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    2º Dia

    20h33

    Assim como ganhei a confiança prévia de Ailiss e Mikoto em linhas temporais passadas, repito o procedimento e organizo uma reunião entre as duas. Este encontro destoa dos outros por ter o apoio de Manabu, Shou e Miyu, os quais me auxiliarão na conciliação entre as duas e me ajudarão a conter um possível conflito entre elas.

    Mas seguirei seus conselhos até o fim, e tratarei de apaziguar o ódio delas apropriadamente. Eu preciso apagar este ódio e não desviá-lo para mim.

    Marcamos o encontro em uma das salas de aula mais afastadas dos dormitórios para evitar interrupções. No entanto, logo ao chegarem, Mikoto e Ailiss demonstram-se nada agradáveis à reunião.

    — Qual o significado disto, Johann? Em momento algum tu disseste que haveria mais pessoas presentes neste encontro. Como eu deveria interpretar isto? Como uma tentativa de emboscada? — fala Mikoto enquanto me dirige um olhar frio.

    — Posso dizer o mesmo que ela, você deveria ter me informado previamente sobre isto, Mistkerl. Qual a sua justificativa? — Ailiss zangada cruza os braços.

    A partir de agora serei totalmente honesto com elas.

    — Nada disso, os três são meus amigos e serão aliados de vocês duas a partir de agora. Eles estão aqui para me auxiliarem nesta reunião.

    — O que tu queres dizer com isso? Confesso que estas circunstâncias parecem-me bastante suspeitas — fala Mikoto.

    É natural que tenham tanta hesitação, elas ainda não possuem tanta confiança nas minhas palavras.

    — Basicamente, ajudaremos o Jocchi em manter vocês duas aqui até o final da reunião. Não as deixaremos que saiam antes de vocês escutarem o que ele tem a dizer — diz Manabu.

    — Qual a autoridade que vós pensais ter em dizer algo assim? Especialmente para mim — encara-os.

    — Kaichou, não entenda errado. Respeitamos muito você, eu particularmente a admiro muito. Porém, você precisa ouvir o que o Johann-kun tem a dizer até o final, é muito importante… — diz Miyu.

    — Que piada é esta Mistkerl? Você fala como se esses três palermas fossem me segurar — comenta Ailiss.

    — Estou ciente da tua força bruta, mas os três são os únicos a quem eu poderia recorrer — respondo.

    — Quanto mais esta conversa prossegue, mais suspeita fica. Pois bem, Johann, diga-nos de uma vez qual o significado disto — fala Mikoto.

    Infelizmente não posso postergar isto ainda mais, gostaria de tranquilizá-las um pouco antes de revelar o motivo deste encontro. A partir da minha próxima sentença os seus ânimos irão ferver e necessitarei dar um jeito de acalmá-las.

    Fecho meus olhos, suspiro e então cuspo as seguintes palavras.

    — A verdade é que nós três somos os jogadores.

    — Se o que tu estás a dizer é verdade… então — arregala os olhos e volta-se para Ailiss — Então esta aliança está fora de cogitação, Johann — pressiona a palma da mão contra a testa — Sim, agora eu estou começando a me lembrar do que aconteceu na manhã da conjuração do jogo… como pude me esquecer?

    — Hmpf. Entendo. Minhas memórias estavam bagunçadas, eu não me lembrava de quem era a conjuradora da magia negra, mas agora que você mencionou que ela é uma jogadora. A identidade da feiticeira agora se tornou clara — diz Ailiss.

    Assim como das outras vezes, saber que a outra é uma jogadora serviu de gatilho e tiveram a reação padrão ao rememorar o seu conflito. O seu ódio floresceu, mas para apagá-lo adequadamente precisava revelá-lo previamente.

    — Guardem seus comentários sobre a rixa de vocês para depois. Há outro ponto mais importante do que este para ser discutido.

    — Mais importante? Quanta audácia da tua parte. Pois saibas que ela tentou me matar. Ainda assim, irá me pedir para colaborar? — retruca Mikoto.

    Se eu não agir logo e me impor neste debate, ambas começarão a partir para a ofensa pessoal. Devo então seguir para o tópico das linhas temporais imediatamente.

    — Sim, é mais importante. Não é a primeira vez que temos esta conversa. Eu morrer, Ailiss morrer, ou você morrer, nada disso importa. Este jogo está se repetindo indefinidamente independente do resultado.

    — Espera que eu acredite numa besteira dessas? Isto que está dizendo é impossível, não me consta nenhuma magia que possa retroceder o fluxo temporal — comenta Ailiss.

    — Se fosse impossível, como explica as informações que lhe dei hoje cedo para persuadi-la a esta aliança?

    — Deve existir uma explicação mais plausível do que essa — pressiona suas têmporas — Até ler mentes é uma explicação mais sensata. Saltar no tempo definitivamente é uma justificativa incabível dada toda a teoria que eu já estudei.

