Capítulo 40: As respostas podem não ser as ideais. (1/2)
11h36
“Apresentar a nossa tese e colocar Takashi contra a parede.”
Esta era a ideia, na qual todos nós parecíamos ter entrado em consenso.
Mais uma vez estamos no saguão, pois outra assembleia extraordinária foi invocada. Isto ocorreu porque certa garota, a qual não preciso mencionar o nome, decidiu por conta própria sair espalhando rumores de que o veneno usado para as primeiras mortes estava sob posse do conselho estudantil.
Não deu outra. Em pouquíssimo tempo o poder da fofoca nos trouxe mais uma vez para iminência de uma revolta interna.
O que essa garota estava pensando quando decidiu fazer isso? Estávamos com todas as cartas na mão, bastava trazer Mikoto para o nosso lado e por um fim ao terror instaurado por Takashi.
A simpática presidente apresenta-se no saguão, observa de ponta a ponta o ambiente praticamente cheio e começa a falar.
— Posso ver que vós sejais muito influenciáveis, mais do que eu poderia imaginar. Acho que ainda estamos falhando na questão de passar-vos disciplina — enrijece seu olhar — Então, decreto que será passível de punição qualquer um que decida caluniar a integridade do conselho estudantil. A menos que tenhais uma prova inquestionável disso, podeis então encaminhar ao conselho que nós julgaremos vossa queixa.
Entendo… eles serão réus e juízes ao mesmo tempo, muito sensato. Ela realmente acha que todos irão aceitar essas exigências absurdas que acaba de decretar? Já começo a desconfiar que Ailiss e Mikoto estejam colaborando para conseguir ferrar com tudo.
Mikoto permanece com seu forte autoritarismo intimidando qualquer um que decida se opor ao conselho. O que está acontecendo com ela? Sequer cogita que o culpado tenha se infiltrado? É possível que o poder tenha subido a cabeça dela? Para falar a verdade eu não a conhecia tão bem assim, talvez ela sempre tenha sido desequilibrada e nunca percebi.
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Dentre a multidão, a qual aparenta estar coagida a aceitar seus termos, uma voz de protesto se manifesta.
— O quão grande é seu ego? Está na cara que o assassino está dentro do conselho estudantil. A sala dos funcionários repleta de veneno está lá como prova, quem duvida pode ir ver por si próprio. E é inegável que apenas vocês possuíam a chave da sala.
Mais uma vez, não acredito.
O que você está fazendo? O que espera ganhar colocando mais lenha ainda na fogueira? A desconfiança entre os alunos já está grande, com isso estará apenas deixando tudo mais caótico.
Ailiss de novo resolve agir por conta própria e desta vez ela é mais incisiva ainda em comprar esta briga, expondo-se diretamente a Mikoto.
Havíamos combinado de agir discretamente… como isto foi acabar assim?
Claramente a orgulhosa presidente não ficaria calada com esta intervenção e então retruca Ailiss com a mesma agressividade.
— Sou a presidente do conselho estudantil e tenho o ego correspondente ao meu posto — a encara — Se eu estivesse em teu lugar, não sairia fazendo ataques gratuitos desta forma, pois tu não tens moral para dizer muita coisa também. Deves saber muito bem o quão complicado, neste país, é de um civil ter acesso a uma arma de fogo. Todavia, não seria de se espantar que tu tenhas acesso a uma, já que tu podes muito bem ter trazido uma escondida em teus pertences quando chegaste do exterior — replica com um balanço de deboche e frieza.
— Apenas especulações. E tenho em minha defesa a forte fiscalização para a entrada no seu país, ou irá depreciar sua própria nação? Pensem comigo, jamais uma simples garota colegial como eu conseguiria driblar toda a segurança de dois aeroportos internacionais. Sem falar que o porte de armas também é ilegal na Alemanha. Acha que sou o quê uma agente secreta? — ri com desprezo — E ao contrário de você, possuo evidências concretas, apenas o conselho possuía acesso àquela sala.
