Capítulo 282 - Alto escalão

Na manhã seguinte, depois dos vários rumores positivos sobre o Batalhão Zero, muitas pessoas apareceram no local de recrutamento. Isso somado aos boatos sobre os membros mais destacados do Batalhão receberem Poções Incrementadores Fauser fez com que uma multidão se formasse do lado de fora do alojamento, aguardando o processo de recrutamento começar novamente.

A fila com mais de trezentas pessoas chamou a atenção de muitos na cidade, o que atraiu ainda mais gente. Muitos eram ex-membros de Guildas, alguns aventureiros solitários, mercenários e até mesmo civis.

Além desses, pessoas de outros batalhões também apareceram, na maioria batalhões que tiveram seus Subtenentes mortos em batalha. Algumas pessoas também eram admiradoras dos membros do Batalhão Zero. Aqueles que viram sua força pessoalmente estavam extremamente impressionados.

Dentro do alojamento, os principais membros do Batalhão estavam reunidos. Gabriel, Theodora, Ilgner, Noah, Tom, Ronald, Karol, Emily, Kelly, Lance, Archie, Lina e muitos outros. Fernando já havia decidido que os membros originais do Esquadrão Zero seriam os alto escalão do Batalhão Zero.

“Tem muitas pessoas lá fora e mais estão chegando a cada minuto, nesse ritmo a quantidade de candidatos vai superar as vagas livres que temos. Então precisamos decidir agora formas de peneirar esse pessoal e recrutar os melhores.” Noah falou, com um rosto sério.

“Huh, é só vermos os atributos deles, os com os melhores atributos pegamos, o resto mandamos embora, não precisamos de gente inútil…” Emily falou, como se fosse a coisa mais simples.

“Não é tão fácil assim. Precisamos de pessoas confiáveis, não um bando aleatório com atributos melhores que a maioria.” Lance retrucou.

Muitos concordaram com esse ponto de vista.

“Se pudermos pegar pelo menos os experientes já é de grande valia. Não que eu tenha algo contra recrutar civis, mas ter que treinar um bando de novatos em plena guerra… Não me parece uma boa ideia.” Ronald disse.

“Isso não é justo, muitas dessas pessoas estão apenas procurando uma oportunidade. São pessoas comuns que vivem nesse mundo perigoso, se não estendermos a mão, quem fará?” Karol disse, com um rosto irritado pela visão superficial dos outros.

“Ingênua.” Theodora disse, com um meio sorriso de deboche. “Em Avalon apenas os mais aptos e mais fortes sobrevivem. Os fracos não têm direito a escolher. aqui não há espaço para coisas como compaixão e piedade.”

Todos ficaram em silêncio com as palavras da mulher. Mesmo que quisessem discordar, a realidade havia se provado por muitas vezes que Theodora estava certa.

Mesmo Ilgner não falou nada contra. Como alguém que já seguiu o caminho de ajudar os fracos na Guilda Guarda-Chuvas, sabia que esse era um caminho árduo e ingrato. Nem sempre aqueles que foram ajudados se sentiriam agradecidos. Na verdade, em momentos de crise, algumas dessas pessoas seriam as primeiras a fugir.

Com essas palavras, todos chegaram a um impasse sobre a forma de avaliação dos novos membros do Batalhão. Muitos viraram seus olhares em direção a Fernando, que estava sentado no centro da sala, numa cadeira, aguardando sua opinião a respeito.

Com todos os olhares em sua direção, Fernando suspirou consigo mesmo. Se possível ele esperava que os outros chegassem a um consenso sem sua interferência.

“O que Emily disse não está errado, mas também não está totalmente certo. Atributos são importantes, mas não o principal, isso pode ser resolvido com o tempo. Devemos focar na experiência e personalidade dos candidatos.” disse, como se pensasse em algo “Lina e Noah, vocês serão responsáveis por preparar e aplicar um questionário visando identificar a personalidade do entrevistado, rejeitem qualquer um que tenha tendências individualistas. Ilgner e Theodora, vocês serão responsáveis pelo teste de experiência, dêem preferência a quem está acostumado ao combate, mas não rejeite totalmente os novatos. Gabriel e Ronald ficarão encarregados de analisar os atributos e ver os mais talentosos. Quanto ao restante, organize a multidão e ajude como puder.”

