presença passou a ser algo que precisa ser forçado a sair de dentro para amedrontar os animais.

    Primeira noite do quarto mês.

    Sarah está aposta no alto da casa na arvores. O astro rei acabou de se retirar, e alguns segundos depois, o barulho da noite chega. Alguns morcegos rapidamente passam perto da arvore em que está. Ela vê seus vultos e ouve eles se guiando. Alguns deles tem asas brancas que brilham no meio da escuridão como se quisessem ser vistos.

    Algumas horas se passam, até vagalumes já fizeram sua visita. Mas nada do dono daquelas pegadas. Mais de uma hora se passa, e então, algo começa a sair de uma moita. Sarah se atenta ao peixe assado que deixou ao lado de uma pequena fogueira ao chão. Uma sombra se esgueirando, se torna um felino que vai ganhando forma conforme se aproxima. Sua coloração aos poucos se revela. Uma onça pintada e adulta se apresenta.

    Sarah fica admirada com a beleza do animal. Porém, não aparenta ser grande o suficiente para deixar aquelas pegadas enormes. Bom, já satisfeita, se vira para ir se deitar. Nesse momento, escuta outros barulhos abaixo, voltando para observar, algo que fez valer a pena toda a espera se apresenta. Duas onças filhotes vem pelo mesmo caminho da mãe, que deixa o peixe para eles. Uma briga que mais parece brincadeira se inicia pelo prêmio da noite. Sarah está de braços cruzados em uma pequena cerca, enquanto sorri.  Agora sim, se dirige para a concha que já evoluiu para uma cama luxuosa forrada de algo branco que parece algodão.

    A noite desliza pela floresta. As estrelas disputam pequenos espaços que sobram entre as nuvens que surgem. Não demora, e as primeiras gotas despencam. A chuva chega para completar mais um ciclo na transformação da natureza que alimenta toda a vida. Chuva que não perdura até o nascer de um novo amanhecer.

    Logo o astro rei chega para aquecer e reiniciar mais um ciclo. Os primeiros raios alcançam a casa, e a luminosidade começa a incomodar a ponto de fazê-la iniciar seu despertar. Sem abrir os olhos, Sarah começa a se espreguiçar, mas se entrega novamente ao sono e se vira para o lado. Então ela abraça algo fofo e quentinho. Em seu rosto um leve sorriso de boca fechada aparece.

    Ela aperta o abraço e escuta um leve rosnar a sua frente. Enquanto abre os olhos lentamente, seu coração começa a disparar. Uma pelugem negra se apresenta a sua frente. Em um movimento rápido, tira seus braços e perna dali, enquanto se afasta. Ajoelhada do lado de fora de sua cama. Suas pupilas correm da direita para a esquerda arregaladas.

    Ao abraçá-lo, alcançou somente o começo das costelas. Um jaguar quase do tamanho de um cavalo está ali deitado bem na sua cama.

    Ele vira para o lado de Sarah enquanto boceja. Seus olhares se cruzam, íris laranjas se chocam com íris castanhas. Nenhum desvia um segundo se quer. Após alguns instantes de uma leve tensão, o Jaguar se vira para outro lado e volta a dormir. Sarah se levanta enquanto seu coração começa a se acalmar.

    — Tudo bem! — Sarah resmunga ao vento enquanto se prepara. As orelhas do jaguar dão uma leve mexida.

    Ela ativa sua presença, e em um instante a fera já está em pé com a parte frontal abaixada, enquanto suas garras armadas, presas a mostra e olhos fissurados, entregam sua hostilidade misturada com medo.

    Sarah inspira profundamente enquanto encara o Jaguar com suas pupilas contraídas e fissuradas diretamente no alvo a sua frente. Então solta o ar enquanto relaxa a postura e oculta sua presença. A fera ainda continua na mesma, Sarah começa a deixar o local.

    — Pode ficar dormindo. Só não deixa muito pelo aí. Tudo bem? Após sair do local e descer a arvore. Com adaga e mochila, adentra a mata em busca de comida. Enquanto isso, o Jaguar volta a se deitar e dormir. Aparentemente um leve sorriso surge em sua boca no processo.

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