Prólogo: O peso do gatilho.
Durante a vida eu nunca tive tempo para refletir sobre mim mesma como tenho agora, no momento do meu último suspiro. Sempre estive lutando, lutando e lutando. Eu não possuía um sonho, mas um objetivo.
É engraçado olhar para trás e ver como abandonei aos poucos essa dolorosa ambição.
Quando eu tinha apenas sete anos de idade, eu perdi meu pai, ou melhor, ele foi arrancado de mim. Vislumbrar o assassinato do único membro vivo da minha família naquela idade não foi nada fácil. E por isso eu jurei aos céus vingá-lo, e realmente dei minha vida a isso até este inconveniente evento.
Caso exista vida após a morte, não sei se conseguiria encontrá-lo novamente. Primeiramente, apesar da semelhança do fim que tomamos, estaríamos em planos diferentes. Não trilhei um caminho digno como gostaria, não hesitei em momento algum na hora de matar inocentes apenas para concluir os meus planos de vingança. E o mesmo se repetiu quando os abandonei.
Ainda que eu pudesse reencontrar o meu herói, jamais conseguiria encará-lo. Por mais que o próprio provavelmente desaprovasse meus desejos de vingá-lo, ainda sinto que o traí. E ironicamente no fim decidi proteger o sorriso de quem um dia jurei exterminar.
É tudo sua culpa, você me apresentou de novo ao mundo que eu havia abandonado há uma década. Um mundo que não me deve nada, um mundo a quem eu não devo nada. E também é sua culpa por ser um péssimo ator.
Dentre essa infinidade de mundos, será que em um poderíamos ter sido felizes? Se ao menos tivéssemos uma escolha a mais… Eu não fui capaz de encontrá-la. Todavia, permaneço grata por essa chance que o destino me deu de agir pelo que eu desejo e não continuar obedecendo a um fantasma retroativo.
O que diabos você está fazendo? Não deveria ser tão gentil com seus supostos inimigos. Mesmo depois de tudo o que eu tentei, ainda não é capaz de sentir raiva ou desprezo por mim?
Meus olhos finalmente se acostumaram à escuridão e a minha última visão será justamente o seu rosto. Há tantas coisas que gostaria de te falar, contudo já passou muito da hora de fraquejar e tentar voltar atrás.
Como partirei, eu só lhe peço que cumpra meu papel e a proteja.
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Memórias da minha infância ressoam na minha mente.
Nós não estávamos tão distantes assim naquela época… se eu pudesse desejar algo seria para que nossos caminhos tivessem se cruzado mais rapidamente. Imagino o quão diferente tudo poderia se desenrolar.
Dói.
Morrer é mais penoso do que eu imaginava. Então é esta a dor que meus disparos causaram em todas minhas vítimas? Imagino que todos devam estar agora zombando de mim, bem, é um direito deles desfrutarem da minha agonia. Puxar o gatilho se tornou algo tão trivial para mim que esqueci completamente do que o ser ao lado oposto ao cano sentia. Mas foi uma atitude necessária, pois para me tornar uma máquina de matar eu precisei abandonar toda a minha humanidade.
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