    Pelo visto será difícil fazê-las cooperar somente com a argumentação racional. Das outras vezes, eu necessitei apelar para suas emoções, mas só funcionou porque estavam ameaçadas e ao mesmo tempo contei muitas mentiras.

    Será que não há jeito de evitar a manipulação? Terei que voltar a trilhar este caminho? Não… não posso me acuar tão facilmente diante das dificuldades.

    — Pois bem, esta discussão não irá levar a lugar algum. Não pretendo cooperar com quem planeja me matar, e pelo que tudo indica ela tem o mesmo posicionamento do que o meu. Francamente… ainda tenho dificuldade de crer que tu não pensaste na insanidade do que tu estás propondo — Mikoto dá meia volta — Peço-te que não me procures mais, pois da próxima vez que nos encontrarmos te encararei como um inimigo.

    Este mesmo discurso… foi desta forma que perdi o controle na minha primeira tentativa. Mas desta vez será diferente.

    — Nenhum passo a mais — diz Shou.

    — Saias da minha frente.

    — Não iremos, Kaichou. Você precisa ficar aqui e entender o que ele está tentando dizer… o Johann-kun nunca nos pediu nada antes, por mais que fossemos amigos, ele sempre se manteve afastado. Se ele pediu a nossa ajuda agora, só mostra o quão desesperado está buscando uma forma de salvá-las! — fala Miyu.

     — Nunca pedi a ele para ser salva. Pelo visto ele conseguiu arrastar-vos para esta insanidade, dado o vosso nível intelectual, isto não é nenhuma surpresa — suspira — Mas se vós prestásseis um pouco de atenção nas regras deste “jogo”, saberíeis da incompatibilidade de um tratado entre os três jogadores. Inevitavelmente um de nós precisará morrer e isto não pode ser mudado.

    — E eu estou disposto a isso — respondo.

    — Modere teu discurso. Falar é fácil, palavras bonitas não levam a nada. Estarias disposto a morrer aqui e agora?

    Não sabe como… se as coisas fossem tão fáceis assim… Se bastasse eu morrer para salvá-las e encerrar este mundo de repetições, não poderia ficar mais grato. No entanto, infelizmente a vida não é tão generosa assim.

    — Não seria a primeira vez que eu faria isso. Nas outras repetições eu cometi suicídio diversas vezes pensando em protegê-las, porém apenas me matar não irá garantir o cessar do conflito de vocês — cerro meus punhos e desvio olhar — A primeira coisa que você faria seria conjurar um novo jogo para se proteger de Ailiss, não é?

    — Quanta demagogia… pelo menos nesta questão eu concordo com a presidente metida. Não preciso da sua ajuda, então deixe-me em paz. Já estou perdendo a paciência com esta baboseira — comenta Ailiss.

    — Não preciso esperar por um pedido de socorro para agir — viro-me para Ailiss — Seu pai não esperou por um pedido para salvá-la, ele faria aquilo mesmo contra a sua vontade — volto-me a Mikoto — Posso dizer o mesmo a respeito da sua mãe, não é?

    Ambas arregalam os olhos.

     — Como você sabe disso? — Ailiss se zanga.

    — Você me contou.

    — Independente da forma que tu descobriste a respeito do meu passado. Por que tu te colocarias na mesma posição? Toda ação possui um interesse por trás, quais são as tuas motivações e o que pretendes com este suposto autossacrifício? — pergunta Mikoto.

    Ainda lhe resta dúvidas, Mikoto? Mesmo sem suas memórias, você não é capaz de perceber como sinto em relação a você? Não percebe o quão preciosa você é para mim?

    — Não é óbvio? Porque eu as amo.

    Mikoto solta um riso em desdém e então volta ao seu olhar gélido.

    — Confesso que se estivéssemos em outras circunstâncias, eu até poderia acreditar nestas palavras bonitas.

    — Ei, Kaichou! Não importa o quão espetacular você seja, deveria dar mais atenção quando um garoto se declara para você! Em especial, quando ele coloca tudo em jogo por isso! — reclama Shou.

    — Não preciso nem entrar na questão dele estar se declarando para outra garota… pois ao mesmo tempo em que ele declara algo a mim, também declara a quem quer tirar a minha vida. Não percebes o quão contraditório é isto? Sinto muito, mas não posso levar a sério tais palavras, são pueris — volta-se para os três e os encara de forma hostil — Agora, vós deixareis-me passar?

    O maior problema tratando-se de violência física aqui é sem dúvidas a Ailiss. Todavia, Mikoto tem um potencial que nem a própria sabe a respeito.

    Manabu olha para mim e eu assinto.

    — Vocês ficarão aqui até quando tiverem resolvido esta questão. Não me importo com as habilidades de cada uma das duas. O Jocchi decidiu seguir por esta rota e entendo plenamente como se sente, por isso não as deixarei passar — Manabu puxa a metralhadora e fica na saída da sala.

    Não se tratará de uma ameaça real, eles mesmos nunca teriam coragem para realizar um ato como este. 

    Mas nossas cartas estão acabando…

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