Capítulo 22 - Sala 1F
Quando Akemi abriu a porta, uma figura familiar no interior da sala foi revelada a ele.
“Fala sério, é mesmo o pai da Miya?”
De costas para um extenso quadro negro e absorto na leitura de um livro vermelho em um púlpito à sua frente, Masaru usava roupas notavelmente diferentes da farda camuflada que vestira; naquela sala, ele trajava um sobretudo branco com sutaches e duas medalhas à direita do peito.
“Ele mais parece um professor com essas roupas, mas tinha que ser logo o dessa sala?! Enfim, essa visão ampla me ajuda a observar o interior daqui.”
A única porta de acesso ficava em uma área elevada; logo à frente, uma escada levava à área inferior, onde estava Masaru.
“E esse lugar é bem esquisito, onde será que eu me sento?”
A sala, de paredes vermelhas decoradas por pinturas e relógios acima da lousa negra, chão marmorizado e teto branco, possuía cinco bancadas de madeira com longos assentos atrás. Três dessas bancadas estavam horizontalmente dispostas na parte frontal, enquanto a elevada área traseira, acessível pelas escadas ao centro, abrigava as duas bancadas restantes e a porta.
Inundado pela luz dourada de lustres redondos no teto, o recinto estava quase repleto de alunos sentados, totalizando onze. Todos os presentes vestiam o uniforme preto padrão da ASA e mantinham-se neutros.
“Lembro que são quinze alunos, então cabem três em cada bancada. Onde será que estão os faltantes? Contando eu, tem só doze aqui.”
Nenhum dos alunos era identificável, exceto dois.
Um deles era Sho, localizado à direita de Akemi na bancada superior. Quando o amigo do jovem Aburaya o viu, sua expressão de extrema incredulidade foi perfeitamente compreensível.
“Nossa, imagino que ele nunca esperaria me ver aqui… e realmente estamos na mesma sala?! Que bom! Pelo menos há mais alguém para conversar. Mas quem é essa garota ao lado? Não consigo sentar ao lado se ela continuar no meio… De qualquer forma, vou me sentar na mesa deles, tem espaço pra um à esquerda.”
Entretanto, o suposto professor sentiu a presença de um novo aluno e, sem tirar os olhos do livro, ordenava: — Você de pé, sente-se ali — ele apontou para um espaço na bancada frontal do canto inferior direito dele, onde um garoto e uma garota estavam sentados. — Lembre-se de manter a porta fechada.
O pedido chateava Akemi, mas Sho continuava como se não acreditasse em quem estava diante de seus olhos.
“Fala sério…! Vou mesmo ficar no extremo lado contrário? Pelo menos ter alguém por perto já me deixa mais à vontade…”
Enquanto descia a escadaria, o jovem Aburaya captou um garoto. “Esse cabelo amarrado… Não é possível! Ele também tá aqui?!”
Na bancada inferior central e de costas para o recém-chegado, Hikaru Sasaki, o espadachim luminoso e vencedor do primeiro embate pela vaga na ASA, permanecia sentado com seu olhar inabalável, aguardando o início das atividades.
“Ele nem sabe quem sou eu, devo ignorar. Meu lugar está logo à minha esquerda.” Seguindo as instruções, Akemi andou até o local recomendado, observando em volta. “Mas… onde está Miya? Ela me disse que estaria na mesma sala, porém não a vejo em lugar algum…”
Ao sentar, notou-se um amplo espaço no interior da bancada.
“Entendi, isso provavelmente é destinado às maletas… tem duas ali, devem ser dos alunos ao meu lado.” Após ajustar seus pertences no espaço, sorrateiramente, um aroma exalou. “Eh… Nossa, que cheiro é esse? É… doce? Caramba! É muito doce! Mas é bom!”
Embora evitar espiar desconhecidos fosse um ato respeitoso, a vontade era irresistível.
Os olhares disfarçados de Akemi alcançavam a garota sentada à sua direita.