Nem todos ficaram totalmente satisfeitos com os métodos de Fernando, mas mesmo assim ficaram impressionados com a triagem tripla que ele determinou. No geral os indivíduos deveriam passar por três testes, entrevista, atributos e combate. Dessa forma, todos os pontos fortes e fracos seriam avaliados.

Com a decisão tomada, todos começaram os preparativos, saindo da sala para cumprir com suas obrigações. Entretanto, antes de saírem, Fernando chamou alguém.

“Karol, você fica.”

Ouvindo isso, Karol parou em seus passos. Todos olharam para o casal, mas não deram atenção.

“Parece que temos uma aluna malvada aqui que vai ser disciplinada pelo diretor com cara de mal.” Lance brincou.

Muitos reviraram os olhos com isso.

“Cala a boca.” Ronald exclamou, enrolando seu braço em torno do pescoço do sujeito e puxando-o para fora.

“Ei, ei, calma, calmai!”

No fim, todos saíram, exceto por Karol e Theodora.

Vendo isso, Fernando levantou uma sobrancelha.

“Precisa de algo?”

Theodora levantou a mão até o queixo, apoiando um de seus braços sob o seio e o outro sobre o braço apoiado.

“Não é óbvio líder? Eu também sou uma menina má, também preciso ser punida.”

Apesar de já esperar por algo assim, Fernando ainda não conseguiu evitar de suspirar consigo mesmo.

Quanto a Karol, franziu a testa, mas não disse nada. Já estava acostumada às ações ultrajantes de Theodora. Na verdade, não era só Fernando, mesmo ela recebia cantadas estranhas da mulher, que causavam-lhe um certo arrepio, já que ela não tinha interesse em mulheres.

“Diga de uma vez, o que você quer.” Fernando tornou a falar.

Vendo que seu líder estava impaciente, Theodora sorriu de forma brincalhona, mas então seu sorriso lentamente desapareceu, quando ficou séria.

“Para onde você enviou Argos?”

Ouvindo isso, Fernando ficou calmo. Ele já sabia do descontentamento de Theodora em recrutar o homem.

“Ele está em uma missão, em suma, precisaremos de recursos em breve e ele está me ajudando a reuni-los.”

Theodora franziu a testa com isso, algo incomum por parte da mulher.

“Líder, não confie demais nesse homem. Se tiver alguma missão importante, basta me enviar.”

Fernando não sabia como lidar com Theodora às vezes. Por mais estranha que a mulher fosse, sua lealdade e dedicação a ele superaram em muitos os outros.

“Há coisas em que você é boa e há coisas em que ele é bom. Não há necessidade de inverter os papéis.” Vendo que Theodora não estava convencida com suas palavras, continuou. “Eu sei que Argos é egoísta e às vezes sorrateiro, mas é isso que o torna confiável. Ele preza pela própria vida mais do que juramentos e lealdade, então não vai me trair, pelo contrário, como sua vida está em minhas mãos, ele irá tentar me ajudar com o máximo de suas habilidades, já que isso o beneficia também.”

Tanto Theodora, quanto Karol ficaram surpresas com a análise fria e calma. Nesse momento, ambas as mulheres perceberam que o jovem e ingênuo Fernando estava aos poucos se tornando um homem inteligente e perspicaz.

Depois de receber sua resposta, Theodora sorriu, então saiu da sala. Ela havia entendido que seu líder não precisava de ajuda para lidar com aquele homem.

Após a saída de Theodora, apenas Fernando e Karol permaneceram no local.

“Então…” Karol disse, meio ansiosa. Apesar de ambos serem namorados e amantes, quando se tratava de assuntos militares, Fernando parecia sempre assumir uma postura mais rígida.

