Capítulo 40 – Tudo por um toque
“Case-se comigo…! comigo…! comigo…!” As palavras de Akemi ecoaram pelo campo de treinamento.
E não tinha outra, o rosto confuso de todos, incluindo os derrotados pelo gelo, causava um silêncio ensurdecedor; ou talvez o melhor adjetivo fosse… “constrangedor”.
Não eram apenas os alunos que tomavam a maior atenção, na verdade, o rosto da instrutora… nem se juntassem o coro de incredulidade ao redor, seria possível uma expressão tão tomada pelo espanto.
A reação a seguir então…
— Aaaah… — Hisako cedeu a um desmaio, sua cabeça tombou para trás até repousar na borda do encosto da cadeira, rendendo-se à uma declaração que com certeza era uma baita armação de jovens espertos.
Akemi seguia imóvel, pois não sabia se era uma encenação ou uma realidade, mas logo a ficha caía. — Ai, caramba! Ela tá bem?! E-eu matei ela?! — Ele recuou um passo, assustado pelo o que fez.
— Muito bem, garoto! — comemorou Kyoko, socando o ar.
— Ei! — Miya colocou as mãos na cintura e se inclinou para reclamar com a mentora de todo o plano — eu tinha visto um anel de ouro na mão esquerda dela! Ela não é casada?!
— E é, com dez homens. Mas a dura realidade pra minha tataravó é que nenhum é tão novinho assim. Aquela velha gosta.
— E-e-e vocês aceitam coisas assim?! — indagou Aruni, chocada, e inclusive, envergonhada.
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— Somos de uma tribo com culturas diferentes. Respeito evita preconceito, sabia?
— Shimizu, o que faremos com ela? A vaga ainda está em jogo? — perguntou Mayumi, sua seriedade se embaralhava com a vontade de avançar.
— Quem pegar leva.
Perto de Hisako, Akemi ainda não acreditava na oportunidade diante de seus olhos. “Ela… desmaiou mesmo?” Entretanto, o ocorrido penetrou sua moral. “E eu… eu… EU ME DECLAREI PRA UMA VELHA???!!!” Mãos pararam na cabeça. “O que essa mulher tem na cabeça?! É uma tarada pelos mais novos?! Que inconveniente…! Mas calma! Eu não posso pensar nisso agora!”
Após um forte suspiro, o objetivo voltou a ser o foco.
“Beleza, Akemi! Já tem muito caminho andado! Agora você só precisa tocá-la!” O jovem esticou a mão, quase tocando nos dedos de Hisako… Estava quase lá…
“… Mas… espera aí… Talvez pra mim não seja uma boa ideia pular de turma agora… Isso pode ser muito desvantajoso pra mim… Com certeza eu não tenho experiência necessária…”
— Ai, caramba! Por que isso tem que ser tão difíci-?!
Zziumm!
Subitamente, uma rajada amarela rasgou o ar.
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Em uma investida de luz, Hikaru, usando sua velocidade imperceptível, concentrou seus olhos límpidos em Hisako, que inerte em sua cadeira, aparentava ter o seu mundo à volta apagado. Entre flashes amarelos, o garoto estendeu a mão, decidido a alcançar o símbolo de sua vitória, que, naquele momento, parecia inevitável.
Já Akemi, perto do ataque, sentiu o tempo desacelerar. Cada detalhe diante dele ganhou uma nitidez surreal, mas ele ainda não entendia como isso podia ser possível.
A silhueta dourada de Hikaru em movimento remetia a uma flecha disparada por um arco divino.
“O que foi isso? Por que tudo está tão lento?” Akemi buscou a resposta no que via. “Ele atinge a velocidade da luz, mas agora consigo vê-lo claramente, consigo entender o movimento dele. Mesmo assim, não era pra isso acontecer, ele está rápido demais! Como estou acompanhando isso?!” Ele sentiu algo mais. A trajetória do sangue em suas veias esquentou, cada célula de seu corpo parecia tentar alertar algo.
Mas tudo tornou-se compreensível ao olhar para Hisako.
A figura da militar, mesmo desmaiada, naquele momento exalava uma presença que não podia ser ignorada. Uma aura azul, forte e levemente escura, vibrava ao redor dela com uma intensidade crescente, como um tambor ao ritmo de um coração que soava mais alto a cada batida.
“Essa não, a aura dela vai reagir!”
Podia estar prestes a acontecer um desastre.
Hikaru estava a centímetros de tocá-la, seus dedos esticavam-se mais e mais, prontos para encerrar aquela disputa com um único movimento. Mas Akemi não conseguia desviar os olhos da aura azul pulsante.
Cada estalagmite de gelo ao redor era afetado, pequenos estalos ecoavam o prelúdio do perigo.
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“Tenho que parar ele antes que seja tarde!”
Akemi pensou em segurar Hikaru pela camisa, porém, era impossível. Parecia que suas mãos nem podiam sair do lugar. Seus olhos e mente acompanhavam, mas o corpo? Definitivamente não. “… Não consigo.”
