Capítulo 42: E assim, ele encontra o seu propósito. (1/3)
Ailiss prossegue com a explicação sobre o jogo.
— Todavia, desta vez é diferente. Primeiramente, entrei nesta realidade com a memória bagunçada, sem ao menos lembrar a identidade do inimigo, da qual tenho certeza de que sabia. Devido a isso acabei perdendo muito tempo, e ainda por cima agora ele está com minha metralhadora.
— Eu também estava sentindo muita tontura durante a manhã do primeiro dia, acha que pode estar relacionado à sua “amnésia”? Pensando bem, agora que você falou, percebo que não me lembro direito sobre o início daquela manhã. Quando me dei conta já estava na sala de aula preso na minha rotina.
— Provavelmente, imagino que você também foi afetado por ser um jogador. Contudo, a maior bizarrice aconteceu após adentrarmos este espaço, como acabei de relatar, houve uma manifestação a respeito das regras do jogo, algo que não aconteceu comigo em nem uma das minhas experiências passadas. Todas essas anomalias só podem significar uma coisa: Esta técnica milenar foi alterada por outra magia negra tão forte quanto.
— Alterá-la? É algo tão difícil assim de acontecer? Digo, não é possível existir variações dela?
— Para quem apenas ouviu falar de magia por histórias de ficção, não parece ser algo tão absurdo, pois a magia pode ser moldada conforme a vontade do autor. Contudo, na realidade as coisas não são tão fáceis, posso fazer uma analogia com a física, é como o homem querer alterar as propriedades físicas do universo.
Acho que posso compreender aonde ela quer chegar. Então, a magia não é tão flexível como costumamos imaginar, possui algumas limitações fundamentais.
— Ou seja, modificar o jogo via outra magia negra é como burlar a conservação de energia ou da quantidade de movimento? — tento exemplificar.
— Exatamente — assente — É uma boa comparação. O que estou sentindo, tendo toda a minha carreira de assassina de magos como bagagem, é o que um físico sentiria ao ouvir o exemplo que você acabou de sugerir. Por isso nada para mim faz muito sentido.
No fim há uma anomalia neste jogo mesmo, e pode ser a mesma que causou a alteração de comportamento na maioria dos estudantes durante o começo do jogo. Se ela teve suas memórias bagunçadas, possivelmente também tive as minhas alteradas.
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Aproveitando que ela decidiu falar comigo sobre isso, gostaria de perguntar mais sobre ela. Esta estranha sensação de que a conheço há muito tempo ainda não cessou, e se ela teve a mesma impressão, não pode ter sido mera coincidência.
— Ailiss, eu posso saber o porquê de uma jovem colegial ter acabado trabalhando como uma assassina profissional do submundo e que interage com o sobrenatural? Não me parece algo muito comum para alguém colocar no seu exame vocacional.
— Intrometido — encara-me de modo sombrio — Não acho que seja uma informação relevante para você, foram razões pessoais que me trouxeram até onde estou, nada mais.
Eu já deveria estar acostumado com este tipo de reação.
— Desculpe-me, devo ter sido insensível, imagino que seja um assunto delicado para você — imediatamente tento me retratar para não receber um murro na cara.
— Agora você foi para o extremo oposto com esta frase pronta e clichê. É inegável que tenho um passado problemático, mas não sou uma garotinha traumatizada que não pode relembrar as feridas do passado sem chorar — olha para o canto superior esquerdo — Evito expor detalhes pessoais da minha vida, mas se quer tanto saber: Em resumo, adentrei no ramo por vingança.
— Vingança? Seria de um portador do jogo?
— Mais do que isso: Da magia negra como um todo. Todavia, como bem disse, os portadores do jogo são meus alvos prioritários. Já que foi um deles o responsável pela morte do meu pai. O incidente ocorreu dez anos atrás, quando ainda desfrutava de uma vida comum em Potsdam.
Suas palavras param, ela olha para baixo, puxa um pouco de ar e suspira. Após esta breve pausa, prossegue com sua história.
— Um maníaco nos atacou enquanto meu pai estava me buscando da escola. Como meu pai era policial, não demorou muito para perceber que não se tratava de um maluco comum. Infelizmente era tarde demais, o jogo já havia sido conjurado. As consequências podem ser deduzidas facilmente, eu viva, e ambos mortos.
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Ela teve contato com isto tão cedo?
Em contrapartida, nesta mesma época eu devia estar mergulhado no meu tédio há uma distância não muito grande dela.
— Quer saber o porquê eu lhe perguntei se estava com medo? É porque naquele dia eu estava apavorada, só pensava em correr dali e me esconder. Mas estava com tanto medo que fiquei paralisada enquanto via meu pai sendo assassinado. Jamais me perdoarei de ter sido tão fraca.
— Você tinha aproximadamente sete a oito anos na época, não tinha condições de salvá-lo! Não há o porquê julgar-se tanto por isso! — exclamo.
— Sim, você tem razão, não havia o que eu poderia fazer naquela ocasião. E justamente por isso que jurei vingá-lo, jurei matar todos os usuários de magia negra, começando pelos que utilizam a mesma técnica do maníaco que nos atacou. Sabendo do meu caso, uma organização do submundo entrou em contato comigo me oferecendo treinamento e um futuro emprego. Obviamente, eu aceitei.
