Autor: RxtDarkn

    Não havia nada que ele gostasse tanto que não fosse viajar. 

    Seu pai lhe contava histórias de como ele se aventurou com seus amigos pelo mundo e o quanto era divertido conhecer pessoas novas. 

    Despedidas foram tristes, mas deixavam um calor no coração pensar que aquelas pessoas que seguiram suas vidas estavam em busca de seu próprio crescimento pessoal. 

    Mayck ajeitou suas coisas. Estava na hora da partida. 

    Ele olhava cada canto da casa, se despedindo do local onde passou toda a sua vida até então. 

    — Pai, mãe, Adeus — ele falou, estando do lado de fora. 

    Deixou o interior onde cresceu e começou o caminho para a realização de seu sonho: conhecer cada parte do mundo. 

    Seguiu para a capital do reino de Crisália. 

    O patrimônio deixado por seus pais, garantiam a ele uma vida estável por, ao menos, 30 anos.

    As grandes cidades ficavam a quilômetros e quilômetros de distância umas das outras, mas as cidades pequenas se colocavam ainda mais longe. 

    Do pequeno vilarejo de Altari até a capital seria de 5 a 7 semanas, isso estando em uma carruagem e sem parar no caminho. 

    Ao deixar seu vilarejo para trás, Mayck caminhou por duas horas até que encontrou uma carroça que ia até a cidade de Emiwa. O gentil senhor que conduzia o veículo, ofereceu uma carona para o garoto, já que a viagem duraria cinco dias. 

    — Bem, é muito difícil ver jovens como você saírem de casa por conta própria — ele falou — seus pais devem estar orgulhosos disso. 

    — Pode-se dizer que sim. 

    Conversava vai e vem, o período de cinco dias se passou e Mayck chegou ao seu destino. 

    — Certo. Primeiro eu vou procurar um lugar para passar a noite. 

    A cidade era bem construída, mas por estar perto das montanhas, tinha um clima estável e o pôr do sol era um pouco mais cedo, em relação aos outros lugares do continente. 

    As pessoas caminhavam de um lado para o outro, trabalhando ou se divertindo com seus amigos. 

    O garoto olhava para todos e sorria com a paz que o lugar mostrava. 

    Vendedores anunciavam seus produtos e os compradores pechinchavam por eles. Assim, a vida de cada um seguia. 

    Andando por mais de 30 minutos, Mayck decidiu procurar informações de um dos vendedores. 

    — Com licença, existe alguma pousada por aqui?

    — Olá, meu jovem. Se está procurando um bom lugar para passar a noite, nós temos três ótimas pousadas, mas, pessoalmente eu recomendo a Brilho da noite, que fica no centro da cidade. 

    — Então eu irei checá-las. Muito obrigado — ele se despediu da gentil senhora. 

    Depois de procurar arduamente, o garoto encontrou seu local de destino. 

    Entrou e assinou alguns papéis que garantiam sua estadia no local. 

    Cansado da viagem, ele se dirigiu para seu quarto e, após colocar seus pertences no chão, se deitou na cama macia que lá estava. 

    “Faz tempo que não deito em uma cama dessas.”

    Ele se revirou na cama e aproveitou a sensação, até que dormiu. 

    Alguém bateu na porta suavemente e uma voz doce e calma o chamou. 

    — Senhor Mayck. É hora do jantar. 

    Ao ouvir aquela voz que acalmaria até o mais irritado dos homens, o garoto falou entre bocejos:

    — Eu estou indo. 

    A refeição servida era, para ele, um banquete. 

    Durante cinco dias, havia comido apenas pão e bebido água. 

    A garçonete se chama Clara e ela era muito amigável. Por qualquer mesa que passava, falava animadamente com seus clientes e amigos. 

    Aquela atmosfera não era ruim. 

    Apreciando sua refeição, no canto de seus olhos, uma garota entrou no estabelecimento. 

    Era uma pousada que servia como restaurante pela tarde e bar durante a noite, por isso era bem famosa na região. 

    A garota sentou-se em uma mesa próxima e esperou para ser atendida. 

    Era uma bela garota de cabelos escuros e olhos vermelhos. Sua beleza estonteante recebeu olhares não só dos homens, mas também de todas as mulheres presentes. 

    — Olha só. Essa garota é linda, não é?

    — Ela não é daqui. Essas roupas que ela está usando são encontradas apenas na capital. 

