Capítulo 70: Batatas
Vários minutos se passam com as duas sentadas em um canto, observando cada movimento dos dois artesãos. Ainda fascinada, Sarah relembra alguns contos sobre técnicas lendárias de forjar metal que nenhum humano jamais dominou, somente um ferreiro andarilho conseguia executá-la. Mas por algum motivo ele se recusava a usar.
— Bom, agora que já demos uma forma ao metal, podemos deixá-lo descansar um pouco. — A mulher que é tão grande quanto o homem se aproxima delas. — Pronta para uma? — Ela encara a face de Shymphony com um sorriso no rosto.
— Eu nasci pronta!! — Shymphony responde sem titubear.
Sarah olha alternadamente para as duas sem entender bulhufas do que está acontecendo.
Shymphony se levanta e dá uma boa olhada sobre a bigorna de onde está, seu olhar brilha e sua boca se abre levemente junto de um suave sorriso.
— Aquilo…
— Sim! O que achou? — O homem logo vem se aproximando delas.
— O formato é exatamente como eu imaginei! — Empolgada Shymphony ela dá dois tapas bem fortes no pequeno escudo em seu braço.
— Realmente quer isso? Existem metais bem mais eficazes para isso. — O homem a questiona com a expressão de quem não entende muito bem as intenções dela.
Shymphony chega perto dele até ficar ao seu lado. Então levanta o braço para cima e o coloca no ombro dele.
— Bora entornar uma, lá eu te conto! — Dá até para ver uma pequena saliva escorrendo da boca dela.
— HUHUHUHUMMM!! — O olhar dele se vira para a mulher que o acompanha, e ele rapidamente estende o braço com o punho fechado na direção de sua parceira.
Seu sorriso de orelha a orelha nem precisa de muita explicação, só de reciprocidade que logo vem em forma de um outro punho fechado e mais um sorriso de orelha a orelha.
—HAHAHAA!! Partiu!! — A mulher simplesmente se deixa levar pelo clima, pela vibe, pela vibração!! Sarah que observa tudo atentamente, não consegue e nem quer recusar essa sensação boa que ronda o ambiente. Ela só vai, os acompanhando em direção a um corredor que se apresenta do outro lado do salão.
Uma caminhada curta, enquanto as duas acompanham logo atrás os passos largos daqueles dois que desbravam a leve escuridão do ambiente enquanto narram detalhadamente alguns momentos que acharam marcante das batidas no metal, de sua deformação, cores e tudo mais.
Sarah observa atentamente os dois enquanto repara novamente na graciosidade de seus cabelos e tecidos.
Shymphony sorrateiramente lança seu olhar novamente para Sarah por um instante, enquanto em sua mente se impressiona cada vez mais com a capacidade dela de se adaptar a situação atípica para qualquer um. Ela sente seu coração acelerar como a muito não sentia. Desde aquele dia que enfrentou aquela fera imponente em Atlás.
No fim do corredor, um pequeno armazém cheio de ferramentas em prateleiras de um lado, e alimentos do outro se apresenta para eles, cheia de odores que fazem o nariz de Sarah saltar da cara.
Os três continuam andando, mas logo reparam que a jovem de cabelos negros e vestes brancas está estática com seus olhos fechados enquanto sua cabeça está levemente levantada. Parece que ela está puxando uma quantidade notável de ar pelo nariz, e logo o solta em um gesto de puro relaxamento. Seu rosto se transforma em pura e suave felicidade, sua cabeça se inclina suavemente para a direita, e quando seus olhos se abrem, suas írises rapidamente se direcionam para um canto específico.
— Hehe! — Sarah não se contém.
O olhar de Shymphony não consegue parar de ver Ivres no lugar de Sarah, um fantasma que ainda se faz presente.
Os três observam estáticos aquele zumbi se mover de forma estranha enquanto é guiado pelo seu olfato. Rapidamente ela chega a um canto perto das prateleiras e logo vai se abaixando até chegar bem perto de um saco marrom. Ela meche um pouco na abertura do saco até que algumas começam a se revelar. Ligeiramente três sombras se projetam sobre ela, seus olhares curiosos se lançam para a cena que se esconde logo a frente.
O estomago de Sarah rapidamente reclama aos quatro cantos para quem puder ouvir.
— Batatas… assadas com molho levemente apimentado! — Uma voz suave e divina sussurrada rente aos seus ouvidos faz cada fio de cabelo do seu ser se arrepiar, então ela se retorce sutilmente para frente enquanto sente um arrepio subir pela coluna. Após uma profunda puxada de ar que logo se esvai, ela lança seu olhar para cima enquanto encara as sombras que a observa com um grande sorriso de olhos fechados.
