Capítulo 190 – Sansy
Não ousando mais subestimar o jovem à sua frente, Terry começou a reavaliá-lo silenciosamente enquanto esperava que ele continuasse apresentando os seus termos.
— Eu sei que essa é uma decisão importante, mas meu tempo é curto. Só posso lhe oferecer 3 dias para pensar na minha proposta — disse Alexander, já levantando e estendendo a mão. — Agora, se me der licença, ainda tenho outras questões para resolver antes de voltar para casa.
— Não vou precisar de tanto tempo para me decidir. Eu aceito sua proposta — disse Terry, decisivamente, gesticulando para que continuassem conversando. — Mas vou precisar desses dias para resolver e encaminhar tudo aqui antes de partirmos.
Satisfeito com a resposta e determinação do seu vice-regente, Alexander sentou-se novamente e continuou a conversar até que tudo estivesse nos trilhos.
Com tudo decidido e os documentos relacionados assinados, Terry recebeu os kits de prevenção para sua família e funcionários, o pagamento pelas propriedades que vendeu e um “brasão” para representar sua nova facção.
— Você tem certeza de que quer me vender apenas as propriedades e não incluir seus negócios? Eles devem ser ainda mais fáceis de suprimir do que as propriedades em si — apontou Alexander apenas como uma ressalva para verbalizar o que era óbvio para ambos.
— Não precisa se preocupar. Eu estou bem com esse arranjo — respondeu Terry suavemente. — Se alguma coisa acontecer, só terei a mim mesmo para culpar por ter olhos e ainda não conseguir ver as coisas como elas realmente são.
— Se for esse o caso, fique com isso. Afinal, você provavelmente precisa de uma boa base para quem for administrar seus negócios aqui — disse Alexander enquanto devolvia a escritura da casa e destruía o documento da venda. — Não precisa se preocupar com o valor que lhe dei nela. Devolver a casa será como um presente de boas-vindas da minha parte.
Surpreso que seu novo chefe fosse tão mente aberta e compreensivo, bem como feliz com a generosidade dele, Terry abaixou a sua cabeça em respeito e agradecimento, trocou mais algumas palavras e então o acompanhou até a porta.
Após se separar de Terry, Alexander voou e seguiu em direção a cidade Martelo de Ferro. E ao chegar lá, foi fácil encontrar os irmãos ferreiros em casa devido ao clima.
— Não esperava vê-lo aqui tão cedo, principalmente com esse tempo — disse John a Alexander, quando o encontrou batendo na sua porta.
— Mas é justamente por causa desse clima que eu voltei aqui tão rápido — apontou Alexander antes de atender ao aceno do ferreiro e entrar na casa para explicar um pouco melhor a situação e o que estava acontecendo…
— Nós ouvimos rumores sobre isso, mas pensar que algo assim estava realmente acontecendo perto do mar — comentou Jayce enquanto aplicava o conjunto que Alexander lhe forneceu como prevenção.
— Não sei como isso vai se comportar por aqui, mas está se espalhando para além da área costeira, pois presenciei pessoalmente um caso em uma área mais central do Império — disse Alexander para confirmar que a situação era real e merecia certo cuidado. — E os seus pais, eles ainda estão vivos? Porque acredito fortemente que tenho os meios mais eficazes do Império, talvez até do continente, nessa situação.
— Eu agradeço por pensar na nossa família, mas não precisa se preocupar — disse John com um leve sorriso, claramente aliviado. — No momento, eles estão no Reino dos Anões, que nem sequer tem contato direto com o mar, e nunca houve um caso registrado das Presas do Fimbulwinter.
— Ainda bem… — pensou Alexander ao descobrir que não precisaria mais fazer aquela viagem, e ir ao seu segundo ponto. — Mas, com isso resolvido, deixem-me falar sobre o outro motivo da minha presença: se possível, gostaria de poder contar com os contatos de vocês, especialmente os de John… Obviamente, isso é apenas um pedido, não uma cobrança pela ajuda de antes.
— O que exatamente você quer, garoto? — perguntou Jayce de forma direta.