    “Uma garota da capital, é? Talvez eu possa pedir alguma informação…” ele pensou. “Mas é melhor fazer isso outra hora.” Ele se decidiu após ver a melancolia estampada nos olhos dela. 

    Após terminar sua refeição, Mayck retornou para seu quarto, onde passou tranquilamente a noite. 

    No dia seguinte, ele se levantou cedo e saiu para explorar a cidade. Não tinha intenção de permanecer lá por muito tempo, então queria aproveitar o que o local tinha a oferecer. 

    Saindo pelas ruas viu crianças brincando, pessoas montando suas vendas e trabalhadores se aprontando para iniciar a construção de uma casa simples, porém bonita e aconchegante. 

    O dia estava apenas começando, então Mayck aproveitou para fazer uma maratona pelos arredores de um rio que, segundo um morador, abrigava peixes coloridos e o pequeno bosque possuía um ótimo lugar para respirar ar puro e aproveitar o sol da manhã. 

    Assim, Mayck o fez. 

    Ao meio-dia, quando o sol já tinha se aquecido, todos começaram suas atividades ainda mais ardentemente. 

    Estavam no meio do verão, portanto bancas vendendo bebidas e sorvetes. 

    Perfumarias e lojas de roupas eram bem populares entre as mulheres. 

    Lojas de armas e equipamentos chamavam a atenção dos aventureiros locais. 

    Crianças correndo no meio da rua de pedra faziam alguns motoristas de carroças comerciais perderem a paciência, mas para as inocentes crianças, era uma diversão. 

    As coisas tinham esse clima de tranquilidade e conforto todo dia e assim se passaram três dias. 

    Em uma de suas caminhadas pela tarde, Mayck ouviu um rumor de algumas senhoras conversando. 

    — Aquela garota da capital que chegou há alguns dias?

    — Sim, ela mesmo. Eu ouvi uns aventureiros conversando e eles disseram que ela é de uma família aristocrata. 

    — Mas o que ela estaria fazendo aqui? Se ela é rica ela deveria estar feliz morando em uma casa grande. 

    Não querendo se intrometer, Mayck se afastou, mas as palavras que ele ouviu não poderiam ser esquecidas. 

    Ele via a garota almoçando e jantando na pousada todos os dias, aparentemente ela estava hospedada lá. 

    — Olha, são da capital?

    — O que estão fazendo aqui?

    De repente uma comoção começou a se formar. 

    Mayck olhou para a fonte do barulho e viu três cavalos de armadura, assim como dois de seus cavaleiros. 

    O que estava na frente portava uma roupa vermelha com ornamentos dourados, dando a impressão de que eram roupas caras. 

    Ao notar o olhar do garoto, o homem, que parecia ser pouca coisa mais velho que ele se aproximou. 

    — Ei, você. Tem um minuto? — ele perguntou. 

    — Não é como se eu estivesse fazendo alguma coisa. Do que precisa?

    Ele olhou ao redor e demonstrou estar incomodado com todos os olhares que recebia dos residentes. 

    — Nós poderíamos falar a sós? De preferência em um lugar um pouco mais calmo. 

    — Tudo bem. Pode vir comigo?

    Guiando os três cavaleiros, Mayck os levou até o meio do bosque em uma clareira. 

    Eles se admiraram com a beleza natural do lugar, mas logo voltaram para o assunto principal. 

    — Desculpe-nos interrompê-lo. 

    — Não se preocupe. Como eu disse antes, não estava fazendo nada especial. 

    O homem sorriu. 

    — Permita-me me apresentar. Eu sou Hugo Von Lithug, filho do Conde Messo Von Lithug. 

    — Eu sou Mayck Mizuki. Prazer em conhecê-lo. 

    Apenas com aquilo, Hugo sorriu. Aquela foi a primeira vez que, ao ouvirem o seu nome, não mudaram para uma linguagem formal.

    — Agora, deixe-me dizer o motivo pelo qual eu vim até aqui. Há um tempo, minha irmã mais nova fugiu de casa e suspeitamos que ela tenha vindo até aqui. 

    — Nesse caso — Mayck falou. — Você deveria ter contactado as autoridades locais, mas ao invés disso veio até mim. Existe algum motivo para isso. 

    — Posso ver que é bem perspicaz. Eu cheguei a você, porque imaginei que, diferente de todos os outros moradores, você seria o mais fácil de conversar. 

