Capítulo 38: Deste modo, Johann Geistmann dá início à investigação. (1/2)
— Quê? Você tem uma metralhadora? Eu ouvi direito? E por que a deixou em um lugar destes? — pergunto ainda confuso.
Essa garota ainda possuía uma metralhadora? Estou cada vez mais assustado com quem fui me meter. Mas ao mesmo tempo sinto-me bastante aliviado de tê-la como aliada e não como inimiga.
— Mistkerl, você depositaria todos os seus recursos em um único local? — olha para mim e pergunta.
— Entendo o seu ponto. Porém, aparentemente você já havia sido descoberta. E agora estamos em desvantagem.
— Vou deixar essa ofensa passar, pois não tenho tempo para lhe punir. Você ainda não conseguiu compreender que sou uma profissional? É absolutamente impossível que eu tenha sido seguida até aqui sem saber, ainda mais por completos amadores.
Que orgulhosa. Por mais habilidosa que ela possa ser, não é impossível que tenha cometido algum deslize.
— Certo, o que passou, passou. Como iremos lidar sobre isto a partir de agora?
— A resposta não poderia ser mais óbvia. Ninguém me rouba e fica impune. Vou atrás desse merda, ele irá pagar muito caro por isso.
Deslocamo-nos até o local do incidente, o qual está evidente pela multidão que circunda duas garotas. Keiko está caída ao chão com um corpo ensanguentado em seus braços. A vítima do disparo foi outro membro do conselho estudantil, Natsuki do primeiro ano.
A cena é lamentável, o fluído vermelho ainda escoa lentamente do tórax de uma magra e frágil garota. O líquido flui até o chão tingindo suas vestimentas, assim como as de sua amiga que acabara de deixar para trás.
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Keiko, com seus olhos inchados por tanto lacrimar, já parece ter desistido de tentar reanimar a sua amiga.
O impacto emocional da cena vai perdendo força e dá lugar a sensação de perigo advinda de uma arma de fogo que se torna o foco do pensamento alheio. De modo que, assustados, os demais espectadores vão deixando gradativamente o local pelo receio de serem os próximos alvos.
Esperamos o número de observadores decair mais um pouco e então nos aproximamos de Keiko.
— Ei, antes de mover o corpo da pirralha você constatou de qual direção veio o projétil? — Ailiss questiona a testemunha a qual ainda estava em lágrimas.
Não seja tão direta. Assim ela ficará na defensiva e não cederá informações para uma garota que além de suspeita, é mal educada.
— Ah, não. Agi puramente no impulso, não tenho certeza de qual prédio veio o disparo… — responde Keiko um pouco confusa.
Ailiss suspira insatisfeita.
Entendo. Dessa forma não é mais possível traçar a trajetória do projétil, consequentemente não temos um norte para apurar informações.
— Você é idiota? Que atitude imprudente que você cometeu — Ailiss comenta rudemente.
Droga, o que você está fazendo?! Tratá-la de modo tão ríspido não ajudará na nossa investigação, só gerará antipatia e ela não confiará mais na gente. Talvez ainda fosse possível retirar alguma outra informação dela. Sem falar que ela pode ser útil para nos encobrir de alguma forma, assim como fez ontem à noite.
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Bem, Ailiss não é muito diferente de mim no quesito de educação e sensibilidade. Geralmente eu faço isso mesmo, porém neste caso em que temos um interesse por trás, precisamos nos adequar às normas de conduta sociais.
Sei muito bem que se eu tentar dialogar com ela pedindo para que aja mais educadamente, serei no mínimo insultado e posteriormente ignorado. Nestas circunstâncias, a melhor atitude que posso tomar é simplesmente a interromper e depois torcer para que ela perceba que só agi em prol do nosso benefício mútuo.
Tomo coragem e puxo Ailiss pelo braço antes que as suas habilidades de interação social, as quais conseguem a façanha de serem piores do que as minhas, destruam qualquer chance de cooperação por parte de Keiko.
— Mistkerl, você tem somente três segundos para me soltar — fala friamente enquanto me encara com seus olhos ferozes.
— Confie em mim, deixe que eu falo com ela — replico.
Espero não ter deixado transparecer minha própria insegurança.