“Eita! Sei que não sou alto, mas é a primeira vez que vejo uma garota da minha idade mais alta do que eu, por mais que seja só um pouco. Aliás, será que temos mesmo uma idade igual? Ela é… meio avantajada em certas partes…”
De íris esmeralda, a garota usava longas maria-chiquinhas em seus cabelos pretos com toques brancos nas pontas. Sua maquiagem, três traços em cada bochecha, lembrava bigodes de gato.
“Ela é diferente, porém tem uma postura elegante, e esse olhar confiante é de alguém bastante feliz por estar onde está.”
Repentinamente, o professor se levantou para assumir a palavra, sua voz calma contrastava com a seriedade. — Bom, não podemos mais enrolar. Meu nome é Masaru Miyazaki, Subtenente de Investigações do Quinto Regimento Áurico, mas para vocês, é Mestre Masaru.
“Mestre?” Akemi lembrava do que estava informado na carta de boas-vindas que recebeu, “será que ele é realmente o meu conselheiro? Ainda não sei o que isso quer dizer direito, mas espero que seja para me ajudar.”
— Sou formado em todas as áreas da ciência, com destaque à física. Então, ministrarei instruções teóricas nesta mesma sala durante algumas manhãs desse primeiro ano letivo. Assim, vocês terão a oportunidade de aprender com diversos instrutores ao longo dos seis anos de formação, a depender de suas notas, sejam nos exames escritos ou nas nossas PAAs. Algum de vocês tem alguma dúvida?
Akemi levantou a mão direita espalmada.
— Francamente — reclamou Masaru — levante o punho cerrado esquerdo quando quiser falar, recruta!
— A-ah! Perdão! — O rapaz recuou o braço.
— Desembucha.
— O que é PAA?
— Hm, era de se imaginar que você nunca tenha feito uma.
“Quê?!” Akemi notava o nervosismo crescer ao sentir que fez uma pergunta terrível. — É… E-eu… — ele hesitava. “Por que fui perguntar?! Ele até sabe que jamais fiz isso! E agora?!”
— Haaa. De qualquer forma, irei refrescar a memória de vocês, relembrar é viver.
“Ufa! Achei que ele iria me esculachar de novo…”
— A Prova de Aptidão Áurica é crucial para determinar se você possui a condição mínima para prosseguir a carreira de um militar áurico. Mas não se acomodem, aqui não terá a mesma complacência vista em seus institutos áuricos.
Akemi ficou apreensivo, temendo enfrentar dificuldades. “Nem tenho um certificado de formação áurica básica… o que será que eu faço em uma PAA?”
— Além disso, na ASA, zelamos pela excelência suprema em todos os nossos exames. Se alguém reprovar em qualquer disciplina, será automaticamente expulso. Isso ficou claro para todos?
Fora Akemi, todos os alunos presentes eram um forte uníssono. — SIM, SENHOR! — A altura do brado retumbante deixou o jovem Aburaya desnorteado e inseguro.
“Essa gente é normal? Parecem robôs pré-programados, que medo!”
— Muito bem, farei a chamada agora. Ao que eu disser o número e nome, levante o punho esquerdo cerrado e brade como de costume.
Masaru pegou uma prancheta sobre o púlpito, ajustou os óculos, e com firmeza, iniciou a chamada. — Zero um, Akemi Aburaya!
O rapaz permanecia imóvel, perdido em seus próprios pensamentos.
— Akemi Aburaya! — O instrutor gritava novamente, levantando o rosto para encarar o rapaz distraído.
Com um sobressalto, Akemi respondia: — A-Ah! Presente! — Porém, cometeu erros graves ao, mais uma vez, levantar o braço direito com a mão aberta, um gesto típico das chamadas escolares…
Mesmo com os óculos reluzentes ocultando os olhos, era evidente a mistura exagerada de confusão e nojo no rosto de Masaru. — Quê? Presente…? Você não está em uma escola, recruta! É preparado! — O instrutor abaixou a cabeça e levou a mão ao rosto, impaciente. — O bisonho ainda me levanta o braço direito de novo… Eu vou ter muito trabalho… — sussurrou ele, e ao conter uma ira crescente, voltou a encarar a turma. — Que seja! O básico o resto já sabe! Espero não ver mais bizarrices… Próximo! Zero dois, Nikko Ichikawa!
