Autor: Brav

    Daniel acordou às oito da manhã, deitado preguiçosamente no sofá de casa. Os seus cabelos ruivos caíam sobre o rosto, fluindo como uma cachoeira vermelha.

    Ele bocejou e olhou ao redor. Não havia ninguém por perto.

    — Quanto tempo eu dormi…? — murmurou.

    Ele se levantou e foi até o banheiro para lavar o rosto.

    Vendo-se no espelho, Daniel encontrou olheiras visíveis em um semblante cansado. — Não faz bem jogar por tanto tempo…

    Ele estava sem camisa desde a noite passada, o calor dentro do quarto não era brincadeira. De repente, memórias atingiram-no como tiros de revólver.

    Ele passara a madrugada inteira jogando o novo jogo do momento, Bloodworld. O jogo o prendeu tanto que levou-o a dormir às seis e meia da manhã.

    Seu estado não era nada bom. Apesar de ser jovem, suas forças não duraram muito depois da missão de nível alto que ele fez. O objetivo da missão era matar o Rei Ogro de Mil Olhos, um Monstro de nível 48.

    Fraco à primeira vista, se não fosse o sistema de nivelamento único de Bloodworld. Cada raça começava em um certo nível e esse nível descia a cada missão, aumentando os atributos gerais do personagem.

    Os humanos, por exemplo, nasciam na capital com o nível 100. Surpreendentemente, esse era um nível baixo e até iniciante dentro do mundo de Bloodworld, não sendo o suficiente sequer para matar o Rei Rato, que alcançava o nível 92.

    Em suma, upava-se ao contrário. Daniel gostou dessa particularidade e gastou muitas horas jogando em grupo com os seus amigos.

    E, na verdade, ele só parou de jogar porque o jogo entrou em manutenção. A nota oficial dos desenvolvedores falava algo sobre uma atualização grandiosa e a mudança de nome de Bloodworld para Godworld.

    Não pareceu uma decisão inteligente a Daniel, pois eles já tinham uma marca consolidada desde o semestre passado.

    — Vai entender… Fuuuu… — Daniel suspirou pesadamente e se dirigiu para a cozinha.

    Afinal, a fome marcaria presença em algum momento — e esse momento era agora. Ele estava faminto por um bom pão amanteigado com um copo de leite quente.

    Quando chegou na cozinha, ele teve uma surpresa.

    — Oh? Bom dia, dorminhoco. Quer um pedaço de bolo?

    — M-mãe?! — Daniel não entendia por que sua mãe estava ali. — Você não ia voltar em fevereiro?! Ainda é janeiro!

    A mulher riu.

    — Eu não gostei muito do lugar e das pessoas, então decidi voltar. Faz algumas horas que eu cheguei, você não percebeu?

    Daniel estava tão absorto na sua jogatina que deixou passar algo importante assim. Ele balançou a cabeça em negação.

    — Eu não ouvi — respondeu ele. — Como foi a praia? O papai tava com saudade da senhora.

    — Foi mágica! Mas, como eu disse, meu doce de coco, enjoei rapidinho. A mamãe aqui não aguenta ficar longe de vocês dois!

    Daniel desconfiou do comportamento da sua mãe. Por causa do trabalho exaustivo na loja de roupas, Aline não costumava demonstrar afeto nem por ele nem pelo marido.

    Vivia apática, como se estivesse prestes a desabar de exaustão a qualquer segundo. Daniel não acreditava que apenas dez dias de férias a animaram tanto.

    Claro, era uma coisa boa.

    Então, seus devaneios dissiparam-se no ar quando Aline falou:

    — Daniel, senta na mesa que eu vou te dar um pedaço do bolo de morango que eu fiz. E coloca uma camisa, você não é seu pai pra andar seminu por aí.

    — Sobre a camisa… eu acho que perdi a que tava usando. A senhora viu ela em algum lugar? 

    Aline bufou.

    — Bom, não tem jeito… — Ela andou até a cadeira mais distante, pegou a camisa em cima dela e a jogou para Daniel. — Essa tá um pouco suja, mas vai servir enquanto você não acha a outra. Veste e senta pra comer.

    Daniel vestiu a camisa preta e sentou-se à mesa para comer o pedaço de bolo. Quando ele daria a primeira mordida na crosta crocante do bolo, um homem sem camisa irrompeu da poeta à esquerda.

    — BOM DIA, FILHO!!! — o homem gritou. — SEM TEMPO PRA CONVERSA, EU PRECISO DA SUA CAMISA!!!

    — Mas eu acabei de…

    — SEM “MAS”! EU SOU O TEU PAI, ENTÃO VOCÊ TEM A OBRIGAÇÃO DE ME EMPRESTAR A CAMISA!!!

    — Eu, eu…!

