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    Os olhos de Fernando moveram-se lentamente, encarando Dakota de canto de olho. Não houve palavras, nem ameaças, mas ela sabia o que aquele olhar significava.

    Nesse momento, Dakota sentiu seu corpo tremendo. Ela não sabia ao certo como, mas sentiu uma sensação de perigo vindo desse jovem.

    Era algo surreal para ela, uma Subtenente, acreditar, mas olhando aquele par de olhos gelados travando-a, sentiu como se não pudesse escapar dele.

    O que é isso? Desde quando um Cabo consegue emitir esse tipo de sensação?? Dakota pensou consigo mesma.

    “Hahaha, estou só brincando com você. Se eu quisesse a Medusa morta, ela estaria morta.” Dakota falou, tentando rir, mas seu corpo ainda estava tremendo. O que a deixou intrigada.

    Apesar das palavras de Dakota, o olhar de Fernando se manteve nela, como se estivesse a avisando.

    “O que é isso, Fernandinho? Por que está tão sério? Pensei que você gostasse da Karolzinha, por que se importa tanto com aquela Medusa?”

    Fernando desviou o olhar de Dakota, dando alguns passos e se sentando confortavelmente na poltrona.

    “Qualquer um que tocar em um dos meus, morre.” Fernando falou, seu tom frio não parecia combinar com sua atitude casual.

    Isso fez Dakota ficar vigilante, essa atitude junto a esse modo de agir. Ela quase sentiu que Fernando estava a ameaçando diretamente, mesmo sendo uma Subtenente.

    “Subtenente Dakota, você é o braço direito da minha professora, por isso vou relevar suas palavras hoje, mas espero que isso não se repita no futuro.”

    Dakota, que sempre estava de bom humor, estava estranhamente quieta. Ela não conseguia entender como um mero Cabo causava uma sensação tão ruim a si própria. 

    Desde que chegou a esse mundo, ela havia matado muitos, sejam homens ou mulheres. Desesperada e mergulhada em loucura, tudo que ela sabia era ceifar vidas. Foi isso que esse mundo a ensinou e forçosamente isso foi incutido em seu ser.

    Tudo mudou quando ela conheceu Gallia, que na época era uma Subtenente.

    Depois de ser expulsa da Legião que a recebeu, por ter um ‘talento insuficiente’. Dakota foi forçada a viver por conta própria. Vivendo nos subúrbios de uma pequena cidade, ela mal conseguia alimentar-se o suficiente para sobreviver, vivendo de restos que os restaurantes descartavam.

    Quando as rotas de comércio foram interrompidas pela guerra entre as duas Legiões dominantes da região, a fome se abateu sobre toda a pequena cidade. Os restaurantes que antes descartavam restos, não tinham mais nada a descartar.

    Chegando ao fundo do poço, ela sobreviveu vendendo seu próprio corpo aos guardas. Os únicos que ainda tinham grande quantidade de alimentos estocados. Porém, isso não durou muito tempo, conforme a guerra se tornava violenta, as repercussões chegavam à pequena cidade. 

    Os antigos guardas que antes a visitavam, foram enviados ao campo de batalha e nunca retornaram. Desesperada, sem saber o que fazer, ela chegou a última etapa de decadencia de um ser humano, assassinato.

    “Eu… Quero voltar pra casa… Eu quero voltar pra casa!! Mãe, me ajuda! Eu não queria!” Dakota gritou, enquanto olhava para suas mãos encharcadas de sangue.

    No chão, estava uma velha senhora, inerte, seus olhos ainda encaravam-na, sem acreditar no que houve.

    Desde aquele dia, a mente de Dakota quebrou. 

    Após isso, ela matou e matou, dia após dia. Até que as lágrimas secaram e o sentimento de culpa se foi. 

    Com os anos, sendo perseguida pelas autoridades, sua força aumentou e ela acabou se envolvendo com grupos de assassinos. Aceitando trabalhos para matar pessoas em troca de dinheiro.

    Devido a melhora de sua força, Dakota se sentia muito confiante, alguns velhos assassinos diziam que ela estava quase no nível de um Subtenente. Isso inflou seu ego, então aceitou um trabalho que normalmente jamais aceitaria, assassinar um Subtenente de uma Guarnição.

    Viajando para a Cidade-Fortaleza de Vento Amarelo, ela começou a sondar o lugar. Depois de descobrir a localização de seu alvo, deu início ao seu plano.

    Durante a noite, facilmente conseguiu esgueirar-se até a casa de sua vítima, com seu nível, pequenos guardas jamais a notariam. Entrando num quarto escuro, encontrou seu alvo em um sono profundo.

    Era uma linda mulher de cabelos prateados, deitada em sua cama de lençóis brancos e macios. Ver aquela mulher, dormindo tão bem e de forma tão inocente, enquanto ela própria tinha que viver na lama, fez com que Dakota enlouquecesse.

    Sem pensar duas vezes, atacou com sua adaga.

    Ting!

    Sua lâmina foi parada por algo em pleno ar, olhando mais de perto, era uma pequena e fina camada de gelo. Voltando seu olhar para a garota na cama, se deparou com um par de olhos azuis claros a encarando.

