Capítulo 25: Enfim, ele não conseguiu o final que desejava. (2/2)
19h24
Acabou.
Finalmente este pesadelo teve fim. Já é possível sair da escola, como muitos dos sobreviventes estão fazendo agora mesmo. Apesar dos pesares, não foi um incidente de proporções tão graves na questão de mortes em si. Contabilizando agora Natsuki e Ailiss, apenas cerca de vinte a trinta por cento dos estudantes foram mortos.
Tratando-se de um jogo de magia negra, eu apostaria que ninguém sairia vivo, portanto considero um resultado, proporcionalmente falando, muito melhor do que o esperado.
Obviamente os que se foram deixaram um forte estrago em quem sobreviveu. Haruki está até agora abatido ao lado do corpo de Natsuki. Pude o conhecer melhor graças a este incidente, e imagino que esteja muito frustrado de não ter conseguido salvá-la, quem sabe até revolte-se contra nós por termos mantido tudo isso em segredo. Asahi, Keiko, Natsuki, Takashi todos se foram. Da alta cúpula do conselho estudantil apenas ele e Mikoto conseguiram se salvar.
Acho que neste momento, tanto para mim quanto para ele, só resta a aceitação pelas nossas respectivas perdas. Também precisarei me conformar com a morte de Ailiss.
Quem sabe Miyu e Manabu sirvam de inspiração para isso, já que eles precisaram engolir a seco o falecimento de Shou, do qual mal tive tempo para lamentar-me apropriadamente, e continuar lutando. Quem sabe nós três possamos colaborar de alguma forma em seu funeral agora que tudo se encerrou.
Vejo os dois abraçados em lágrimas próximos ao portão da escola. Os observando percebo que eu também preciso lavar minha alma com lágrimas de alívio após tanto sufoco, porém simplesmente não consigo. Está tudo estático, tudo tão vazio que nem mesmo assemelha-se a uma vitória. Aquele projétil que atingiu Ailiss parece ter feito indiretamente um buraco no meu peito da mesma forma.
Ambulâncias e viaturas policiais estão paradas à frente da escola, ao mesmo tempo em que homens fardados entram no pátio carregando os feridos.
Olho para meu celular e vejo a data. Sete de fevereiro. Estamos no mesmo dia em que teve início, o que significa que ficamos presos na escola apenas até a noite de um ponto de vista externo. Ou seja, o tempo aqui dentro dilatou-se mais de vinte vezes, quase uma semana inteira passou-se em algumas horas.
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— Ainda estás com ela? — pergunta Mikoto sentando ao meu lado.
Sim, trouxe o corpo de Ailiss para o pátio. É estranho ter tanta consideração por uma inimiga completamente psicopata? Bem, acho que sim. Porém não pude deixá-la de lado. Qualquer aliado que veja tanta compaixão sendo demonstrada a uma adversária que cometeu tantas atrocidades se revoltaria contra mim. Possivelmente Mikoto deve estar irritada com isso também.
—Sei que é uma atitude anormal, mas não pude deixar o corpo dela por lá. Você acha que estou errado? — a encaro.
— De nenhuma forma. Eu entendo-te, não seria de se espantar que o cadáver dela fosse desrespeitado por covardes em busca de vingança, portanto tomou a decisão correta. E ironicamente, como jamais teriam a mesma coragem de Nakamura-san para enfrentá-la cara a cara, os restaria ir atrás dela depois de morta.
Ela não está zangada comigo? Pensei que me acusaria de traidor.
— Fico aliviado de que você pensa da mesma forma, pode ser uma evidência de que não enlouqueci. E a propósito, o que acontecerá a respeito da magia negra? A mídia não poderá ignorar tantas pessoas relatando sobre essa experiência sobrenatural que passamos. De alguma forma ou outra cairá nos ouvidos do grande público.
— A princípio todos os estudantes com papel passivo no jogo devem esquecer este evento logo após deixarem o local. Geralmente outra informação sobrepõe-se ao incidente em si, mas não posso afirmar exatamente qual seja. Por exemplo, eles podem lembrar apenas que um maníaco qualquer invadiu a escola colocando todos em quarentena até o presente momento. Às vezes a explicação física que cada um desenvolve é conflitante com a do outro e isto gera aqueles estranhos casos investigativos com relatos desconexos.