Agente secreta? Acho que a palavra não é bem essa. O caso é muito pior. Parando para pensar, ela deve ser muito profissional mesmo. Como ela mesma expôs, foi revistada em dois aeroportos internacionais e passou sem nenhuma suspeita e também portava uma arma ilegalmente na Europa. A fiscalização não é nem um pouco pequena, sei disso porque já passei por isso.
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— Poupe-me. Achas realmente que isso serve como uma incriminação ao conselho? Tu conseguiste ter acesso facilmente ao armazém, pois bastava arrombá-lo, e o assassino poderia ter feito o mesmo — cerra os olhos — Ainda que conseguisses provar que os armários só foram arrombados hoje, não seria o suficiente. Olha ao teu redor, estamos num espaço restrito sobrenatural. Se o assassino pode gerar isso tudo, qual seria a dificuldade de acessar uma sala sem possuir a chave — aponta o dedo para Ailiss — A única suspeita aqui és tu, não devo achar estranho que tudo começou no exato dia no qual chegaste a nossa escola? Francamente, não há outra explicação mais plausível do que essa.
A discussão torna-se mais agressiva a cada réplica. Agora que as duas estão agindo como inimigas, a minha chance de resolver tudo tranquilamente foi pelo ralo, está tudo perdido. Planejava que se ambas se aliassem, e desse modo poderíamos capturar Takashi e então encontrar mais facilmente uma resposta de como sair daqui.
O choque das afiadas palavras emitidas por ambas aumentam a tensão no ar exponencialmente. A sensação de ansiedade ascende cada vez mais no público. Não se pode distinguir claramente quais grupos estão apoiando cada uma delas, pois nesta ditadura estipulada por Mikoto, quem apoiasse Ailiss provavelmente seria penalizado.
Porém, pelos murmúrios é possível perceber que Ailiss obteve sucesso em aumentar a desconfiança perante o conselho, mas ao mesmo tempo as palavras de Mikoto também conseguiram a colocar em uma posição suspeita. No final, ambas foram prejudicadas com este conflito desnecessário.
12h11
Após aquela assembleia calorosa, todos os alunos vieram diretamente para o refeitório. É visível em seus rostos a sensação de pavor e desesperança, o clima está completamente diferente dos dias anteriores. A anomalia perdeu força de vez, o comportamento deles parece estar coerente para um bando de adolescentes que foram presos em um espaço sobrenatural.
Alguns assustados e com medo de morrer acabam se eximindo da situação, outros tomam papel ativo e tentam organizar revoltas, e ainda há quem prefira tomar o partido do lado mais forte, neste caso o lado de Mikoto e do conselho estudantil. Mas todos esses grupos têm algo em comum, um sentimento incessante de medo.
A gravidade da situação é realçada pelo fato de até mesmo Manabu e Shou pararem de puxar os papos malucos de sempre e se incluírem no baixo astral coletivo.
Manabu e Miyu olham estaticamente para a comida. Realmente é difícil manter o apetite em circunstâncias como esta.
Já Shou está em um estágio além, permanece de rosto aborrecido e cabisbaixo de tal modo que nunca presenciei.
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Quando penso em falar alguma coisa, a voz de Miyu ressoa na minha frente.
— Estou preocupada. Sabe, tudo está se tornando muito confuso, e muito rápido também — diz Miyu com o olhar perdido.
Você deveria ter reparado nisso no momento em que entramos nesta dimensão. Desde aquele instante creio que já estávamos condenados.
— Está difícil manter a fé na Kaichou, principalmente depois de hoje. Ela parece ter enlouquecido completamente — comenta Manabu.
Isto é o que me causa receio de entrar em contato com ela. Quando conversamos anteontem sua atitude era totalmente diferente. Está parecendo até outra pessoa. Definitivamente não é ela, estas decisões não podem ser de escolha deliberada dela. Estou cada vez mais convicto de que Takashi está a forçando a isso.
— Porém, isto só reforça alguns conceitos para mim. Precisamos continuar unidos. Não podemos mais confiar plenamente no conselho, mas a gente pode confiar um no outro, como um time.
