Índice de Capítulo
    Notas de Aviso

    Por favor, leia o posfácio ao final do capítulo.

    Os pés de Nikko Ichikawa mal tocavam o chão enquanto redemoinhos de vento a impulsionavam. Mechas dos rabos de cavalo balançavam. — Você vai ver, vovó! — gritou ela, animada pelo desafio.

    O plano parecia arriscado, em situações daquelas, a simplicidade deveria ser a alternativa quando contra um adversário desconhecido.

    Mais à frente, a instrutora Hisako Shimizu continuava imóvel em sua cadeira, sua serenidade desafiava o frenesi à caminho. Olhos prateados vigiavam a aluna que avançava com tudo que tinha. — Primeiro detalhe: ingenuidade.

    Nikko sentiu seu próprio ar comprimido contra si, como se toda sua força fosse suprimida por algo alheio; isso a fez perder o passo. — Agh! — grunhiu ela, tropeçando antes de cair e rolar no chão. Quando tentou se levantar… — Acha mesmo que isso vai me para-

    Crsh!

    Seus calcanhares foram presos por algemas de gelo grudadas ao solo. — Ah, fala sério! — reclamou a aprisionada, frustrada, tentando inutilmente se libertar. — Mnhé… Talvez eu precise mesmo da minha arma… — Ela desistiu.

    — Nikko está fora — comentou Hiromi Miyazaki, de mãos na cintura e sorriso irônico…

    — Sério que ela achou que teria alguma chance? Que burra! — disse Akemi Aburaya, com o dedo indicador e o dedão nos olhos em tom de desaprovação. Logo ele.

    Sho Yamamoto reconhecia a capacidade da instrutora. — Apesar de estar em uma cadeira de rodas, ela ainda é uma militar. E pelos símbolos nos ombros da farda, não é uma qualquer.

    — Uma tenente-coronel — informou Mayumi Sanada — chega a ser intrigante pensar como ela chegou neste cargo sem provavelmente poder usar as pernas…

    — N-na verdade — interrompeu Aruni Yamamoto, com um dedo levantado — acho que antes deveríamos pensar desde quando ela não possui o movimento das partes inferiores do corpo.

    — Desde sempre — respondeu friamente Kyoko Shimizu, voltando à cena de braços cruzados.

    O relato surpreendeu a todos, principalmente Akemi.

    “Desde sempre?!”

    — Então isso só mostra o quão ela deve ser imbatível. Nem imagino o arrependimento dos adversários após enfrentá-la.

    — Bom, então não tire os olhos daqueles ali — Miya apontou para o trio de garotos avançando em uma formação triangular.

    Cada um aderiu ao foco de quem acreditava ter chance da vitória.

    — Kentaro! Minoru! Pelas pontas! — gritou Nihara Miyazaki — se irmos em posições diferentes, talvez teremos uma chance!

    Será que eles tinham mesmo?

    — Ah, então você gosta de ser o líder, né? — brincou Kentaro Ozaki.

    — Não ache que iremos agir assim o tempo todo — alertou Minoru Suzumura.

    — Que Seja! Só vão logo pelas pontas!

    A formação se desfez, Nihara mantinha-se pelo meio enquanto Kentaro e Minoru abriam-se pelas laterais.

    Hisako, no entanto, permanecia imóvel; seu olhar seguia os alunos com uma intensidade gélida.

    Ffu-wooooosh!

    Nihara explodiu em ação, literalmente; chamas surgiram em seus pés, queimando o chão conforme disparava pelo campo como um foguete humano. Era espetacular, era perigoso, era… extremamente imprudente.

    — Segundo detalhe: irracionalidade.

    Em um voo rasante, Nihara percebeu, não a velocidade em que estava ou o poder de seu ataque, mas o perigo em que havia se metido.

    Crsh! Crsh! Crsh!

    Estalagmites de gelo começaram a brotar do chão como dentes afiados, cortando o caminho de Nihara em ataques subsequentes.

    O ígneo tentava desviar, mas as chamas que o impulsionavam perdiam força a cada instante. — O que tá acontecendo?! Não consigo potencializar minhas chamas! Estou sendo enfraquecido?! COMO???!!!

    A resposta que procurava não aparecia; já a gravidade, sem perder tempo, o deixava cada vez mais perto do chão, onde uma armadilha traiçoeira o esperava, um breve espaço abaixo estava congelado.

    Crsh!

