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    12h40

    O horário de almoço chega. Obviamente um pouco atrasado devido a tudo o que aconteceu pela manhã, mas o conselho estudantil tratou de organizar o refeitório mesmo sob tais circunstâncias. 

    O único problema nisso tudo é o receio. Estamos todos em pé em frente ao refeitório, mas nenhum aluno esfomeado está indo se servir. E há um motivo bastante óbvio para isto.

    “O que garante que o autor do crime contra a Keiko não tenha se infiltrado na organização do refeitório e envenenado a comida?”

    Esse foi um comentário recorrente nas rodas de conversa que pude observar.

    A presidente parece estar ciente do sentimento de medo que ocupa a mente da multidão diante de si. Ela nos encara de modo que já havia antecipado tal reação.

    A tensão que cobria o ambiente é quebrada por um garoto que passa a se mover em direção aos talheres, por conseguinte a encher seu prato de comida. Nada menos esperado de Haruki. Se fosse qualquer outro, com toda certeza teria sido obrigado pela presidente, mas o caso dele é diferente. Provavelmente foi o primeiro a se voluntariar a esta tarefa.

    Ele então para a nossa frente com um sorriso tranquilo e move o talher com alimento até sua boca.

    — Está muito gostoso para os padrões da escola. É bom se apressarem ou não vai sobrar nada! — diz o garoto logo após ingerir a primeira garfada.

    Nada mal, conseguiu descontrair um pouco a tensão após o incidente da manhã. Mas o sentimento de receio só foi receber o golpe de misericórdia quando a mais forte presença desta escola decidiu se manifestar.

    A garota de longos cabelos pretos estaciona-se à nossa frente e emite um curto, mas eficaz, comunicado.

    — Como podeis ver, o conselho garante a vós que o alimento não foi adulterado. 

    — Eu estava com um pouco de medo, mas se o Haruki se serviu e a Kaichou afirmou que está tudo bem… podemos confiar não é? — um aluno comenta.

    — Claro, eles sabem o que fazem! — outro confirma.

    Parece que estão colocando o trem de volta nos trilhos. Talvez eu também deva dar um voto de confiança para a presidente e ao conselho. No fim das contas ela sabe o que faz.

    — Nossa, estou morrendo de fome. Vamos nos servir logo, antes que tenham devorado tudo — diz Shou.

    — Eu poderia comer como um protagonista de Shounen — diz Manabu.

    A movimentação para se servir é grande, tanto que, apesar da fome, estou desanimado de almoçar só de pensar em entrar nesta fila.

    O vice-presidente Takashi está tendo dificuldade para manter todos em fila única estando sozinho. Ele parece bem irritado, de onde tira tanta motivação para continuar em um posto tão estressante? Talvez seja até mais estressante que o de presidente, vendo que ela simplesmente deixa o trabalho sujo para ele.

    Os três caminham em direção à fila. Então, ao perceberem que não estou os acompanhando, Miyu olha para trás e pergunta.

    — Você não vem?

    — Já estou indo.

    Observo por alguns segundos a presidente deixando o local sem almoçar e dirijo-me para a fila.

    14h51

    Decido descansar um pouco a cabeça no pátio após o almoço, todavia há uma presença me incomodando. Em tais circunstâncias, acho que o mais sensato a se fazer é ignorá-lo de vez. Vou aproveitar que a escola está calma para tentar dormir um pouco.

    Calma né? Tudo se tranquilizou tão rápido. Diria que isso é um contrassenso. Estamos presos em uma dimensão sobrenatural, uma estudante foi envenenada e outros “desapareceram”. Após o almoço, recordo-me apenas de Natsuki estar instável. 

    Como os nervos dos demais amorteceram tão rápido? Gradualmente passaram a agir como se isso fosse a coisa mais normal do mundo.

    Estranho…

    Cochilo.

    Acordo-me. Olho para o relógio e vejo que já são quatro da tarde. 

