Capítulo 127 - Fuga
Mesmo tentando entender, ele não sabia como reagir a isso. O que exatamente ela queria dizer com essas palavras e ações?
“Líder, você disse antes, que quem eu sou não é importante. Antes eu estava hesitante, mas vendo a forma como você age e trata as pessoas, sinto que você é diferente dos outros.”
Fernando permaneceu em silêncio, tentando entender onde ela queria chegar. Ele tinha uma ideia de quem Theodora poderia ser, ela provavelmente não era humana. Mas para ele, isso não era realmente algo importante.
“Líder, mesmo que você diga que não importa, eu preciso te falar. Eu sou o que as pessoas chamam de Medusa. Medusas são descendentes entre humanos e elfos, não importa se são Elfos Negros, Elfos da Lua ou Altos Elfos, todos os descendentes entre humanos e elfos são mestiços que são denominados por esse termo. E eu sou uma… Descendente de Elfos Negros e Humanos.”
Theodora disse com uma expressão um tanto melancólica. Porém, ao levantar seu olhar, para sua surpresa, Fernando mantinha um rosto indiferente, como se não se importasse com nada do que ela estava falando. No máximo ele demonstrou estar um pouco curioso.
Ela sorriu ao ver isso, esse era o motivo dela gostar tanto dele. Mesmo depois de dizer que não é totalmente humana, Fernando não demonstrou raiva, medo, preconceito ou qualquer sentimento negativo.
Mesmo sabendo que o povo da Vila Lunar talvez estivesse em conluiu com os Elfos Negros, Fernando ainda sim aceitou a missão e entregou comida a todos. Ela sabia que em parte, ele agia assim por não entender direito esse mundo ou por ser muito inocente, mas Theodora ainda pensava que Fernando não era igual aos outros humanos que ela conheceu.
“Lider… Eu tenho que te dizer a verdade, nós Medusas, somos mestiços que não são aceitos nem pelo povo élfico e nem pelos humanos. Como eu nasci com uma aparência idêntica aos humanos, os elfos negros me treinaram e disseram que se eu conseguisse me infiltrar entre os humanos e assassinar alguns dos seus oficiais, eu poderia ser aceita… Esse era meu objetivo antes, mas depois de conhece-lo, eu mudei de ideia.”
Pela primeira vez, Fernando ficou surpreso, ele realmente não esperava isso.
Então Theodora contou como se infiltrou entre os recrutas. Era sabido que havia certos locais desse mundo que continham Matrizes do Mundo, ninguém sabia como surgiram ou qual seu objetivo.
O que se sabia é que humanos ‘de outro mundo’ vinham dessas matrizes e eram recebidos pelos outros humanos. Essas pessoas chamadas de ‘recrutas’ eram treinadas pelas legiões.
Os Elfos Negros de alguma forma descobriram o dia e horário que a Matriz do Mundo de Vento Amarelo ativaria, então fizeram Theodora se infiltrar no terrirório e se misturar aos outros ‘recrutas’.
Se ela não tivesse conhecido Fernando, passaria alguns anos infiltrada, subindo nas fileiras e tentando ganhar a confiança de alguns Oficiais importantes, quando esse momento chegasse, ela deveria matá-los. Causando assim, uma queda na força militar e organizacional de Vento Amarelo.
Depois de ouvir tudo isso, Fernando não sabia o que dizer.
“Me contar tudo isso, não significa que você está traindo os Elfos Negros? Não tem medo que eu revele tudo isso ao Salão?” Fernando perguntou com um rosto sério.
Ouvindo isso, Theodora sorriu.
“Você não faria isso.”
“Como pode ter tanta certeza?
“Porque você é a pessoa a quem eu jurei lealdade.” Theodora respondeu com firmeza.
Fernando coçou o queixo, não sabendo como responder a isso. Ela estava basicamente entregando sua vida inteira em suas mãos.
Suspiro.
“Como eu disse antes, nada disso importa, mas não revele a mais ninguém o que me contou hoje.” Fernando disse depois de pensar um pouco.
Quando ele estava prestes a sair, Theodora o impediu.
“Ainda tem mais uma coisa que preciso dizer. Líder, se você preza pela vida do seu esquadrão, precisamos ir embora agora.”
Ao ouvir essas palavras, Fernando parou seus passos.