    Quando seus pés tocaram o solo congelado, o gelo reagiu em um instante; uma prisão cristalina envolvendo-se ao redor das pernas flamejantes, cortando todo o calor.

    Em milésimos, Nihara foi imobilizado até os joelhos. — Mas que p#rra é essa?! — protestou ele, tentando liberar uma explosão de chamas para se soltar. O fogo surgia com toda a sua fúria, mas o gelo não pingava uma gotinha de derretimento; era como se risse na cara dele, impenetrável. — Sério que isso é uma aura eterna?!

    — Nihara fora — Miya mostrou sua imparcialidade ao olhar as unhas.

    De um lado, Kentaro observou o desastre e sorriu para si mesmo. — Já perdemos dois?! Bom, resta mais show para mim! — disse ele, correndo pela esquerda, focado em Hisako. — Suzumura! Agora!

    Minoru, por outro lado, suspirou como quem já imaginava o fim da história, mas não tinha escolha além de participar. — Haaah, não acredito que estou mesmo fazendo parte disso — murmurou ele, projetando as mãos à frente e pisando forte no chão. Com a ação, uma parte da terra à frente de Kentaro tremeu, anunciando que algo grande estava a caminho.

    “O que é aquilo? Aquele garoto está alterando a terra?”

    Naquele momento, nada poderia assustar o careca em movimento, ele estava cheio de confiança. — Atacar um cadeirante normalmente é covardia, mas, fugir de um? Ah, isso sim é coisa dos fracos! E eu prefiro ser visto como covarde do que fraco!

    No instante em que alcançou o chão instável, ele sentiu algo diferente, seus pés afundaram levemente na terra que vibrava sob seu peso. O garoto inclinou o corpo para frente, mirando um ponto no céu, e…

    GRRUMMM!!!

    Um pilar ergueu-se rapidamente sob seus pés em um ângulo levemente diagonal, projetando-o para o alto com uma força impressionante.

    — Funcionou! — exclamou Minoru, surpreso com o próprio sucesso — valeu a pena treinar um pouco a sós com o Major Yura!

    “Wow! É realmente mais um áurico da terra! Um clássico!”

    Analisando Hisako enquanto voava, Kentaro aproveitou o momento para refletir, sim, refletir! Porque afinal, nada como estar no ar e filosofar estratégias. “Essa mulher é forte demais. Nem precisa se mexer para usar sua aura. Mas parece que esse gelo apenas vem do chão, e se isso for verdade, um ataque vindo de cima pode pegá-la desprevenida!”

    Suspenso no ponto máximo de sua trajetória às alturas, o garoto estendeu a mão, onde partículas flutuantes se juntaram até formarem cabo liso e reluzente; uma lâmina surgiu no topo, completando uma arma metálica. — Afiada e resistente… isso sim é uma verdadeira alabarda! — disse ele, admirando a sua criação; o elemento de sua aura definitivamente é o metal. — Agora, vamos ver se essa coroa é capaz de me parar no a- — contudo, ao olhar para baixo…

    BRRRRRUUMMM!!!

    Uma imensa mão de gelo se aproximava velozmente; dedos abertos e translúcidos brilhavam sob a luz do sol, buscando o jovem no ar.

    Kentaro arregalou os olhos, mas sua contramedida foi imediata; ao girar a alabarda, ele fincou a ponta da arma na superfície da palma gélida, e um impulso a transformou em um pivô perfeito, permitindo-lhe escapar de um aperto mortal.

    Os dedos ameaçadores quase se fecharam em vão, pois ao menos levaram a arma metálica.

    Vushhhh!

    — Mesmo que eu tenha perdido a arma, nada mal pra um recruta, hein? — disse Kentaro, elogiando-se por sua destreza — mas ainda não acabou! — Ele esticou o braço esquerdo para baixo e fechou os olhos por um breve instante. Abaixo dos pés, pequenos fragmentos metálicos começaram a se reunir, e logo, uma prancha sólida e brilhante se formou.

    O rapaz pisou na superfície metálica, que recebeu sua presença com um breve lampejo. Ele inclinou o corpo para frente, até alcançar o caminho escorregadio do grande braço translúcido.

    A monstruosidade gélida se estendia como uma ponte vertical e traiçoeira, grossa e irregular, com protuberâncias afiadas que pareciam obstáculos prontos para perfurar qualquer coisa em seu caminho.

    “Não é hora pra se intimidar!” Mantendo o equilíbrio com facilidade, Kentaro guiava o disco de metal pelo braço gelado, praticamente surfando, desviando de formações pontiagudas que surgiam de repente, as armadilhas no caminho.