    Apaguei por cerca de uma hora e para a minha surpresa ele ainda está ali me encarando. Isso já está ficando perturbador, bastante perturbador. Contudo, imagino que seja questão de tempo para que sua personalidade hiperativa o faça desistir.

    Cochilo e desperto mais uma vez e ele persiste fitando.

    — Shou, que palhaçada é essa? Você já está me tirando do sério — pergunto irritado.

    — Não é nada! Você fica irritado com pouca coisa — responde um pouco emburrado.

    — Tudo bem, se não é nada. Então me faça o favor de cair fora.

    — Se eu pudesse já teria ido!

    Ele está contra a vontade aqui? Acho que já posso ligar os pontos.

    — Ela te mandou aqui?

    — Sim, a Miyu-chan disse para me desculpar sobre ter dito para matá-lo naquela hora.

    — Você não sabia que eu era um jogador. E nada foi específico a mim de qualquer forma.

    Não que isso mude o fato dele estar disposto a apoiar a morte de alguém para se livrar disso tudo…

    — Exatamente, Johann! Foi o que eu disse a ela, mas ela me mandou pedir desculpas mesmo assim. Não foi nada demais. Essas garotas de hoje em dia são completamente exageradas! — estufa o peito e começa a rir.

    Quando percebe que está rindo sozinho, para e volta à atenção para mim.

    — Então? O que está esperando? Pode ir atrás da Miyu.

    Leva a mão até o queixo e olha pensativo para baixo.

    — Hmmm… Não sei se posso fazer isso. Pois tecnicamente eu ainda não me desculpei com você…

    O que este imbecil tem na cabeça?

    — Está desculpado. Isso serve? Vá logo.

    — Talvez. Ainda acho que estarei mentindo caso ela pergunte se eu me desculpei.

    — Qual o problema? Peça desculpas logo e encerramos o assunto.

    — Não é algo fácil para alguém com tanto amor próprio como eu.

    Ok… Não estamos saindo do lugar.

    — Apenas diga que eu previ o que você queria pedir e te desculpei de cara, entendeu? Agora vá.

    Em meio a minha discussão com Shou, vejo ao fundo aquela estranha cena de novo. A mesma garota estrangeira de ontem. Minha mente mais uma vez começa a ficar confusa. De onde eu a conheço? Não consigo lembrar de jeito nenhum.

    Preciso me livrar logo de Shou e ir atrás dela. Sinto que há algo muito estranho em torno dela e não posso perdê-la de vista. Se eu conseguir conversar com ela, devo descobrir algo.

    — Tudo bem, estou in- — Shou para a sua frase no meio quando percebe que eu já estou me afastando dele — Ei, aonde vai?

    — À biblioteca. Vou procurar algo para ler à noite — respondo e acelero o passo.

    Após me livrar dele, caminho em direção à garota que tenta afastar-se de mim. Acelero o passo cada vez mais.

    17h07

    — Ei! — grito enquanto corro atrás dela.

    Como o anoitecer se aproxima, há pouquíssimos estudantes perambulando pelo pátio, e cada vez nos afastamos mais do bloco principal. Consequentemente estou seguindo-a para uma localidade do pátio na qual se encontra completamente isolada.

    Aos poucos, o único som que consigo ouvir são os de nossos passos ao correr. Já não há mais ninguém para testemunhar o que se sucederá.

    — Ei, espere! — sem respostas prossigo tentando chamar sua atenção.

    Eu gostaria muito de saber onde foi parar o meu senso de responsabilidade. Não é impossível que ela esteja propositadamente me guiando para uma emboscada. Definitivamente estou sendo o mais imprudente possível ultimamente.

    Ela para de distanciar-se, mas permanece de costas para mim.

    — Não está ouvindo?! — pergunto ao me aproximar.

    Finalmente consegui alcançá-la. 

    Em resposta ao meu chamado, ela se vira e começa a me encarar com um rosto nada amigável. 

    Ao ver seu olhar zangado, a estranha sensação de déjà vu toma meu corpo assim como ocorreu ontem.

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