Chamando a atenção de todos, a garota ao lado de Akemi levantou-se rapidamente; uma corrente de vento subiu junto ao movimento de seu punho esquerdo fechado, surpreendendo e descabelando o jovem Aburaya. — PREPARADA!!! — bradou ela, com tremenda animação.
Sob olhares admirados, Akemi a elogiava mentalmente: “Ela é da família Ichikawa! Que demais! Provavelmente entrou por indicação assim como eu, mas com certeza deve ser muito forte!”
O instrutor continuava de olho na prancheta. — Ótimo! Mais uma regra anti-bizarrice! Não usem suas auras dentro das salas de instrução, apenas nos campos de treinamento. Aliás, não precisam se levantar para bradar.
A garota envergonhou-se. — Ai, foi sem querer! Desculpe, Mestre Masaru — após se curvar, ela se sentou, mantendo a postura.
— Zero três, Kentaro Ozaki!
— Preparado — respondeu o garoto na mesma bancada de Nikko e Akemi. Apesar de usar um corte reco, uma cicatriz no meio de sua sobrancelha esquerda lhe dava uma aparência um pouco selvagem.
“Pelo visto a ordem de chamada segue os alunos sentados da direita para a esquerda do professor. Tenho que arrumar um jeito de prestar atenção no rosto de cada um…”
— Zero quatro, Rin Kurosawa!
A chamada chegou aos alunos da bancada central.
— … Preparada — respondeu uma garota de cabelo chanel lilás e uma franja à esquerda, tapando um de seus olhos que lembravam as cores escuras de uma ametista. Uma grande má vontade dominava a energia do punho levantado.
“Kurosawa…? Esse não é o sobrenome da recepcionista? Bom, pela fisionomia e jeito meio cínico, certeza que são parentes bem próximos.”
— Zero cinco, Teruo Kenzo!
— Preparado — respondeu um garoto de óculos multicromáticos. Mesmo que o cabelo médio e cinza estivesse bagunçado, ele adotava uma forma culta nas ações.
— Zero seis, Hikaru Sasaki!
— Preparado — assim como visto anteriormente, Hikaru manteve a seriedade nos movimentos rápidos, limitados porém precisos.
“Como imaginei, a voz dele é calma e até meio fria, deve ser extremamente reservado.”
— Zero sete, Mayumi Sanada!
— Preparada! — bradou uma ruiva, revelando determinação na bancada mais próxima à esquerda do instrutor. Em seu cabelo longo, três presilhas marrons seguravam o lado direito da franja, enquanto cílios postiços, acima de seus olhos esverdeados com pupilas pretas, evocavam as magníficas asas de um dragão negro.
“Sanada… Lembro desse sobrenome na enciclopédia. São samurais!”
— Zero oito, Kyoko Shimizu!
— Preparada! — exclamou uma pequena garota no meio da bancada, claramente a menor da turma; porém, seu tamanho não a deixava acuar. De afiados olhos prateados e cabelos claros como a neve, ela bradou de modo tão acentuado quanto Mayumi.
“Baixinha invocada… Mas pera lá, ela parece uma criança! Tá certo isso?!”
— Zero nove, Kinyoku Shinkai!
— Preparado — respondeu um garoto, direto e reto. Sua feição, assim como das garotas na sua bancada, também era séria, e por mais que seus lisos cabelos negros diminuídos na nuca e íris escuras não causassem nenhuma estranheza, havia uma peculiaridade abaixo de seu olho esquerdo: um grande ideograma preto que oscilava em tons tênues de púrpura.
“Engraçado, a pronúncia do primeiro nome dele é até um pouco parecida com a da baixinha invocada…”
— Dez, Minoru Suzumura!
— Preparado — posicionado no canto direito da bancada na área superior atrás de Akemi, um garoto de cabelo castanho claro raspado nas laterais possuía grandes olheiras em seus olhos dourados.
