Capítulo 10: Por isso, Tanaka Takashi… (1/2)
A ausência de qualquer ação por parte do assassino justamente quando Haruki estava sendo vigiado aumentou o nível de suspeitas internas na alta cúpula do conselho estudantil. Abrindo o leque de possibilidades conseguimos traçar algumas hipóteses.
Temos como uma das explicações que Haruki de fato é o assassino e ele decidiu não agir ontem por pura coincidência ou por ter percebido o Takashi e eu o vigiando. Também não é impossível que ele já sabia tudo de antemão, e sinceramente é o que a minha intuição aponta. Mas de que maneira?
Esses problemas levantados valem também para a outra hipótese. A de que o assassino é outra pessoa, e decidiu não agir. O que leva a mesma pergunta de antes: Como ficou sabendo do plano? Ou seria mera coincidência?
Todavia, já assumimos como premissa de que o plano desta vez não saiu de entre a Yukihara-senpai, Takashi e a mim.
Por que o assassino não agiria ontem? Talvez por estarmos com a atenção focada demais em Haruki, ele possa ter nos descoberto e induzido o nosso plano? Tendo em vista que estamos numa dimensão sobrenatural, não seria de se estranhar que o assassino tenha poderes de sensoriamento, ou quem sabe até consiga ler mentes.
Se eu abrir tanto o número de variáveis, fica inviável chegar a qualquer conclusão…
— Nossa, você está realmente acabado, Johann. O que aconteceu? Não conseguiu dormir? — pergunta Shou.
— Sim, tive alguns problemas de insônia — espirro — e quem sabe um resfriado — respondo.
— As coisas estão muito estranhas mesmo… onde o mundo vai parar? Nunca pensei em ouvir isso vindo de você, a pessoa que tende dormir mais cedo no universo — olha para Manabu — E parece que você não foi o único com esse problema.
Manabu está tão acabado quanto eu, até parece estar de óculos escuros devido a suas olheiras.
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— Pois é, eu e o Jocchi viramos a noite jogando Eroges +18. Conseguimos completar duas rotas inteiras, impressionante, né? — comenta Manabu em tom de vitória.
Quando eu peço para me cobrir, não é dessa forma que eu espero.
— Vocês e seus gostos peculiares… Eu juro que não consigo entendê-los. Como conseguem se afeiçoar por desenhos, se há tantas garotas por aí esperando veementemente pelo nosso amor.
Que visão distorcida da realidade, com certeza não estão esperando por você.
— É aí que você se engana Shoucchi. Garotas 3D são traiçoeiras, o verdadeiro amor para um homem está apenas no mundo ideal, em outras palavras, em suas waifus.
Acho que estou esquentando demais a cabeça com um problema que a princípio nem é meu. Vou apenas descansar um pouco e esperar a reunião com a Yukihara-senpai e Takashi.
12h51
Essa manhã tranquila passou rapidamente, e logo chegou o horário de almoço. De praxe, Haruki se voluntaria para provar a comida.
Esta é a ambientação mais calma que vejo desde a primeira morte. Como não houve nenhuma morte recente, a anomalia começou a tomar proporções maiores. O desvio comportamental tornou-se tão gritante de modo que ao analisar somente o presente, mal daria para distinguir o agora de uma refeição em um dia escolar normal.
— Ei, Johann-kun! Espere a gente! — exclama Miyu com seu bento em mãos.
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E pela enésima vez meus planos de almoçar sozinho foram frustrados. Não sei porque ainda nutro esperanças de algum dia ter sossego em minha vida.
— Não dê atenção a ele Miyu-chan. Terei o maior prazer de almoçar com você — diz Shou.
Os três patetas prosseguem me seguindo até a nossa mesa habitual, enquanto Shou dedica-se para ganhar mais atenção de Miyu, e ela sistematicamente tenta desviar o assunto. Manabu é o único alheio à interação, está com o olhar frenético para o mangá em suas mãos.
Quando eu estou prestes a me sentar, avisto o conselho estudantil dirigindo-se para uma mesa qualquer. Diferente do comum, quem está andando a frente é Haruki que aparenta tentar animar Natsuki, a qual persiste cabisbaixa com a morte da amiga.
Ela é uma das poucas que ainda não foi afetada, provavelmente os outros alunos que protestaram ontem contra a Yukihara-senpai estão na mesma situação. Supondo que Haruki seja o assassino, o mesmo precisa ter uma enorme cara de pau para consolar a vítima do próprio crime.
Yukihara-senpai e Takashi os seguem com olhares cautelosos. É natural, devido à suposta coincidência dessa madrugada.
Enquanto os observo, percebo que o olhar dela volta-se para mim e em seguida para de andar.