    Nada deu certo. No fim, o homem arrancou-lhe a camisa à força e a vestiu enquanto trotava pra fora. — UFF, UFF!!! ATÉ MAIS TARDE!

    Daniel ficou seminu de novo, e sua mãe riu da situação.

    Do nada, ele notou uma inconsistência no comportamento do seu pai.

    — Mãe, por que ele nem te cumprimentou? Você não tinha acabado de chegar? — perguntou Daniel, o semblante confuso.

    — Ele não me viu, só isso. Hahaha!

    — Sei… — Daniel se virou e mirou a porta da frente, por onde o homem tinha saído. — Puxa vida, já é a quarta vez que ele sai pra jogar futebol na semana. Ele não se cansa?

    — Se não faz mal a ninguém, eu acho que tudo bem — argumentou ela. — Aliás, só por curiosidade: ele é um bom jogador? Faz muitos gols?

    Daniel refletiu por alguns segundos.

    — Hum… Depende muito. Ele já foi atacante, centroavante e goleiro. Se o seu interesse é nos gols marcados, eu posso dizer que eles já dez muitos.

    — Sério?! — Os olhos dela brilharam com admiração.

    — Sim, muitos gols contra. Vinte e dois, pra ser exato.

    — Ahh… Bom, e como centroavante?

    — Muitos passes fenomenais que deram a vitória ao time.

    — Não brinca! — Seus olhos brilharam de novo.

    — Não mesmo! Se não fosse pelos passes errados dele, o time adversário jamais venceria! — Daniel riu baixinho da frustração da mãe. — E, pra finalizar, quando ele foi goleiro…

    — Deixa eu adivinhar: ele não fez uma defesa sequer.

    — Longe disso! — rebateu Daniel. — Ele defendeu muitos passes do próprio time achando que eram chutes. Por causa disso, a bola escapou várias vezes e o atacante adversário marcou.

    Aline desistiu de ter orgulho do marido e foi lavar os pratos sujos na pia. Antes de abrir a torneira, ela disse:

    — É verdade… O seu amigo loirinho, o Dênis, passou aí na frente e pediu pra você encontrar ele na praça. Deve ser importante, ele tava bem animado

    — O Dênis? Deixa eu ver se ele mandou alguma mensagem… 

    Daniel pegou o celular e entrou no WhatsApp, acessando o contato de Dênis com um clique. Uma miríade de mensagens não lidas inundou a sua tela.

    Ele leu as últimas mensagens e entendeu a situação.

    — Ele tá com aquele papo de “detetive sobrenatural” de novo, mesmo sabendo que você me proibiu de ir na última vez. Ele é mesmo um…

    — Pode ir, querido — interrompeu Aline, a voz doce. 

    Daniel olhou para o lado e enfocou Aline, incrédulo. O queixo dele caiu.

    — Posso? — perguntou em tom de descrença.

    — Uhum. Aqui, abre os braços.— Aline ergueu uma camisa branca e a colocou em Daniel, que resistiu um pouco. 

    — Ei, ei! Eu podia ter me vestido sozinho! — protestou ele. No entanto, um pensamento mais urgente o atingiu. — Espera… De onde a senhora tirou essa camisa?

    — Ela tava em cima da geladeira, bobinho. Tente não perdê-la outra vez ou eu não vou achar pra você, hein! Hmpf.

    Daniel duvidou, mas não havia motivo para isso.

    Sua mãe não era mágica, então ela não materializada um objeto a partir do mais absoluto nada. 

    Ele terminou de comer o pedaço de bolo e saiu de casa, indo encontrar Dênis na praça.

    — Boa sorte na brincadeira, querido! — Aline acenou para ele do portão.

    — Obrigado, mãe! — respondeu. Depois, faliu baixinho: — Brincadeira? Ela tem razão, eu tenho dezessete anos e ainda brinco de detetive quando tenho a chance… Fuuu…

    Daniel sumiu na linha do horizonte após um minuto de corrida.

    No instante em que Aline o perdeu de vista, ela desfez o sorriso e uma aura maligna escapou dela. A aura dançava feito chamas negras, contornando o seu corpo com pura energia negativa.

    Toda a rua sentiu o clima pesar. Alguns vizinhos dorminhoco acordaram de supetão, assustados com a presença macabra lá fora.

    O  corpo de Aline foi tomado pelas chamas e se transformou em uma névoa da cor da noite. Em sua nova forma, a “coisa” que assumiu a identidade da mulher teleportou-se para algum lugar.

    — Dênis e Daniel, vocês também transcenderão… Eu já armei o palco perfeito… — falou uma voz distorcida vinda do interior da névoa.

    Puff!


    Daniel estava correndo na calçada quando avistou alguém na distância, sentado no banco da praça. Era Dênis Silva, o seu melhor amigo.

