Capítulo 0 — Parte 7 — O Grande Dia
Após uma semana, o grande dia enfim chegou. Os membros da Ordem estavam reunidos perto da entrada da base, com exceção de Falcão. Alguns estavam inquietos enquanto outros permaneciam calmos.
— Onde ele está? Ele dá a ideia e ainda se atrasa? Que irresponsabilidade. Não me digam que ele desistiu do ataque? – Perguntou Lagarto.
— Ele nos encontrará mais tarde. — Disse Tartaruga, que surgiu para acalmar os ânimos. — Apareceu um assunto urgente que somente ele poderia tratar, mas ele nos pediu para tomar a dianteira nessa batalha. Eu serei o líder até ele retornar. Alguma dúvida, companheiros?
Nenhuma. Por ser o membro mais antigo, Tartaruga tinha a confiança de todos. Quando notou que todos estavam prontos, deu início à marcha. Lobo suspeitava da ausência de Falcão. Ele já sabia quem eram os traidores? Estava se escondendo, esperando que eles agissem?
Todos seguiram os comandos de Tartaruga, que separou a Ordem em dois grupos. O primeiro com ele, Águia e Lobo, enquanto o outro tinha Tigre, Lagarto, Coelho e Raposa. Depois de dias de caminhada, A Ordem estava cada vez mais próxima de chegar no local planejado: a capital de Eudora. Temendo isso, Lobo deu o sinal para Águia, que desacelerou seu caminhar.
— O que está havendo aí atrás, Águia? Já se cansou? Não temos tempo para moleza agora. Preciso que você ande logo ou não vamos chegar lá a tempo. — Pontuou Tartaruga, olhando-a por cima do ombro direito.
Águia então parou de se mover, fazendo ele e Lobo se olharem. O mais velho então ordenou Lobo a verificar o que estava havendo. Ao se aproximar, Lobo piscou para Águia e, no mesmo instante, ela o atacou, arremessando-o contra as árvores mais próximas.
— O que significa isso?! Então você é a traidora, Águia? Você é a responsável pela morte dos outros membros? Como pôde trair aqueles que te deram tudo?! — Perguntou o veterano, pasmo.
— Quanta ingenuidade. Eu esperava mais de alguém que diz ser tão sábio.
Lobo surgiu por trás de Tartaruga, segurando sua Relíquia, uma espada prateada. Quando estava prestes a cravá-la no inimigo, o alvo desapareceu.
— O que? Como isso aconteceu? Onde ele está?
— Será mesmo que sou ingénuo? Vocês nunca me enganaram. Eu avisei ao Falcão de que haviam traidores entre nós, mas naquela noite eu não tinha certeza de quem eram. Após avaliar cuidadosamente cada um, descobri quais eram as maçãs podres. Aliás, Coelho e Raposa podem ser fortes juntos, mas eles não têm chance contra Tigre e Lagarto, que treinam juntos há anos. Eu disse ao Falcão que me encarregaria de vocês. Enquanto isso, ele já deve estar na capital, se preparando para o ataque. E então, como vai ser?
— Impossível! Como você soube que éramos nós? Nós agimos normalmente o tempo todo! — Águia disse, incrédula. — Mas isso não importa. Nós temos a vantagem numérica. Vamos te derrotar e salvar o Extra-Mundo!
Lobo e Águia partiram para o ataque, enquanto Tartaruga ficou imóvel. Águia flanqueava pela esquerda e invocava suas Relíquias, já Lobo vinha pela direita. Ambos atacaram o inimigo ao mesmo tempo, mas outra vez ele sumiu.
— Eu já disse, sou o mais astuto da Ordem. Salvar o Extra-Mundo? Quem são vocês para achar que podem fazer algo? Vocês são apenas pequenas pedras querendo ditar o rumo dos rios. — Ele disse, ressurgindo a poucos metros.
O olhar confiante e o sorriso de canto mostravam que ele realmente tinha descoberto tudo. Tartaruga seguiu sendo atacado, mas sem ser atingido. Foi então que Lobo e Águia perceberam que ele havia ativado sua Manifestação e deixado o tempo mais lento. Ambos recuaram e o analisaram com cuidado.