O homem então lança sua mão em direção ao saco de batatas e o puxa sobre o ombro direito.
— Eu vou indo na frente!
— Vamos também! Preciso tomar um banho! — Rapidamente a mulher retoma seu caminha até um pequeno portal arredondado que leva para um outro cômodo.
As duas aproveitam a oportunidade e os seguem sem falar nada, somente apreciando as cenas que se seguem.
Logo após terminar de se lavar. A mulher volta de um pequeno corredor com um pano grosso sobre os ombros, seu cabelo todo colorido, está espetado suavemente.
— Se quiserem se limpar antes, fiquem à vontade. — Logo ela se direciona para outro cômodo a direita para auxiliar o homem no preparo das batatas.
— Já volto! — Shymphony se levanta e logo vai sumindo por aquele mesmo corredor. Sarah que está sentada em um canto no chão e encostada na parede, só observa. Sua curiosidade começa a instigar um pouco, até tenta lançar um sorrateiro olhar pelo corredor. Uma luz surge lá no fundo e logo some, a expressão de quem não entendeu muito bem enquanto faz um suave bico para o lado logo a entrega ao silêncio do ambiente.
Após alguns minutos ali encarando o teto, as paredes, os moveis de madeira, e um punhado de tecidos coloridos junto de pequenos metais dourados que estão amontoados em um canto sobre um baú. Shymphony retorna toda relaxada com seu cabelo ainda levemente molhado. Um pano grosso e todo colorido voa repentinamente em direção a cara dela, e morre mansamente sobre sua cabeça. Os olhos de Sarah vão de um lado para o outro observando a cena com um disfarçado sorriso de boca fechada.
Então o homem logo passa do lado dela carregando alguns panos coloridos enquanto ela termina de tirar o pano da cara. Mais ágil e sorrateiro do que se espera, ele logo vai sumindo pelo mesmo corredor correndo nas pontas dos dedos.
Shymphony lança seu olhar pelo local à procura do autor, mas tudo que encontra é a face de Sarah se retorcendo para não explodir em gargalhadas. E logo após uma suave tragada de ar, ela o solta enquanto se dirige até o cômodo onde a mulher está.
Após mais alguns minutos, dessa vez o homem retorna do corredor enquanto esfrega sutilmente um dos panos em sua longa cabeleira que nunca cansa a vista.
— Pode ir! Deixei um pano para você pendurado lá fora. — Sem muita enrolação, essas palavras são ditas enquanto ele continua a passada até sumir de vista direção das outras duas.
Caminhando tranquilamente, Sarah chega até o corredor e ao seu fundo que leva a uma pequena porta de madeira toda torta com algumas frestas por onde uma brisa suave e um pouco fria invade o local junto de alguns feixes de luz bem fracos. Ao puxar uma corda pendurada em um canto da porta, ela se abre em sua direção, a inundando de luz e de uma brisa levemente fria e com odor salgado.
Alguns passos bastam para ela desbravar o local e vislumbrar até onde a vista alcança. Vista que não se estende muito e logo se choca a parede de um dos anéis da cidade. Logo o som de uma cascata que sempre esteve ali, se faz notar atraindo o olhar seu olhar em sua direção. Ao virar sua face e depois seu corpo para a esquerda, uma encosta toda empedrada se apresente naquele estreito pedaço de chão que se banha intervaladamente por causa de sutis ondas que se quebram contra a margem ali perto.
Ao observar mais atentamente, ela logo encontra o pano pendurado em uma pedra saltada da encosta, um pouco antes da cascata. Quando se aproxima dele, também sente um suave odor vindo de um pequeno pote, odor que lembra em muito o cheiro dos sabonetes. Um líquido levemente grosso e amarelado repousa sutilmente ali dentro, logo tudo começa a se conectar. Após alguns minutos ela se direciona pelo corredor com o cabelo ainda úmido, para o local onde estava, a cada passo um odor toma conta do ar e força a entrada facilmente pelo seu nariz. Novamente sua boca começa a salivar, e seus passos até se tornam mais rápidos. Ali estão os três sentados ao redor da arredondada mesa à sua espera. Canecas de madeira e uma grande bandeja cheia de batatas douradas rodeadas dos mais variados temperos se apresenta diante dela. Sutilmente ela se aproxima da mesa enquanto eles jogam conversa fora.
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