Capítulo 20: Ailiss von Feuerstein conta uma mentira. (3/3)
13h30
— Ai, está doendo!
— Só mais um pouco, Manabu-kun — fala Miyu ao mesmo tempo em que cola curativos em seu rosto.
Não consegui nem colocar em palavras a Miyu o quão terrível foi o resultado. Fomos verdadeiramente massacrados.
Perdemos praticamente todo o nosso contingente nessa investida falha. Manabu e Haruki foram os únicos sobreviventes além de mim e Mikoto. E ainda por cima estão num estado deplorável.
Sinto-me um pouco responsável por não ter conseguido derrotar Ailiss, deste modo parece que tudo foi em vão. Não sei se Mikoto sente o mesmo, mas também está com o rosto deprimido.
— Você ao menos poderia ter mencionado que sabia lutar karatê — tento distraí-la.
— Como disse a ela, eu estou enferrujada, não pensei que fosse algo que poderíamos contar como vantagem. Bem, pelo menos era o que eu acreditava — responde.
— Não parecia ser o caso, você conseguiu me salvar duas vezes. Quem me dera estar enferrujado como você.
— Este é o ponto. Estranhamente meus reflexos, os quais deveriam estar lerdos, foram rápidos como nunca. Movimentei-me de modo inédito até para mim, porém para o meu corpo parecia algo muito habitual. Bem, acho que não deveria estranhar mais nada inusitado dentro desta realidade.
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— Será que de algum modo seus instintos tornaram-se mais aguçados devido à interferência sobrenatural?
— Hmmm… acho que não parece ser o caso — olha para mim.
— Possui alguma explicação mais plausível?
— É lógico, acaba-me de vir à mente a única explicação racional para o meu súbito aumento de reflexos. Ora, não seria de se espantar de eu ter ficado mais forte momentaneamente para salvar o meu amado. Não achas? — sorri debochada.
Envergonhado desvio o rosto.
Nem mesmo agora, numa situação na qual todos nós estamos correndo risco de vida, ela perde a oportunidade de me ironizar? Eu já devia ter me acostumado com isso.
Porém, quando discretamente volto meu olhar para ela, percebo que o tal sorriso já havia desaparecido. Puxei conversa para animá-la, quem sabe ela estivesse fazendo o mesmo que eu.
Atento-me a Natsuki, a qual chora sem parar desde que voltamos do esconderijo, alegando que não pode fazer nada.
— Calma, veja eu estou bem. Há ferimentos que preferia não ter, entretanto sobrevivi — Haruki mesmo absurdamente ferido tenta a confortar.
Bem entre aspas, né? Por pouco não foi espancado até a morte.
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— Não estou chorando por causa disso! Estou chorando de RAIVA! EU VOU MATAR AQUELA DESGRAÇADA! Da próxima vez quero ir JUNTO! — Natsuki começa a gritar de modo histérico.
Confesso que nunca imaginei uma garota frágil como ela gritando desta maneira. Até Haruki está chocado com a reação dela. Talvez ela precise apenas de uma dose de realidade.
— Ela está equipada de uma metralhadora, certamente terá o mesmo fim dos outros. Como planeja se aproximar dela? — pergunto.
— NÃO ME IMPORTA! ELA PODE TER ATÉ UMA BOMBA ATÔMICA, VOU MATÁ-LA E NADA VAI ME IMPEDIR!
Suspiro.
Não adianta tentar dialogar com ela no momento, não está sendo racional. Está comportando-se como um pequeno cão que late de trás de uma grade que o protege. Entretanto, no momento em que for encarar o perigo diretamente terá que rever seus julgamentos.
Sinto algo gentilmente entrelaçando-se com meus dedos. É a mão de Mikoto. Olho para ela e percebo que ainda está com uma expressão abatida.
— Veja, estamos numa situação complicada. Como podemos exigir que eles ajudem-nos? — sussurra Mikoto enquanto aponta para Manabu e Miyu.
