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    13h08

    No momento estou torcendo para que o professor chegue logo. Pois sempre quando o professor se atrasa, ele faz um acréscimo no final da aula.

    Sinceramente, por que preciso estar nesta aula de reforço? Ah, é mesmo, isso é minha culpa. Eu fiz um acordo com o diretor de manter 100% de presença, e desta forma não preciso participar de nenhuma atividade extracurricular como clubes.

    Kobayashi Keiko, a representante da turma e primeira secretária do conselho estudantil, entra cabisbaixa na sala de aula. É notável a aura de derrota que transpira pelo seu corpo.

    Miyu vai até ela puxar assunto, pois é natural querer ter proximidade de alguém da alta casta do convívio escolar.

    — Kobayashi-san, aconteceu alguma coisa? — fala toda sorridente.

    — Ai… cara. Sinto como se eu tivesse tomado um belo de um sermão — desajeitada coça a cabeça.

    — Da Kaichou? — pergunta surpresa.

    — É… eu avisei-a que precisaria vir a aula de reforço de matemática. Foi terrível — pausa seu relato enquanto se senta, respira fundo e conclui — Ela não me depreciou verbalmente por nenhum instante, apenas o “Hmmm. Entendo” dela foram o suficiente para me jogar para baixo.

    Miyu continua sorrindo preocupada.

    O professor entra na sala e todos que estão em pé voltam aos seus respectivos lugares.

    Levemente irritado, abre sua bolsa e retira uma pilha de papel. Encarando com muito desgosto as folhas em suas mãos começa a discursar.

    — Muito bem, como vocês bem sabem, a média da turma no exame de matemática foi tenebrosa. Por isso o coordenador solicitou que eu aplicasse aulas de reforço no horário que seria destinado a tarefas de clubes.

    Ele suspira com um olhar cansado e prossegue. 

    — Estou muito decepcionado com vocês, apenas um aluno não ficou com nota vermelha. Eu esperava mais dos meus alunos, especialmente de você Kobayashi.

    Ela desvia o olhar para baixo como um cachorro que acabou de comer o sapato do dono.

    Então ele olha para mim e diz.

    — Johann, todavia você merece os parabéns por ter gabaritado o teste.

    Assinto por educação e ele prossegue com o sermão explicando que os estudantes deveriam tirar pelo menos uma hora do seu tempo livre para revisar a matéria.

    Já eu não consigo entender como eles conseguem ir mal em algo que não é preciso decorar absolutamente nada. Tudo pode ser deduzido na hora.

    O professor começa a aula fazendo os fáceis exercícios de matemática que caíram na prova.

    Passado algum tempo as caixas de som ligam chiando às 14h17. Todos voltam seus olhares para ela como um refúgio para o tédio. Eles provavelmente estão esperando algum comunicado inusitado do diretor ou da presidente, qualquer coisa que os tirem dessa entediante aula.

    Para a infelicidade dos meus colegas, a voz esperada não surge, o que gera uma pequena ansiedade coletiva.

    — Será que está com defeito? — cochicha um estudante.

    Logo em seguida o ruído cessa e finalmente um comunicado é executado.

    — Olá a todos! A partir de agora vamos jogar um jogo!

    Isto foi duplamente inusitado. Além do conteúdo sem nexo, é a voz de uma criança. Serviu para chamar a atenção de todos, inclusive do professor.

    — Ei, onee-chan, sou eu que deveria anunciar desta vez — surge uma segunda voz.

    Outra criança? O que diabos está acontecendo?

    — É verdade. Desculpe, vá em frente.

    Olho em volta e vejo todos murmurando entre si. O professor permanece fixado no alto-falante com expressão de irritado por ter sua aula interrompida. 

    — Certo, o jogo funcionará da seguinte forma. Há apenas três jogadores, todavia não se preocupem, todos podem participar! — a segunda voz prossegue animada.

    Não há estudantes de uma idade correspondente a essas vozes. Ou seja, provavelmente algum funcionário trouxe os filhos juntos, e os travessos adentraram a sala de áudio para aplicar um trote.

    — E as regras também são muito simples, o jogo acaba imediatamente com a morte de um dos três jogadores — continua com a explicação.

    A turma tem uma leva perturbação ao ouvir a palavra “morte”. O que essas crianças andam assistindo para ter uma ideia dessas? Talvez alguém mais velho seja responsável pelo trote e as obrigou a fazer isso.

    — Porém, o responsável pela morte do jogador em questão sofre uma penalidade, seja ele outro jogador ou não, terá o mesmo fim de sua vítima. Ao todo o jogo dura 150 horas contando a partir de agora — a voz animada sofre aos poucos uma transição para algo mais sério e sem vida.

    Todos estão com o rosto estático sem entender nada, isso está realmente ficando perturbador. Obviamente isso não tem a menor chance de ser verdade.

    Mas por quê? Por que esta brincadeira está me perturbando tanto assim? Estou sentindo uma angústia muito forte a cada palavra emitida, uma pressão arrasadora toma o meu corpo, como se eu estivesse no ponto mais profundo de um oceano sendo sufocado por uma imensa coluna d’água.