    Ele se aproximou de Dênis, ofegando sem parar. Estabilizou a respiração com dificuldade e olhou para Dênis.

    — Daniel, você chegou tarde, já são dez e meia! Onde você tava? — perguntou o garoto sentado no banco. Tinha cabelos longos e loiros, além de olhos azuis que concediam-lhe um charme a mais.

    — Eu faço as perguntas, bonitão. Primeira: você seduziu minha mãe pra ela me deixar sair antes do almoço?

    Dênis sorriu de canto de boca. O casaco de couro que vestia se moveu junto.

    — Eu tentei, mas ela é fiel ao senhor Armando. Por quê? Tá querendo um padrasto?

    Daniel chutou a canela dele em resposta, no que Dênis gemeu de dor. — Tapado.

    — Ai, ai! Tá, desculpa! — Dênis abriu os olhos e olhou em volta com curiosidade. — Por sinal, cadê o Tadeu? Ele não veio com você?

    — Então… você foi o que se deslogou mais cedo, mas o Tadeu ficou comigo até um pouco antes da hora da manutenção dos servidores. Ele me disse pra não incomodar ele pelo dia todo porque queria dormir — explicou Daniel. — Você ficou sabendo da queda dos servidores, né?

    — É claro, saiu em todos os jornais on-line! O novo nome é uma bosta completa! — Dênis parou por um momento e retomou: — E, bom, eu entendo o lado do Tadeu. Ele é o que menos joga entre nós, tanto que não saiu do nível 90 ainda.

    Daniel balançou a cabeça positivamente, confirmando as palavras do amigo.

    — Não acha estranho como ele só aparece pra pegar os itens bons nas Raids? — perguntou Daniel, indignado.

    — Não é?! Nem eu acreditei quando ele matou o Deus Antigo da Masmorra Submersa! No nível 90, cara!!! Que cagada!!!

    Daniel e Dênis riram juntos da sorte sobrenatural do amigo. Então, Dênis se manifestou:

    — Tá na hora de a gente ir. 

    — Onde é desta vez?

    — No prédio abandonado da próxima rua. Me segue, bora!

    Daniel o seguiu imediatamente.

    — Espera! Uff, uff! Tô cansadão!!!


    Em cinco minutos de corrida, os dois chegaram à fachada de um prédio antigo.

    O prédio tinha os tijolos expostos pra todo mundo ver, e os pilares de sustentação não transmitiam muita segurança. Era uma obra inacabada da década passada.

    Uma energia sinistra encobria o prédio. Daniel e Dênis hesitaram em entrar.

    — Você primeiro, cara!

    — Mariquinha… Veja como eu não tenho nada a temer! — declarou Daniel. Tremendo de medo, ele entrou no prédio saltando por cima de uma tábua de madeira. — F-fácil! Vem!

    Apesar de relutante, Dênis o acompanhou prédio adentro. Os dois subiram as escadas empoeiradas enquanto conversavam.

    — Então, o que tem aqui dentro? Demônio, ghoul, zumbi…? — perguntou Daniel, analisando a parte de dentro do prédio. Era igualmente macabra ao lado de fora.

    — Segundo os rumores dos moradores, um ninho de diabretes. 

    — Diabetes? A doença?

    — Diabretes! — corrigiu Dênis, a cara carrancuda. — São tipo os demônios, mas não costumam aceitar acordos e são mais agressivos do que eles. Não vá pensando que eles são parecidos com os diabinhos que mexeram com o Cebolinha!

    — O Cebolinha mexeu com demônios? Puxa, o que um “plano infalível” não faz com o sujeito…

    Dênis riu de leve. Daniel gostou da reação.

    Quando eles chegaram ao terceiro andar, porém, a brincadeira acabou.

    Ao contrário dos outros andares — sujos de poeira, sedimentos de concreto e cocô de rato —, o terceiro andar estava limpo.

    Nada à vista, nem um grão de poeira. Entretanto, uma figura esguia e sorridente estava parada no centro do lugar. 

    Sem paredes para limitar a visão, os dois garotos sentiram na pele o terror que aquela coisa emanava. O sorriso dela se alargou quando eles puseram os pés em seu domínio, como se comemorando a refeição do dia.

    Chamas negras a encobriam, simulando uma aura. A criatura não possuía olhos, era mais como como uma névoa semelhante a uma silhueta humana.

    Mas não era humana.

    Eles não esperavam encontrar uma criatura real. A brincadeira de caçar monstros era, de fato, uma brincadeira.

    Eles desejaram estar alucinando. Porém, a sensação vívida de medo não mentia: aquela era a realidade.

    De repente, a criatura apareceu na frente de Dênis e tocou sua cabeça.

    Vuuuuuuuush!!!

    — Você vem comigo — a voz distorcida e sombria falou. Não era um bom som, feria os ouvidos.