    A cada segundo, o disco ganhava mais velocidade, e Kentaro, sem tirar os olhos da militar abaixo, o troféu que esperava alcançar, sentia o vento contra o rosto. A adrenalina pulsava em suas veias. A vitória parecia tão próxima quanto o metal que sustentava seus pés. “Tá cada vez mais perto! Só mais um pouco e…” Próximo do alvo, ele esticou a mão o máximo que podia.

    A não reação de Hisako dava esperanças de que o ataque aéreo funcionaria.

    Kentaro já se imaginava recebendo a vaga, elogios, aplausos…! Mas a realidade? Ela era sempre outra, e daquela vez, era fria. Bem fria.

    — Terceiro detalhe: audácia.

    Restando frações de segundos para o toque, o disco metálico foi instantaneamente congelado.

    Crsh!

    Kentaro tentou saltar, mas a superfície escorregadia não o deixou realizar o movimento do jeito que queria. — Mas que- — ele escorregou, seus dedos passaram perto de Hisako, porém, não foi o suficiente.

    Poff!

    O jovem foi recebido pelo chão como um saco de tralhas em queda livre. Ele rolou desajeitadamente até parar, imóvel e humilhado, aos pés da instrutora. Sem dúvida, as escolhas que o levaram até ali estavam sendo repensadas.

    — E é mais um fora.

    Apesar da impassibilidade de Miya, Aruni se preocupava. — Mas ele bateu feio a cabeça no chão, será que está bem?

    — O que estão fazendo é praticamente suicídio! — exaltou Akemi — como podem ser tão inconsequentes?! — Talvez ele não tenha nascido para a torcida.

    Miya permanecia focada em Hisako. — Olha, não são todos, mas alguns entre nós manifestam habilidades áuricas que transcendem o padrão convencional. Para aqueles que confiam no próprio potencial, tentar nunca é uma perda, pode ser uma oportunidade.

    — Ah, é? E por que você não vai lá? — comentou Kyoko, seguindo com seu sarcasmo — para um Miyazaki, poder testar suas capacidades contra um veterano deveria ser uma boa oportunidade, não?

    — … Definitivamente isso não parecia uma boa oportunidade — seguidamente, Miya massageou o braço e olhou ao chão — e por mais que eu possa tentar… essa aura não me traz boas lembranças — os próprios sussurros a incomodavam, um calafrio que só ela entendia.

    Por outro lado, Hisako, de cima a baixo, observava Kentaro estirado no chão. O método de suavizar o tom irônico não era o suficiente para amenizar a humilhação. — Bom trabalho, garoto. Pelo menos foi autêntico. E devo elogiar o esforço em equipe, isso me encanta. Mas, honestamente, você ainda está muito longe de alcançar o nível deste aqui.

    Zium!

    Hikaru apareceu em um flash de luz branca, sua velocidade ultrapassava o limite do olho humano. Iluminados, o corpo inclinado e os centrados olhos amarelos já sabiam o que queriam.

    Entretanto, Hisako estava preparada.

    No instante em que o garoto esticou a mão para atacar, um escudo cristalino emergiu ao redor da militar, um casco instantâneo de gelo.

    A barreira resplandeceu com um reflexo claro ao repelir a investida vertiginosa, a contra força do impacto jogou o atacante no chão.

    Caído ao lado de Kentaro, Hikaru sabia que sua respiração ofegante não podia passar despercebida; porém, seu semblante concentrado buscava forças para continuar.

    — Um garoto veloz, mas não o bastante. Tente aproveitar melhor as distrações de seus companheiros. O mesmo vale para esse outro aqui.

    Crsh!

    Algo abaixo da instrutora congelou.

    — Você levou os ataques baixos bem a sério, não é? — perguntou ela, levantando uma sobrancelha ao olhar para Kinyoku Shinkai ao longe.

    Entre a turma, o rapaz de cabelos negros estava agachado, sua mão parcialmente dentro da própria sombra flagrou intenções de um ataque sorrateiro.

    “Quê isso?! Ele consegue entrar dentro da própria sombra!?” 

    Quando Kinyoku puxou o braço de volta, notou os dedos cobertos de gelo; era impossível movê-los. — Ah, droga… Por que eu fui tentar? — murmurou ele, sacudindo a cabeça com resignação e calma, uma falta de reação no rosto o dava a impressão de ser totalmente reservado.