    — E qual a sua base para dizer isso?

    Hugo se virou de costas. 

    — Porque quando eu cheguei, todos que me viram abriram passagem para mim. Você, porém, ficou parado mesmo eu me aproximando. 

    — Hm…— Mayck deu um pequeno riso. 

    — E quanto a sua irmã… eu sei onde ele está. 

    — Isso é sério? Onde? Poderia me dizer?

    — Claro. Mas antes eu gostaria de fazer uma coisa, tudo bem?

    Os homens ficaram confusos, mas não debateram. 

    O garoto fez algumas perguntas e ouviu a história de Hugo e soube, por ele, o nome da garota. 

    Mayck os pediu para não voltarem até o mesmo local na cidade, mas que fossem para o outro lado. 

    Na hora do jantar, lá estava ele e, na mesa ao lado, se encontrava a bela garota de olhos vermelhos. 

    Depois do jantar ela se retirou para seus aposentos e Mayck a seguiu. 

    — Hana Von Lithug?

    Ao ser chamada pelo nome, a garota tremeu. Seus olhos irritados voltaram-se para Mayck. 

    — Como você sabe quem eu sou?

    — Hoje a tarde — ele a cortou —  Um homem com o nome Hugo Von Lithug veio até a cidade. 

    — Meu irmão? Não pode ser… Ele sabe onde eu estou? Você disse a ele? — Hana caminhou até ele e o pegou pelo colarinho. 

    — Se acalme. Eu não disse nada.

    Ela o soltou após essas palavras. 

    — No entanto, eu ouvi a sua história, mas gostaria de ouvir da sua boca. Por que você fugiu?

    — Você é só um plebeu. Não tem que ficar se metendo nos assuntos de desconhecidos, principalmente da nobreza-

    — Se você me contar, eu posso te ajudar. 

    As palavras ficaram presas na garganta da garota. 

    Ela abaixou os olhos e deu alguns passos para trás.  

    — Poderia vir até o meu quarto?

    Mayck assentiu. 

    Os dois entraram no local e ela o convidou a se sentar em uma cadeira próxima a cama, onde ela havia se sentado. 

    Imediatamente ela começou a falar. 

    — Não sei se você sabe, mas um casamento entre nobres é algo comum. Por isso, os pais geralmente escolhem os noivos das filhas. Há seis meses, depois do meu aniversário de 16 anos, meu pai me apresentou ao filho de um amigo e me ofereceu como esposa. No início eu não disse nada, mas depois de ver como a vida de uma amiga estava, eu comecei a ter medo — ela apertou as mãos e continuou — O marido dela a dividia com outros amigos e fazia coisas terríveis com ela. 

    Mayck a escutava sem tirar os olhos dela. 

    — A partir daí, sempre que eu via meu futuro noivo, eu ficava com medo. Mesmo não sabendo como ele era no fundo, eu ainda fugia. Mas não era só ilusão minha. Um dia eu o vi abusar de uma plebeia. Tentei fazer meu pai cancelar o noivado, mas sem dizer a verdade e ele não permitiu. Minha única escolha foi fugir.

    — Nem contou aí seu irmão?

    Hana abaixou a cabeça. 

    — Eles eram muito próximos. Como eu poderia-

    — Você não tem medo que seu irmão seja igual a eles?

    — Isso…

    — E quanto às suas amigas? Você não sente nada por elas mesmo com a possibilidade delas caírem nas mãos de homens como eles?

    — Mas o que eu poderia fazer? Eu… tenho medo. 

    Ela abraçou o próprio corpo. 

    — Desculpe-me. Você tem o direito de ter medo e você pode sim fugir. Mas eu quero que pense naquelas garotas que não conseguem fazer o mesmo que você. Aquelas que estão sofrendo caladas, mesmo neste momento. 

    Mayck se levantou e foi até a janela. 

    — Elas também gostariam de ter um bom futuro e serem felizes. 

    — Eu sei disso… eu sei, mas…

    — Você só quer fugir?

    A garota mordeu os lábios. Ela não conseguia lutar contra as palavras de Mayck. 

    — Ninguém pode te dizer o que fazer. Mas a decisão de voltar atrás, rejeitar seu noivado e expor os crimes cometidos e, consequentemente salvar todas aquelas mulheres que são oprimidas por homens imundos só depende de você. 