— Depois de muitos eventos e devido a muitos fatores, algumas terras caíram sob o meu controle e agora preciso desenvolvê-las — explicou Alexander. — É por isso que pensei em montar um sistema de cooperativa para atrair pessoas da área, tanto para ensinar quanto para trabalhar lá.
— Você quer que a gente lhe ajude a organizar e montar uma concorrente para a minha associação de ferreiros? — perguntou John com uma expressão estranha.
— Sim e não — ponderou Alexander, articulando bem as palavras para expressar os seus pensamentos. — Embora meu pedido envolva criar uma organização de e para ferreiros no estilo de sua associação, a escala será bem menor. Apenas como um núcleo para servir de base para esse ofício e sua própria disseminação.
— E você também parece ter entendido errado uma parte — ressaltou ele, com os olhos emanando um brilho estranho. — Eu não pretendo criar só uma cooperativa de ferreiros, eu pretendo, na medida do possível, criar uma cooperativa para cada área que não consigo administrar sozinho… Meu objetivo, se é que se pode chamar assim, é construir uma associação não de ferreiros, mas de artesãos de uma forma muito mais geral.
Maníaco. A palavra que passou pela cabeça dos irmãos ferreiros foi: maníaco. Ele parecia estar realmente falando sério sobre fazer aquilo… Mas não era como se eles não gostassem do brilho fanático que emanava dos olhos dele.
— Essa proposta me parece ambiciosa, mas bem interessante, garoto — comentou Jayce, rindo muito. — Não sei quanto ao meu irmão, mas conte com o meu apoio.
— O que há para se gabar como se você fosse fazer isso sozinho? — zombou John do seu irmão. — Com os nossos territórios sendo tão distantes, e a escala dele não oferecendo uma concorrência direta à minha associação, não tenho razão para não ajudá-lo. E a minha ajuda deve ser ainda mais significativa do que a sua.
Uma vez que concordaram com esse assunto, eles começaram a debater o escopo inicial e quais ofícios Alexander mais queria que fossem os primeiros neste projeto. O surpreendente, ou talvez nem tanto, era que, como eles eram ferreiros e tinham que criar, consertar ou auxiliar na produção de peças de metal para vários outros artesãos, os contatos dos irmãos pareciam ser infinitos, a ponto de eles terem que filtrar para aqueles que estavam no Império, livres e capazes de trabalhar com ele.
— Ah, uma última coisa antes de vocês começarem — disse Alexander depois que eles terminaram o debate e os irmãos conseguiram filtrar seus contatos. — Digam aos seus contatos que estou disposto a fornecer um kit preventivo contra esse clima para todos que concordarem em assinar um contrato de trabalho comigo por pelo menos 5 anos, e para os familiares que moram com eles também. O contrato não será nada muito restritivo, só algo para garantir o que for acordado entre as partes.
Ao ouvir a menção de um contrato, os irmãos ferreiros se entreolharam, mas não se opuseram nem prolongaram o assunto. Mesmo que também fossem artesãos, era simplesmente ridículo alguém querer ganhar algo tão bom e tão procurado em uma situação como aquela sem ter qualquer relacionamento anterior com a outra parte ou sem se comprometer pelo menos aquele tanto.
Aproveitando que não estava nevando, e que os irmãos estavam indo até a guilda dos aventureiros para mandar mensagens aos seus contatos sobre a proposta dele, o próprio Alexander voou mais uma vez. Havia ao menos mais uma pessoa que ele queria “obter” para que seus planos pudessem ganhar força e se tornar realidade…
— Não esperava te ver de novo tão cedo — disse uma mulher assim que Alexander a encontrou e se colocou na frente dela. — Aquele docinho sabe que você está aqui, especialmente sem ela?
— Até onde ela sabe, estou a negócios — respondeu Alexander, sorrindo. — Mas mesmo que soubesse que estou aqui, acredito fortemente que descontentamento não seria necessariamente o sentimento dela.
— Então sua sorte parece desafiar os céus por ter uma mulher assim e ela ainda ser tão… permissiva — apontou a mulher.
