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    Algumas horas se passam desde então. Sarah acaba pegando no sono enquanto lágrimas quase secas, demarcam a cama sob seu rosto virado para o lado. Os fios de cabelo caídos sobre seu rosto, balançam com a brisa que entra pela janela. Sem que ela tenha percebido, o dia já se passou por inteiro, e seu ferimento até já foi cuidado sem que ela tenha acordado. Shymphony somente observou o curandeiro aplicar algumas folhas amassadas sobre a abertura e fazer uma atadura com tanta delicadeza, que mal da pra dizer que a pele de Sarah foi tocada.

    Após eles já terem partido lá pelo meio do dia. Sarah ainda recebeu a visita de Adão novamente algumas horas depois. Mas ao perceber que ela ainda estava apagada, decidiu somente dar uma rápida observada pela paisagem de umas das janelas. Ali do alto, os anéis da Atlântis se tornam visíveis em estrutura e espaçamento. Os navios que trafegam entre eles, dispersam suas fumaças que logo somem ao se elevarem por um tempo. As aves disputam alguns insetos que ousam desbravas os céus desta tarde.

    Após ver Sylphie levitando para um canto da cidade, ele se lembra de alguns assuntos que tinha que conversar com ela. Logo ele se retira do quarto novamente.

    A noite cai tão rápida quanto os movimentos de Shymphony durante o treinamento. A lua já brilha intensa e cheia no céu noturno.  O que antes era uma brisa, agora já se tornou um vento mais forte que trás consigo um odor desconhecido, mas que faz o nariz de Sarah se abrir em busca de respostas.

    Após se virar na cama e ficar de face para cima. Aos poucos ela abre os olhos, ainda com preguiça de tal ação. A primeira coisa a ver é o teto marrom como o barro. Logo em seguida outra bufada de ar vem e joga seu cabelo sobre seu rosto. Ela então se vira para o lado da janela para recebe-lo de frente. A dor em sua perna já quase é imperceptível. Mas ainda existe um incomodo nítido ao se movimentar para esquerda.

    A perna direita acaba fazendo um peso sobre a atadura. Em resposta ela coloca um dos travesseiros ali jogados sobre a cama entre as pernas para trazer um conforto extra.

    Ao voltar seu olhar para uma das janelas. De primeira, ela estranha o que observa. Mas ao focar melhor, uma silhueta vai tomando forma, e depois tons. Sentada na janela, com uma perna dobrada para cima, e a outra estendida. Escora as costas na lateral enquanto seu rosto está virado para fora.

    Um cabelo tão comprido e espetado que cai por vários centímetros após a parte de baixo da janela. Seu braço direito esticado sobre o joelho, ostenta um tecido fino que sacoleja com o vento. Agora é possível ver um leve brilho prateado no ombro e no pulso. Algo como metal, parece refletir algum brilho que começa a vir lá de fora e é jogado para dentro do cômodo.

    No topo da cabeça, um par de orelhas pontudas se destacam na cor branca que também é a mesma que tinge o cabelo. Agora fica mais claro ainda a cor de toda a moldura, graças a tal luz. De repente A silhueta começa a vira sua cabeça e voltar seu olhar para Sarah.

    Aquele olhar que parece esconder a lua em um lado toma conta da atenção de Sarah. Ela sabe exatamente quem está ali. Mas não consegue pensar em nada. Somente admirar tal perfeição. Seu coração acelera de tal forma como nunca antes sentira. Ela respira fundo e com calma. Não ousa dizer se quer uma palavra. Somente um sorriso de boca fechada surge em seu rosto.

    Em resposta, a silhueta desce da janela e a passos lentos, vem se aproximando da cama. Suas curvas arrojadas. As orelhas pontudas. O cabelo tão grande que alcança o joelho, e se joga para os lados fazendo volume enquanto é sacolejado pelo vento.

    Então ela senta a beira da cama a princípio. E encara Sarah olho no olho. Nenhuma das duas emite se quer um som. Até que em um movimento repentino, ela se deita na cama. Frente a frente de Sarah. E possível sentir a respiração uma da outra. O odor de pelo agora fica mais nítido.

    — Ivres. — Sarah pronuncia o nome dela, muito mais como um sussurro do que uma fala em si. Ela não consegue tirar os olhos dos olhos dela.

    Ivres então estica o braço e a puxa para perto, colocando a face de Sarah sobre seu busto, e a envolvendo em um abraço.

    Sarah, instintivamente, retribui o gesto a abraçando em volta do tronco e a apertando com firmeza, porém de forma delicada.

    — Você se saiu muito bem mais cedo. — A voz de Ivres sai tão serena e baixa, doce e melódica, que acalma alma. — Não precisa se culpar. Poucos conseguem nos enfrentar de frente com tanta ferocidade como você fez.

    Sarah não consegue e nem quer falar, somente sentir tal momento. Tal presença.

    — Eu observei cada detalhe. E em fim, depois de tantas heras. Posso dizer, que não estou mais sozinha. Esperei tanto tempo por alguém como você. Que pude sentir a mais de uma primavera sua presença nesse mundo. E desde então eu corri até aqui, até esse momento. Até você. E depois de te ver, eu tive certeza que minha vida valeu a pena. Cada, luta, cada maldita batalha. Cada cicatriz, e lagrimas derramadas valeram a pena. Sua presença me acalma e me conforta de tal forma, que seria capaz de destruir o mundo para estar contigo.

    Sarah abre os olhos até então fechados, e busca alguns centímetros de espaço até conseguir observar o rosto dela. Ao voltar a observa-la novamente. Repara na cicatriz que vem descendo do lado direito de seu rosto, desde a sobrancelha até perto do queixo. E depois outra que vem cortando a clavícula como se uma fera tenha tentado rasga-la com as presas. Ela ousa passar a mão sobre tal cicatriz. Nesse momento ela consegue sentir infimamente o coração dela batendo em um ritmo bem mais acelerado que o comum para alguém.

    — Agora que eu confirmei sua existência. E pude ver do que é capaz. Sei que a Mãe está bem protegida. Uma calamidade se aproxima, eu sinto. Porém, sei que não serei de grande ajuda em tal momento. Preciso retornar para o norte, para minha guarda eterna. Porém, volto mais calma, e de coração renovado. Por saber que tal existência como você está aqui. — Ivres termina a fala buscando um beijo na testa de Sarah. E depois se afasta dela e se levanta.

    Sarah sem se movimentar muito só a observa ficar em pé e se direcionar para a janela. — Se algum dia você querer ser minha, e eu sua. Vá para o norte, e depois para o leste. Você com certeza irá me encontrar. Mas que fique avisada. Esteja preparada para passar pelo inferno. E se sim, eu passarei por ele com você. E o próprio demônio eu derrotarei se for preciso por você. — Ivres termina sua fala se alçando sobre a janela e ficando em pé ali. Então ela joga um novo olhar sobre o ombro para Sarah e volta a falar. — Por favor, não comente nada disso com ninguém. Somente a Mãe sabe que estou aqui. E não esqueça. Mesmo em dias chuvosos e nebulosos. Acima das nuvens, sempre haverá estrelas brilhando, irradiando esperança na escuridão. — E com tais palavras, ela some pela janela tão repentinamente como um piscar de olhos.

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