Capítulo 18: Ailiss von Feuerstein conta uma mentira. (1/3)
Talvez eu tenha me tornado realmente insensível, mas a única coisa que sinto vendo estes restos mortais dilacerados é nojo. Eu não deveria estar tão acostumado com isso. Todavia sinto a leve impressão que cenas assim aos meus pés já são uma visão comum do meu cotidiano, o que há de errado comigo?
— Q-que… horror — uma voz trêmula surge na porta.
Esta cena horrenda coloca Natsuki, que acaba de chegar, num estado de tremor.
— Esta foi a gota d’água— comenta Haruki ao chegar ao local.
— Diga, Haruki. Quando você tem uma visão trágica dessas, se sente motivado para matar Ailiss? Mesmo sabendo que inevitavelmente irá morrer se fizer isso? — pergunto.
— Eu gostaria de dizer que sim… — Ele replica cabisbaixo — … mas não sei como agiria na hora — após alguns segundos completa ainda de cabeça baixa.
Deixando a demagogia de lado, provavelmente apenas conhecia as vítimas de vista, logo não há motivação franca para tal declaração de guerra.
— Não se sinta mal por isso, pois é uma resposta sincera, somos apenas colegiais comuns. Nossa reação natural é de sobrevivência e não heróica.
Agora que eu falei isso, toquei-me de algo… seria outra anomalia? Por que eu estava me sentindo tão preparado para abandonar minha vida em prol da segurança de Mikoto? Sinto como se isso, assim como esta pilha de corpos, já fosse algo comum.
Bem, pouco importa. O que me levou a decidir protegê-la, seja via influência ou vontade própria, é irrelevante. Salvar Mikoto tornou-se para mim um fim em si mesmo, ainda que ela proteste contra isso, estarei disposto a me sacrificar por ela. Isso é a única coisa que importa para mim.
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Um rastro de pegadas vermelhas está exposto pelos corredores, alerto aos outros a respeito. Ao segui-las, chegamos diretamente no antigo bloco da escola, no qual previamente suspeitamos que seja onde está o covil de Ailiss.
Com esta confirmação em mente, não há mais como postergarmos nosso ataque. Dessa forma, basta convocar o restante dos membros do conselho para invadir o local.
11h35
Finalmente chegou a hora do nosso contra-ataque. Reunimo-nos com todos do contingente para uma invasão abrupta. Estamos à frente do bloco cujo esconderijo de Ailiss foi instalado, porém diante deste conflito cada um parece estar disperso dentro do seu próprio mundo.
Manabu está com sua visão fixada para o além de forma desapegada, enquanto Miyu, ao seu lado, apresenta fortes sintomas de ansiedade.
Já Haruki está falando com os garotos que foram recrutados pelo conselho. Continua explicando como a investida será feita.
No fim, nada desse planejamento irá adiantar de algo, alguém sem experiência assim jamais conseguiria prever o comportamento do inimigo.
— Todos entenderam seus papéis? Vou recapitular brevemente. Metade de vocês será liderada por mim e a outra metade pelo Manabu-san. Existem três entradas para o porão do bloco. A primeira será a usada por Johann-san e as outras duas pela gente — explica enquanto aponta para os xis e círculos que desenhou no chão.
E então, Mikoto, a qual estranhamente ainda não se manifestou publicamente sobre nossa conversa antecedente, aproxima-se do grupo e interrompe a explicação de Haruki.
— Desculpe interromper-vos. Todavia, sobre Johann, houve mudanças de planos. Nós dois serviremos de isca simultaneamente — olha para mim — Vamos encará-la juntos. Não é? — diz enquanto sorri.
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Está pretendendo deixar-me próximo justamente para restringir minhas ações, correto?
— Tudo bem, Kaichou. Isto não afetará muito o plano, seja uma ou duas iscas, o procedimento será o mesmo.
Tendo em mente a pouca confiança que esta investida organizada me passa, eu planejava secretamente avançar com uma faca. Porém, Mikoto mudou de ideia a respeito disso, e com ela na minha cola ficarei de mãos amarradas.
