Índice de Capítulo

    Tum-tum, tum-tum…

    Com o coração batendo forte, Akemi deglutiu em seco. Tudo ao seu redor encolhia, como se as paredes do túnel quisessem esmagá-lo.

    O silêncio, mais aterrorizante do que nunca, intensificava o nervosismo dos jovens, que suando frio, mal reagiam aos olhos verdes que os observavam à direita.

    — E então? Não vão me dizer por que estão aqui? — A voz familiar reverberou pelas paredes de pedra, o tom sério ecoava de forma ameaçadora.

    Imóvel, Miya cerrou os punhos e abaixou a cabeça, seu corpo trêmulo revelava toda a fúria que sentia, prestes a explodir. — Vocês… são monstros… — desabafou ela, um murmúrio venenoso que não segurou.

    Akemi lutava contra o instinto de fugir e lançou um olhar furtivo ao lado. “É claro que tinha que ser ele.”

    Jin Ichikawa, marechal e diretor da academia, observava-os com um olhar vitorioso e superior. As luzes piscantes criavam uma silhueta sinistra ao redor do militar, destacando aquele corpo grande e definido apesar da idade avançada.

    À procura de uma reação, Akemi posicionou-se ao lado de Miya e reuniu uma coragem que nunca imaginara possuir. — Diretor Ichikawa! Perdoe nossa presença, estávamos apenas explorando os arredores e acabamos por…

    — Um reles recruta como você ainda ousa tentar me enganar? — Jin avançou um passo com o peito estufado de arrogância.

    “Ai, que bola fora! Ele tá muito perto. O que eu fiz?!” Akemi desesperava-se pela proximidade, seu coração batia mais alto.

    Tum-tum tum-tum…

    O espaço entre o rapaz e o militar era quase sufocante. O corredor encolhia ainda mais.

    Entretanto, Akemi foi aliviado por um toque em seu peito, uma mão gentil mas firme empurrou-o para trás.

    Era Miya quem se colocava à frente da situação com um semblante inabalável. — Não encoste um dedo nele — avisou ela, como uma brasa que se recusava a ser apagada, enfrentando Jin em um olhar direto.

    — Hmm… Hiromi Miyazaki, a herdeira da chama eterna… Você deveria estar focada em se tornar o símbolo principal de sua família. Mas, conhecendo sua linhagem fora do padrão, é compreensível que esteja aqui — disse o marechal, escorrendo deboche nas palavras.

    — Vocês são nojentos! — Miya apontou um dedo na cara do militar — acha mesmo que esses feitos horrendos do exército não chegarão aos ouvidos da população democrata?!

    — Ho ho ho… Senhorita Miyazaki, entenda… seu povo é como argila nas mãos de um habilidoso artesão, e através das conquistas deste artesão, essa argila foi moldada em um jarro forte, potente, e acima de tudo, inalterável. A profundidade do núcleo deste recipiente vai muito além do que se pode conceber, e recrutas como vocês não arranham nem a superfície.

    Akemi sentia um nó no estômago. “Ele acha que somos apenas peças de um jogo, e mesmo assim nada cheira como mentira…”

    Sentida pela metáfora, Miya encarava o militar com extremo nojo e desgosto.

    — Fique tranquila, senhorita — continuava Jin, mais calmo — da mesma forma que não pode agir contra nossas ordens, também sei que não posso fazer nada à sua pessoa. Um simples sumiço repentino não cobriria a importância de alguém como você na família Miyazaki.

    Akemi tentava manter a calma apesar do suor frio escorrendo na testa. — Miya, temos que sair daqui! — Com uma mão, ele segurava o braço da companheira estressada, sentindo a tensão nos músculos dela.

    — Hummm, enquanto isso, a minha promessa se juntou a essa pífia oposição. Como gostam de dificultar a minha vida.

    Com a mente perdida em várias direções, o jovem via o pânico crescendo ao sentir a situação se deteriorando para o seu lado. — Promessa…?

    — De fato, agora eu posso ver. As pessoas nunca mudam. Não importa quantas gerações possam vir, as mesmas vocações irão se espalhar. Os seres sábios sempre estiveram certos.

    As declarações carregadas do militar eram de uma certeza sombria.

    Akemi sentia-se preso em uma teia de intrigas que mal conseguia suportar. “Ele… tá falando comigo? Caramba! A Miya não se mexe!” O medo e o desespero aumentavam sua ansiedade. — Miya! — gritou ele, um barulho que percorreu todo o túnel, tentando romper o ódio que tomava conta da garota imóvel.

    Wooooosssshhhh…

    Sorrateiramente, Jin desapareceu.

    “… Pra onde ele-”

    De repente, Akemi sentiu algo perto dos ouvidos, o calor de um rosto próximo arrepiou seus pelos.

    Se quiser continuar na academia, fique longe dessa garota. Estou de olho em você.

    Wooooooooosssshhhhh…

    A presença se foi.

    O túnel “expandiu-se” novamente, mas a ameaça invisível que literalmente pairava no ar abalava Akemi profundamente.

    Por fim, Miya agia. — Temos que voltar — recomendou ela, calma e séria em direção às escadas.

    “O que foi… tudo isso…?”

