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    Após retornar a Décima Terceira, Fernando reuniu os civis que resgatou da Guilda Massacre. Apesar de alguns estarem desconfiados em relação a si, todos sabiam que deviam suas vidas a ele.

    Vendo os olhos hesitantes de alguns, ele sabia exatamente o motivo para isso. Alguns estavam ansiosos a respeito do seu futuro, o mais comum seria expulsá-los, deixando-os por conta própria. Na verdade, isso era o que muitos acreditavam que ia acontecer após serem convocados de forma tão abrupta.

    Além destes, outros mantinham alguma desconfiança devido ao episódio durante a batalha. Quando foram pegos de reféns, Fernando não hesitou em usar sua magia. Se não fosse o restante do esquadrão chegando, todos sabiam que teriam sido mortos pela magia desse jovem Cabo. Isso deixou alguns com muito medo e receio.

    Passando os olhos pela multidão, avistou a garota que o Cabo inimigo ameaçou matar, a menina nem conseguia levantar o rosto e olhar em sua direção devido ao trauma. Seu irmão mais velho estava ao seu lado, a confortando. 

    Isso fez Fernando suspirar consigo mesmo, mas apesar de se sentir mal, não se arrependia. Se fosse para escolher entre um aliado e desconhecidos, sempre escolheria as pessoas próximas a si mesmo.

    Como sua segunda em comando, Theodora estava ao seu lado. Organizando a multidão.

    “Atenção, o líder tem um anúncio a fazer, façam silêncio!” Algumas poucas palavras de Theodora fizeram a multidão que antes estava cheia de burburinhos e cochichos, silenciar-se. Isso era o quanto as pessoas a temiam. Mesmo passando poucos dias ali, a reputação dela já havia chegado a seus ouvidos.

    Com todos os olhos voltados para si, Fernando deu um passo à frente. Isso o fez se lembrar de seu passado, antes o jovem garoto que mal conseguia falar em frente a um pequeno grupo, agora conseguia falar para uma multidão.

    “Como todos vocês devem saber, eu e meu Esquadrão Zero resgatamos vocês da Guilda Massacre e os trouxemos em segurança até Vento Amarelo. Isso por si só já representa uma grande ajuda, algo que quase nenhum outro esquadrão teria feito.”

    As pessoas abaixo não discordaram, mesmo que parecesse ser alguém contando vantagem, sabiam que era a realidade. Nesse mundo cruel, as pessoas não ajudariam outras apenas por ajudar, no mínimo sempre teriam interesses por trás. Mas o Esquadrão Zero não só os resgatou, como ofereceu abrigo e alimentos, sem pedir nada em troca, mesmo que alguns tivessem certos receios, eram gratos.

    “Eu sei que no momento vocês não têm para onde voltar, nem como reerguer sua antiga vila sozinhos, falei com os superiores da Décima Terceira em busca de uma solução para a sua situação, porém… Eles negaram sua estadia aqui.” Mesmo que já esperassem, muitos tinham expressões de desespero depois de ouvirem isso. Principalmente os homens e mulheres mais maduros, que sabiam do terror que era tornar-se um nômade.

    Nômades eram as pessoas que não tinham um lugar para fixar-se, sendo obrigados a andar por aí por conta própria. O resultado para isso na maioria dos casos era um só, morte. Criaturas, bestas e bandidos vagueavam por todos os lugares, era apenas uma questão de tempo para pessoas sem apoio morrer.

    “Meu senhor, eu imploro. Por favor, cuide pelo menos das crianças.” Olek, um dos homens mais velhos e com quem Fernando conversou antes, disse num tom alto, ajoelhando-se.

    Os jovens, garotos e garotas de baixa idade, entre 12 e 16 anos, eram nove. Um número muito mais fácil de lidar do que uma multidão de quarenta bocas para alimentar. Sabendo disso, Olek desistiu de apelar por todos e decidiu focar-se apenas nos jovens.

    “Por favor, Cabo Fernando!” Valeria, a antiga filha do líder da vila, também ajoelhou-se.

    Vendo isso, os homens e mulheres atrás deles tinham uma mistura de expressões, alguns com medo, outros com expressões resolutas e alguns pareciam não concordar em pedir para apenas os jovens serem abrigados. Mas apesar das divergências, todos se ajoelharam.

    Todos os membros do Esquadrão Zero ficaram surpresos com a cena. Alguns pareciam comovidos, enquanto outros eram indiferentes. No fim, todos os olhares se voltaram para um único indivíduo, aquele que tinham o poder de decidir o destino de todas essas pessoas.

    Fernando coçou a cabeça, ele já havia planejado não expulsá-los, mas resolveu criar alguma ‘tensão’ proposital. Isso porque, quando as coisas vinham fácil demais, as pessoas tendiam a ficar preguiçosas e desleixadas. Ele não queria um bando de gente escorando-se nele, então decidiu deixá-los alertas para que se esforçassem, trazendo pelo menos algum retorno do que seria investido para pagar seus salários.

    “Os senhores devem saber que não é fácil manter tantas pessoas, eu sou apenas um simples Cabo, então não tenho autoridade para mantê-los na Décima Terceira.” ouvindo até aí, muitos entraram em desespero.