Ora, talvez a anomalia tenha se infiltrado tanto em Miyu quanto eu acreditava. Pois continua sendo capaz de reunir determinação sem o menor indício de que terá sucesso.
— Hahahaha — Shou começa a rir freneticamente do que Miyu acabou de falar.
— Do que você está rindo Shimizu-kun? — pergunta desentendida.
— Da piada que você acabou de falar. Nós não somos um time, você claramente só se importa com o Manabu. Nos últimos dias, você só passa a sós com ele, e eu fui deixado de lado há muito tempo.
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Shou se levanta após terminar o seu discurso, vira as costas e deixa a mesa. Não deu a chance de nem um dos dois replicar qualquer coisa.
Por esta eu não esperava. Será que a insanidade também bateu nele? Apesar de ser um contrassenso um louco enlouquecer.
Miyu está estática e de olhos arregalados com a reação dele, possivelmente foi mais surpreendente para ela do que para mim.
— O estresse deve ter bagunçado a sua cabeça, volte aqui Shoucchi! — Manabu tenta alcançá-lo.
E como bagunçou, nunca o vi agir de tal maneira. Ter um ataque de inveja desse nível não é normal para ele, normalmente faria uma piada rindo da própria desgraça.
15h31
Passamos o começo da tarde pelo pátio mesmo. Estranhamente, todos pensaram que seria um local pouco seguro então voltaram para os dormitórios, desta maneira o pátio permanece vazio. Apenas Manabu, Miyu e eu ficamos do lado de fora aproveitando esta monotonia.
O frio está agradável… Olhando em volta reparo que ainda há um pouco de neve da noite passada pelo chão. Persisto contemplando aquela gentil cor branca espalhada pelo gramado… até que sou interrompido pelo calor de uma erupção vulcânica.
— Então era aqui que você estava — uma voz profunda surge da minha lateral.
Viro-me e vejo o olhar selvagem e muito irritado de Ailiss. Esta sua expressão que ao mesmo tempo passa raiva e ausência de emoções, por mais contraditório que possa ser, sempre me fascina. Mas afinal, o fogo em grande escala é capaz de gerar algo muito similar à neve, cinzas. Apenas analisando mais próximo posso distinguir a sua real natureza.
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Entretanto, por que está irritada como fosse preciso ter procurado muito por mim? Eu estive aqui por todo esse tempo, ou seja, estava facilmente localizável. Em todo caso, por hora, devo tentar mantê-la de bom humor.
— Ora, que visita inusitada. Há algo que eu possa fazer por você? — tento simular certa cordialidade.
— Pare já com isso, caso ainda tenha apego à geometria atual do seu rosto, pois não estou com saco para ouvir as suas idiotices.
Preciso descobrir logo um padrão de resposta que a agrade, ou melhor, pelo menos não a irrite. Mas será que isto é mesmo possível? O ódio deve estar tão impregnado em sua alma que seu rosto e voz com raiva são inexpressivos.
— Ah, a garota estrangeira — diz Miyu ao perceber que temos companhia.
Ailiss olha para ela rapidamente e volta-se para mim. Ela ignora completamente a existência de Miyu e Manabu, e prossegue a me interrogar.
— Por que não foi ao esconderijo? Você me fez ficar esperando por quase três horas. Vejo que anda muito corajoso ultimamente.
Não me lembro dela ter dito para encontrá-la após a assembleia, como ela quer que eu adivinhe o que eu devo fazer? Ainda mais com ela passando a agir de modo independente de mim e da Keiko. Também havia ficado com receio de ser visto ao seu lado, pois ela está numa posição muito suspeita.
— Pensei que planejava agir sozinha. Bem, foi isso que deduzi com suas ações pela manhã. Você não me disse nada do que faria, então achei que eu deveria ficar na reserva até segundas ordens — respondo.
— Não tente deduzir nada por conta própria, apenas obedeça ao que lhe foi passado explicitamente — cerra os olhos — Foi isso que acordamos, eu não preciso lhe dar explicações das minhas ações, todavia você sim.