    Por fim, a tentativa de alcançar o coturno militar através das sombras falhou miseravelmente.

    Com uma mão na cintura, Rin aparecia por perto. — Aí, pelo menos você foi criativo, cara — sua melancolia característica deu espaço para uma tentativa de elevar o ego alheio.

    Sho observava de longe, seus olhos custavam escapar dessa garota; o que será que aconteceu entre eles?

    — Não — negou Kinyoku — ainda temos muito o que melhorar para alcançá-la. Mesmo com alunos que atingem a velocidade da luz, somos lentos demais para uma mulher sobre rodas. Não sei se isso é humilhante ou inspirador. Enfim, só me resta o respeito por aquela militar.

    — Concordo com você, tentar chegar perto daquela instrutora é perda de tempo.

    Porém, quebrando os paradigmas de todos, Kyoko, ao escutar as colocações de Rin, revelava:

    — Ela tem um ponto fraco.

    COMO ÉÉÉ???!!! — As caras incrédulas de Akemi, Sho e sua irmã eram impagáveis.

    — Nem precisaríamos usar aura, e um de vocês já seria o suficiente. Mas, sendo sincera, nenhum aqui conseguiria executar direito… é meio complicado.

    — … Eu topo! — Akemi levantou a mão. Todos o encararam com o clássico olhar de “o que esse cara tá fazendo?!”

    — Você?

    — Akemi — interrompeu Miya — tem certeza disso? Olha lá, hein.

    — Se há um modo de derrotá-la sem usar poderes áuricos, eu precisava tentar! — Punhos foram cerrados, a determinação tomou conta de um cerne.

    Kyoko deu as costas para todos e observou de canto. — Bom, você serve. Venha aqui, instruções sigilosas.

    Estar sob o olhar frio de uma garota não era nada confortável, mas recusar estava fora de questão. Com passos lentos e receosos, o rapaz se aproximou.

    O mistério cresceu quando Kyoko cochichou nos ouvidos de Akemi, gesticulando e empolgando-o com suas instruções, deixando os demais alunos implorando pela morte da curiosidade.

    Qual seria o plano…?

    Hisako retraiu o escudo gélido. — Alguém mais?!

    A turma foi encarada por um olhar que desafiava qualquer resquício de coragem; e a resposta? Ela veio do silêncio.

    A militar fechou os olhos, e contra as expectativas, um sorriso meigo dominou seu rosto. — Bom! Já que ninguém mais deseja continuar — a voz calma e acolhedora voltou, como se nada tivesse acontecido — o primeiro desafio está encerra-

    — Perdão, senhora!

    Sem concluir a frase, Hisako abriu os olhos lentamente. A cena à sua frente surpreendeu: Akemi estava curvado, a meia distância, respirando com dificuldade, mas não por esforço físico, era puro medo. Atrás dele, Kentaro e Hikaru seguiam caídos, dois corpos abatidos, e entre eles, o único que ainda permanecia de pé… ou quase, pois parecia prestes a desabar a qualquer momento, mas havia algo em sua vontade que inibia qualquer queda.

    — O que o garoto bisonho tá fazendo? — perguntou-se Nikko, derrubada, acostumada com as algemas geladas.

    Hisako estreitou os olhos, era impossível não notar os detalhes do jovem à frente: era magro, franzino, provavelmente um dos elos mais fracos da turma… e ainda assim, ali estava ele, querendo algo.

    — Hmmm… — A instrutora analisava com atenção, mas seus olhos não encontravam o que desejavam. “Estranho, não vejo nada neste garoto… O que será que ele quer?”, pensou ela, tomada por uma pausa longa. — Desejas uma tentativa, garotinho?

    — Não! Definitivamente não! — gritou Akemi, ainda curvado — e-e-eu só queria…

    — Continue…

    — E-eu só queria dizer que… — Akemi ergueu o olhar, direcionado à instrutora — eu me apaixonei genuinamente pela senhora! Por favor! Case-se comigo!

    Olá, aqui é o Andaz!

    Passando pra agradecer quem leu até aqui. Eu queria tirar aquele aviso no início do capítulo, mas parece que não dá mais kkkk! xD

    Então, aproveito a deixa pra divulgar o Discord da obra que contém o link bem no botão abaixo desta mensagem!

    Por favor, desculpem pelo aviso em vermelho no inicio. 😅

    Sabia que Shihais tem um servidor no Discord? Se quiser conhecer, clique no botão abaixo!
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