Volto minha atenção para Keiko que nos encara sem entender nada. Pela expressão em seu rosto, a mente dela deve estar afundada em uma confusão de sentimentos de negação, tristeza e raiva. Sabendo disso, posso então estimular esses sentimentos negativos a nosso favor.
— Keiko, desculpe-me por minha amiga ser tão ríspida, mas gostaria que ouvisse o que tenho para falar, como alguém que se compadece da sua causa — inicio a conversa.
— Sim. Por favor, prossiga — responde ainda enxugando suas lágrimas.
— Não tenho como saber ao certo como você está se sentindo ao perder alguém tão próxima. Mas de uma coisa eu tenho certeza, você não está disposta a relevar uma atrocidade como essa. Estou certo?
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— Certamente, alguém capaz de fazer algo assim a uma pessoa tão dócil quanto ela não pode ficar impune.
— Como imaginei. Lembra-se que ontem, tarde da noite, você me encontrou enquanto eu investigava alguém? A verdade é que, assim como você, a minha amiga e eu estamos atrás do culpado por conta própria, pois não estamos levando muita fé na investigação feita pelo conselho.
— Então você não estava investigando a mando da Kaichou? Era uma mentira?
— Não era totalmente uma mentira, posso dá-la mais detalhes sobre isso mais tarde. Mas acredito que tenhamos uma prioridade maior no momento, né? — olho para o corpo de Natsuki.
— É… você está certo.
— Estaria disposta a nos ajudar e então acertar as contas com o malfeitor com suas próprias mãos? — pergunto a encarando nos olhos.
Keiko olha para baixo e suas lágrimas começam a cair num volume mais intenso.
— E-eu quero fazer esse desgraçado que tirou minha querida amiga de mim pagar por isso. Ela era praticamente minha irmã mais nova, não vou descansar até honrar a morte da Natsuki-chan! — responde cerrando os punhos.
— Pois bem, por hora apenas descanse. Amanhã podemos falar sobre o incidente em mais detalhes. Tenho uma ideia de como podemos confirmar a identidade do assassino.
Ela persiste nos olhando firmemente, o que pode ser interpretado como um assenso da proposta.
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20h40
De volta ao esconderijo de Ailiss, estou caído ao chão, mais especificamente encostado na parede e muito atordoado por levar uma pancada no rosto. Pancada é até um grande eufemismo, por pouco não fui levado a nocaute. O peso do punho dela não condiz nada com sua aparência.
Sinto como se tivesse entrado no ringue com um urso. Imagino que ela ainda tenha se segurado na hora de me bater, pois teve receio de que eu morresse com impacto.
— Qual foi a necessidade disso? — pergunto ainda caído.
— Disciplina — responde sem contato visual.
— E precisava bater tão forte assim? Acho que ser atropelado por um trem seria menos doloroso. Eu só a repreendi porque dessa forma teremos mais recursos para montar uma estratégia contra o assassino.
— Você chamou isso de forte? Eu mal usei força. Levar um cascudo desses é o mínimo que se espera quando age com desrespeito a um superior, independente das suas intenções.
Pensando bem, se eu tivesse que apostar dinheiro numa batalha entre ela e um urso, apostaria nela sem pensar duas vezes. Seus músculos são feitos de quê? Aço temperado?
Quanta injustiça, eu somente a interrompi porque se fez necessário, quase você estragou tudo. Que merda. Bem, pelo menos agora sei que com ela realmente não há diálogo. Não interessa se é benéfico ou não para ela, não posso tomar nenhuma decisão que contrarie o que ela estabeleceu previamente.
— Posso perguntar-lhe o que faria caso ela recusasse a cooperar conosco devido a sua atitude tão grosseira?
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— Jamais pensei que você se importasse com bons modos, pois sua personalidade exala o completo oposto. E foi justamente por isso que o aceitei como meu subordinado.
— De fato, porém não é esta a questão. Estou dizendo que devemos saber vestir a máscara quando necessário. Viver em sociedade é uma grande demagogia, mas às vezes precisamos jogar o jogo deles.
— Não necessariamente. Talvez você precise, mas eu posso resolver tudo perfeitamente através dos meus próprios métodos. Digamos que eu a deixaria em uma situação um pouco pior do que a sua até ela resolver cooperar. Sei bem como fazer isso, como já lhe informei previamente, não seria a primeira vez que utilizaria de tortura para conseguir informações.