— Onze, Aya Hattori!
…
Este nome não teve resposta…
— Aya Hattori? Bom, deve ser a que está fo-
Bam!
Veio-se o barulho da porta sendo bruscamente aberta.
— Achamos ela, pai! Mil perdões pela demora!
“Essa voz… É da Miya!”
— Senhorita Miyazaki, já conversamos sobre como deve me chamar aqui.
— Tá, desculpa… “Mestre Masaru” — disse a garota com um tom brincalhão antes de dar um passo à frente e cruzar a porta da sala.
Akemi tentou olhar para trás, e enfim, conseguiu ver Miya se sentando na bancada de Sho. “Parece entediada, mas o que será que ela estava fazendo lá fora?”
O som de outras pessoas entrando na sala veio em seguida.
A mesma menina armada na sala escura apareceu no centro da bancada superior atrás de Akemi. Apesar de ter só a cabeça visível, uma máscara preta ocultava sua boca e nariz, revelando apenas seus olhos de cores diferentes: branco e verde claro.
Entretanto, em um momento inesperado, mais uma figura inusitada surgiu ao lado direito dessa garota.
“N-Nihara?! Espera, que cicatriz enorme é aquela na testa dele?!”
Ao cruzar os olhares com Akemi, o ígneo rapidamente evitou contato visual, denotando desagrado.
“Ai, essa não! Esse cara nunca vai me deixar em paz, por que eu tenho que ser tão azarado?”
— Agora sim, a sala está completa. Prestem atenção, estou no meio da chamada. Continuem respondendo com o brado padrão… Onze, Aya Hattori!
…
— Aya Hattori?!
Masaru tirou os olhos da prancheta e observou a sala em busca da pessoa que não respondia.
Logo, todos notaram a garota mascarada de braço direito erguido; todavia, ela estava silenciosa e com o olhar perdido no vazio.
— Entendi, você é aquela aluna. Prosseguindo… Doze, Nihara Miyazaki!
— Preparado — Nihara encarou o instrutor, o tom de deboche permanecia inalterado.
Mesmo com o gesto desrespeitoso de seu familiar, Masaru seguia como se já estivesse acostumado com as atitudes do rapaz. — Treze, Hiromi Miyazaki!
— Preparada — respondeu Miya, de maneira simples; sua energia fumegante, que contagiava a qualquer um, parecia ter sumido.
— Quatorze, Aruni Yamamoto!
— E-eh! Cof cof! Eh-m, preparada! — respondeu uma jovem com cabelos castanho claro até os ombros, decorados por duas margaridas de cada lado, a primavera em pessoa. Grandes óculos redondos faziam seus olhos ficarem gigantes, dando a entender que sua visão natural era tão boa quanto a de um morcego ao sol do meio-dia. Entre Sho e Miya, a garota escancarava um nervosismo que rivalizava com o de Akemi.
“Yamamoto… esse nome me é familiar…”
— Quinze, Sho Yamamoto!
— Preparado.
“Aaaah… Aquela ali é a irmã do Sho, lembro dele me falar que ela também passou na prova escrita. Não há como negar que são irmãos, realmente possuem características semelhantes.”
— Todos presentes, excelente! Com isso, podemos dar início aos nossos trabalhos.
E com isso, eu termino o primeiro volume de Shihais: Remanescentes da Aura! 🎉
Mal posso explicar a minha alegria em fechar o primeiro volume! Mas fiquem tranquilos, estamos apenas no começo dessa linda história!
Foram mais de quatro anos planejando tudo isso, então é extremamente gratificante ver meus personagens ganharem vida! 🤩
Quero agradecer novamente a todos que leram até aqui, e por favor, não se esqueçam de avaliar a webnovel! 🌟 Podem me mandar mensagens no PV do meu Discord: _andaz#4528. 💬
Quanto mais escrevo e recebo feedback, mais aprendo e melhoro minha narrativa. Por isso, o volume que está por vir trará uma dinâmica bem diferente, e eu aposto que será muito divertido! Fiquem de olho! 👀
Obrigado de coração! 💖
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