    — E não menos importante, ninguém é obrigado a participar! — a animação na voz volta por um instante, mas na sentença seguinte já volta ao padrão anterior — Vocês podem simplesmente desistir saindo pelo portão principal, dessa forma terão sua alma consumida e desaparecerão. Não esqueçam: o preço para sair do jogo é uma vida.  Os três jogadores, logo perceberão que são os próprios.

    14h19

    As vozes das crianças param e os alto-falantes desligam-se subitamente. Olho à minha volta e percebo todos boquiabertos.

    Esta estática é então quebrada por um comentário do professor.

    — Voltem a prestar a atenção na aula! — vira-se para o quadro e resmunga sobre o ocorrido — Essas crianças de hoje em dia… Se prestam até para invadir uma escola para pregar uma peça.

    — É como se uma coisa dessas fosse ser real, não estamos em um filme. Aqui é a vida real — Keiko fala coçando a cabeça.

    É bem provável que ela tenha acreditado nessa loucura e agora está disfarçando para não parecer uma imbecil.

    — A história deles foi bem bolada. Hahahaha — outro aluno comenta em risadas.

    E assim, aos poucos, o foco dos demais estudantes volta-se para o quadro negro e ao som emitido pelos impactos do giz do professor ao escrever.

    — Neste problema, facilmente a dimensão é encontrada pela lei dos cossenos — continua escrevendo no quadro.

    A calmaria não dura muito, desta vez um grito externo joga o clima de volta para um estado de tensão.

    — O que foi isso?! — exclama um estudante ao mesmo tempo, em que corre para a janela.

    Aproximadamente setenta por cento da sala levantam-se bruscamente e vão até a janela ver o que acabou de acontecer. Eles espremem-se para matar a curiosidade enquanto o professor tenta fazê-los sentarem novamente.

    — Pessoal, mantenham o foco na aula! Eu não tenho o dia todo! — reclama o professor.

    — Meu Deus! Parece que alguém morreu! — grita uma colega.

    Morreu? Como assim?

    — Permaneçam aqui, eu vou verificar o que aconteceu! — fala o professor.

    Eles ignoram completamente as palavras do professor, e saem correndo porta a fora em direção ao pátio. 

    — Oh, céus. Eu não ganho o suficiente pelo trabalho — resmunga e vai atrás deles.

    Aproveito que agora não preciso me espremer para observar e vou até a janela. Vejo um amontado de estudantes em volta do portão principal, aparentemente há gente de todas as outras turmas. Logo em seguida, também avisto os meus colegas de aula aumentando a multidão. 

    Deste ângulo está complicado de entender o que se passa por lá. Talvez eu deva ir para alguma janela dos corredores para ter uma perspectiva mais ampla.

    Quando decido ir para outro local observar a situação, meus olhos vislumbram a mesma cena de hoje cedo. À margem da multidão, a figura misteriosa da tal estudante intercambista está mais uma vez me encarando. 

    Ela de novo? Por que a presença dela me perturba tanto assim? 

    14h28

    Saio correndo da sala de aula, desço as escadas o mais rápido possível e então me aproximo do local. A princípio não estou dando a mínima para o espetáculo que intriga a multidão, apenas preciso aliviar este mau pressentimento que sufoca o meu peito. 

    Caminho de um lado para o outro contornando o aglomerado, mas nenhum sinal da garota. Tento averiguar se ela está oculta no meio da massa, todavia também não parece ser o caso. Ela simplesmente sumiu.

    Confesso que é até estranho o fato de eu estar tão incomodado com a presença dela na escola. Mas não posso ignorar os meus instintos gritando para que eu suspeite da chegada de um desconhecido coincidindo com este bizarro incidente.

    Conforme desisto de procurá-la, passo a dar mais atenção ao assunto que está focando a atenção de todos. O tal trote das crianças. Aproximo-me do portão e vejo várias roupas caídas na entrada da escola. Há muitas roupas de funcionários e professores, e a que chama a atenção de todos é a de um estudante.

    — O Asahi-kun desapareceu na frente dos meus olhos! — exclama uma garota com o rosto em lágrimas.

    Algumas alunas do primeiro ano estão bancando as testemunhas. Mas o que elas dizem é impossível de acontecer. Se bem que eu não ficaria nada chateado se aquele jovem metido e escandaloso tenha realmente desaparecido.

    — Bem, chega de baderna. Voltem já para dentro da escola! — o nosso professor resolve colocar ordem na casa.

    — Mas estamos em perigo! — outra protesta.

    O professor caminha em direção à saída da escola, observa atentamente as roupas dos funcionários e o suposto uniforme de Asahi. Vira-se para a massa de estudantes e fala enquanto cruza o portão.

    — Bobagem! Isso é completamente irreal. Vejam só, eu posso sair livremen-

    No instante em que o professor estava encerrando sua sentença, o próprio desaparece, deixando apenas suas roupas caindo como prova de que por um momento esteve ali.

    As meninas mais próximas gritam apavoradas.

    — O professor desapareceu também! — outro aluno exclama.

    Bem, julgando pela reação alheia, isso é o que aparentemente os outros enxergaram. O que eu vi me abalou pesadamente, tanto que mal teria condições de gritar ou sair correndo. Estou simplesmente paralisado.

    A responsável pelo “sumiço” do professor está parada logo à frente do portão.  

    A Morte. 

    Foi ela quem ceifou o professor.

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