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    Ao avistar o navio, e chegar mais perto. Sarah não pode deixar de reparar na grande roda acoplada na lateral que mais parece um moinho d’água. Correndo o olhar para cima, e acima do convés. Uma grande chaminé se levanta imponente. Aos poucos a fumaça que ela exala vai sendo carregada pelo vento e se dissipando como se nunca tivesse existido.

    Quando o bote chega ao navio. Escadas feitas de cordas e madeira, são jogadas do alto, e chegam a quase beijar a água. Um a um, a escalada começa. Pequenas ondas se chocam com o navio, o fazendo balançar. Um dos homens até perde a compostura na escada.

    Não demora muito e a âncora antes aconchegada sob a água. Agora se vê obrigada a mais uma despedida melancólica. As velas até então, plenas e estufadas. Timidamente vão sendo recolhidas. A roda de antes começa a girar. A fumaça mais intensa, rasga o azul do céu com tons de escuridão. O navio então, abandonando o conforto do mar calma e águas paradisíacas. Começa a se deslocar em direção a alto mar.

    O astro rei que a tudo incendiava. Rapidamente se vai dando lugar a infinitas estrelas que se fazem refletir em um oceano tão calmo, que mal dá para saber se elas estão de fato acima ou abaixo. Um espelho infinito, que ao ser observado mais atentamente, ganha vida. Baleias passam em bando atrás de cardumes de peixes. Alguns polvos, e até tubarões rompem o espelho nesta primeira noite.

    Enquanto aprecia cada segundo. Sarah busca um olhar mais profundo, então um vulto que demora minutos para se afastar do navio, da um toque obscuro e misterioso para a noite. A sensação de insignificância toma conta de seu coração. Ela se rende a imaginação e tenta vislumbrar o que os aguarda durante o tempo de viajem por essas águas. A ansiedade aflora a toda por seu corpo enquanto lança olhares por todos os lados.

    Três dias e quatro noites se passaram desde a partida. Até então, algumas tempestades, algumas ondas de chacoalhar o navio. Mais animais marinhos e vultos profundos de arrepiar a espinha completam a agenda.

    Está quase na hora do amanhecer. Uma nebrina começa a tomar conta de tudo ao redor do navio, Sarah que já está acordada, começa a perceber que sua visão ficou mais turva. No primeiro instante, se admira com a neblina, porém, logo seu brilho vai sumindo ao perceber que tudo começa a se esconder. Uma estranha sensação de mistério toma conta do ar.

    Depois de um suspiro bem fundo, ela lança um olhar para trás e vislumbra o mastro principal. Ao correr seu olhar até o topo, um leve sorriso surge em seu rosto. Sem perder tempo, se aproxima do mastro e volta sua Face para cima. E lá está, uma grande cesta de madeira no topo do mastro, e uma escada de corda que sobe até sua base onde existe uma entrada por baixo. Quando ela coloca suas mãos na escada um dos homens do navio se aproxima dela.

    — Calma aí moça. Eu não acho uma boa ideia você subir lá em cima. O navio como um todo, balança bastante como percebeu. Mas lá, esse movimento é dez vezes pior. Até os homens mais experientes do navio hesitam em subir por causa da ânsia que passam.  — O homem faz uma rápida pausa ao olhar para cima, e logo retoma — Não recomendo que faça… — Ele lembra da sua primeira vez no navio — Uma vez eu também subi escondido lá em cima. Acabamos pegando uma tempestade bem no momento. Naquele dia, eu achei que iria conhecer pessoalmente Iâmur. — Ele pausa rapidamente sua fala enquanto olha para a neblina. — Podemos pegar uma tempestade a qualquer momento. Lá em cima seria o lugar mais perigoso do navio.

    Nesse exato momento um sorriso genuíno brota no rosto de Sarah. Ela dá uma última olhada para o homem. — Está tudo bem! — Vira sua face para cima, e começa a subir as cordas como se algo incrível estivesse a esperando lá no alto. O homem por sua vez, nem ousa em tentar impedi-la.

    O dia todo se passa, e ninguém vê nem sinal de Sarah no navio. Adão que está a sua procura, pergunta a um dos homens sobre ela, ele acena negativamente com a cabeça, e volta a enrolar um punhado de corda que vai até a proa. Outro homem que está passando por ali com um barril de rum nas costas, ouvi ele e se aproxima. Enquanto ele conta onde ela está, vai apontando com o dedo para cima.

    “Bem a sua cara” — Adão olha para cima enquanto pensa consigo mesmo.

    Ali de baixo ele a vê escorada em um canto, com um olhar distante para o horizonte. Depois de pegar algumas maçãs na cozinha, sobe com elas em uma pequena bolsa de couro pendurada no pescoço. Ao chegar, nada diz no começo, só aprecia a cena dela com o fundo cinza da névoa.

    — Você não sente fome não? — Ele vai colocando a bolsa no chão enquanto fala. — Trouxe umas frutas para ti, infelizmente eles não têm o maracujá que você tanto fala.

    — Eu sei.

    — No que você tanto pensa enquanto olha essa imensidão cinza?

    — Só lembrando de uma história que eu li em um pergaminho.

    — Pergaminho? Oque é isso?

    — É um tipo de papel muito anti…. Um papel que é enrolado com escritas dentro.

    — Deve ser mais prático do que escrever com carvão em casca de Ácer. — Ele começa a falar enquanto se senta no canto. — Aliás, isso daqui é bem maior do que eu imaginava. Dá até para deitar e tirar um cochilo gostoso. E com essa névoa, nem vai dar para ver nada mesmo. — Ele acaba a fala já todo esticado e deitado no local. Enquanto desamarra sua cinta, vai se transformando em fera, a toga vai deslizando para fora do corpo.

    Ela dá um sorriso enquanto ainda olha para o horizonte.

    “Isso é a sua cara.” — Ela pensa consigo mesmo enquanto sente uma brisa gelada batendo em seu rosto.

    Após algum tempo, Sarah desce e pega um cobertor que deram para usar, e volta com ele. Se deita ao lado de Adão com a cabeça encostada em suas costas. Lançando olhares para o céu, somente o breu sem fim preenche a vista. Diante de tal visão monótona, aos poucos, ela vai fechando os olhos enquanto suas mãos repousam sobre sua barriga.

    Uma noite aconchegante com alguns balanços, patadas e cutucadas desliza pela neblina, e aos poucos se vai junto dela. Um novo amanhecer começa a surgir.

    Adão ao acordar, começa se espreguiçar. Junto, vem uma pequena rosnada. Rapidamente Sarah coloca a mão na boca dele tentando impedi-lo de fazer barulho. Estranhando tal gesto, lança um olhar para ela, e logo percebe a expressão séria dela, e o olhar focado. Em um instante, se transforma em homem de novo e vai colocando sua roupa. Ao jogar um olhar rápido para baixo. Seus olhos se arregalam por um momento. Voltando para dentro da cesta, volta a observar o foco de Sarah. Então volta o olhar para fora. Só que agora para os lados. Surpreso com a quantidade de navios que os cercam, mal se lembra se respirar. Pior ainda, reparou a instantes atrás, que vários dos homens estão amarrados na base do mastro abaixo deles.

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