— Não houve nenhuma complicação? Digo, e o restante da sua família?
— Como minha mãe faleceu durante o parto, meu pai era meu único familiar próximo. Então, eu estava sendo encaminhada para algum tutor. Dado que a tal organização mencionada possuía certa influência dentro da justiça da União Europeia, não foi muito difícil destinar-me a um tutor pertencente à própria organização.
— Então entrou para este mundo ainda criança?
Não que a minha infância tenha sido grandes coisas também.
— O quanto antes eu começasse a treinar, melhor. Tempo é escasso, não podia esperar a fase adulta para iniciar minha vingança. E tive bons resultados mesmo assim, com cinco anos de treinamento já me tornei uma assassina profissional. Aos treze anos dei início a minha caçada, e com auxílio de meu instrutor consegui abater o primeiro conjurador.
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— Parece um feito e tanto — produzo um sorriso.
— Nem tanto. Quando você pega o jeito, a parte mais complicada se torna identificar o usuário e não matá-lo.
— Falando em matar, já decidiu como vamos apagar o Takashi? Acha que podemos replicar o que você fez nas outras duas instâncias que participou do jogo?
— Não há muito para onde fugir, no fim das contas precisamos convencer ou obrigar alguém a matá-lo. Lembra-se do que acontece se o tempo acabar sem nenhum jogador morrer?
— Nós estaremos condenados…
— Exato, e não parece que algum dos estudantes daqui esteja disposto a se sacrificar por nosso bem. Também não acho que obrigar alguém seja uma escolha muito viável, pois precisaríamos estar numa vantagem maior — suspira — Talvez eu acabe o matando para saciar minha vingança, já que morrerei de qualquer forma.
Não necessariamente, há uma forma de Ailiss sair viva e prosseguir com sua vida.
Mas neste caso, eu teria de matar Takashi e como efeito disso, eu também morrerei…
Sinceramente? Eu não me importo nenhum pouco. É algo que vem martelando o meu subconsciente, eu realmente quero ajudá-la de alguma forma. Quem sabe o golpe que levei no rosto ontem danificou o meu cérebro para eu estar tão encantado por ela, mas a causa deste encanto pouco importa.
Aquela sensação de déjà vu que tive desde quando a vi pela primeira vez, aos poucos foi ficando mais clara para mim. Agora posso perceber claramente que é como um dever, um dever de mantê-la viva.
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Por mais irônico que possa ser, mesmo eu sendo mais fraco, cada célula do meu grita com todas as forças que preciso estar aqui para salvá-la. Talvez eu nunca descubra de onde eu a conheço, todavia isto também não importa, pois mesmo sendo uma completa desconhecida, ainda quero fazer isto por ela.
— Talvez tenha outra solução — viro meu olhar para baixo.
— Estava distraído quando eu expliquei? Não há. Mesmo que consigamos alguém com intenção de matá-lo, esta pessoa estará em desvantagem, pois ela pode ser morta por ele antes. Apesar das anomalias, as regras são claras, com ele equipado da minha metralhadora, pode facilmente revidar. Aí entra a necessidade de ser um jogador também — suspira — A menos que você decida tomar tal responsabilidade, o que também não será o caso.
— É exatamente disso que estou falando, eu posso matá-lo se for necessário — a encaro.
Ela bruscamente volta a fitar-me de olhos arregalados e gradualmente os cerra com irritação.
— Cale a boca, não diga algo assim para parecer legal! Você não quer fazer isso, portanto não tente bancar o herói querendo salvar a todos.
Por que você está tão incomodada com esta ideia? Será melhor para você também. Todos nós sairemos ganhando com isso.
— Estou falando sério, porém vejo que você me interpretou mal. De maneira alguma quero ocupar o papel de mártir, sou uma pessoa muito egocêntrica para isso.
— Então por que quer fazer isso?
O ato de sacrifício normalmente é descrito como uma atitude altruísta, no entanto, esta atribuição é errônea. Seres humanos são puramente egoístas e agem com base nos seus próprios interesses.
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— Pelo que mais seria? Claramente por você — replico.
Neste momento, eu quero proteger algo apenas meu, quero proteger estes sentimentos que criei estando ao seu lado.
— Por mim? Isto era para ser uma piada ou algo assim? — fecha os punhos.
Infelizmente, não é.
Esta sensação de que a conheço há uma vida não pode ser mera ilusão desta magia negra. E mesmo que for, prefiro abster-me de senso crítico e permanecer enganado. Pois, ironicamente, dentro desta realidade proveniente de um pacto com a própria morte, foi quando pela primeira vez me senti vivo.
— Se eu puder ajudar a minha superiora de alguma forma, assim farei. Não se lembra do nosso acordo? Creio que não ocupar esta obrigação possa ser categorizado como uma forma de deslealdade, então a servirei até o fim — a reverencio.
A expressão zangada gradualmente some do seu rosto, milagrosamente ela fecha os olhos e começa a sorrir.
Vê-la esboçando uma expressão tão incomum destas em seu rosto, faz com que eu olhe para trás e pense que valeu a pena atravessar este terrível mundo cinza. Um momento assim é como uma joia cristalizada na imensidão devastadora do tempo.
— Hmpf. Mistkerl, você é um cara muito intrínseco. É uma pena estarmos nessas circunstâncias, gostaria de tê-lo como parceiro em futuras missões.
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