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    12h27

    — Sobre o que você quer falar conosco tão de repente, Johann-kun? — pergunta Miyu.

    — Resumindo, vocês dois estão sendo convocados para compor o conselho estudantil e nos auxiliar no embate com o assassino — respondo.

    Após a nossa reunião, recebemos a missão de buscar mais membros para a operação, Haruki e eu saímos com intuito de recrutar conhecidos.

    — Hã? — Miyu arregala os olhos.

    — Entendo que o conselho perdeu membros. Mas por que nós especificamente? Não há estudantes mais qualificados para esta tarefa? — pergunta Manabu enquanto Miyu está em choque.

    — Eu concordo plenamente, inclusive acredito que nem eu seja alguém apropriado. Porém, não estamos em condições de selecionar nossos aliados e vocês são os únicos que conheço para indicar para os cargos.

    — Compreendo. E o Shoucchi? Também o chamará?

    — Decidi não indicar o Shou por razões que prefiro não expor.

    Ambos mantiveram segredo sobre minha posição no jogo, diferente de Shou que tentou me dedurar para o conselho estudantil assim que teve chance.

    — E então? Esclarecendo isso, aceitam cooperar conosco? — repito a pergunta.

    — Sim, é claro. Seria uma honra ajudar a Kaichou nesta batalha. Pode contar comigo — Miyu responde determinada.

    Basta que a Mikoto esteja envolvida que alguns estudantes aceitam na hora sem ao menos hesitar, como foi o caso da Miyu. Vejo que o feitiço dela continua forte mesmo após ser destronada.

    — Acho que não tenho muita escolha, se é você que está pedindo Jocchi, não posso recusar. Vou ajudar na medida do possível — diz Manabu enquanto encolhe os ombros.

    — Muito bem, meu papel foi este. Agora o Haruki pode dar mais detalhes de como pretendemos agir.

    E dessa forma, com novos aliados recrutados, passo a palavra para Haruki. Ele começa os contando sobre normas básicas que devemos seguir para manter a ordem interna e prossegue gradualmente para tópicos mais sigilosos como a identidade da assassina.

    — Basicamente é isso que eu precisava os informar, acredito que estejam a par da situação. Alguma pergunta? — Haruki finaliza sua explicação.

    Miyu ergue sua mão.

    Vocês estão em apenas duas pessoas, não há nenhuma necessidade de pedir permissão para falar.

    — Por favor, pode falar — diz Haruki.

    — Q-Quando começamos? — pergunta Miyu tentando transparecer alguma confiança.

    Apenas tentando, pois o seu nervosismo é nítido de se observar.

    — Fico contente que esteja animada. Planejamos nos encontrar na sala do conselho logo após o almoço com os novos membros recrutados. Caso queiram, o Johann-san pode levá-los até lá. Agora, se me permitem, preciso me encontrar com Natsuki-chan para averiguar outras possíveis indicações — responde sorrindo amigavelmente.

    Haruki termina de falar, levanta-se e se despede educadamente dos seus interlocutores.

    Acho que vou terminar de almoçar e ir falar com a Mikoto, pois acredito que ela não possa estar falando sério sobre servir de mártir.

    Dou as costas e tento deixar o local, entretanto sou interrompido por Manabu.

    — Jocchi!

    — O que foi? — pergunto a Manabu.

    — Estou feliz que tenha pedido a nossa ajuda.

    12h43

    Terminamos de almoçar e seguimos para o ponto de encontro, a sala do conselho estudantil. Ao adentrar no recinto, nos deparamos com Mikoto, a qual já estava à espera juntamente de alguns membros de baixa patente que aguardam as suas instruções.

    Já há muita gente por aqui, mais do que eu esperava. O que por um lado é muito bom, significa que teremos uma chance a mais contra Ailiss. No entanto, gostaria de falar em particular com ela antes desta reunião, mas infelizmente terei que esperar até o final.

    Então aguardamos a chegada de Haruki e Natsuki, e por fim com todos os presentes demos início à reunião.

    Naturalmente, como a presidente do conselho estudantil e representante desta resistência, Mikoto é a primeira a se manifestar.

    — Bem, penso que todos estejais cientes do tópico central desta conversa. Entretanto, resumindo para que vós recapituleis a ideia… Precisamos abater a responsável por todas essas mortes que presenciamos nos últimos dias. Esta ação não será uma tarefa fácil por dois motivos, o primeiro como bem sabeis, é o fato dela estar equipada de armas de fogo, o que cria grandes complicações em um confronto direto. E o segundo,  é que não podemos matá-la. Pois além de assassina, também é uma dos três jogadores, logo, caso seja morta, o causador de sua morte sofrerá do mesmo destino.