Depois de atenderem aos feridos, passam a recolher os cadáveres das vítimas, bem como o de Ailiss.
Observo com muita amargura o corpo dela sendo colocado sobre uma maca e posteriormente levado para fora da escola. Sinto-me tonto assim como no começo do jogo, momento em que a princípio a vi pela primeira vez. No fim das contas não pude entender quem era ela e se estava relacionada a mim de alguma forma.
— Sei que tu deves estar arrasado. Mas, sabes… como eu já havia dito, minha família é a responsável pelo templo local. Desta forma podemos realizar um funeral adequado para ela, tendo em vista que ela não possui família — Mikoto prossegue.
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Não tem família? Bem, é o esperado de uma assassina profissional. Porém, porque parece que eu já ouvi isto antes? Ela nos contou em alguma instância? Não consigo me recordar bem deste diálogo.
Acho que é melhor deixar isso de lado e encerrar este assunto de vez. Talvez seja algo que eu não deva buscar entender.
— Eu concordo plenamente. Entretanto, do seu ponto vista não estaríamos sendo generosos demais com o inimigo? Ela nos jogou neste inferno e tentou nos matar inúmeras vezes durante o processo. Você por acaso está enlouquecendo igual a mim?
— Não estou enlouquecendo, e também não acho que tu estejas — suspira — Ela faleceu. Estes conceitos já não mais se aplicam, pois na morte somos todos iguais. As desavenças que possuímos com ela não têm mais significado algum. Ela realmente teve muitas chances de nos matar, mas no fim estamos intactos e respirando.
Mikoto parece que também notou sobre este fato que está me atormentando. Se ela realmente fosse tão cruel assim, se não houvesse um pingo de consideração por nós dois, claramente estaríamos mortos.
E falando na morte… mal posso acreditar no que está diante dos meus olhos…
Mais uma vez, posso vislumbrar esta imagem terrível se materializando. Está parada em meio à escuridão formada pela sombra de um dos blocos da escola nos observando atentamente.
— Então ela realmente apareceu. Exatamente como foi descrito nos documentos de magia negra da minha família, a Morte veio encerrar o ritual. Ela veio alimentar-se — diz Mikoto.
Alimentar-se? Alimentar-se no sentido literal?
Algo estranho sai do peito de Mikoto. Uma luz? É de uma cor que nunca havia visto antes, aparentemente fora do espectro de luz visível, é como se eu pudesse enxergar uma nova frequência de ondas eletromagnéticas.
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A geometria deste objeto luminoso parece ser uma esfera, mas ao mesmo tempo um tesseract. Passa-me a sensação de ser algo desconhecido e de déjà vu simultaneamente. É a materialização da contradição, um paradoxo inserido deliberadamente em nosso universo.
— Mikoto, o que é isso saindo de você? Está tudo bem?! — pergunto assustado.
— Não precisas te preocupar comigo. Isto é um fragmento da essência da Morte — vira o rosto para mim, pausa e prossegue dramaticamente com a explicação — As almas de todos que morreram durante o ritual estão ali dentro.
A luz desloca-se até as proximidades da entidade que nos fita e começa a ser sugada pela presença da Morte. É como uma estrela perdendo matéria para um buraco negro.
Isto é perturbador.
Está ficando cada vez menor.
Menor. Continua esvaziando seu brilho.
Parou.
Tornou-se uma partícula minúscula irradiando aquela frequência de “luz”.
O meu déjà vu fica mais forte, inversamente proporcional ao tamanho do objeto misterioso. Sinto como se eu precisasse cumprir algo, uma missão que me foi encarregada há muitos anos. Coloco instintivamente a mão no bolso e sinto o revólver de Ailiss.
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Quando eu peguei isto? Foi inconsciente? Eu realmente não sei como isto foi parar aqui. Porém tudo que até então estava tão confuso, torna-se claro.
— E agora que a Morte alimentou-se, o que acontece? Ao menos agora ela irá nos deixar em paz? — pergunto.
— Voltará para mim e aguardará até que o ritual seja conjurado mais uma vez. Estou destinada a carregar esta maldição até o túmulo. Este é o fardo que a herdeira de uma família de sacerdotes deve sustentar por toda a sua vida.
