Capítulo 135 - Outro
“Precisamos levá-lo de volta para Vento Amarelo!”
“Não há tempo, o estado do líder é crítico. Além disso, mesmo com ele liderando, todos ainda se desgastaram tanto. Agora sem o líder e dois feridos, vai ser difícil voltar.”
“Calados! Nós vamos levar o Fernando de volta, custe o que custar!”
Vozes soavam em seus ouvidos. Algumas pareciam próximas, outras distantes.
A mente de Fernando estava confusa. Ele sentia que estava em um longo sonho, seus pensamentos não faziam sentido e seu corpo estava pesado.
Então, de repente. Tudo voltou a ficar silencioso. Apenas um longo e vazio silêncio.
Sentindo-se sufocado, queria sair dali. Ir para um lugar longe daquela escuridão.
Como se respondesse ao seu pedido, uma luz brilhou ao longe. Sem pensar duas vezes, saltou naquela direção.
Shuaaa!
…
“Ei, garoto! Garoto? Fernando!” Uma voz idosa chamou.
De repente, Fernando abriu os olhos. Olhando para cima viu o rosto de um velho senhor.
“Quantas vezes eu já te disse para não dormir aqui? Seu turno começa em 20 minutos, sem moleza!” O velho falou num tom irritado.
Sem entender o que estava acontecendo, olhou em volta. Ele estava numa pequena sala de descanso.
“S-sim senhor, e-eu apenas… V-vou me preparar.” Uma voz estranha e ao mesmo familiar soou em seus ouvidos. Era a sua própria voz!
Sem mais nem menos, ele se levantou. Sob o olhar atento do velho homem, pegou alguns papéis na mesa e caminhou para a saída.
Fernando ficou espantado com aquilo, pois percebeu que não conseguia controlar a si mesmo!
Caminhando por um longo corredor, entrou por uma porta vazia. Parecia ser o banheiro.
Espera, banheiro? Que lugar é esse? Parece até… a Terra!
De repente uma enxurrada de pensamentos passou por sua mente. Então se lembrou de sua batalha contra o Obscuro.
Não poderia ser… Que eu morri, né? Fernando falou consigo mesmo num tom sarcástico.
Antes que ele pudesse pensar mais a respeito, percebeu algo.
Ele agora estava em frente a uma pia. Ligando a torneira, encheu a mão de água e jogou em seu próprio rosto. Quando levantou-se, olhou para seu reflexo em um espelho.
Ao ver aquilo, a mente de Fernando ficou em choque. Aquele parecia ser ele, mas ao mesmo tempo não era.
Um rosto magro e extremamente pálido estava a sua frente. Longas olheiras destacavam o quanto estava cansado.
Isso normalmente não seria um problema, mas a questão é que essa pessoa a sua frente era muito magra e franzina para ser ele mesmo! Depois de tantos treinos infernais, o corpo de Fernando não era extremamente musculoso, mas era bem forte e resistente. O completo oposto da pessoa a sua frente.
“Você consegue, vamos lá!” O jovem deu dois tapinhas em seu próprio rosto, enquanto enxugava a água com uma toalha de papel.
Isso… Poderia ser que… Quando Fernando chegou a uma conclusão do que estava acontecendo, sua visão começou a ficar embaçada, logo tudo à sua frente apagou.
…
“Fer-”
Um som parecia soar distante.
“Por favor!”
“Fernando, acorda!”
De repente, seus olhos se abriram. O que o cumprimentou, foi um rosto angelical, mas o que estragava essa visão, eram as lágrimas que escorriam por suas bochechas.
Assim que viu aquele rosto, ele soube quem era. Era um rosto que acalmava e esquentava seu coração.
“Karol.” Fernando falou, depois de muito esforço.
“Fernando?!” Karol gritou, apertando forte sua mão.
“O líder acordou!” Uma voz gritou.
Sons de passos apressados puderam ser ouvidos.
Fernando tentou se mover e olhar ao redor, mas todo seu corpo doía. Com algum esforço, ele moveu sua cabeça.
Ao olhar para cima, viu vários rostos familiares. Theodora, Emily, Ronald, Noah.
“Líder, você está bem?” Theodora perguntou, ajoelhando-se próximo a Karol.
“Eu…” Fernando tentou mover seu corpo, mas a resposta foi uma dor explosiva.
“Não se mova! Nós acabamos de cuidar dos seus machucados e te dar poção de cura.” Karol falou, num tom apreensivo.
Foi então que Fernando se lembrou. Durante a luta com o Obscuro, ele havia inundado suas Veias de Mana com o mana frio da Pedra. Passando e muito do limite que seu corpo tolerava.
Checando a situação do seu corpo com sua mente, viu várias Veias de Mana machucadas e estouradas, algumas estavam tão severamente feridas, que o mana que deveria circular por elas em alta velocidade, vazava para o restante do corpo, impedindo o fluxo correto.
Fernando sorriu ironicamente ao ver isso, esse era o resultado de arriscar sua vida. Porém, apesar da sua situação precária, ele não se arrependeu.
Na verdade, os resultados eram melhores do que ele esperava, afinal, ele ainda estava vivo.
Apesar de gravemente ferido, ele sentiu que os ferimentos não eram tão ruins ao ponto de perder sua vida.
Claro, se ele fosse uma pessoa comum, certamente já teria morrido. Mas graças a sua Habilidade, Auto Regeneração, seu corpo parecia ter se recuperado em grande parte da quase morte e estava se recuperando em uma velocidade rápida.