— Miyu-san e a Natsuki-chan irão observar a operação à distância. E no pior dos casos deverão tentar buscar algum reforço — prossegue Haruki com a explicação.
Enquanto Haruki continua explicando como agir, atento-me a presença afastada de Miyu e Manabu. Ela tenta dizer algo e ele está tão distraído que está concordando sem prestar atenção em suas palavras, assentindo com a cabeça a cada frase da garota.
— Eu nunca tive coragem de te dizer isso antes, somos amigos desde a infância. Mas eu sempre te vi mais do que como um amigo, eu gosto muito de você, Manabu-kun — Miyu se confessa com o rosto totalmente vermelho.
— Sim, entend- — se fraga do que ela disse e reage assustado — Q-quê?!
Manabu apenas trava. Está movendo seus braços de maneira descoordenada e com o rosto tão vermelho quanto o de Miyu.
— Seu bobo, não me faça repetir — fala emburrada e esquiva o olhar.
— Não estava preparado para ouvir algo assim fora de um eroge — suspira — Se eu voltar vivo desta missão, lhe darei uma resposta apropriada — Manabu se recompõe e a responde.
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Se não fosse tão avoado teria tido mais tempo de preparar uma resposta, a forma como Miyu sempre falou contigo praticamente a entregava.
12h05
A princípio tudo se desenrola conforme o planejado. Haruki e Manabu foram com seus respectivos grupos para as entradas laterais ao porão. Neste momento estão no aguardo de que Mikoto e eu cumpramos nosso papel de isca e de reconhecimento do local.
Suspiro e fito atentamente o seu rosto. Está com sua normal expressão cuja transparece certa ausência de emoções, no fim das contas está calma como sempre.
— Estás preparado? — segura a minha mão e pergunta sem desfocar a visão das escadarias a nossa frente.
Não tanto quanto gostaria, para falar a verdade queria evitar isto ao máximo. Não consigo ter uma boa impressão deste conflito que está por vir, um mau presságio não para de me atormentar. Contudo, não temos escolha.
— Vamos — escondo minha hesitação e respondo.
Descemos cautelosamente as escadas.
De degrau a degrau a tensão no ar torna-se mais intensa. E com meus sentidos em alerta chegamos a um ambiente parcialmente escuro que se assemelha muito a um antigo armazém.
Está tudo uma bagunça por aqui. Como há muitas estantes e móveis antigos, isso se tornou um confuso labirinto. Os funcionários não foram pagos para limpar este local?
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É até difícil de movimentar-se por aqui. Não sei como Haruki e Manabu conseguirão entrar aqui sem fazer barulho, quase acabei de pisar em alguns pedaços de espelho no chão. Todavia, apesar deste local estar totalmente caótico, ainda tenho uma estranha intuição dos melhores caminhos que possamos tomar.
É como se eu já tivesse entrado aqui.
— Por aqui — sussurro para Mikoto.
Com o intuito de guiá-la por um caminho livre entre as estantes, estendo a minha mão em direção a ela.
No entanto, neste instante no qual dei as costas para o trajeto que estava traçando, um vulto surge fazendo com que eu novamente levante a minha guarda.
— Ora, ora jamais imaginaria que os dois viriam juntos. Isto torna as coisas muito mais fáceis para mim — a voz de Ailiss nos surpreende.
Ela sai de trás de uma das estantes e fica confiante à nossa frente. Recuo dois passos e me posiciono à frente de Mikoto.
Sei melhor do que ninguém o quão perigosa pode ser a garota à nossa frente. As aparências podem enganar à primeira vista, mas a tal donzela de longos cabelos louros apresenta o espírito de um predador inato. Não posso deixá-la se aproximar de Mikoto, custe o que custar.
— Como tu sabias que viríamos? Aliás, como antecipaste todos os movimentos do conselho estudantil? Utilizaste alguma espécie de magia com atributos de clarividência? — pergunta Mikoto.
