06 Viral

Autor: Kraught

— Doutor… eu acho que o corpo se moveu. — Comentava uma mulher com a voz trêmula apontando para um corpo de um jovem na mesa de autópsia.

— Deve ter sido só um espasmo, não é possível um corpo nesse estado ainda estar vivo — Respondia um homem segurando um bisturi com as roupas manchadas de sangue olhando o corpo putrefeito em sua frente. — E não posso voltar atrás agora, foi um pedido feito pela ONU para examiná-lo.

Ao ver que sua enfermeira estava passando mal com aquela cena, Jackson a dispensou. Disse que tudo bem se ela quisesse ir para casa e que ele poderia continuar só com a biópsia.

Após a enfermeira sair da sala, Jackson começou a analisar o cadáver que estava aberto, já em processo de decomposição. Enquanto removia alguns órgãos, ele percebeu que algo estava diferente com o coração do cadáver, ele pegou uma tesoura cirúrgica e o moveu para o lado. Ele então avistou uma espécie de massa de coloração escura presa ao coração e pensou que poderia ser um tumor.

Cuidadosamente com o bisturi, começou a remover o coração, mas a massa escura subiu em seu bisturi e grudou em sua luva. Ele tentou desesperadamente arrancar a massa, que acabou perfurando sua roupa de proteção, entrando em sua pele. Seu corpo começou a formigar, junto a sensação de uma corrente elétrica em seus nervos.

— Jack… Jackson…

Quando estava recobrando aos poucos a consciência, viu Alice chamando por ele, enquanto ela o ajudava a se levantar Jack perguntou o que teria acontecido com e qual o motivo para ele estar no chão.

Alice disse que quando estava se vestindo para ir embora ouviu o barulho das ferramentas caindo, e como ela tinha chamado e ele não respondia, então ela entrou na sala e o encontrou caído no chão.

Vendo que Jack ainda estava confuso, Alice perguntou se ele não queria ir para a casa dela para descansar em vez de atravessar a cidade para ir ao seu hotel. Jackson se apoiou em Alice e a acompanhou pela instalação até o carro. Estava tonto e desorientado demais.

Chegando no carro ele apagou novamente e acordou com Alice o chamando para entrar em sua casa. Assim que entrou, Alice disse que ele poderia dormir no sofá. Então ela foi ao quarto pegar um cobertor para Jackson, mas assim que voltou de seu quarto viu ele dormindo, então o cobriu e foi se deitar também.

Enquanto dormia, Jackson sentiu alguém mexendo em seu corpo, porém ele não conseguia acordar do sonho que estava tendo. Em seu sonho Jackson estava no meio da cidade, que estava deserta, ele continuou andando sem destino, uma ventania criou uma tempestade de poeira que o cercou.

Dentro da tempestade, ouvia-se gritos, tiros e explosões, mas Jackson não conseguia dizer de onde vinham.

Enquanto andava em meio à poeira, Jackson viu de relance a silhueta de um homem que andava em sua direção. O homem caminhava lentamente, segurava seu braço esquerdo como se estivesse ferido, ele parecia que tentava dizer algo, mas devido a tempestade era difícil de se ouvir.

Quando o homem chegou perto o bastante para que seu rosto pudesse ser visto, Jackson ficou paralisado, o rosto do homem à sua frente estava rasgado, algumas partes com a mandíbula e o crânio aparecendo, seu corpo estava aberto e com diversas feridas em lugares variados, em maioria marcas que pareciam mordidas.

O homem avançou para cima de Jackson com um grito ensurdecedor e sem ter o que fazer, Jackson correu, mas a tempestade que atrapalhava sua visão o fez perder de vista o homem. Ele começou a procurar qualquer sinal de que estava sendo perseguido ainda.

Jackson sentiu-se aliviado quando não o viu, depois de correr por um tempo, ele sentou no chão encostando em um carro que estava parado perto de si, os gritos depois de um tempo sumiram, os tiros cessaram e as explosões pararam. E quando tudo ficou em silêncio, Jackson sentiu algo tocando seu ombro, ele então virou o rosto e puxou a camisa para olhar o que era, antes que pudesse tirar qualquer conclusão outra gota vermelha caiu em seu ombro.

Quando olhou para cima, notou que havia uma criatura enorme em cima do carro lhe encarando, Jackson tentou se levantar e correr, mas a criatura o puxou e arrancou um pedaço de seu rosto com uma mordida. Jackson então caiu no chão e em meio a seus gritos de dor viu uma silhueta familiar se aproximando por sua frente.

Jackson estava desesperado, seu rosto sangrava sem parar, ele se levantou e se virou para o carro, a criatura não estava mais lá. Quando viu seu reflexo, ele ficou em choque, a metade esquerda de sua face estava tão dilacerada que chegava a ser possível ver partes do osso.