    “Porém, conversei com alguns amigos e consegui chegar até uma solução favorável. Eu estarei contratando todos aqueles que quiserem trabalhar na construção da ferrovia Linha Negra. Vocês terão comida, abrigo e um salário. Não posso garantir totalmente sua segurança, já que é do lado de fora da cidade, mas é o melhor que tenho a oferecer. Claro, aqueles que não quiserem, são livres para partir.”

    As expressões desiludidas das pessoas mudaram ao ouvir a proposta.

    “S-senhor, se me permite, quanto seria o salário?” Um dos rapazes disse. Todos voltaram-se para ele com olhos furiosos, só conseguir abrigo e alimento já era mais que satisfatório para a maioria deles, tentar negociar um salário já era abusar da sorte.

    Fernando não parecia irritado com a pergunta, na verdade, ele tinha pensado muito nisso e estava feliz que alguém perguntou a respeito. Como não queria chamar muita atenção, não queria pagar um salário alto demais, mas também não queria deixá-los viver com uma quantia muito baixa.

    Depois de conversar com Lian, Fernando soube do salário médio que trabalhadores não-combatentes recebiam. Com exceção de pessoas com habilidades especiais ou grande conhecimento, a maioria dos trabalhadores comuns recebia entre 1 e 5 moedas de prata por mês, alguns em situação mais precária, mal ganhavam algumas dezenas de moedas de bronze.

    Ao saber disso, ficou chocado. Deve-se saber que recrutas ganham 10 moedas todos os meses. Isso era o quanto as legiões valorizavam o treinamento militar e a busca por talentos.

    “O salário daqueles que estiverem dispostos a trabalhar para mim, será de 5 moedas de prata por mês.”

    As palavras de Fernando soaram como um trovão para a multidão, muitos estavam incrédulos com o valor. Era o melhor salário que as pessoas comuns poderiam ganhar.

    “Senhor Fernando, não vamos decepcioná-lo!” Olek disse, com um rosto emocionado.

    “Vamos sempre ser gratos ao senhor!” Logo outras pessoas agradeceram, acabou sendo necessário que Theodora e os outros intervissem para que as pessoas se acalmassem.

    Depois de acertar os detalhes finais, Fernando mandou todos os homens e mulheres adultos, totalizando 31 pessoas, para a loja do Ferreiro Negro. Lian ficaria encarregado de cuidar deles.

    Enquanto os mais jovens, resolveu manter na mansão, ele não achava adequado mandar crianças fazerem um trabalho tão pesado. Além de ser muito perigoso do lado de fora, então atribui que os mesmos cuidariam dos afazeres domésticos da mansão, que antes ficavam a encargo dos guardas e membros do esquadrão.

    Algum tempo depois, com tudo resolvido, Fernando suspirou aliviado, então começou a resolver outros problemas. 

    Sentando na poltrona da mansão, duas pessoas estavam a sua frente, enquanto Karol e Theodora estavam ao seu lado.

    “Err, senhor Fernando, por que nos chamou aqui?” August perguntou, num tom apreensivo. Zavus, que estava ao seu lado, mantinha a mesma expressão. Afinal, ambos presenciaram-no contratando dezenas de pessoas. Se por causa disso ele começasse a cortar gastos, os guardas seriam os primeiros a sofrer.

    “August e Zavus, vocês dois tem me servido por algum tempo agora. De certa forma, posso dizer que ambos são confiáveis e leais a mim, certo?”

    Os dois homens ficaram confusos com as palavras de seu chefe, mas rapidamente concordaram.

    “Absolutamente senhor!”

    Ouvindo isso, Fernando manteve um rosto sério, então perguntou.

    “Se inimigos muito mais fortes que vocês sitiassem minha mansão, o que vocês fariam?”

    August ficou pensativo com a pergunta abrupta, enquanto Zavus não parecia ter o que pensar e respondeu de imediato.

    “Lutariamos até o fim, é claro!” ouvindo a resposta de seu amigo, August concordou. O dever de um guarda era proteger um território e seu contratante, mesmo que tivessem que morrer no processo.

    Diferente dos membros do Esquadrão Zero, que tinham passado por uma série de provas de vida ou morte ao seu lado, Fernando não tinha como ter absoluta certeza que outras pessoas não o trairiam. Por isso sempre estava receoso quanto a pessoas de fora.

    Mas vendo como a força do esquadrão estava aumentando, dia após dia, os guardas estavam tornando-se nada mais que ornamentos. Cuidando apenas da limpeza e outros assuntos ligados à mansão. Isso o desagradou muito, então resolveu dar um voto de confiança e corrigir essa situação.

    Mesmo não estando totalmente convencido com as palavras dos dois homens, era indiscutível que ambos estavam se esforçando em seus afazeres. Além disso, sentiu que devia muito a eles, já que sem a Pedra de Mana, ele talvez não tivesse chegado onde estava agora. Então com um movimento de pulso, retirou algumas Poções Incrementadoras Fauser.

    “Peguem.”

    Theodora e Karol ficaram surpresas com as ações de Fernando.

    “Isso… Isso é…” Mesmo que fossem pessoas de baixo escalão entre os guardas, como veteranos, eles já tinham visto e ouvido falar dessa poção. Afinal, melhoravam muito a força de alguém, porém com o preço elevado, comprar mesmo uma era apenas um sonho. Uma única Poção Incrementadora Fauser, equivalia a 12 meses de seus salários.

    “A partir de hoje, vocês são meus homens leais, com isso aqui, vocês devem melhorar sua força pessoal e do corpo de guardas do Esquadrão Zero.”

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