Os seus companheiros notam este fato e param também.
— O que foi? Algum problema Kaichou? — Natsuki vira-se e pergunta.
— Não é nada. Podeis almoçar sem mim, lembrei-me agora que necessito tratar de um assunto com alguém.
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Takashi logo nota por sua trajetória que ela está vindo na minha direção, e aborrece o rosto.
Ela ainda vai insistir com isso de fazer todas as pessoas da escola me odiarem? Já não bastou o papelão que foi andar com ela ontem… Todo mundo vai ficar nos encarando durante o almoço, e eu odeio com todas as minhas forças ser observado enquanto me alimento.
— Ei, pessoal. É impressão minha ou a Kaichou está vindo para cá? Isso parece tão irreal — pergunta Miyu.
— Em circunstâncias normais, eu diria que só poderia ser impressão sua. Mas pela localização desta mesa isolada, não há outro destino possível — diz Manabu.
— Bem, ontem o Johann estava com ela. Imagino que ela deva passar uma rápida ordem, né? — comenta Shou
— Nossa, faz sentido. Provavelmente isso se tornará recorrente, pois o Johann-kun agora é um membro do conselho — surpreende-se Miyu e me encara com empolgação.
— Membro temporário — corrijo.
— Não deixa de ser motivo de orgulho de qualquer forma.
Ela aproxima-se de nossa mesa, e para logo atrás de mim. Posso sentir a pressão pública exigindo que eu tome alguma atitude. Nunca cogitei presenciar isso, então não tenho nenhum comportamento ensaiado para esta situação. Portanto, apenas continuo comendo normalmente como se não houvesse notado a presença dela.
Vendo a breve cena desconfortável, Miyu não se permite ficar em silêncio. Foram menos de dez segundos, mas ao olhar alheio, fazer uma dama como a Yukihara-senpai esperar é um pecado capital com punição digna de morte.
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— Precisa de algo Kaichou? O que podemos fazer por você? — pergunta sorridentemente.
— O Johann havia prometido que iria almoçar comigo hoje, no entanto penso que seria indelicadeza da minha parte retirá-lo do seu círculo de amigos. À vista disso, posso juntar-me e almoçar convosco?
Quase tive um refluxo ao ouvir… nada mal. O que ela está tentando fazer ao se aproximar de mim dessa forma tão indiscreta? Nem ao menos precisei olhar para o rosto dela para perceber que estava falando com sua ironia habitual.
A princípio a minha reação pode soar exagerada, porém a reação dos três parece ter sido mais grave ainda, praticamente tiveram um piripaque.
Manabu paralisa totalmente, o que não me surpreende nem um pouco, pois não me lembro dele conseguir alguma vez ficar na mesma roda de conversa informal em que há uma garota inserida. Com exceção da Miyu, é claro. Aliás, não sei dizer se ele já ligou os pontos de que ela é uma garota.
Por outro lado, Shou aparenta estar tentando elaborar alguma frase ou piada para entretê-la, mas apenas gagueja em frente ao questionamento da presidente.
— C-claro que pode. Por favor, sente-se — Miyu salva o dia dos três.
Como as mesas possuem apenas quatro cadeiras, Shou em uma epifania de cavalheirismo automaticamente pega uma cadeira a qual não estava sendo usada numa das mesas vizinhas. Então ela se senta ao meu lado. Devido ao tamanho da mesa ter sido dimensionado para quatro alunos, a proximidade dela está ultrapassando a linha da minha privacidade.
O silêncio paira no ar.
Este clima está terrível, nem um de vocês pode falar alguma idiotice para quebrar esta tensão? Talvez não queiram expor a sua mediocridade perante ela. Sinto os informar, mas não precisam se preocupar com isso, pois todos já os conhecem.
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A única coisa que posso ouvir é o murmuro advindo das outras mesas mais próximas às nossas. Imagino que deve ter sido chocante ver uma rainha abrir a tampa do esgoto para interagir com os ratos mais imundos do seu reino.
Num instante de irritação, decido forçá-la a colocar suas cartas na mesa.
— Yukihara-senpai, seja sincera, o que você planeja causar com este teatro? Gerar algum caos ou apenas me atormentar psicologicamente? — paro de comer e pergunto.
Ela olha para cima com indiferença, espera alguns segundos e com seu tom sereno replica-me.
— Teatro? Sinto muito, Johann. Não tenho a menor ideia do que tu estás a referir-se. Por acaso deixei de ser informada de algo? E caos? Tu sabes muito bem que sou a pessoa que mais preza por ordem neste ambiente.