Eu sei exatamente o que preciso fazer. É como se estas instruções estivessem ocultas no meu cérebro o tempo todo, e agora tive acesso a elas. Desde quando eu sabia sobre isso? Bem, não é hora de hesitar e questionar a validade da informação. Se isto veio até mim é porque existe algum propósito, há como eu ajudar Mikoto a se livrar desta maldição.
— Sinto em desapontá-la. Pois vou arrancar este destino de você, mesmo que seja contra a sua vontade — replico apontando a arma para a partícula que volta lentamente para a nossa direção.
— Johann, espere! Tu estás louco?! Não podes fazer isto! Se irritá-la não sei o que poderá acontecer!
Sucintamente puxo o gatilho. Não há som de disparo e nem de colisão. No mais completo silêncio a partícula desintegra-se como uma minúscula supernova espalhando fragmentos quase microscópicos por todo o recinto.
— Como isso foi possível?! Um projétil não deveria interagir com magia negra… — Mikoto arregala os olhos e volta o olhar para a arma — A não ser que essas armas tenham alguma propriedade especial. Como Ailiss disse-se assassina de magos, é bem possível que consiga destruir a conjuração após a Morte se alimentar, pois estará com a magia enfraquecida. Todavia, como sabias disso?
— Eu não sabia — fito as partículas se dissiparem como um enxame de vagalume dispersando-se no escuro — Tive a estranha sensação que alguém me orientou a fazer isso há muito tempo, talvez salvá-la desse destino sempre tenha sido a minha missão de vida. Bem, mas no fim, o modo como fiquei ciente disso não importa mais. A maldição se foi, agora você e seus descendentes podem viver sem esse peso nas costas.
Mikoto vira-se para mim com o rosto mais tranquilizado.
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— Johann, do que tu estás falando? Quando tu mudaste de ideia? — cerra os olhos — Pensei que tu não quisesses ter filhos — fala com um sorriso debochado.
Filhos? Do que ela está tratando? Que raciocínio você teve que fazer para conseguir chegar neste ponto?
— Hã? Mas eu não quero. O que isso tem a ver comigo? — percebo então do que se trata, me envergonho e complemento — Desculpe-me, eu disse aquilo sem pensar.
— Poxa, tu deixaste-me chateada com tal afirmação. Quanta insensibilidade da tua parte, tu deverias ponderar melhor as tuas palavras, não aches que irei perdoá-lo tão facilmente por isso. Pensa um pouco, depois de tudo o que aconteceu entre nós, achas mesmo que iria querer me casar com alguém além de ti? — começa a rir baixinho enquanto me provoca.
Chateada? Conta outra. Está óbvio que ela está se aproveitando da situação que criei acidentalmente para zoar da minha cara. Esta é uma característica dela que jamais irá desaparecer, e ironicamente só tomei conhecimento desta natureza dentro desse jogo.
— Já pedi desculpas, então, por favor, pare de rir. Espere — novamente dou-me conta da sua frase — Casar? Está falando sério? — pergunto surpreso.
— Quê? Estás hesitando? — aguça o olhar — Não vá dizer-me que não sou boa o suficiente para você? — levanta-se do banco.
Ela está aproveitando-se do fato de eu ainda estar um pouco disperso para encurralar-me continuamente.
— Não é isso! Você entendeu errado! Não estou negando nada, você me pegou de surpresa. Além disso, acho que pela legislação deste país, isso seria um assunto posterior — levanto-me e tento justificar-me.
— Hahaha — ri um pouco mais alto e volta-se para mim com o seu jeito debochado — Johann, tuas reações são realmente impagáveis, nunca me canso delas. Façamos o seguinte, eu perdoo-te, caso fiques responsável pela casa pelos seis primeiros meses inteiros após o nosso casamento, o qual ocorrerá ano que vem — fala puxando-me pela mão até à saída da escola.
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Você já até decretou a data da cerimônia? Numa situação como esta, a única coisa que me resta é retribuir seu sorriso e segui-la.
Ao que tudo indica, meus dias tranquilos, todavia sem coloração nenhuma, se foram para sempre. Primeiramente tive minha vida pintada pelo sangue do desespero dentro desse maldito jogo, mas agora sinto que posso experimentar outras cores. Quem sabe daqui em diante, ao lado de Mikoto, eu possa finalmente desfrutar da tão badalada felicidade?
Epílogo
…
Fim.
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