    Quando a criatura terminou de falar, Dênis simplesmente desapareceu.

    — D-Dênis?! Dênis!!!! — gritou Daniel em desespero.

    Ele correu para longe da criatura. Sua vontade era descer as escadas, mas ela as estava obstruindo.

    Daniel correu, correu e correu por todo o andar. Os passos da criatura soaram atrás dele.

    — Droga!!! — Ele viu-se sem saída no final do corredor, e a criatura já se aproximava.

    Ele olhou para trás e notou uma janela aberta. A ideia de pular brotou na sua mente.

    Apesar de improvável, ele poderia sobreviver caso caísse em cima de sacos de lixo ou algo do tipo. O tempo era curto, então Daniel agiu rapidamente, pronto pra morrer.

    Seu melhor amigo não estava mais com ele. Daniel jurou a si mesmo que, pelo menos, não teria o mesmo fim nas mãos da criatura.

    Uma inspiração de coragem o percorreu. Sem pensar duas vezes, Daniel pulou.

    Foi aí que a criatura gritou:

    — NÃO, DANIEL!!! PORRA, ERA SÓ ATUAÇÃO, SEU ANIMAL!!! — a voz soou novamente, desta vez muito mais humana.

    Daniel ouviu a criatura falar enquanto caía para a morte.

    “Essa voz… Tadeu? TADEU?! O que você tá fazendo…!”

    Uma batida aconteceu.

    Crash!!!

    No instante seguinte, Daniel estava jogado no asfalto. Metade do seu corpo fora arremessada longe por um caminhão.

    Inevitavelmente, ele morreu.

    Aos dezessete anos, sem graduação e virgem.


    Daniel abriu os olhos em outro lugar. “E-eu sobrevivi?!”

    Antes de conseguir fazer-se outra pergunta, uma interface semitransparente surgiu na sua frente.

    Ele leu o conteúdo.

    [ VOCÊ MORREU E NÃO FOI CAPAZ DE REENCARNAR ]

    [ CONDIÇÕES ATENDIDAS, RAÇA ESPECIAL DESBLOQUEADA ]

    [ SUA RAÇA É “ESPÍRITO VINGATIVO” ]

    [ ATRIBUTOS DE RAÇA ADICIONADOS ]

    [ SORTE: -999 ]

    [ O MUNDO DE GODWORLD O ESPERA! ]

    Daniel demorou para processar as informações.

    Morte, nova raça, espírito vingativo… Tudo isso era loucura!

    “Espera… Godworld?!”, pensou com espanto.

    Outra luz ofuscante cobriu sua visão. 

    — Ahh!!!

    Poucos segundos depois, ele abriu os olhos em meio a um belo céu diurno. As nuvens voavam sobre ele e o sol jorrava luz sobre todas as criaturas vivas.

    Vivo…

    Daniel olhou para o próprio corpo e…

    Ele não estava mais lá. Agora, não passava de um espírito flutuante.

    — Mas que diabos?! — praguejou alto. Suas palavras ecoaram pelos campos verdes.

    Seu grito chegou aos ouvidos de um garoto loiro sentado à sombra de uma árvore. O garoto se levantou e visou o céu.

    — DANIEL?! É VOCÊ?! — gritou o garoto loiro.

    Daniel se espantou e virou a cabeça para o garoto.

    Ele não acreditou no que viu. Era Dênis em carne e osso!

    Ele se aproximou voando de Dênis. O momento inicial foi de estranheza.

    No entanto, as palavras de Dênis se perderam no ar quando uma interface captou a atenção de Daniel.

    Ele a leu com todo o interesse.

    [ MISSÃO DESBLOQUEADA: MATE O ESCOLHIDO – 1 ANO PARA COMPLETAR ]

    [ RECOMPENSA(S): DESBLOQUEIO DA HABILIDADE RACIAL “POSSESSÃO DE CORPO” ]

    A interface assemelhava-se muito à que ele costumava ver em Bloodworld.

    O que o surpreendeu foi o alvo da missão.

    O alvo era Dênis. Até mesmo a sua foto estava presente na interface.

    Matar Dênis… Matar o Escolhido…

    Daniel não pôde lidar com o estresse da situação. Cara a cara com Dênis, ele gritou:

    — EU SOU UM ESPÍRITO VINGATIVO! POR QUE VOCÊ TÁ VIVO E EU NÃO?! AHHH!!!

    A pior raça de todo o mundo de Bloodworld. Na verdade, a raça “Espírito Vingativo” agia mais como uma piada interna dos desenvolvedores.

    Afinal, um jogador dessa raça sequer podia interagir com objetos físicos ou usar habilidades nos níveis iniciais. Era uma raça esquecida.

    E Daniel tinha virado um. Ele queria morrer — de novo.

    — Eu não mereço isso…

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