Observo a situação da qual Mikoto refere-se.
— Manabu-kun, nunca mais se meta numa dessas. Ouviu? Quase morri do coração — diz Miyu segurando as lágrimas e abraçando Manabu.
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— Tá. Tudo bem. Miyucchi, você está me sufocando — Ele replica.
Eu entendo perfeitamente o que Mikoto quis dizer. No fim, todos que se envolveram nisso acabaram mortos ou muito mal. Se não quisermos mais carregar este tipo de culpa, o nosso último confronto é algo que possivelmente nós dois teremos que resolver por conta própria.
— Ainda não acabou — respondo e retribuo o aperto em sua mão.
16h18
Passamos o restante da tarde nos recuperando do fracasso que foi a investida contra Ailiss. Mikoto agora está inclinada a tentarmos decidir tudo sozinhos, porém no fundo deve saber melhor do que ninguém que não teremos chance alguma dessa forma.
Talvez a atitude mais sensata seja que eu agora mesmo fosse atrás de mais aliados e preparasse um ataque ainda maior amanhã. Afinal será o nosso último dia, não temos mais tempo a perder. Nenhuma falha a mais é admissível.
Mas não é isto que o ser brilhante aqui decidiu fazer. Decido seguir este desejo incontrolável de falar com Ailiss, pois sinto que há coisas a serem esclarecidas entre nós. Para o meu cérebro alucinado, talvez ainda tudo não passe de um mal-entendido. Por mais que todas as evidências digam o contrário, minhas emoções recusam-se a aceitar este desfecho.
Assim sendo, por mais irresponsável que isso possa parecer, mais uma vez adentro o covil de Ailiss.
— Então os pombinhos não vieram juntos? Estou bastante surpresa — comenta Ailiss ao perceber minha presença.
A fito sentada de pernas cruzadas sobre uma mesa que foi descartada para o armazém.
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— Eu gostaria de discutir em particular com você sobre algo. Algumas coisas ainda não estão claras para mim — respondo
— Bastante corajoso da sua parte, mas ao mesmo tempo muito imprudente. Diga-me, o que me impede de disparar em seus membros e confiná-lo até o final do jogo? Você está completamente indefeso.
Obviamente nada, eu sabia dos riscos que iria correr ao me encontrar com ela. Porém, minhas pernas mesmo assim me trouxeram até aqui. Bem como, sei que esta vontade pode não passar de uma mera manipulação da minha mente via magia negra.
No entanto, ao olhar para o seu rosto recuso-me a acreditar nessas teorias.
— Quem sabe um pouco de empatia?
— Empatia, eu? — franze a testa — Acho que eu poderia rir dessa piada se eu não estivesse de mau-humor.
— O que vale é a tentativa. Em todo caso, por que não fez isso desde o começo? Poderia ter me matado no momento em que entrei aqui, contudo não fez, e ainda preferiu dar início a um diálogo comigo. Aliás, você possui o monopólio das armas aqui dentro, poderia também ter nos derrotado logo no primeiro dia.
Vamos, por favor, mostre-me que isto é apenas uma máscara, seja lá qual for o motivo. Você não é este personagem que está tentando construir.
— Se eu estivesse participando deste jogo para valer, não teria a menor graça. Estariam todos num mar de sangue em poucos minutos e não seria divertido caso tudo acabasse rapidamente — encara-me com os braços cruzados.
Diversão? De novo esta explicação? Desculpe-me, mas não consigo engoli-la. A explicação em si não é o problema, não é novidade que exista a caça por mera recreação. Entretanto, creio que você estaria rindo ou expondo expressões de alegria mais explicitamente enquanto mata. Porém, apenas aparenta estar indiferente em relação a isso, como se fosse algo que necessitasse cumprir. Uma obrigação.
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— A meu ver, você não parece estar se divertindo de qualquer forma.
— Ei, Mistkerl… O que você esperava ganhar vindo até aqui sozinho? Por algum segundo cogitou mesmo que poderia me persuadir por culpa e me trazer para o seu lado? — suspira e descansa o rosto em um de seus punhos.