“O que quer dizer com isso?”
“Essa vila, é como a vila em que eu nasci. Dentro da esfera de influencia dos Elfos Negros. Não é como se as pessoas aqui fossem aliadas aos elfos, elas simplesmente são usadas por eles como iscas vivas.”
De repente, Fernando entendeu. Ele havia mandado Simon monitorar a entrada e saída da Vila Lunar, se alguem tentasse informar os Elfos Negros, Simon o capturaria.
O problema é que segundo as palavras de Theodora, essas pessoas não iriam informar os elfos, porque eles já estavam monitorando o lugar desde o início. Saber disso causou um arrepio nele.
Fernando queria questionar porque Theodora só havia informado isso agora, mas ele sabia que não tinha sentido. Antes ela estava em duvida sobre segui-lo ou se manter fiel aos Elfos Negros, só agora ela havia tomado sua decisão.
“Você consegue convencê-los a não nos atacar? Se sua missão é se infiltrar, seria contraproducente para eles atacar um esquadrão ao qual você faz parte.” Mesmo sabendo que estava pedindo demais, Fernando optou por dizer isso.
“Lider, eu não me importo de enganar os Elfos Negros, mas eu fui treinada por uma casta inferior que é diferentes desse grupo militar. Mesmo se eu revelar minha identidade, eles me veem apenas como uma peça descartável e pouco relevante.” Theodora explicou.
“Mas não precisa se preocupar, eles acham que nós iremos embora apenas amanhã, se sairmos durante a noite, poderemos fugir em segurança. Provavelmente tem apenas um pequeno grupo monitorando o entorno.”
Ouvindo isso, Fernando franziu a testa.
“Se sairmos assim, o que acontecerá com as pessoas dessa vila?”
“Não precisa se preocupar, os elfos não tem interesse em massacres indiscriminados. Contanto que não haja ameaça, eles não derramarão sangue. O alvo deles são tropas militares. Na verdade, quanto antes sairmos, mais seguras essas pessoas vão estar.” Theodora explicou.
Depois de saber disso, Fernando se decidiu.
“Vamos embora, acorde os outros sem alarmar as pessoas da vila.”
Primeiro Fernando encontrou Simon que estava oculto próximo a uma das casas da entrada.
“Senhor, se o que você diz é verdade e eles sabem que estamos aqui, sair agora é a pior escolha possível. Elfos Negros são os mestres da escuridão, lutar com eles durante a noite é loucura.” Simon disse preocupado.
“Por hora tem apenas um pequeno grupo nos monitorando, mas amanhã terá dezenas deles, temos que ir agora.”
Mesmo com as tentativas de Simon de tentar convencê-lo a esperar até o amanhecer, Fernando se manteve firme em sua decisão.
Logo, na calada da noite, o grupo se reuniu numa área vazia da vila. Alguns estavam cansados, mas depois da última experiência que tiveram. Todos estavam atentos, com a adrenalina correndo em seus corpos.
“Eu sei que todos estão cansados e que mal dormiram nos últimos dois dias, mas tem inimigos pretendendo nos atacar quando sairmos da vila amanhã. Então precisamos ir embora essa noite.” Fernando explicou, tentando transparecer calma, mesmo numa situação ruim como essa.
“Fernando, você tem certeza disso? Depois de conhecer as pessoas da Vila Lunar, não acho que sejam traidoras.” Karol falou, com um pouco de receio. Afinal, ela havia brincado com as crianças da vila e conversado com muitas pessoas, nenhuma delas parecia querer prejudicá-los.
“Independente deles vazarem informações ou não, os elfos já sabem que estamos aqui.”
“E como sabe disso? De onde veio essa informação?” Louisa questionou.
Fernando se manteve em silêncio por um momento. Ele não poderia revelar que Theodora havia dito isso, mesmo que ele aceitasse o fato de Theodora ser uma Medusa, o mesmo poderia não ser aplicado aos outros.
“Eu tenho meus métodos. Agora vamos!” Mesmo que muitos deles estivessem em dúvida, Fernando era o líder. Ele já havia se provado mais de uma vez, sendo assim ninguém se opôs às suas ordens.
Na entrada da vila, alguns homens mantinham o portão fechado, observando o lado de fora cautelosamente. Afinal, muitas criaturas tinham hábitos noturnos e costumavam atacar a vila à noite.
