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    Em um estabelecimento não muito longe da arena, onde feridos e pessoas doentes buscam alguma forma de tratamento. Shymphony se vê deitada em uma cama pequena e branca. Ela até levanta a cabeça para tentar observar ao redor, mas a ferida em suas costas a força a voltar para o repouso sobre o travesseiro.

    — Acho melhor você se acalmar por algumas horas. — Uma voz melódica e com tons masculinos vem do seu lado direito. O que a deixa calma ao ponto de fechar os olhos.

    — Ele está bem? — Ela indaga ao ar.

    — Está melhor que você. — Ele a responde enquanto está mexendo em pote pequeno de madeira. Algumas ervas vermelhas e outras mais esverdeadas são amassadas com destreza por um pequeno bastão de madeira de ponta arredondada.

    — Não pensei que apareceriam tantos adversários fortes em uma brincadeira dessas.  Subestimei a Primavera. — Ela termina a fala puxando um punhado de ar e o soltando de imediato.

    — A pouco mais de um ano atras eu estava meditando sobre as areias ao noroeste da nascente dos Truz-Truz, quando eu senti uma reverberação nas energias que circundam esse mundo. Até aquela lagartixa gigante ficou inquieta olhando para o céu. — O homem para sua fala enquanto dá uma olhada direita, para um pequeno estábulo ao fundo, e observa tal lagartixa deitada sobre um monte de feno. Sua coloração avermelhada com tons mais escuros conforme vai descendo para a barriga e pata sempre atraem os olhares de quem a observa.

     — Não fala assim do Nero. Ele é uma salamandra, e muito fofo. — Ela abre um sorriso enquanto se perde em lembranças.

    — Mais do que fofo, um verdadeiro amigo. — Agora quem abre um leve sorriso e até da uma leve marejada nos olhos é o homem. — Novamente, obrigado pelo presente.

    — É bom te ver bem Palos. E como está se sentindo aqui na cidade? — De olhos fechados ela solta palavras para cima.

    — Aqui é bem agitado, se comparado com uma cidade cheia de barqueiros, agricultores, ou criadores de animais. — Ele até para por um momento de amassar as ervas e lança um leve olhar para um quadro pendurado na parede a sua frente. Nele a pintura de uma rua enlameada com três crianças ao centro todas sujas de lama. Ao centro da pintura, uma menina de cabelos com tons tão pretos que parece o próprio carvão. Sua pele clara contrasta com a lama e os fios negros.

    Do lado direito dela, um menino de cabelos castanhos e pele morena que se mistura com a lama de tal forma que mal da pra saber se é pele ou sujeira. E do lado esquerdo outro menino, de fios que misturam tons dourados com castanhos, e pele clara levemente bronzeada. A lama e bem mais escassa nele.

    Os três estão com um grande sorriso e abraçados de lado enquanto olham para frente. Aon fundo a estrada enlameada segue até o horizonte se perdendo em meio a floresta. Nas laterais, casas de palha e argila se levantam tortuosas, porém bem decoradas com plantas até sobre o teto.

    Shymphony repara nele com um olhar de canto.

    — Seus fios dourados não mudaram nada. Mas esse sorriso aí. Queria ver ele um dia. — Ela solta palavras sorrateiras com um tom quase melancólico.

    — Eu também gostaria de vê-lo um dia. — O homem da arena agora está de pé do lado da cama de Shymphony observando o quadro. Ela até leva um leve susto quando ouve o som da voz dele.

    — Que bom que não está muito machucado. — Shymphony observa a atadura em volta do peitoral e abdômen dele.

    — Sirin, eu não lhe pedi para ficar em repouso por pelo menos um dia? — Palos fala enquanto volta a amassar as ervas em um ritmo um pouco mais forte dessa vez.

    — Espero que você possa revê-los um dia. — Sirin solta palavras em um tom neutro, porém não menos dolorosas.

    — Quem sabe um dia. A Floresta Negra é um lugar muito longe. — Ele para de falar e de amassar e volta a dar uma leve vislumbrada no quadro. — Espero que eles estejam bem, a jornada pelo deserto e pelos Campos Infinitos não é fácil.

    — Falando em Floresta Negra. Já ouviu falar de uma fonte de águas que curam qualquer doença ou ferida? — Shymphony se lembra de sua irmã conversando com Giuseppe no barco.

    — Já ouvi relatos sobre tais feitos. Mas nunca vi pessoalmente qualquer “água” que possa realiza-los. — Palos volta a se concentrar nas ervas.

    — Acho que um dia você deveria sair em uma jornada em busca de reencontra-los e quem sabe, até descobrir mais sobre essas águas. O lugar é o mesmo. — Sirin termina sua fala se sentando ao pé da cama de Shymphony.

    — Eu também acho que uma jornada dessas ao lado de Nero vai te fazer muito bem. — Ela fala enquanto se esforça para colocar os pés perto de Sirin.

    — Você não muda mesmo. — Sirin sorri e senta de lado enquanto coloca os pés dela sobre sua coxa e começa a massageá-lo.

    — E como foi sua busca Sirin? — Palos se vira na cadeira para observa-los enquanto fala.

    — Não foi tão difícil encontrar aquelas flores. Quando estava voando na vigésima quinta noite. Depois de algumas dunas um pouco maiores que o normal. Vi alguns pontos verdes luminosos vageando por uma planície toda chapada e rachada. Pela informação que me foi passada. Aqueles vaga-lumes adoram flores do deserto. Então acabei encontrando com certa facilidade. Só de lembrar das pétalas rosas sendo iluminadas pelo nascer do sol e colorindo aquela planície. — Ele até para a fala para dar uma olhada de canto para Nero que está rolando de costas de um lado para o outro de barriga para cima. Um sorriso genuíno brota em seu rosto.

    — Que saudades que eu estava desse sorriso. — Shymphony termina sua fala observando fixamente para Sirin. Que por sua vez olha de volta para ela e ficam se encarando sem dizer nada.

    — É, acho que vou ali tirar água do joelho. — Palos logo vai se levantando e se esgueirando para fora.

    Sirin com suavidade vai se deitando do lado dela.

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