Capítulo 3 – Despertar
[ 23 de abril de 1922, Toryu, Asahi. ]
Abrindo os olhos com dificuldade, Akemi despertava com um cansaço debilitante em seu corpo deitado; uma luz intensa atingia seu rosto, mas o silêncio reinante foi rapidamente quebrado por um choramingo.
— Snif snif… por que ele não acorda? Ah, eu não aguento mais isso… Snif… ó deuses, me ajudem.
“Eu… conheço essa voz.”
Ainda envolto pela névoa do sono, o rapaz lutava para manter os olhos abertos; sua visão turva lentamente se acostumava à forte iluminação.
— Por favor… snif… não posso suportar mais perdas.
O choro persistente atraiu o olhar do menino para a direita, onde ali, estava Isao, sentado em uma cadeira de madeira, inclinado para frente, com os cotovelos apoiados nas coxas e as mãos tentando em vão conter as lágrimas já secas no rosto.
— Vo-vovô? — chamou Akemi, quase inaudível.
O avô levantou a cabeça e revelou seus olhos avermelhados e olheiras profundas; porém, mesmo com o rosto marcado por lágrimas, sua cara triste rapidamente se transformou em alegria ao ver o neto consciente. — Oh! Meu neto! Finalmente acordou! — Ele colocou as mãos no peito e soltou um suspiro de alívio. — Graças aos deuses.
O garoto percebeu-se coberto por um fino lençol em uma pequena e confortável cama; apenas a cabeça estava descoberta. Entretanto, as memórias dos trágicos eventos que ocorreram ainda assombravam.
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A dor, o calor, e os sons traumatizantes, continuavam cravados em sua mente.
— Eu… estou vivo? Por quanto tempo fiquei apagado?
Mais calmo, Isao informava ao neto: — Você permaneceu inconsciente por quatro dias, eu já não sabia mais o que rezar.
Deitado e sonolento, Akemi teve o olhar perdido nos arredores. — Q-quatro dias? O-onde estamos?
— Estamos no Hospital Áurico de Toryu.
— Hospital… Áurico?
— Quando o encontramos naquela situação, levamos você para o hospital trivial mais próximo da usina, mas logo após alguns minutos de exames, você foi transferido para cá e… acabaram te internando aqui.
“Espera, como eu posso estar em um hospital somente para áuricos?!”, refletiu o garoto, tomado por dúvidas que invadiam sua cabeça. — P-por que me transferiram para um lugar como esse?!
— Isso não importa, quero saber se você está bem.
— Bom, acho que consigo me mexer.
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Akemi ignorou a fadiga e se esforçou para ficar sentado na cama. “Essa cama… é tão confortável. Sinto como se estivesse flutuando nas nuvens. É tão diferente dos hospitais triviais.”
Quando finalmente se acomodou, notou que um espelho à sua esquerda refletia ataduras que envolviam seu tronco e braços. “Nossa! Estou parecendo uma múmia! Mas parece que estou bem. Já não sinto o calor que sentia antes e nenhuma parte de mim dói mais.”
Ao analisar com mais atenção, algo em seu rosto o surpreendeu.
“Ah, fala sério! Aquele corte na bochecha realmente deixou uma cicatriz?! Isso aqui vai ficar na minha cara pro resto da vida?!”
O cheiro característico do ambiente hospitalar tirava o foco de Akemi no próprio corpo. O local era totalmente baseado em cores brancas e claras, com paredes lisas e alguns médicos andando pela sala.
“Há tantas cortinas verdes ao redor, provavelmente estão separando os pacientes em outras camas, devem ser todos áuricos… Por sinal, é a minha primeira vez internado, e justo em um hospital áurico… Hmmm…”
Ao compreender seu estado, o jovem inclinou a cabeça e sorriu timidamente, na tentativa de aliviar a tensão do avô. — Então… tive sorte, né? Hehe.
Em Isao, uma expressão irritada se tornou mais evidente por conta do que via.
— Sorte seria se você não tivesse ignorado minhas ordens e ficado longe daquela maldita sala!
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A reação impetuosa fez Akemi fechar os olhos, tomado pelo medo. “Ai, caramba! acho que escolhi as palavras erradas!”
— Pensei que eu podia fazer algo. Eu só queria ajudar.
— Ajudar?! Você chama isso de ajuda?! — A voz de Isao tremia de tanta inconformidade — você é um estagiário, rapaz! Não um super-herói. Foi imprudente e irresponsável, esses seus atos egoístas quase causaram uma tragédia!
Akemi sabia que o avô tinha total razão, então, ele abaixou a cabeça e aceitou o erro e as preocupações que causou. — Desculpe, eu não queria causar problemas. Só queria provar que sou capaz.
Irritado, Isao se calou, evitando olhares com o neto.
“Ele está tão tenso, não para de balançar as pernas, e agora, mal olha nos meus olhos. Mas pelo seu jeito, parece mais incomodado com alguma outra coisa além de mim.”
clack
Inesperadamente, o barulho de uma porta abrindo veio em meio ao silêncio.