    Ele chegou até ela. 

    — Você quer um futuro criado por você, ou então um destino que só termina em sofrimento?

    Os olhos da garota transbordaram. As palavras eram duras, mas ela sabia que eram reais. Ela mesmo experimentou em primeira pessoa o trauma de alguém querido por ela. 

    Ela precisava lutar, porém tinha medo de se mover. Possuía uma espada em suas mãos mas não conseguia manejá-la. 

    — Então, o que você quer?

    — Eu quero salvá-las. Quero que minhas amigas sejam felizes! — ela exclamou com força, se levantando e apertando os punhos. 

    — Você vai conseguir fazer isso estando sentada aqui chorando? Você não vai. Só existe um meio para mudar o mundo. Se você salvar uma pessoa, essa pessoa vai te ajudar a salvar outra. Nesse ritmo, você conseguirá um exército e todas podem lutar para mudar esse mundo quebrado. Não é isso o que você quer?

    — Sim. 

    — Então levante a cabeça e lute. 

    Os olhos molhados da garota se levantaram e uma determinação nasceu. 

    — Vá falar com seu irmão, peça ajuda a ele e volte para casa. Quando eu te ver de novo,  quero que você esteja sorrindo e me dizendo como foi sua luta.

    — Sim.  

    Mayck sorriu e Hana também. 

    — Mas antes — ele mudou de assunto e se aproximou dela, dando um peteleco em sua testa. 

    — Ai! Porque fez isso?

    — Você só tem medo do seu noivo porque viu ele fazendo coisas ruins. Mas não desconfia de ninguém e até me convidou para vir ao seu quarto apenas porque eu disse seu nome. 

    — Mas…

    — Nada disso. E se eu apenas soubesse quem você era e tivesse más intenções? Antes de mudar o mundo, você precisa mudar isso. 

    —Si-sim… — Ela abaixou a cabeça após a repreensão. 

    — No entanto — ele começou a afagar sua cabeça, deixando Hana com o rosto corado — Você veio até aqui, então provou ser mais forte do que parece. Eu acredito em você, sei que vai conseguir. 

    As lágrimas dela voltaram a escorrer e ela começou a chorar como uma criança, tentando impedir que as lágrimas continuassem. 

    No dia seguinte, Hana se encontrou com seu irmão, Hugo, e retornou à capital, onde depois de algum tempo, expôs e provou o crime dos nobres para todo o povo. 

    Seu pai cancelou o noivado e os outros nobres resgataram suas filhas das mãos dos homens desprezíveis em que eles haviam confiado. 

    Por ordens dos Reis, eles foram condenados à execução, pondo um fim àquele sofrimento causado às mulheres. 

    Hana teve sua fama aumentada na capital e junto de suas amigas e com o apoio dos nobres e dos reis, criaram uma ordem de segurança que caçava e condenava qualquer tipo de crime contra as mulheres. 

    — Já faz um mês, não é Hana? — se aproximando da garota que estava em uma janela observando a cidade, Amélia falou. 

    — Sim. Eu fico feliz por termos chegado até aqui. 

    As duas sorriram e voltaram seus olhos para o horizonte. 

    “Como será que ele está agora?”

    Quem seu coração, se fortalecia uma grande vontade de ver aquela pessoa que a ajudou. 

    “Pensando bem, eu nem sei o nome dele, mas sinto que nos veremos logo, logo.”

    — Capitã, os senhores esperam sua presença. — Em uma saudação respeitosa, uma garota em uniformes formais se apresentou. 

    — Certo. Estou indo imediatamente. 

    — Parece difícil ter tanta responsabilidade tão cedo. Boa sorte. 

    — Do que você está falando? Você é a vice-capitã, então vai vir junto. 

    As duas riram e deixaram a sala em que estavam. 

    Bem longe dali, em uma cidade distante, um garoto andava tranquilamente pelas ruas comendo um lanche que o deixava feliz. 

    “Acho que vou partir amanhã.”

    Ele voltou para a pousada e juntou suas coisas. 

    “Já faz duas semanas desde que cheguei em Nyano. É bom eu ir continuar logo. Nesse ritmo eu vou acabar chegando na capital só quando envelhecer.”

    Ao nascer do sol, Mayck pagou uma carruagem que estava seguindo para seu próximo destino: Ignis, a cidade vulcânica. 

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 0% (0 votos)

    Nota