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    Alguns dias, e depois, semanas se passam. E o festival das flores enfim chega. Mãe se encontra mais folhada do que nunca. Sylphie faz questão de toda manhã chegar bem perto do tronco dela e soprar uma grande corrente de ar para o alto, fazendo com que suas folhas escarlates voem para cima e depois se espalhem pela cidade como uma chuva que dá bom dia até para os mais amargurados.

    O céu desta manhã está particularmente mais azul do que de costume. Desde o último treinamento de Adão com Shymphony, todos os dias e às vezes noites, eles voltavam para arena para treinar com tudo que têm. Adão evoluiu mais rápido que qualquer um. E a cada melhoria dele, Shymphony se sentia cada vez mais empolgada por começar a sentir aquela velha sensação novamente. Foram 48 dias de treinos. E mesmo em um ambiente noturno ela não perdeu nenhuma vez sequer. Dentre esses dias, ela treinou com Adão, com Orpheus, Apollo, Pietro, e até alguns desafiantes que surgiram conforme o boato das batalhas foi se espalhando.

    O torneio de Atlás nem havia começado. E pessoas já se reuniam nas arquibancadas para assistir os embates. Vendedores não perderam tempo e logo foram em busca de descolar uns trocados. Seja grãos assados, estourados. Bebidas, e até mesmo Korvim aproveita para exibir seus peixes. Agora, fritos, assados, porcionados em frascos. Em uma barraca no último andar das arquibancadas que é mais espaçoso que os outros. Mas ele não está só. Outras barracas com mais variados tipos de produtos, desde roupas até poções mágicas que prometem força e agilidade, se levantam. Algumas ainda estão pela metade, e seus donos correm contra o tempo para deixar tudo pronto.

    Hoje. Um último treino de exibição é orquestrado por Shymphony. Ela desafiou quem quiser para lutar contra ela. Até o meio-dia, quem ousar pisar na areia terá que enfrentá-la.

    As folhas escarlates mal caíram do alto. E ela já está lá, em pé no meio da arena sem escudo e com sua armadura dourada de costume. O primeiro a pisar ali é Adão. A arquibancada já está lotada. Mas o silêncio reina no ambiente. Até os vendedores, tanto os que perambulam, como os que guardam suas barracas, permanecem quietos e de olhares atentos na arena.

    — Ei! É ele. O felino daquele dia que tentou barganhar aquelas laranjas feias com a gente. — Em uma barraca de frutas, um homem de cabelo vermelho e olhos azuis observa a arena enquanto sussurra algo para uma mulher de cabelos pretos e olhos verdes ao seu lado. Ambos vestem roupas feitas de tecido marrom claro com aventais brancos que estampam uma laranja com a tampa cortada e caída do lado.

    — Verdade. Pelo menos conseguimos usar as sementes delas para fazer aquele chá. — Ela sussurra de volta enquanto chega com a cabeça mais perto da dele.

    Por questão de segurança, esse ano a arena foi abaixada de nível dois metros. Ideia de Pietro ao perceber que algumas de suas pedras estavam atingindo setores da arquibancada.

    A passos calmos, Adão chega perto de Shymphony e estica o braço para cumprimentá-la com um soco. Que é prontamente respondido. E sem dar um passo sequer para longe um do outro, eles se preparam para o embate.

    Adão puxa um último punhado de ar enquanto Shymphony suspira suavemente sem perder o foco dele. Uma folha escarlate vem despencando entre eles. Lá do alto, acima da arena, Sylphie levita enquanto testemunha tudo.

    Quando a folha toca a areia, ambos partem para cima. Adão avança tentando uma rasteira que é esquivada pelo alto por ela que prepara uma pequena rajada de vibração para atingi-lo por cima. Ele cai em um rolamento lateral e esquiva da onda de choque. E sem perder tempo, se transforma em fera e salta para cima dela com as garras afiadas.

    Shymphony nem termina de cair e já se vê obrigada a rolar para trás e terminar em um impulso de mãos saltando para longe. No ar, sem perder tempo, ela busca novas rajadas de vibração. Adão vai se esquivando de cada uma como se estivesse em uma dança selvagem. E a cada desvio ele se aproxima mais.

    Quando ela toca o solo com os pés, ele já está tão próximo que a obriga a fechar a guarda colocando o braço direito na frente para se proteger. Adão desfere um golpe com a garra que abre feridas superficiais na pele dela.

    Em meio a uma careta de dor, ela consegue agarrar a pata dele e com um giro o lança para cima. Todos ali já sabem o que vai acontecer. E mesmo assim aguardam atentamente tal desfecho.

    Adão lá do alto se transforma em homem novamente e logo vai fechando a guarda e se encolhendo enquanto começa a despencar.

    — Que os Besbedesk sejam testemunhas de minha determinação

    — Que os Deuses abnegados à vastidão branca sem fim

    — Depositem em mim

    — Toda a sua fé em resposta à minha devoção

    — E aqui, perante a todos e tudo, provarei mais uma vez

    — Que diante de meu punho, todos sucumbirão.

    Com a voz baixa e entoada, muito mais uma oração do que qualquer coisa, Shymphony recita tais palavras enquanto seu punho vibra e chega até a levantar partículas de areia a seu redor.

    Então ela desfere um golpe para o alto que atinge Adão em cheio. Ele tenta resistir o máximo que pode. Mas acaba sucumbindo à onda de choque e tem sua guarda quebrada. Seu corpo despenca do alto e cai na areia. A onda de choque que subiu passa perto de Sylphie que lança um olhar imponente lá do alto para Shymphony. Que por sua vez a encara ali de baixo sem desviar o olhar. Adão, observando tal cena e com suas presas à mostra, se levanta com muito esforço e de postura toda torta a encara com o olhar focado e uma expressão de raiva.

    Ao desviar o olhar de Sylphie para Adão, Shymphony o observa de canto de olho deixando a arena enquanto manca um pouco. Ela está de semblante fechado e sério e o encara com um olhar feroz. Sylphie, que a observa lá do alto, sente a vibração do ambiente e do que Atlás será desta vez.

    — E lá vamos nós mais uma vez. — Mãe, que contempla tudo do alto de seu jardim, se comunica com Orpheus que está sentada na sombra dela.

    — Eles ficam alterados quando o torneio se aproxima. — Orpheus a responde em voz alta enquanto está de olhos fechados só ouvindo os sons do ambiente.

    — Posso sentir seu coração acelerado que reverbera por meu tronco. — Ela entrega Orpheus as margaridas.

    — Fazer o quê? Vou ter que descer lá para brincar um pouco também. — Orpheus termina a fala se levantando e chegando à beira do jardim e lança um olhar para Atlás e depois para Sylphie. Que por sua vez puxa uma rajada de ar e joga algumas folhas escarlates sobre a arena.

    Ao observar tal cena, todos sabem que o próximo desafiante está chegando.

    Com suas garras à mostra e asas abertas, Orpheus se lança na arena.

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