    [ Fundos da ASA, às 10h25 da manhã. ]

    Seguindo Miya entre os pinheiros, Akemi expressava sua preocupação. — Que ideia foi essa?! Sei que quer acabar com o mal do exército, mas não precisamos ir tão longe! O que você tinha na cabeça?!

    — Sim, precisávamos ir até lá. Também era óbvio que seriamos notados. Só que… não esperava que nos deixassem ouvir toda aquela conversa.

    — Até o General Katsuro estava lá. Pensava que ele era um patriota que defende as cores da nossa bandeira com suas chamas lotadas de honra e glória. Mas… o que eu ouvi lá…

    — Honra e glória? O que esses seus livros andam dizendo, hein?

    — Você sabia da presença dele desde o início, né?

    — A entonação covarde dele é inconfundível.

    — Consegue reportá-lo a alguém? É o marido da Kaen Miyazaki, não pode ficar assim!

    — Em Asahi não há pessoa mais cúmplice ao caos do que a matriarca. Não tenho poder de fala para reverter os ideais deles. Aliás, temos contrariedades maiores a lidar.

    — Ai, é verdade. Depois de tudo que ouvimos, com certeza estamos marcados na lista negra do diretor! — Akemi sentia o medo invadir-lhe à tona ao lembrar-se do que lhe fora dito: “Se quiser continuar na academia, fique longe dessa garota. Estou de olho em você.” — E… você ouviu o que ele disse? Ele é muito macabro! Ainda mais com aquela aura… E-e se ele estiver nos escutando agora!

    — Relaxe, ele não está.

    — Mas de qualquer forma, acho que não podemos mais ficar perto um do outro. O que faremos?

    — … Continuaremos juntos, ora.

    Akemi parou abruptamente.

    Miya também parou e olhou para trás. — O que foi agora? — indagou ela, cruzando os braços com impaciência.

    — Continuaremos… juntos? — repetiu Akemi, olhando para baixo.

    — Não me diga que já quer desistir.

    — Não! Você não entende! — exclamou o garoto, sua voz revelava a tristeza e o peso emocional — também não quero me distanciar, até porque, claramente você é a que melhor pode me ajudar neste lugar. Mas se continuarmos assim, não se sabe o que pode acontecer, não quero ferrar com tudo logo no começo. Parece que não, mas foi difícil chegar aqui. Não podemos causar mais problemas juntos, é muito perigoso pra só nós dois!

    Miya fechou os olhos e suspirou profundamente. — Ssssss… Haaaah… — Com passos lentos, ela andava até Akemi. — É claro que entendo, amigo. É chato dizer isso, mas lembre-se de que temos um trato: não desistir um do outro a qualquer custo — já próxima, a garota apoiou calmamente as mãos nos ombros do rapaz, encarando-o meigamente. — Confesso que você é um pouco difícil de lidar às vezes, é resmungão e desconfiado, mas tem um coração humilde e essencial. Sei que você nunca machucaria alguém, nem se pudesse.

    “Nem se pudesse?!”

    O desfecho das belas palavras cutucou um pobre ego.

    — Ah… hehe. Fico feliz por… ver isso em mim. Porém ainda temos que fazer algo sobre sermos vigiados. Por mais que eu tenha muitos feitos do Marechal Ichikawa em mente, se é que são verdade, não tenho idéia de até onde ele consegue enxergar a gente.

    Miya soltou os ombros de Akemi. — Também desconheço como a aura dele age nesse quesito — repentinamente, ela colocou uma das mãos na cintura e, com um sorriso confiante, levantou o dedo. — É por isso que eu tenho um plano!

    — Um plano?

    A garota mudou de postura, colocando as duas mãos nos quadris e esbanjando disposição. — Ni cuidará de você por enquanto!

    — … Ni?

    — Sim! Nikko Ichikawa!

    — N… N-Nikko Ichikawa?! — exclamou Akemi, recuando assustado.

    Miya assentiu com a cabeça. — Uhum! Eu a chamo de Ni ou Nizinha. Fofo, não?

    — Mm-ma-ma-mas p-pera lá! Acabamos de ter um descaso com o diretor da academia militar e você quer que eu fique perto duma garota da família dele?!

    — Exatamente! Pode confiar, conheço Nikko há muito tempo. Você ficou perto dela na nossa sala, certeza que sentiu a energia positiva.

    — Sim, mas… como isso vai nos ajudar? Ela sabe no que estamos nos metendo?

    — Nikko é inocente, mas sua pureza é tão preciosa quanto a de uma esmeralda recém-extraída. Ela não precisa estar ciente de nossas ações para te ajudar a se tornar mais forte aqui.

    — E como tem certeza de que o diretor não interferirá em nossas relações?

    — Você é o 01, certo? Nikko é a 02, ou seja, sua companheira de curso mais próxima. Aliás, Jin não terá coragem de nos açoitar com a Ni por perto, seria uma grande dor de cabeça pra ele.

    — Eu ainda não entendo o que você quer dizer.

    — Então você precisa conhecer mais dos seus companheiros de curso. Vamos  — Miya gesticulou para ser seguida e voltou a andar em direção ao refeitório.

    “Essa garota não é meio inconsequente? Argh, alguma hora ela vai nos causar sérios problemas…”

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