    O reforço da informação do efeito de matar um jogador causa uma sensação de desconforto em alguns estudantes. Presumivelmente isto seria uma grande fonte de hesitação.

    — Em virtude de tal propriedade do jogo, não podemos simplesmente atacar com a intenção de matar. E a menos que tenhamos algum voluntário para abatê-la, tendo em vista as consequências que isto acarreta, o plano permanecerá como desarmá-la e capturá-la ainda viva — continua explanando.

    Todos permanecem em silêncio. Mikoto pausa sua fala por um instante, observa a reação insegura dos estudantes a sua volta e prossegue a falar.

    — Se me permitem questioná-los, gostaria apenas de confirmar algo antes de estipular qualquer coisa. Alguém aqui nesta sala está disposto a abdicar da própria vida e se voluntariar para matá-la?

    Silêncio. 

    Provavelmente ela já esperava por isso, nesta sala não há heróis, não protagonizamos um épico conto de bravura. A verdade é que todos estamos assustados.

    Sem falar que isso abre outras discussões como o que fazer após capturá-la. Iremos apenas esperar o jogo acabar? Tanto eu quanto ela sofreremos as consequências disso… a não ser que ela também esteja planejando… não, ela não poderia.

    Constatando que ninguém tomaria para si o papel de mártir, ela olha para baixo brevemente e volta a falar.

    — Muito bem. Como ninguém se manifestou, prossigamos com o plano original. Somos apenas colegiais, não possuímos bagagem intelectual e muito menos tempo para pensar em algum plano mirabolante, logo nossa tática necessita ser concisa e objetiva. Esta consiste numa investida direta contra Ailiss, porém há um detalhe do qual podemos usufruir de certa segurança. A princípio eu servirei de isca, e vós partireis para cima dela numa tentativa de desarmá-la.

    Você vai mesmo seguir em frente com isto? 

    A fala de Mikoto me incomoda fortemente. O que ela está propondo é inaceitável para mim. Por que decidiu algo tão importante assim por conta própria? Não somos aliados?

    — Isso não soa um pouco perigoso, Kaichou? — pergunta um estudante.

    — Sim, é claramente perigoso e provavelmente alguns de nós morreremos no processo de neutralizá-la. Todavia, não temos outro método, tendo em vista o que ela já se mostrou capaz de fazer, qualquer tentativa de diálogo seria inútil. Por isso, todos precisam estar preparados para o risco que correremos — replica Mikoto.

    — Se obtivermos sucesso e a aprisionarmos, o que faremos com ela? — outro estudante questiona.

    Do que adianta conseguirmos aprisioná-la se as regras do jogo continuam regendo esta dimensão?

    — Basicamente buscaremos por algum voluntário para matá-la e desta forma poderemos finalizar o jogo de uma vez por todas. Caso ninguém apareça, basta esperar o jogo acabar e com exceção dos outros dois jogadores, sendo eu um deles, todos estarão a salvo.

    Manabu e Miyu, por saberem da minha posição, olham para mim com uma expressão de preocupação. Eles parecem já ter ligado os pontos. Mesmo que consigamos aprisioná-la, Mikoto e eu estamos destinados à morte.

    Ela quebra minha linha de pensamentos ao prosseguir com sua resposta.

    — Todavia, não precisais vos preocupar com isto, pois eu mesma pretendo matá-la caso ninguém se voluntarie. Pelo fato de ser uma jogadora, eu iria morrer de qualquer jeito, então não tenho nada a perder. Na verdade, eu só tenho a ganhar. Porque no fim poderei até salvar mais uma vida desta forma — sorri amargamente ao expressar sua intenção.

    Apesar de não ter me encarado em meio a sua fala como de costume, obviamente estava se referindo a mim. É a segunda vez no dia que ela me surpreende.

    Provavelmente ninguém mais irá querer carregar este fardo, de modo que a morte de Mikoto se tornará certa.

    Posso julgar pelas suas expressões faciais que a reação alheia foi muito similar a minha. Porém, eles me passam uma sensação muito maior de aceitação.

    Está evidente para mim que ela não quer isto. Então por que planeja me salvar? Imagino que a vida dela tenha muito mais importância do que a minha. Então por quê?

    Mikoto, por que você está se sujeitando a isso? Ainda mais sem nem falar comigo previamente. Eu não consigo entendê-la. Apenas de uma coisa eu tenho certeza neste momento: É lógico que não deixarei você fazer uma loucura dessas. Você é minha aliada e a salvarei custe o que custar.

    17h06

    Durante esta tarde não obtivemos nem uma oportunidade de investida. Pois nem ao menos sabemos onde Ailiss foi parar. Estamos de mãos tão atadas que chega a ser frustrante. Logo nos dividimos em pequenos grupos e procuramos por horas atrás de seu paradeiro. 

