Autor: Kraught

    Aconteceu na metade do ano passado, eu estava saindo de uma entrevista de emprego na Luxuray CO, não estava nada feliz com o resultado.

    — Rejeitado, de novo. Nem consigo mais ficar decepcionado. — Sussurrei enquanto andava na rua durante o sol escaldante. A carta que recebeu da empresa não veio com uma boa notícia, “Infelizmente você não tem o requerimento mínimo para ser aceito em nossa empresa, sentimos muito, mas apesar de sua capacidade física e grande aptidão com armas sua afinidade mágica é bem inferior à da média das pessoas, com isso não podemos aceitá-lo em nossa empresa. ”

    A companhia estava à procura de pessoas com grandes capacidades mágicas e eu não me encaixava nesse grupo de pessoas, a caminho de casa deixei as lágrimas escorrerem.

    — Estou acostumado a ser excluído de tudo por ser assim, mas ainda é difícil de me acostumar.

    “Não é como se eu não tivesse capacidade mágica, mas ela é abaixo da média, então eu pensei que se eu treinasse meu corpo, ao menos o bastante para compensar isso, iria conseguir algum emprego.”

    — Não foi o caso. Para tudo nesse mundo é necessária uma grande afinidade com a mana.

    Enquanto andava há algum tempo embaixo do sol quente, finalmente cheguei em casa, se é que realmente posso chamar isso de casa, está destruída demais, a tinta das paredes e do teto deixaram de existir, o ambiente é pequeno, fechado, cheira a mofo cheio de goteiras e buracos, e agora tem um ninho de fadas na janela, pequenas pragas.

    “Não tem o que fazer, eu nasci assim.”

    — Fiquei me falando isso a mim mesmo enquanto deitava na cama.

    Eu tinha vindo a NY porque recebi um e-mail de uma das universidades que eu tinha feito a inscrição, porém de acordo com a gerência foi um engano, então até o dia da passagem um amigo me deixou ficar aqui, é ruim, mas ao menos tem água e energia.

    Diariamente penso em retornar para meu antigo lar, voltar para Barrow, que saudades do frio, ainda que congelante, da vizinhança… saudades de Allison, me pergunto como ela está depois de todos esses anos, comparado a lá, aqui é bem quente, porém esse tempo já passou, não posso voltar… nunca mais.

    Cometi um crime e tive de pagar por isso, fui banido. Fiquei em casa até o anoitecer, mas como não conseguia dormir fui dar uma caminhada, fui até uma loja de conveniência que era aberta 24 horas, ela fica meio distante de onde estou estabelecido. Enquanto andava pela rua senti uma presença, como se algo estivesse me esperando na escuridão dos becos, algo estava me observando.

    “De onde? ” — Ficava pensando enquanto andava até a loja, quanto mais eu andava maior a presença estava ficando, como se estivesse se aproximando.

    “O que quer que seja essa coisa está se divertindo às minhas custas, o único motivo para eu não estar correndo, é porque tudo em mim diz claramente… se eu correr, irei morrer! ”

    Sentia os olhos dele nas minhas costas, cada vez mais pertos, o medo percorrendo meu corpo cada vez mais, o suor escorrendo.

    — Cadê essa maldita loja? — Gritei sem querer, a pressão que eu estava sentindo na hora era descomunal.

    “Eu já deveria ter chegado nela a muito tempo, mas a cada passo que dou parece que a rua aumenta, e para piorar, as sombras dos becos… estavam crescendo e vindo em minha direção.”

    Minha mente me manda olhar para trás, para ter certeza de que não é somente minha imaginação, saber se tudo ainda está lá e não só aquela escuridão, mas todo o resto do meu corpo deixou bem claro, se eu me virar, desaparecerei em meio às sombras.

    Após muito andar, as sombras estavam quase encostando em meus pés, tudo fora o caminho a minha frente foi engolido, não havia mais nada.

    “O que eu devo fazer? ”

    Esse pensamento ficou me consumindo junto do desespero. — Irei morrer aqui, assim?

    “Ninguém vai notar meu sumiço, ninguém vai lamentar a minha morte, todos que eu tinha ao meu lado já foram embora, me abandonaram. ”

    Enquanto caminhava na escuridão por um tempo, consigo ver uma pequena luz azul, a placa do mercado dizendo Aberto 24 horas, pensei em ir andando como fiz até agora, mas o barulho como o de um rosnado vindo de trás de mim me fez mudar de ideia, corri desesperado, com algo vindo atrás de mim, algo pesado e grande, antes eu só sentia seus olhos cravados em mim, agora toda vez que olho para trás consigo vê-los, seus olhos avermelhados fixos em mim, emanando uma aura ameaçadora e tenebrosa, o único contato que fizemos foi o suficiente para me fazer entender… essa coisa não é algo que foi originado nesse mundo.

    Seus passos que antes eram leves começaram a ficar pesados, dava para sentir o chão estremecendo, a coisa estava se aproximando.

    O sangue fervendo, a adrenalina batendo, o pavor da morte, tudo isso me impulsionava a continuar correndo sem parar, já estava bastante perto do mercado quando a escutei rugir, não pensei em mais nada além de me jogar na porta, não era algo garantido que essa coisa fosse me deixar em paz, mas era a única chance que eu tinha.

    Enquanto corria me preparei para saltar em direção a entrada, mas parece que a besta também pensou nisso, quando saltei senti as unhas dela dilacerando minha perna direita enquanto ela soltava um rugido ensurdecedor, para minha sorte meu corpo se chocou com a porta de vidro a quebrando e me fazendo entrar no mercado.

    Demorei para me levantar, estava jogado olhando para a porta, o medo estava me dominando tanto que não notei minhas mãos e braços sangrando por conta do vidro quebrado ao meu redor.

    Do lado de fora do mercado estava algo que eu não posso usar uma palavra melhor para descrever do que Monstro, aquela coisa era maior que um humano, quase do tamanho de um ogro (Quando está nas duas patas), andava nas quatro patas, tinha quatro olhos amarelos cor de âmbar. Aquilo rosnava para mim mostrando seus dentes enormes e afiados, a coisa mais assustadora era que toda a área fora do mercado estava coberta com uma escuridão sem fim.

    Tive dificuldades para ficar em pé, o sangue não parava de escorrer pela minha perna, me apoiei no balcão do caixa para olhar se estava muito feia a ferida, para a minha surpresa quando levantei a calça, minha perna estava em um estado horrível, partes sem pele, músculos e tendões rasgados. Apesar disso não fiquei preocupado, não consegui na verdade, algo estava me dizendo para não se preocupar tanto, talvez um instinto.

    Quando a olhei novamente ela parecia aflita, pensando se deveria entrar ou não, a ignorei por enquanto e fui olhar o resto do mercado, não há ninguém aqui, zero pessoas. Enquanto eu procurava algo que eu possa usar para enfaixar a minha perna, escutei uma voz.

    — Humano, está com medo?

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