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    Causa e consequência são conceitos bem estabelecidos dentro da lógica. Algo teoricamente não pode ser causado por uma consequência sua, deste modo se fecharia uma circularidade. Entretanto, o lugar no qual estou passa-me uma estranha sensação de que a lógica não parece funcionar adequadamente por aqui.

    É um sonho? Ou estaria eu morto?

    Quem é você? Este rosto, esta expressão… são idênticas às minhas.

    Um impostor? Não, sou eu mesmo.

    No momento estou na entrada da minha escola. Pontual como sempre, eu vejo-me passando pelo portão cerca de meia hora antes do horário habitual da chegada dos demais estudantes.

    Não sinto necessidade de seguir-me, aparentemente não possuo nada a tratar comigo mesmo.

    Permaneço imóvel. Acredito que eu esteja esperando por alguém. Mas com quem eu deveria me encontrar?

    Aguardo por mais algum tempo, e em meio a toda esta distorção percebo um movimento.

    Uma garota? Sim, definitivamente é outra estudante. Estes longuíssimos cabelos pretos balançando ao vento são impossíveis de não reconhecer até mesmo neste confuso plano no qual me encontro.

    Yukihara Mikoto. Uma senpai desta escola que ocupa o posto de presidente do conselho estudantil. Normalmente ela chega bem cedo, acredito que isto se deve justamente à sua ocupação.

    A garota com o rosto inexpressivo cruza por mim.

    Ela também não pode me ver. Logo devo presumir que não é a pessoa pela qual estou esperando.

    Escuto seus passos afastando-se até desaparecerem.

    Mais uma vez noto a presença de alguém. Porém, quando ela chega mais perto, a estranho. Pois não se trata de uma estudante diária desta escola. Longuíssimos cabelos louros, tal como eu, esta garota é estrangeira.

    Acredito que seja uma aluna que veio para o Japão em um intercâmbio. Será que é por isto que estou a esperando? Como sou estrangeiro também, talvez tenha sido me passado esta tarefa.

    Reparando bem, a mochila dela não parece ser grande demais para trazer apenas cadernos? Também está usando um uniforme masculino, no entanto é evidente pelo seu rosto e corpo que se trata de uma garota tão bela quanto a presidente.

    Por acaso, eu não a conheço? Tenho certeza de que teria ciência da existência de uma garota tão exuberante assim, entretanto parece-me tão familiar.

    E a mesma cena repete-se pela terceira vez. Ela também não é capaz de me ver.

    Todavia, algo diferente acontece. Minhas pernas involuntariamente começam a mover-se de modo que passo a segui-la.

    Chegamos a um dos blocos secundários da escola, o qual fica ao lado do bloco principal. Ela entra e vai diretamente para as escadarias. 

    Subimos até o terraço. 

    Não sei nem se teríamos permissão para estar aqui.

    Em seguida ela abre sua enorme mala e retira algo inusitado de lá. Uma arma de fogo. Ainda por cima incorporou alguns acessórios a ela, como uma luneta para longas distâncias.

    Vendo uma colegial portando uma arma de fogo, minha primeira reação, naturalmente, é de espanto.

    “Ei, o que você está fazendo?”

    Tento comunicar-me com ela, porém a minha voz não sai. É como se eu não pudesse propagar ondas sonoras no ar. Logicamente, pois o ar está em outro plano, o mesmo que o dela.

    Ela ajusta a mira em direção ao bloco principal.

    Caminho até o lado dela e julgo que a direção para onde o vetor aponta é exatamente a sala do conselho estudantil.

    Imediatamente sou teletransportado para a sala que estávamos fitando. Lá me encontro com a presidente, a qual apesar de inexpressiva apresenta certa inquietação.

    Talvez ela já esteja ciente de que está sendo caçada. Apenas não sabe por quem e quando irão aparecer atrás dela. Tenho péssimas notícias, porém é agora mesmo.

    Ela puxa o tapete que se situava no meio da sala e expõe um círculo estranho. Passa-me uma impressão de ocultismo. Nunca imaginei que ela teria gostos como este.

    O vidro de uma janela é então quebrado. O som resultante foi o suficiente para que ela se jogasse imediatamente ao chão enquanto murmura em uma língua que eu desconheço.

    Viro-me para a janela e observo mais e mais projéteis vindo em minha direção. As janelas são completamente destruídas e por muito pouco os disparos não atingem a garota ao chão.

    Como imaginei, os tiros apenas atravessam o meu corpo sem interagir com a minha matéria. Portanto, estou completamente seguro. Deste modo, somente preocupo-me com a situação da garota.

    Quando a observo novamente vejo certo brilho sendo emitido pelas escrituras dentro do círculo. Os disparos que deveriam acertá-la parecem estar sendo desviados por alguma força oriunda de um campo repulsivo.

    O brilho toma uma cor que desconheço. Ela não pode ser derivada de cores primárias e muito menos está presente no espectro eletromagnético. O que é isso?

    Os disparos cessaram, mas a garota prossegue murmurando neste idioma estranho.

    Após um certo período de tempo, escuto um forte barulho na porta da sala. Está sendo arrombada, certamente pela garota estrangeira. E depois de algumas tentativas, ela finalmente consegue.

    A garota loura adentra a sala apontando a arma em direção à presidente que continua conjurando esta estranha luz. Os projéteis saem do cano da arma, porém numa velocidade extremamente lenta. O tempo está passando mais devagar, como se estivéssemos próximos de um buraco negro.

    O projétil em câmera lenta atravessa meu corpo imaterial e prossegue sua trajetória pela sala até o centro do círculo, todavia é tarde demais.

    O tal círculo de luz dá início a uma expansão. A qual, diferente dos projéteis, adquire um movimento acelerado tomando conta da sala, do bloco e da escola numa fração de segundo.

    Em meio a toda esta luz, observo um pequeno ponto obscuro. Analisando melhor, são duas esferas de escuridão. As quais estão espalhando certas ramificações como se fossem raízes.

    Vislumbro ao meu redor e noto que os traços de escuridão acompanham a expansão da luz e tomam toda escola num mísero instante. Quando retorno meu olhar para as duas pequenas esferas, constato o corpo das duas garotas sendo agarrados e puxados pelas ramificações.

    Não demora muito para virem atrás de mim. Desta vez meu corpo torna-se tangível, sou completamente envolvido por elas e arrastado para o centro da escuridão.

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