— Quantas perguntas para alguém encurralado… eu tenho meus meios. Naturalmente não vou contar como fiz. Não faria sentido me aborrecer explicando-os detalhes sendo que irão morrer em breve, seria apenas uma perda de tempo.
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Então não tem jeito. Ainda residia um pingo de esperança por uma reviravolta que desincriminaria Ailiss. Até vê-la matando, não queria acreditar que ela realmente fosse a assassina.
— Tudo bem, os meios também não importam tanto para mim. No entanto, há algo que preciso ouvir diretamente de você. Admite ser a responsável pela série de assassinatos? — pergunto.
— Sim, fui eu. Qual o problema nisso? Estava entediada e eles são apenas lixos que não fazem diferença alguma neste mundo. Logo, entreter-me é um papel mais nobre do que meramente existir — replica com um tom de superioridade.
Então tudo não passou de mero objeto de diversão? Pela nossa primeira conversa, pude identificar diversos elementos de sadismo na sua fala. Porém, não imaginei que seria um caso tão banal como este. Não há como dialogar com alguém coberto de tanta sociopatia quanto ela.
— Como tu consegues cometer tantas atrocidades sem demonstrar um pingo de remorso? Estamos falando de vidas humanas, vidas que não têm nada a ver com os problemas entre nós — Mikoto a confronta.
— Não seja demagoga, você também não liga para eles. Tanto que colocou todo mundo dentro deste jogo correndo risco de vida para salvar a si mesma. Que egoísmo da sua parte, não acha?
Na noite passada, Mikoto alegou que apenas conjurou o jogo por estar sobre ataque, ou seja, foi pressionada por você. Portanto, não a jogue no mesmo saco. Vocês duas são totalmente diferentes.
— E por que estava atrás dela? — questiono.
— Não há um rancor pessoal ou algo do gênero, sou uma assassina profissional. Meu trabalho é matar outros usuários de magia negra, apenas isso — muda a expressão com seriedade — Mas chega de perguntas, vocês não estão em posição para me questionarem sobre nada e já está na hora de eu me divertir um pouco.
Ailiss começa a andar em nossa direção com uma arma em mãos.
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Foi com aquela arma que ela matou Shou a sangue frio. Parece que ela está dizendo a verdade sobre ser uma assassina profissional, porém isto não implicaria que alguém a contratou para matar a Mikoto? Se for o caso, claramente isso ainda não anula as maldades por ela praticadas, mas de alguma maneira possamos fazê-la desistir disso e então focar no próximo alvo.
Por outro lado, não acho que teríamos dinheiro o suficiente para suborná-la. E mesmo que fosse o caso, como a própria alegou, ela deve se mover mais pelo prazer em matar do que dinheiro em si.
— Se eu estivesse no teu lugar, pensarias bem antes de agir. Ao nos matares irá morrer da mesma forma, noutras palavras, a tua posição é a mesma que a nossa, estás presa neste jogo — fala Mikoto na tentativa de afastá-la.
— Fufu — ri levemente — Você acha mesmo? Não percebeu que eu modifiquei a realidade dentro do seu querido ritual? — responde ao mesmo tempo em que se aproxima.
— Modificaste a realidade? Estás a dizer que tu podes alterar a mecânica de uma conjuração de magia negra? Nunca ouvi falar de uma habilidade desse naipe, nem do mais experiente usuário de magia negra.
— Está chocada com algo simples assim? Seu escopo de possibilidades é demasiadamente pobre, como uma exemplar princesa sacerdotisa que ficou limitada ao conhecimento passado por seus antecessores. Graças a todo esse tradicionalismo engessado, deixou uma importante possibilidade passar.
Ailiss pausa, fecha os olhos, solta um pequeno riso e volta a falar.
— Mas não vou obrigá-la a nada. Acredite se quiser. No fim você sabe que é verdade, as propriedades desta realidade foram adulteradas.
Então ela é a causadora dessas anomalias? Não sabemos o quão alterado foram os princípios de funcionamento que Mikoto me explicou ontem à noite. Talvez algumas regras estipuladas não sejam aplicadas para ela, mas não temos como julgar a veracidade desta informação.
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