Três vultos nas cortinas atrás de Isao insinuaram a aproximação de pessoas, mas pouco a pouco, o mistério foi-se embora. Dois médicos e um militar foram revelados.
Isao também decidiu evitar contato com os recém-chegados, aumentando sua inquietação; por outro lado, a presença de novas pessoas deixou o garoto mais atento.
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“Quem são estes? Parecem bem sérios e profissionais.”
Uma doutora aproximou-se com um olhar gentil e prancheta em mãos. — Hm, vejo que meu paciente está acordado.
Akemi respondeu alegremente com um aceno de mãos, a aparência simpática da médica o confortava.
— Oh, olá!
— Bom dia senhores, sou a Dra. Rowze, responsável por esse garotinho aí. — Ela apontava para o jovem. — Lembra-se de mim, Akemi?
O rapaz colocou uma mão no queixo para analisar a médica. — Hmmm, acho que já te vi em algum lugar.
A doutora cobriu delicadamente a boca para tentar conter o riso. — Fufufu, vamos lá, pense mais um pouquinho.
“Hmmm…”
— Ah! Moça do bonde! Não sabia que você trabalha aqui.
— Fufufu, que bom que você se lembrou de mim. Como está?
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— Estou me sentindo bem, não tenho dores, obrigado.
Rowze aparentava ser uma médica elegante e simpática, sua voz calma e suave transmitia tranquilidade e empatia.
Ela mantinha o jaleco de antes, entretanto, seu longo cabelo loiro estava amarrado em um rabo de cavalo; e seus olhos, antes castanhos, agora possuíam outra cor, um verde bem forte, alegando o uso de lentes.
“Ela está usando um estilo diferente de como estava no bonde, e pelo nome e características físicas, provavelmente é estrangeira. Deve ser de outro país aliado… será que é áurica? E por que logo ela é a responsável por mim?”
— Você é bem desastrado, não é? Deu trabalho para a gente — comentou a médica.
Akemi passou a mão pela nuca e exibiu uma cara sem graça. — É, acho que ultimamente tenho sido um pouco problemático.
A doutora fixou o olhar na prancheta em suas mãos, e após alguns segundos de silêncio, transferiu relatos para o garoto. — Durante sua estadia neste Hospital Trivial Leste, os equipamentos eletrônicos de lá começaram a falhar durante seus exames e sua temperatura corporal estava acima de quarenta graus. Então não dava para determinar se você tinha sofrido algum ferimento grave.
O fato surpreendeu o paciente, levando-o a percorrer as mãos pelo corpo em busca de algum ponto dolorido.
— Jura?! Mas eu acho que não quebrei nada, não sinto nenhuma dor forte, consigo me movimentar tranquilamente. Aliás, por que estou num hospital para áuricos?
— Parece que você está se recuperando bem depois de acordar, isso é impressionante. Falando sobre o que aconteceu, notaram algo que teoricamente não era para estar em você, era como uma quantidade considerável de energia elétrica armazenada.
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“Energia elétrica? Ela está falando daquelas faíscas? Eu me lembro delas, mas…”
— Como assim? O que você quer dizer com isso?
— Quando descobriram essa energia em você, decidiram te transferir para cá como um caso isolado. Iniciamos alguns procedimentos especiais e com o passar do tempo você começou a… esfriar? Parece que toda aquela eletricidade e calor que o percorria se dissiparam, o que é um alívio, já que mal podíamos te tocar sem o risco de levar um choque.
— Eu ainda não entendi, por que tem tantas pessoas aqui?
— Chamei estes dois homens pois o seu caso é único, algo jamais visto em Asahi.
Ao lado de Rowze, o outro médico, mantendo os braços para trás, deu um passo adiante. — Permita que eu me apresente. Sou o Dr. Asakusa Akuto, e garoto, o que aconteceu com você é algo extraordinário.
Asakusa era um senhor de meia-idade, estatura baixa e cabelos grisalhos curtos. Seu rosto era destacado pela barba longa e sobrancelhas grossas que disfarçavam qualquer expressão; mas sua personalidade era realçada na elegância das vestimentas médicas de tonalidade azul marinho.
“Quem é este? Deve ser um médico experiente.”
Antes que o jovem pudesse perguntar, Rowze tomou posse da palavra. — Fomos informados que você foi vítima de uma descarga elétrica fatal, e considerando que você é um trivial, é difícil entender como você sobreviveu, a não ser por um milagre.
A cabeça do rapaz agravou o embaralho interno, o coração quase não aguentava a ansiedade.
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“O-o que ela quer dizer? O que estes homens têm a ver com isso?!”
Quanto mais os médicos falavam, a inquietação e reações negativas de Isao aumentavam drasticamente; Akemi percebeu e quis tirar respostas da doutora. — O que aconteceu comigo?
— Você provavelmente despertou uma aura.
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