Jackson então se virou depressa, e nesse momento alguma coisa bem maior veio rasgando o céu, quando olhou para cima só deu tempo de ver sua boca cobrindo o seu rosto. Jackson acordou assustado e com seu corpo coberto de suor, ao olhar em volta notou que não estava em casa.

Ele se sentou no sofá e ficou olhando em volta, Jackson não lembrava como havia chegado ali, ele só lembrava de ter entrado no carro com Alice. Jackson havia sentido uma dor em sua boca então levantou-se e foi procurar o banheiro.

Enquanto procurava o banheiro naquela casa, Jackson passou pelo quarto de Alice, ele sentia um cheiro que o fazia querer entrar, ele abriu a porta devagar e a viu dormindo. Nesse momento Jackson, fechou a porta e saiu de lá o mais rápido possível.

Jackson saiu de frente do quarto e foi para o banheiro, quando acendeu a luz e se olhou no espelho. Em seu nariz escorria uma gosma preta, que ao tocar sentiu ser mais viscosa do que aparenta, ele ficou na dúvida se deveria abrir a boca .

“O que está acontecendo comigo?”

As mudanças em seu corpo e o seu pesadelo que terminou com ele sendo devorado vivo, fizeram Jackson ficar preocupado, como um pesquisador ele não aceitava coisas como coincidência. Jackson se ar

Havia perdido o controle de seu corpo, ele conseguia ver e sentir tudo, mas não conseguia controlá-lo.

Depois de um momento parado ao lado da cama de Alice a observando, Jackson foi sentindo seu corpo ficando cada vez mais pesado e lento. Depois disso ele acabou saindo da casa de sua amiga.

Jackson precisava ir ao laboratório para examinar novamente aquele cadáver,

Parando em frente a um beco escuro, Jackson tentava mandar seu corpo voltar, mas sem sucesso algum, seu corpo estimulado pelo cheiro entrou correndo em meio a aquela viela, parando em frente a um morador de rua que estava dormindo. Junto a sua mente Jackson ouviu uma voz que ficava repetindo.

“Morda… Rasgue… Coma… Se alimente… Satisfaça-se…”

Jackson se ajoelhou ficando o mais próximo possível do homem à sua frente e com força ele agarrou sua cabeça, Jackson via o rosto do homem pálido totalmente assustado por estar sendo levantado por um desconhecido, mesmo assim seu corpo não parava. Lágrimas caiam do rosto do homem à sua frente, Jackson conseguia sentir o pavor que o homem estava sentindo, ele gritava para seu corpo o obedecer, para e deixar o pobre coitado em paz… mas isso não aconteceu.

Novamente junto a sua mente Jackson ouviu.

“Coma… Coma… Coma… Alimente-se…”

A voz ia ficando mais e mais forte a ponto de se sobrepor a mente de Jackson, que acabou olhando para o homem novamente que tentava desesperadamente se soltar da mão de Jackson. O homem batia e arranhava na chance de se libertar, quando ficou sem forças, Jackson começou a colocar força na mão a qual segurava o rosto do homem, que começou a ficar desfigurado.

Crack!!

A mandíbula do homem havia quebrado fazendo-o chorar mais, enquanto seu corpo causava dor Jackson só pensava em parar com aquilo, com aquele sonho… ele queria acordar, encontrar Alice e ir trabalhar como sempre fez. Foi quando tudo aconteceu, quando Jackson pediu para que aquilo acabasse, o seu corpo respondeu a ele.

— Fome… — Disse o corpo de

Jackson enquanto aproximava o homem para perto de seu rosto.

Rasg!

Sangue começou a escorrer da jugular do homem, Jackson não conseguia acreditar no que estava fazendo. Em sua boca estava um pedaço do pescoço do homem, o sabor da carne, o sangue escorrendo por sua garganta deixava seu corpo em estado de euforia. Enquanto sua mente sentia um imenso prazer, Jackson também sentia repulsa de si.

Chomp! Chomp!

A cada nova mordida que dava no corpo do já falecido homem, Jackson sentia suas veias pulsando mais fortemente, seu coração batia mais rápido, seu corpo ficava com uma sensação de invencibilidade, após comer cada pedaço do corpo, Jackson apagou. Quando finalmente abriu os olhos estava no sofá de Alice, ele pegou o celular em seu bolso e viu que eram somente 4h da manhã, lembrando que o último horário que falou com Alice foi às 23h, Jackson viu que não havia dormido muito.

Jackson se lembrou do sonho e o enjôo que sentiu vendo aquele homem ser devorado acabou voltando, levantou-se do sofá e foi correndo ao banheiro. Jackson abriu a porta e foi se olhar no espelho, em sua boca ainda estava o gosto do sangue e carne. Ele lavou o rosto e tentou acalmar-se, não conseguia acalmar-se, o gosto era tão forte que ele abriu a boca para garantir que não havia nada.