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No fim das contas, não há como tentar me explicar para ela. Como ela mesma expôs, a interpretação dela é a única coisa válida nesta aliança unilateral que estabelecemos. Deste modo, decido apenas aceitar o que ela diz e desculpo-me.
— Certo, sinto muito. Prometo que da próxima vez não cometerei um erro vil como este.
— É bom que cumpra esta palavra, pois se me deixar esperando por uma terceira vez… saiba que será a última.
Ela então mais uma vez dirige o seu olhar para os dois que estavam próximos a nós.
— Ei, Mistkerl. Cadê o terceiro idiota que andava com você? — pergunta enquanto olha para eles.
Por que ela quer saber sobre ele? Não esperava esse tipo de questionamento vindo dela, jamais me pareceu o tipo de pessoa que repara no universo exterior.
— Tivemos um probleminha com o Shou. Por acaso tem algo a tratar com ele?
— Nada em específico com ele — cruza os braços— Que seja. Apenas os dois já servem.
Manabu e Miyu se entreolham confusos. Por suas expressões, provavelmente “Ela está falando da gente?” é o único pensamento que deve se passar em suas cabeças.
E então Manabu junta coragem e pergunta para a presença intimidadora a sua frente.
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— O que quer dizer com isso? — sorri de modo amigável.
— Não é óbvio? Se eu pretendo enfrentar o conselho estudantil inteiro, preciso de mais força armada. Como vocês são próximos ao Mistkerl, irão nos ajudar.
Ela nem ao menos perguntou se eles aceitariam ajudar. Ela simplesmente afirmou que eles vão ajudá-la na guerra que a própria acabou de causar.
— Ailiss, antes de recrutá-los ao menos escute a resposta deles.
Ela volta-se mais uma vez aos dois e os encara.
— Vocês vão me ajudar. Não vão? — pergunta com seu olhar selvagem.
— S-sim, claro que vamos! — Miyu replica assustada.
— S-Será uma honra! Pode passar as ordens agora mesmo! — responde Manabu em posição de sentido.
A sensação de perigo passada foi o suficiente para responderem sem nem ao menos pensarem a respeito da fria em que estão se metendo. Não que eu ache que a opinião deles seja relevante para Ailiss. No fim, assim como eu, precisarão obedecê-la por bem ou por mal. Felizmente escolheram a resposta correta, falo por experiência própria de já tê-la contrariado.
A partir de tal intimidação, Ailiss ganha mais dois aliados para a batalha.
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— Agora ainda não tenho nenhuma missão em mente para os imbecis. Mas fiquem em alerta, pois podem receber as ordens em qualquer momento. Quando eu precisar de vocês, irei convocá-los através do Mistkerl — explica Ailiss.
— Mistkerl? Você já mencionou este nome algumas vezes. Quem é essa pessoa? — pergunta Miyu.
— Sou eu. Foi o apelido que ela me deu — respondo.
— Nossa, que legal! É algum costume do seu país dar algum apelido para novos amigos?
É uma sorte que eles não saibam o que tal apelido carinhoso significa. Por prezar a minha honra neste ambiente, não posso deixar que isto vire domínio público. O maior problema não é nem o significado pejorativo do apelido em si, porém a minha complacência de me sujeitar a tal inferioridade.
— Na verdade não é bem o que você está pensand- — tento explicar, mas sou cortado por Miyu.
— Ei, será que ela também pode nos dar algum apelido? — pergunta animada.
Você não sabe o que está pedindo. Pobre criatura inocente, já se esqueceu de como ela nos tratou há alguns dias? Se bem que ela provavelmente não entenderá o significado dos apelidos de Ailiss, então não vejo problema.
Olho para Ailiss transferindo a pergunta de Miyu para ela.
— “Tako” — aponta para Miyu e em seguida para Manabu — “Kimoi”.
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Miyu e Manabu ficam boquiabertos com estas injúrias gratuitas.
Não esperava que fossem em japonês.
— As ofensas não deveriam ser em alemão? — pergunto.
— E qual propósito teria se eles não soubessem que estão sendo insultados? — responde com superioridade.
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