Sempre que ouço este apelido nada carinhoso, uma sensação estranha interfere com meu cérebro. Um fortíssimo déjà vu bagunça a minha cabeça.
Recomponho-me e então a respondo.
— Eu não sei, os meus instintos tem uma opinião sobre você completamente diferente do que foi demonstrado até agora. Gostaria de entender o porquê das coisas parecerem não fazer o menor sentido. Sinto como se você fosse uma conhecida de longo prazo, ainda quero confirmar isto.
— Ainda não compreendeu que eu não gosto de piadas? — cerra os olhos — Você só está dizendo asneiras. Tem certeza de que não bateu a cabeça em algum lugar? Talvez essa crise de insanidade tenha ocorrido quando o arremessei contra a parede mais cedo.
— Eu falo sério. Explique-me então, se você é mesmo a responsável por trás dessas anomalias. Normalmente eu deveria odiá-la depois de tudo o que você fez. Espancou o meu melhor amigo na minha frente, assassinou outro e até tentou me matar. Ainda assim, quando penso em você só consigo sentir afeto, o seu rosto soa como se você fosse uma velha amiga. Realmente nunca nos encontramos na Alemanha? A sensação de que a conheço não poderia ser mais real.
Ela franze a testa, levanta-se e anda lentamente até mim. Para com seu rosto a poucos centímetros do meu.
Em um instante estou preso nestes encantadores olhos vermelhos. Já no frame seguinte, estou agonizando e caído aos seus pés.
Sim, fui golpeado e quase fui levado a nocaute. O punho desta garota é realmente só pode ser feito de aço temperado. Se ela tivesse posto um pouco mais de força com certeza acabaria com uma fratura no crânio.
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— Mistkerl, eu não vou repetir. Você está completamente louco. Talvez este golpe de punho possa colocar o seu cérebro no devido lugar — fala fitando-me de cima.
Ela dá-me as costas, afasta-se e novamente senta-se sobre a mesa na qual normalmente fica.
Limpo meu rosto que está sujo de um pouco de sangue oriundo do soco dela. Levanto-me e permaneço em silêncio olhando para ela, e então ainda desorientado lembro-me da primeira vez que a vi pela janela da escola.
— Ailiss, ao menos me responda uma coisa. Por que naquela hora você estava olhando para mim? Queria me dizer algo?
— Porque você era um inimigo, como eu sempre soube quem eram os jogadores, apenas estava conferindo quem eram os meus alvos — suspira — Infelizmente superestimei meus adversários desta partida.
Suas palavras não me passam verossimilhança. É como se existisse uma máscara de uma escuridão muito espessa cobrindo o seu rosto, de modo que não consigo compreender bem qual a nossa ligação. Porém, pelas frestas dos olhos consigo vislumbrar feixes de luz, os quais me revelam que este saudosismo não é fictício como ela tenta bordar.
— Você poderia estar agindo desta maneira por estar sendo obrigada? Quem a contratou ou a organização para quem trabalha lhe solicitaram para que agisse dessa maneira?
Como uma assassina profissional, parece-me bastante plausível que tenha sido forçada a fazer este trabalho.
— Você não poderia estar mais enganado, nunca tomei ações com tanta vontade própria — desvia os olhos para baixo e sorri por um instante — Agora, vá embora antes de que eu atire em você, pois minha paciência já está no fim. E só volte quando estiver preparado para lutar e então fazer jus a um jogador — volta ao seu olhar irritado.
Vendo que não conseguirei tirar nada além de mais um soco dela, desisto.
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— Pois bem. Acho que não há mais nada que possa dizer para convencê-la do contrário — deixo o local com as minhas dúvidas insaciadas.
Isto é tão confuso, o modo que ela respondeu agora pouco fez parecer que esteja falando a verdade. Está agindo assim porque realmente quer… Aparentemente não há outro jeito, nosso combate é inevitável.
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