    Antes que pudesse tomar qualquer atitude, foi encapsulada por anéis de gelo, obrigando-a a se ajoelhar.

    “Você é a primeira pessoa que consegue chegar até meu quarto. Interessante.” A garota de cabelos prateados disse, se levantando.

    Dakota estava em pânico, pois sabia que se essa mulher quisesse, poderia matá-la num piscar de olhos. Mas ao lembrar de tudo que passou nos últimos anos, pensou que talvez uma morte rápida não fosse tão ruim. Ela estava cansada da vida de assassinatos.

    Vendo a expressão serena e aliviada da mulher loira, a garota ficou surpresa.

    Encarando-a com seu par de olhos azuis, ela se abaixou.

    “Você é forte, é raro encontrar uma mulher forte. Aceitou um trabalho para me matar, certo? É difícil encontrar uma mulher com sua força que não sirva a alguém. Então vou te dar duas opções, você jura lealdade a mim, ou eu te liberto do seu sofrimento.” A garota disse, seus olhos azuis claros refletiam a leve luz da lua.

    Naquele dia, Dakota conheceu alguém que mudou sua vida.

    Olhando para os olhos frios de Fernando, Dakota não conseguiu evitar se recordar dos olhos de Gallia naquela noite. Ela não sabia exatamente como, mas a sensação que sentia era a mesma. 

    Depois de um breve silêncio, Dakota sorriu.

    “Você é talentoso Fernando, muito talentoso. Eu entendo porque minha mestre o aprecia tanto, mas deixe-me dizer uma coisa. Se você prejudicar minha mestra, eu não vou hesitar em matar você, a sua garota, aquela Medusa ou mesmo seu esquadrão inteiro. Minha vida é dedicada apenas a ela, nada mais.” Dakota que antes estava trêmula, agora estava firme e confiante.

    Fernando franziu a testa ao ouvir isso, ele não sabia o que dizer. De certa forma, Dakota era tão leal a Gallia, que beirava a loucura. Mesmo com essa ameaça direta, ele ainda mantinha sentimentos conflitantes, afinal, tudo que ela fazia era por sua professora.

    “Eu não vou prejudicar sua Medusa, já que você parece ter conseguido domá-la. Mas tome cuidado com o Salão e a Legião, eles não são tão mente aberta quanto eu. Até mais Fernandinho.” Depois de dizer essas palavras, a sala escureceu e Dakota sumiu em meio às sombras.

    Fernando suspirou consigo mesmo. Apesar da ameaça e da fala ‘torta’, sabia que ela estava indicando que fosse cuidadoso.

    Depois do interlúdio com Dakota, ele perdeu qualquer vontade de treinar. Então voltou ao seu quarto para descansar.

    Nos dias seguintes, Fernando acabou seguindo uma rotina de treino intensivo. Focando em treinar seu corpo e magias, enquanto pensava em como prosseguir com a formulação da sua habilidade auto-criada.

    Ele havia pensado em diversas coisas e métodos, fazendo alguns testes de viabilidade, mas todas suas ideias falharam.

    “Onde eu estou errando?” Fernando se perguntou com um rosto carrancudo.

    Inicialmente imaginou que seria simples criar uma nova habilidade, mas a realidade se provou ser mais desafiadora do que ele pensava.

    “Isso também não.” Fernando disse, depois de falhar mais uma vez. Ele havia tentado criar uma variação da Visão Noturna, mas que focasse em detectar os traços de calor.

    Após falhar tantas vezes, seu corpo se sentia exausto, afinal havia repercussões. Cada falha infringiu uma série de ferimentos em seu corpo.

    Enquanto estava pensativo, checou o horário, foi então que Fernando se lembrou de algo.

    Entrando na mansão, viu os membros do esquadrão se preparando para sair.

    “Simon, um momento!”

    Simon, que estava prestes a sair junto aos outros, parou, intrigado.

    “Precisa de algo, líder?”

    “Hoje você não vai treinar com os outros, preciso que me acompanhe até um lugar.”

    Simon ficou surpreso, era raro Fernando fazer algo além de treinar sozinho, mas apesar disso concordou.

    “Se eu puder perguntar, onde vamos?” Simon perguntou, com alguma curiosidade.

    “Vamos a uma reunião.” Fernando respondeu, sem explicar muito.

    Só agora ele havia se lembrado que tinha aceitado um convite do Ferreiro Negro. Felizmente ele se lembrou cedo, enquanto a reunião era à tarde.

    O motivo de escolher Simon para segui-lo, é por ele ser um homem experiente e que serviu por muitos anos, conhecendo muitas coisas.

    Fernando não se considerava alguem burro, na verdade, sabia que era alguem relativamente inteligente. Porém, havia coisas que demandam experiência e astúcia. 

    Ele não sabia porque foi ‘convidado’ para essa reunião e muito menos seu propósito. Então levar alguém com algum conhecimento sobre a situação de Vento Amarelo, parecia ser uma boa ideia.

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