— Não por isso, mas eu concordo que as pessoas de fora nunca entenderão a sorte que eu tenho por tê-la ao meu lado — disse Alexander, concordando. — Porém não estou aqui para falar de amor ou sentimentos, e sim de algo mais tangível… Eu espero poder contar com seus serviços e os de suas melhores funcionárias, Sansy.
— Porque me parece que você quer tudo de mim e das minhas meninas, menos nossos corpos numa cama? — indagou Sansy com uma carranca e estranheza, mas sem parecer surpresa por ele já tê-la investigado a ponto de saber seu nome.
— Aí está. É justamente porque você consegue distinguir isso tão rápido que quero sua cooperação mais do que a de qualquer outra pessoa neste momento — apontou Alexander, sorrindo para o contentamento do seu coração. — A verdade é que eu tenho uma proposta para você… Já pensou em expandir o seu negócio?
— Expandir? — perguntou a demi, com os olhos se aguçando de interesse. — Já que você veio até aqui com esse clima, deixe-me ouvir sua proposta…
Após ouvir sobre os domínios que a familia dele veio a obter, bem como a oferta de emprego, Sansy tirou uma junção refinada de cigarrilha e cachimbo de sua mesa, a acendeu e fumou um pouco antes de responder: — Se você quisesse apenas meu corpo, seria muito mais fácil, já que você tem um corpo tão vigoroso e desejável. Mas você é muito ganancioso, parece que quer tomar até minha alma.
Enquanto inalava e analisava a fumaça de cheiro agradável, que era estranhamente suave e nada parecida com os cigarros com os quais estava familiarizado, Alexander sorriu e respondeu: — Essa não é a grande questão. A grande questão é se está disposta a se vender assim por 5 anos ou não, porque a partir daí é só uma questão de se o que eu tenho a lhe oferecer é satisfatório o suficiente para você ou não.
Fumando um pouco mais e soprando a fumaça propositalmente nele, Sansy sorriu e suspirou: — Você é tão malvado. Quer comprar meu coração, mas desconsidera o meu corpo.
— Se esse é o problema, então que não seja por isso. Eu posso incluir um adicional pelo seu corpo também — disse Alexander, abrindo um sorriso que não era bem um sorriso. — Na verdade, eu estava realmente querendo ensinar algumas coisas novas para minha mulher e você seria muito útil nisso. Porém lhe adianto logo que as mordidas dela são muito fortes, até mesmo lá embaixo.
Mesmo estando no ramo de bordéis há anos, Sansy não pôde evitar estremecer um pouco e instintivamente recuou na cadeira diante daquele comentário1. Ele estava falando sério mesmo ou só estava a provocando de volta? Ela não conseguiu dizer.
— Voltando ao nosso tópico principal, ofereço a você um meio de proteger a si mesma e a todos sob seu comando das presas do fimbulwinter, bem como torná-los mais fortes e resilientes; minha parceria na construção de um novo estabelecimento em cada cidade sob meu domínio; e proteção razoável contra nobres se você e seu povo não forem os irracionais no assunto — disse Alexander, mantendo só um leve sorriso e mudando todo o resto para uma expressão séria. — Acredite ou não, esta é de longe a melhor oferta de emprego que já fiz. E isso mesmo depois de eu já ter contratado o “antigo” regente de um condado.
Obs 1: Contribuição arrecadada para lançamento de capítulo extra: (12,00 R$ / 20,00 R$).
Obs 2: Chave PIX para quem quiser, e puder, apoiar a novel: 0353fd55-f0ac-45b5-a366-040ecefa7f7b. Caso não consiga copiar a chave pix, é só clicar nela que vai ser gerada uma aba/guia que tem como URL/Link a própria chave pix com algumas barras nas pontas: https://0353fd55-f0ac-45b5-a366-040ecefa7f7b/, e é só retirar a parte excedente.
Ps: Para finalizar, volto a reiterar que as publicações seguirão normais e recorrentes no ritmo mencionado mesmo que, por ventura, haja a publicação de capítulos adicionais.
- Não sei que tipo de coisa vocês andam assistindo ou lendo, mas, com exceção de um grupo muito pequeno de “M”s, ser mordido lá embaixo, seja um homem ou uma mulher, não cria uma sensação agradável. Logo, é compreensível a reação dela.[↩]
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