No momento em que a ponta dos dedos de Hikaru quase tocou a pele de Hisako, a atmosfera mudou.
Crrrsssshhh…!
Uma explosão gélida irrompeu, partindo da militar por uma frente tirana. O próprio inverno agiu sobre o campo, disparando uma violenta tempestade de neve em 360°, engolindo o ambiente com uma névoa cristalina.
A visão de todos desapareceu por um instante tão breve quanto uma respiração. No entanto, o verdadeiro terror vinha do chão: os estalagmites de gelo ganhavam ainda mais vigor, crescendo com uma fúria desmedida, bloqueando cada rota de fuga e aprisionando impiedosamente suas presas mais próximas. Hikaru e Akemi foram os primeiros a sentir o frio mortífero em suas peles ao terem seus corpos totalmente inabilitados.
Ssssshhh…
Assim que o friorento manto se dissipou, uma visão impressionante surgiu: o campo de batalha inteiro, da terra no chão até as distantes paredes ao redor, estava envolto por uma camada reluzente de gelo.
Entretanto, nem tudo estava cem por cento entregue.
— MAS QUE DROGA FOI ESSA???!!! — Histérica, Nikko mostrou que pelo menos alguns “sobreviveram”. Sua cabeça era a única parte visível, enquanto seu corpo, antes preso por algemas que zombavam de sua força, estava engolido até o pescoço por um formato gélido que lembrava um vulcão em miniatura. Ironicamente apropriado.
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Mas Nikko não era a única; o gelo, em um segundo, atingiu vários alunos em diferentes intensidades, chegando até a congelar a expressão de surpresa de alguns.
Kentaro e Nihara, já derrotados no chão, nem tiveram chance, totalmente congelados por uma camada fina porém resistente. E também Minoru, mesmo um pouco mais afastado, não pôde escapar desse estado completamente estático.
Mais adiante, Sho arregalou os olhos ao perceber suas mãos trêmulas, e ao baixar o olhar, notou os pés completamente imobilizados, sem qualquer possibilidade de fuga, um entendimento fora de questão para sua irmã, que perdida em um emaranhado de confusão, não tinha a mesma clareza da prisão que cobria suas pernas. Seus óculos foram levados pela brisa da tempestade gelada, deixando-a à mercê de uma névoa indistinta.
Rin não pôde perder o momento para reclamar. — Que saco. Eu não tenho nada a ver com isso e meus pés ainda foram congelados?
— Isso não tira o fato de que eu tenho a ver. Ninguém te disse pra ficar perto — argumentou Kinyoku, parcialmente impossibilitado de mover nada além da cabeça.
A garota foi pega desprevenida em uma reação inesperada. Ela cruzou os braços e inclinou a cabeça; manter o semblante de durona era essencial para compensar o rubor nas bochechas. — Agora vai dizer que a culpa é minha? O que você queria que eu fizesse?
Kinyoku não respondeu, apenas esquivou os olhares.
— Com licença — chamou Teruo, por perto, preso até o tronco pelo gelo — tu não é a ilustre dona daquelas habilidades mirabolantes? Que tal demonstrar um pouco do glorioso seu talento e nos libertar dessa situação lamentável?
— Não fala comigo, esquisito.
Mayumi, apesar de toda sua disciplina, agora não conseguia esconder o tremor de seu corpo; o frio que sentia a irritava, fazendo-a esfregar os ombros. — Ngh… V-v-você não di-disse que ela… n-não teria reações?
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— Ela não reagiu. É tudo trabalho isolado de uma aura do clã Mizu — respondeu Kyoko, com orgulho destacado nos braços cruzados, e aparentemente, o frio que segurava seus pés já era de costume.
Akemi, no entanto, permaneceu imóvel, não porque queria, mas porque não podia.
“Não consigo respirar! Não sinto o meu corpo! Como ainda estou vivo? Meus pulmões não se contraem, está tudo paralisado, mas ainda sim consigo mexer os olhos, que sensação horrível!”
Consciente dentro do estalagmite, Akemi não sentia mais nada fisicamente, mas o medo de estar congelado não o impedia de sentir o tão famigerado sentimento do medo. “O-o que aconteceu?! Não consigo ver a minha volta, está tudo em azul! Só que meio transparente.”
E então, ele escutou…
— Vocês são jovens muito astutos…
Mantendo o silêncio e os olhos fechados, Hisako lentamente endireitou a postura e estalou o pescoço duas vezes, um lado depois o outro, seguidamente, uma respiração profunda. Então, sem aviso, seus olhos se abriram de uma vez.
Não havia mais confiança ou sequer gentileza, havia apenas… frieza. Não a frieza da neve, mas uma que penetrava a alma.