A cada troca de palavras fica mais claro que a existência dessa garota não se encaixa com este ambiente.
Passado mais alguns minutos, surpreendo-me com uma fala dela.
— Ei, Mistkerl — olha para mim.
— Diga.
Do que pude julgar baseado nestas horas que passamos juntos, ela iniciar uma conversa comigo, assim do nada, não é algo muito recorrente.
— Quando estava falando com aquela garota, você falou que conversou com ela na noite anterior. Relate-me do que se tratava o conteúdo da conversa.
Isto… poderia ela estar? Não, é impossível… E se eu tentar fazer alguma piada em cima disto, estarei, assim como ela afirmou, desejando que seja possível ela me matar.
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— Lembra-se que eu falei sobre estar investigando o Takashi? Então, ela e a Miyu me encontraram após o toque de recolher nos corredores, justamente quando eu o estava seguindo. A conversa resumiu-se em arrumar uma desculpa para estar fora do dormitório.
— Miyu? Quem é está? Outra garota?
Se eu transcrevesse esta conversa e a lê-se, com certeza acharia que ela estaria falando envergonhada. Porém, a tonalidade de sua voz continua fria e completamente desprovida de emoções. Esse contraste torna tudo tão engraçado, de modo que fica irresistível não fazer uma piada provocativa.
— A Miyu é aquela garota que você insultou e mandou calar a boca.
— Eu já insultei muita gente, seja mais específico.
— Minha colega de classe, ela estava comigo e com os meus dois colegas quando conversamos anteontem. Não me vá dizer que está enciumada com isso? — pergunto com sarcasmo.
— De fato eu devo ter batido muito forte na sua cabeça para achar isso. É de meu interesse saber quem tem conhecimento sobre seu envolvimento no jogo, apenas isso — continua me encarando friamente.
Pelo menos não apanhei com esta brincadeira. Desde quando passei a gostar de fazer coisas arriscadas assim? A anomalia deve ter desencadeado um masoquismo no meu cérebro. Estou toda hora colocando-me em situações favoráveis ao meu próprio espancamento de modo proposital.
— Tudo bem, já que eu aceitei todos os seus termos, pelo menos irá considerar o meu pedido a respeito da nossa investida a Takashi? Quero resolver isto logo por causa da segurança da presidente Mikoto — mudo a conversa para um tópico relevante.
— Sim, vou aceitar tal sugestão. Mas não é meramente porque você pediu, faremos deste modo porque estranhamente simpatizo com aquela garota.
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Estranhamente? Acho que vocês têm muito em comum, por exemplo, o sadismo diretamente proporcional à beleza.
Mas no fim isso me deixa um pouco mais tranquilo. Preocupava-me que Takashi poderia tomar Mikoto como refém, então é melhor que a afastemos dele antes disso. E aí entra o papel de Keiko nesta história.
Olho para o relógio e me levanto assustado.
Caramba, estava tão atordoado com o soco dela que nem vi a hora passar. Espero não ter problemas de entrar no bloco depois do toque de recolher.
— Já está tarde, adoraria ficar mais um pouco para continuarmos a conversa, mas preciso voltar para o dormitório.
Ela não parece ter ligado muito para o meu comentário sarcástico, tristemente é como se dissesse de modo não verbal “apenas vá logo”.
Em mais uma tentativa patética de receber atenção, teço um novo comentário.
— Assim como o combinado vamos nos encontrar pelas oito horas da manhã com Keiko, correto?
— Tá, pode ser. Desde que eu consiga recuperar a minha arma logo.
Antes de sair do esconderijo, olho para cima e a neve me chama a atenção.
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Ailiss para ao meu lado próxima da janela e também passa a observar a neve. Bem, ela também nasceu na Alemanha. Provavelmente também deve rememorar seus invernos por lá.
Fito seu rosto por alguns segundos, penso em falar algo, mas nada me vem à mente. Como ela não parece querer prolongar nossa conversa, somente a dou as costas e deixo o local.
Saio do esconderijo com cautela para não ser avistado e dirijo-me até o bloco principal em que se constam os dormitórios. Aproveito do passe livre que consegui com Mikoto como desculpas para chegar após o horário de recolher.
Lá me deparo com Takashi.
Não posso deixar de pensar que o inimigo está tão próximo. Qualquer deslize poderia acarretar em meu fim.
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