Assim que os homens notaram Fernando e o restante do Esquadrão Zero aparecendo em meio a escuridão, quase tiveram seus corações saltando das gargantas.
“Se-senhor, o que isso significa?!” Um dos homens perguntou, tremendo de medo.
Os outros estavam quase largando as armas e se ajoelhando.
Mesmo sendo homens fortes que conseguiam sobreviver nesse lugar, eles sabiam que havia uma grande diferença entre eles e soldados treinados.
“Abram o portão, estamos indo embora.” Fernando falou, com uma voz fria e intimidadora, sem dar qualquer explicação.
Mesmo que não passassem informações para os Elfos Negros, Liduín o chefe da vila e esses homens certamente sabiam das intenções do inimigo. Temendo represálias, eles não os informaram.
Fernando sabia que eles só visavam o bem de seu próprio povo. Por isso ele não conseguia culpá-los totalmente, mas mesmo assim, ele não seria respeitoso com quem colocasse seu esquadrão em perigo.
“Se-senhor, ainda é noite, por que estão indo embora? Se querem ir, esperem até amanhã, para conversar com o chefe Liduín, também faremos uma festa de despedidas.” O homem disse nervosamente.
Ouvindo isso, os olhos de Fernando se estreitaram. Então ele avançou, agarrando o pobre homem pelo pescoço e o levantando com uma das mãos. Com seus atributos atuais, um homem de cerca de 80kg não era tão pesado.
“Eu posso perdoá-los por manter silêncio a respeito da emboscada dos elfos, mas tentar me enganar e me fazer ficar para ser morto. Isso eu não posso aceitar.” Tanto o homem sendo levantado, quanto os outros ficaram chocados ao ouvirem isso.
Fernando apertou o pescoço dele com força, tanto que seu rosto começou a ficar vermelho e depois roxo.
“Já chega Fernando!” Karol gritou.
Ouvindo isso, Fernando largou o homem, soltando-o no chão. Apesar de tossir muito e puxar o ar tentando respirar, ele parecia bem.
“Abram o portão.” Fernando repetiu.
Dessa vez ninguém tentou convencê-lo, ou sequer disse algo. Os homens apressadamente desamarraram as cordas e puxaram as dobradiças, abrindo o portão feito de madeira.
Sem dizer uma palavra, Fernando saiu, seguido de perto pelo restante do esquadrão. Deixando os homens atordoados no local.
Depois de saírem, o grupo teve dificuldades para achar a direção que deveriam ir. Mas logo Simon e Theodora encontraram a trilha pela qual vieram.
O grupo andou apressadamente, cortando caminho pela mata escura. Muitos caminhavam com dificuldade, afinal alguns como Lina, Cintia e outros, não dominaram completamente o uso da Visão Escura que Fernando ensinou. Então quando perdiam a concentração, a habilidade parava de funcionar e tudo se tornava um breu completo.
Fernando sabia dessas dificuldades, mas não diminuiu o ritmo, eles estavam numa corrida contra o tempo.
Swish! Swish! Swish!
De repente Fernando ouviu o som de algo cortando o ar. Rapidamente ele ativou seu Disparo Neural, mas mesmo com a velocidade de processamento e reflexos melhorados, além da sua Visão Escura ativa. Ele não conseguiu enxergar os ataques vindo. Então simplesmente moveu sua espada, dependendo da sua audição.
Ting! Perfura!
No último momento ele desviou uma das flechas e a outra, que iria acertar o rosto de Ronald, foi parada por ele usando seu próprio braço. A flecha cravou em seu antebraço, atravessando de um lado ao outro.
“Ah!” Uma das flechas passou, Fernando não sabia quem foi atingido, mas torcia para que estivesse bem.
Sem pensar duas vezes ele criou cinco Flechas de Fogo, mirando na região de onde os ataques foram disparados.
Boom! Boom!
As Flechas de Fogo acertaram vários locais da mata, queimando tudo em seu caminho.
Nenhum dos ataques pareceu acertar, mas graças às chamas eles puderam ter uma visão dos inimigos. Figuras vestidas completamente de preto, com uma pele clara e cabelos escuros. Se não fossem as orelhas pontudas, seriam facilmente confundidos com humanos.
“Preciso de ajuda, o Tom, ele foi acertado no peito!” Emily gritou.
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