    Porém, não conseguimos progredir em nada. Vasculhamos grande parte da área estudantil e nem sinal dela. Deste modo, concluímos que ela possui algum esconderijo e visivelmente não pretende sair tão cedo de lá. 

    É como se ela também tivesse sido capaz de prever que iríamos atacá-la, bem como o assassino estava passos à frente do conselho nos últimos dias. Como podemos sequer imaginar vencer algum inimigo deste calibre? 

    Todavia, decidimos permanecer em vigilância no aguardo de sua aparição. Nosso contingente é de aproximadamente trinta pessoas, enquanto os grupos nos quais nos dividimos são de três a quatro pessoas, e assim podemos ampliar a probabilidade de avistá-la pela escola.

    Apesar de todas essas circunstâncias desfavoráveis, a única coisa que me remoo em preocupação é Mikoto. Como fiquei no grupo de Manabu e Miyu, infelizmente não tive a chance de falar com Mikoto sobre o seu pronunciamento de matar Ailiss para encerrar o jogo.

    Com o aproximar do anoitecer, continuar com a busca se tornaria cada vez mais improdutivo e ao mesmo tempo mais arriscado. Portanto, recuamos novamente para o bloco e postergamos a busca do esconderijo para a manhã seguinte. Porém, se não tivermos resultados hoje, certamente não teremos amanhã se continuarmos com a mesma abordagem… assim, ela terá que alterar o método de busca do paradeiro de Ailiss.

    No momento os demais grupos estão apenas relatando a Mikoto que não conseguiram encontrar nada e eu prossigo aguardando todos se retirarem da sala do conselho para estar a sós com ela. 

    Provavelmente ela sabe que tenho algo para discutir em particular, então por que não termina este expediente de uma vez? Preciso entender melhor o raciocínio dela, o que a impulsionou a escolher isto e quem sabe mudar a decisão dela. Não… certamente mudar. Não posso permitir que ela siga com este absurdo, não importa como.

    A minha impaciência, a qual suplicava por algo que dispersasse toda essa gente, teve seu desejo atendido, infelizmente. 

    Escuto o som de um disparo advindo do pátio da escola.

    Num pico de reflexo, só podemos concluir que trata-se de Ailiss agindo. Então todos saímos correndo em direção à janela mais próxima. Obviamente, esta não era a cena que eu desejava, tanto que não conseguiria sequer reter concentração para falar com Mikoto nestas circunstâncias.

    — Meu Deus! Tem alguém caído no pátio! — exclama Natsuki completamente apavorada.

    Mais uma vez, vemos a escola manchada pelo vermelho. Num sentimento de impulso, a manada inicia a movimentação ao pátio com o intuito de socorrer o estudante ensanguentado o mais rápido possível.

    — Esperem! Pode ser uma armadilha para que nos coloquem na zona de alcance dela! — exclama Haruki.

    Realmente, este estudante caído comprova que o pátio está dentro do ângulo de disparo dela. Provavelmente o usou para atrair alguns desavisados para o mesmo ponto e assim conseguirá abater diversas vítimas de uma única vez.

    — E vamos simplesmente deixá-lo atirado no pátio? Não percebem que deste jeito ele vai morrer?! — questiona um dos estudantes.

    — Deixá-lo? O que tu planejas fazer ao chegar lá? Mesmo que consigamos trazê-lo para cá, não temos recursos médicos para salvá-lo de um disparo em cheio no peito. O máximo que conseguirás fazer a respeito é multiplicar o número de corpos caídos ao chão — replica Mikoto.

    Os estudantes aos poucos parecem ter concordado com os dois, a chama da euforia foi se apagando e desistiram de socorrê-lo.

    Volto meu olhar para a janela e vejo Manabu e Miyu olhando fixamente para o garoto. O olhar deles traz-me certo incômodo, uma angústia quase que premeditada. É como se o tempo estivesse se dilatando indefinidamente para mim, apenas para postergar tal informação indesejada.

    E como um forte e repentino soco no estômago, o meu tremor é revelado abruptamente.

    — O rapaz ali é o Shoucchi! — exclama Manabu de olhos arregalados.

    Após ouvir a declaração de Manabu, em choque, apenas posso ouvir os berros de Miyu enquanto chora horrorizada.

    — Shimizu-kun! — Ela grita seu nome.

    O Shou? Ele morreu? Só pode ser brincadeira. Ainda é difícil para os meus ouvidos assimilar esta informação.

    Numa tentativa de contrariar esta afirmação, me dirijo mais uma vez à janela e identifico atentamente as características do rapaz banhado em sangue.

    A cada detalhe que meu cérebro processa mais temeroso torna-se continuar olhando para ele.

    O corte de cabelo, as roupas. Idênticas.

     Não há mais como negar… 

    Shou foi assassinado.

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