— Finalmente perceberam? Eu os coloquei no meu lapso temporal desde que tentaram me atacar pela primeira vez. Para mim, vocês estão em câmera lenta. Se forem espertos, terão entendido que eu não irei perder. — Ele afirmou, antes de atacar, jogando-os contra rochas.
Enquanto seus inimigos saíam dos destroços, Tartaruga ativou sua Vestimenta Espiritual: um sobretudo verde com capuz preto. Na mão esquerda, um cajado com uma ampulheta na ponta.
— É hora do professor tomar as rédeas sobre os alunos. Ancestral Hourglass!
Tartaruga bateu o cajado no chão e tudo ao seu redor começou a mudar, como se centenas de anos passassem em poucos segundos. Pedras viravam pó, árvores viravam pó, tudo virava pó.
— Este é o futuro, crianças. Não importa o que façamos hoje, um dia seremos apenas pó. É uma pena que vocês tenham durado tão pouco, mas é assim que as coisas são, é assim que… Espere… O que?! — Ele arregalou os olhos.
Ao olhar para Lobo, Tartaruga notou que ele estava de pé, simplesmente o observando. Sua técnica não o afetou, mas ele logo entendeu o motivo.
— Entendi, você copiou minha Manifestação quando eu os arremessei contra as rochas. Com o mesmo poder que eu, minha técnica não te afetará.
— Belo discurso, Tartaruga, mas acabou. Os tempos mudaram e anciões não são mais bem-vindos no campo de batalha. É hora de se aposentar. Foi uma honra trabalhar com você, mas tudo algum dia encontra seu fim. Hoje é o seu.
Tartaruga começou a rir, pois sabia controlar o tempo muito melhor do que Lobo. Eles podiam ter os mesmos poderes, mas Tartaruga tinha décadas de experiência. Contudo, quando ele se preparou para atacar, um golpe certeiro o atingiu pelas costas e perfurou seu peito.
Ao olhar para trás, ele viu Águia, com o punho direito cerrado em sua direção. Lobo também a salvou. Ela então abriu a mão e o velho guerreiro foi consumido pelas chamas de dentro para fora. Assim terminou sua história.
— Eu não queria que esse fosse o fim dele, mas ele também se corrompeu… — Águia lamentou, antes de fitar seu parceiro. — Foi um bom plano, Lobo.
— Obrigado. Mas, mesmo tendo perdido, uma coisa que ele falou é verdade.
— O que seria? — Ela perguntou, curiosa.
— Isso que estamos vendo. Pó. No fim, é isso que estamos destinados a nos tornar. O que importa é o que fazemos agora e quem sabe no futuro seremos lembrados como algo além de pó. — Ele concluiu, com a feição neutra.
Águia sorriu e deu um tapinha no ombro de seu amigo antes da sair andando. Eles precisavam se apressar para ajudar Coelho e Raposa, que a essa altura já deveriam estar em combate contra Tigre e Lagarto.
De fato, num vale a quilômetros dali, a batalha estava no ápice. Os quatro estavam ensopados de sangue e ofegavam enquanto reuniam forças para seguir lutando. Coelho usava uma máscara e Raposa segurava uma foice, enquanto o Tigre segurava uma lança e o Lagarto usava uma capa. Todas as Relíquias estavam no campo de batalha.
Tigre cochichou algo para seu parceiro, o que o fez sorrir. A força brutal do Tigre fazia qualquer coisa arremessada por ele ser rápida como uma bala, já a capa de Lagarto tornava-o totalmente invisível. Tigre então pegou a lança e a arremessou com força total na direção do Coelho, que já corria antes mesmo de ele completar o arremesso.
Após a lança atingir e destruir um grande rochedo, Raposa se virou e viu Tigre segurar outra coisa, mas não conseguiu ver o que era.
— O que ele está fazendo? Chamando a Relíquia de volta? — Ela perguntou, estreitando os olhos.
— Raposa!!!
Coelho tinha entendido tudo. Tigre arremessaria seu próprio aliado. Assim que o guerreiro ruivo completou o arremesso, Lagarto esticou os braços para frente e cerrou os punhos. Raposa morreria se não desviasse, mas ela estava estática, paralisada pelo medo de morrer. Foi então que Coelho a empurrou para o chão e, sem tempo para reagir, recebeu o golpe.
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