Ao saber que não corria risco de vida, Fernando rangeu os dentes e se forçou a levantar.
Isso surpreendeu Karol e os outros.
“O que você está fazendo?!” Karol tentou impedi-lo, mas temia acabar machucando-o.
Com muito esforço ele se sentou. Observando seu corpo, percebeu que os ferimentos em suas Veias de Mana não eram os únicos.
Além de seu braço direito quebrado, a pele de seus braços e pernas, que estavam visíveis pela armadura quebrada, estavam cheios de cortes feios.
“Fernando, como você se sente? Dói em algum lugar específico?” Karol perguntou, seus olhos marejados.
Então, Fernando assentiu. Com muito esforço, levantou o braço esquerdo e apontou para os próprios lábios.
“Bem aqui, talvez um beijo resolva…” Fernando falou com um rosto sério olhando para Karol.
Todos olharam para ele perplexos.
“Parece que ele bateu a cabeça muito forte.” Noah falou com preocupação.
“Sim, claramente está confuso.” Ronald respondeu.
“Talvez ele tenha ficado retardado com a pancada.” Emily complementou.
Fernando olhou para os três com uma expressão estranha. Ele estava apenas tentando fazer uma piada para quebrar o clima pesado. Por que estava sendo tratado como idiota?
Ele finalmente percebeu o problema de ser sério demais, as pessoas não entendiam quando ele fazia uma piada.
“Seu bobo!” Karol que conhecia um lado mais pessoal de Fernando, sabia que ele estava apenas brincando, mas de qualquer forma ela se aproximou de seu rosto, beijando-o.
Todos olharam para a cena sem saber o que dizer.
“Se sente melhor agora?”
“Acho que sim…” Fernando respondeu sem jeito. Afinal, ele não esperava que ela realmente o beijasse na frente de todos.
De repente ele se lembrou de algo que o fez ficar alerta.
“Aquela coisa, o que aconteceu?”
“Está morto.” Uma voz respondeu ao longe.
Virando o rosto, se surpreendeu com a fonte. Era Helian, o Elfo Negro!
“Você!” Fernando rapidamente tentou se levantar, a presença desse Elfo Negro quando ele estava ferido era problematica. Além dele próprio, provavelmente apenas Theodora conseguiria trocar alguns golpes com o mesmo.
“Fernando, espera! Ele nos ajudou!” Noah falou, interrompendo-o.
“Tsc, mesmo que eu tenha salvo sua vida, ainda pensa em me atacar? Vocês humanos são o pior tipo de escória.” Helian falou em tom de desprezo.
Fernando ficou surpreso ao ouvir isso, o que eles queriam dizer com tudo aquilo?
Então Karol e os outros contaram, que a pessoa que havia lançado as últimas flechas, impedindo o ataque derradeiro do Obscuro, havia sido ele. Não só isso, mas o Elfo Negro até havia dado uma poção de cura especial a eles que foi a responsavel por faze-lo acordar e se recuperar tão rápido.
Ouvindo isso, Fernando não sabia o que dizer.
Ele queria falar algo, mas o elfo apenas saiu, sentando-se ao longe, ao lado da outra elfa, Avic.
Depois de cerca de uma hora, conversando com os outros. Fernando soube que depois que desmaiou, todos haviam pensado que ele tinha morrido na explosão de fogo.
Mas Theodora havia saltado nas chamas e o tirado de perto dos restos mortais do Obscuro.
Normalmente chamas puras feitas de magia não ferem seu usuário, mas se as mesmas consumirem algum tipo de matéria além do mana, a situação seria completamente diferente.
Se Theodora não tivesse o tirado de lá a tempo, Fernando teria sido queimado vivo junto ao Obscuro.
Olhando para os braços de Theodora, viu que havia longas marcas de queimadura.
“Bem… Obrigado.” Fernando disse em direção a ela.
Theodora apenas sorriu com o agradecimento de Fernando.
Karol olhou para a cena com a testa franzida, ultimamente essa mulher vinha agindo muito estranho perto dele. Sua personalidade não era como antigamente. Pelo menos não quando lidava com Fernando.
Depois de conversar por mais algum tempo, Fernando soube que além dele próprio e de Kelly e Emily que ficaram enfraquecidas por usarem muito mana, mais ninguém se feriu.
Perguntando sobre Tom, soube que ele também já estava muito melhor, o que o deixou aliviado.
Após esse longo período de descanso, ele finalmente tentou se levantar. Apesar dos ferimentos e da dor que quase fazia algumas lágrimas escaparem, ele conseguiu se firmar.
Todos não conseguiram evitar de olhar para Fernando como se ele fosse um monstro. Alguém à beira da morte, já estava se levantando algumas horas depois.
Até mesmo Helian e Avic, os dois Elfos Negros, ficaram sem palavras.
Vendo Fernando caminhando em sua direção, Helian se levantou.
“Você é bem resistente para um humano.”
Fernando não respondeu imediatamente, mas olhou para a garota élfica, Avic. O local que deveria estar sua mão, estava enfaixado. Ele sabia como isso ocorreu, afinal, foi quem havia decepado a mão dela.
Helian percebeu Fernando olhando para a mão de Avic e franziu a testa.
“Eu matei um dos seus, cortei a mão da sua amiga e até o sequestrei. Então isso não sai da minha mente, por que me salvou?”
Ao ouvir as palavras de Fernando, a temperatura pareceu cair alguns graus, o clima entre ele e os dois elfos ficou imediatamente tenso.
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