— Se você tem alguma ordem para mim, poderia simplesmente passá-la após o almoço. Ou melhor, poderia encarregar o Takashi de me avisar. Não precisava interagir comigo em público, mesmo assim o fez. Só posso concluir, a partir disso, que agiu propositadamente. Admita logo quais são suas intenções e o que pretende ganhar com isso.
Em contrapartida, ela para de comer, solta os talheres no prato e olha para mim. Desta vez com seu olhar afiado como o de um felino.
— D-desculpe-me por ele Kaichou. Ele não quis ofender, ser grosso assim é o jeito dele mesmo. Eu já o expliquei centenas de vezes que deve ser cortês com os outros, mas ele não muda. Acredito que ele tenha algum desvio em relação às normas sociais — explana Miyu toda desajeitada.
— É! O Johann é um completo idiota, não leve ele a sério. Eu vivo o avisando sobre isto, mas ele não leva jeito. Ele deveria se espelhar um pouco mais em mim — complementa Shou com o mesmo nervosismo.
Ela parece não ter dado ouvidos aos comentários sobre minha conduta e continua me encarando.
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— Eu genuinamente não me recordo da última vez que presenciei tamanha deselegância, Johann. Tu convidas-me para almoçar contigo e agora, sem motivo nenhum, estás me expulsando? Quem tu pensas que é para agir com estes modos? — retrai-se — Francamente, tenha um mínimo de decência.
Não posso crer… Ela está mentindo deliberadamente. Já perdi a paciência com esta garota.
— Do que você está falando?! Yukihara-senpai, eu não a convidei para nada. Você que acabou de se convidar, ao menos seja honesta.
Claramente ela está tentando passar-se por vítima e assim atrair o apelo popular para o seu lado, de maneira que eu não possa rebatê-la.
— Johann-kun, não seja grosso com a Kaichou! Por que está agindo igual um babaca?! Tenha mais respeito com ela! Não apenas pelo posto dela, ninguém deveria ser tratado dessa maneira! — exclama Miyu.
Assim como eu constatei, funcionou plenamente. Ela consegue tratar todos à sua volta como meras marionetes.
Decido apenas ignorar a histeria de Miyu e continuo esperando a resposta da Yukihara-senpai.
— Vós podeis informar-me se o Johann sofre de bipolaridade ou possui algum tipo de dupla personalidade? Ele está agindo tão diferente hoje, nem parece ser a mesma pessoa — vira-se para os três e pergunta.
Você quer apenas desviar da minha colocação fazendo uma pergunta sem cabimento dessas?
— Não que eu saiba, o Johann é sempre ranzinza. O que muda de um dia para o outro é apenas a intensidade do seu mau humor, porém realmente hoje ele está pior do que o habitual — replica Shou.
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— Isto é muito estranho, pois ontem suas atitudes eram diametralmente opostas. Tratou-me com muita cortesia e insistiu bastante para que eu almoçasse com ele. Eu até achei muito repentino e que ele estava querendo acelerar muito nossa intimidade, mas até mesmo eu, que já recebi inúmeras confissões, nunca presenciei um rapaz tão poético quanto ele em suas colocações. E agora ele pega e rasga todas as juras que havia declarado como se não fossem nada. Sinto-me decepcionada por ter sido iludida tão inocentemente — Yukihara-senpai mente como uma atriz, recolhe-se e finge tristeza.
Não tenho nem palavras para descrever. Meus ouvidos recusam-se a ter que ouvir mais uma palavra de uma lorota dessas.
— Que horror! Johann-kun, isso é demais até pra você! Ajoelhe-se e peça perdão agora mesmo! — Miyu exalta-se mais ainda.
— Yukihara-senpai, quando eu acho que não pode ficar pior, você consegue aumentar ainda mais esta mentira.
Miyu e Shou tomaram o lado dela, afinal para a primeira essa é a maior honra que uma colegial alienada poderia ter. E o segundo é apenas um cão de qualquer garota bela que apareça.
Manabu ainda parece estar em outro mundo, não deve estar nem absorvendo o teor da conversa. No final das contas, nem um dos três tem a mínima noção da real personalidade desta cobra em forma de gente.
— Tudo bem, não ficais bravos com ele. Terminaremos esta discussão em particular mais tarde, pois não quero estragar o horário de almoço de vós — pausa e volta o olhar para mim — E a propósito, por que tu sempre paras de me chamar de “Mikoto” quando estamos acompanhados? — Yukihara comenta e sorri.
Precisava mesmo de mais essa? Foi o suficiente até para ressuscitar o Manabu. Agora os três estão de olhos arregalados para mim. Estão encarando-me como se eu fosse um demônio que enganou a pobre rainha de coração puro. Mas o caráter dela é justamente o contrário, e este sorriso que ela demonstrou logo após falar me revela todo seu plano maquiavélico.
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