Para os alunos distantes, a voz de Hisako aumentava gradualmente enquanto ela se aproximava, girando as rodas da cadeira de forma lenta e deliberada. Mas para Akemi, era como se ela estivesse sussurrando ao lado dele, o gelo parecia transferir as palavras de sua dona para o interior dos aprisionados.
— Em toda a minha vida lidando com jovens, nunca esperaria tal façanha. Pela primeira vez, um de vocês… conseguiu abaixar a minha guarda — o tom dela soava calmo, casual, mas havia um peso em cada palavra; posteriormente, seus olhos prateados pousaram em outro de mesma característica — isso só poderia vir de você, não é, Kyo?
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Kyoko, que até então tentava fingir que não estava sendo observada, olhou para sua parente com um bufar. — Urg… Não me leve a mal, seria legal se a minha turma fosse a primeira a passar do seu primeiro desafio.
Hisako avançou mais um pouco, agora parando a cadeira próxima de sua descendente. — Eu não posso reclamar, até porque em uma guerra, qualquer meio de vitória é válido. Mas cabe a você decidir se isso será moral ou não.
— E o que você tem a dizer sobre moral?
— Não fale assim, você sabe que não é do meu feitio cometer crimes de guerra ou ferir culturas.
— Será mesmo?
— … Pelo visto você é tão fria quanto eu, Kyo. Que garotinha maldosa.
— Maldosa?! — Kyoko levantou a voz, abrindo os braços para o campo de gelo ao redor — você congelou todos os seus alunos! Tem noção do tanto que isso é desconfortável?!
Hisako estreitou os olhos, seu semblante agora carregava uma frieza que não vinha só do seu poder. — Você deveria ter mais respeito com seus antecessores, rapazinha. Sua bisavó foi educada com muito respeito, mas vejo que essa tradição que cultivei não chegou até você… Todavia, devo ser sincera. Mesmo que meus métodos sejam um pouco diretos ao ponto, agora percebo. Minhas habilidades não são mais tão eficientes quanto antes. Realmente, estou ficando velha, não posso mais contar tanto assim com a minha aura.
Kyoko revirou os olhos e abaixou os braços. — Pense como quiser.
Hisako olhou para a direita, onde não havia alunos, e analisou o ambiente. — Fazia tempo desde a última vez que perdi o controle e proporcionei tanto estrago. Só que… poderia ser muito pior, não?
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A tentativa de entender o que aconteceu com a potência de sua aura se tornava mais difícil, fazendo-a pensar: “Mesmo que tudo à volta esteja congelado, um cataclisma áurico provido de mim seria capaz de causar problemas bem maiores…”
Ela colocou uma das mãos parcialmente debilitadas no queixo, lembrando-se de Hikaru. “Aquele garoto dos olhos amarelos devia estar prestes a me encostar, e minha aura, sabendo da minha breve inconsciência, entendeu isso como uma ameaça e agiu rápido. Entretanto, apesar da velocidade, ele não era um perigo tão preocupante, foi congelado facilmente… Há outra coisa…”
A instrutora observou atentamente o chão azul com os olhos de quem já viu dezenas de padrões de batalha se desenharem sob seus pés.
Algo estranho chamou sua atenção.
Rachaduras no solo, finas e sutis, se espalhavam à sua direita, provavelmente, o gelo havia sido tocado por uma força avassaladora, ou seja lá o que for.
“Não… eu nunca vi o meu gelo rachar… isso não é normal…”
A extensão das rachaduras se afastava cada vez mais, porém elas não iam muito longe, o que gerou elas não foi tão eficaz, pelo menos não para destruir todo esse reino gelado.
“Parece que outrem fez com que a minha aura realocasse todo o foco para um alvo mais… insistente.” Intrigada, Hisako então percebeu que essas marcas provavelmente se afunilaram até um ponto à sua esquerda. Ela direcionou vagarosamente sua visão para lá, buscando o ponto de origem, e ao fazê-lo, um sentimento de surpresa embaralhado com a dúvida veio à tona. — Hmm…
Ali, no centro de um espaço vazio, estava Miya, de rosto neutro, porém claramente atento devido à postura ereta; entretanto, o detalhe principal ia para os tênis de couro, que pisavam sobre uma pequena área de terra molhada, onde aparentemente, o gelo que dominava tudo — ou quase tudo — havia sido sucumbido.
Em um raio de vinte metros, o campo congelado estava marcado pelas rachaduras, mas sob Miya, um pedaço da terra respirava, livre da friaca que tomou os arredores.
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Hisako percebeu que seu gelo não só havia sido dissolvido, mas que a jovem parecia ter neutralizado o que seria uma ameaça iminente, transformando-o em algo inofensivo, irrelevante. “Entendo…” Uma expressão sutil de respeito se esboçou no rosto da instrutora, mas ela a reprimiu rapidamente, focando-se novamente no caminho das rachaduras espalhadas com uma elegância inesperada.
A percepção era clara: Miya não parecia só uma simples aluna. Ela era algo mais…
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