“Venha comigo.” disse, saindo da sala e indo para a área de treinamento dos fundos do alojamento.

Karol não sabia o que Fernando queria, mas seguiu de perto.

Ao chegar no campo de treinamento, parou.

“Quero que veja algo.” disse, então moveu o dedo calmamente.

Assim que o fez, um vórtice surgiu a poucos metros.

“Isso…” Karol ficou estupefata. Ela obviamente sabia o que era aquilo.

Logo uma criatura enorme saiu de dentro do vórtice.

“Mestre.” Brakas disse, ao sair do vórtice. Assim como antes, Fernando não pôde deixar de ficar surpreso com o tamanho do Beholder.

“Estão prontos?” disse, com um rosto calmo.

O grande olho do Beholder, bem como os olhos em seus tentáculos olharam seu jovem mestre de forma atenta.

“Estão prontos para uso.” A voz envelhecida soou.

Fernando assentiu, então moveu o dedo novamente. Logo o vórtice surgiu novamente, então uma sombra foi cuspida da escuridão. Não parando por ai, mais nove sombras foram arremessadas. Uivos tristes soaram assim que tocaram o chão.

Karol ficou estarrecida, dez lobos prateados estavam à sua frente.

Fernando também ficou surpreso, mas por outro motivo.

“Por que são tão pequenos?” perguntou franzindo a testa. Os dez Lobos Prateados eram os antigos filhotes que ele capturou nas planícies próximas a Vento Amarelo. O problema é que Lobos Prateados eram enormes, maiores que uma pessoa, mas esses tinham o tamanho no máximo de cães normais.

“Hahaha, mestre, não se preocupe. Apenas usei uma antiga magia de redução corporal. Afinal, com o pequeno espaço dentro do Anel de Aprisionamento, como eu iria lidar com essas coisas gigantes? Meu próprio corpo tem crescido rapidamente com o mana que você fornece. Alias mestre, o mana puro que você me manda as vezes, é simplesmente incrível!”

Ouvindo isso, Fernando franziu a testa. Como Brakas se alimentava de mana, ele precisava rotineiramente enviar poções de mana para o Beholder. Entretanto, isso era algo caro e dispendioso, então num determinado ponto pensou em algo diferente. E se ele simplesmente usasse o mana da Pedra de Mana ou da Espada Formek e o enviasse diretamente para o anel?

Talvez tenha sido o mana da Pedra ou da Espada que o fizeram mudar tanto? pensou, cheio de dúvidas.

Vendo que Fernando não parecia interessado em falar a respeito, um dos olhos nos tentáculos de Brakas brilhou com um tom roxo. Então dez feixes de luz foram lançados em direção aos Lobos Prateados.

“UOooohhh!” Os Lobos uivaram de dor, mas não resistiram. Logo os animais, que pareciam apenas um pouco maiores que cães normais, começaram a crescer em frente aos olhos dos três. Logo se tornaram tão grandes quanto cavalos.

Magia pode fazer até isso? Fernando se perguntou, maravilhado.

Por muitas vezes tentou aprender algumas coisas com Brakas, mas a forma que a magia de um Beholder era usada, era fundamentalmente diferente da de um humano. Não só isso, mas na época em que tentou, Fernando ainda era muito fraco para fazer testes relevantes.

Eu deveria tentar algumas coisas depois… pensou.

“Como você pediu, aqui estão mestre. Dez Lobos Prateados treinados e adestrados. Eu os enfeiticei e fiz uma completa lavagem nas mentes deles, é impossível se revoltarem ou tentarem atacá-lo.” Brakas disse, cheio de orgulho.

Fernando ficou um pouco atordoado, de certa forma a parte de ‘lavagem cerebral’ soou um tanto quanto maligno.

“Fernando, afinal, o que é isso?” Karol perguntou, ao ver os animais gigantescos. Sentiu que as criaturas não eram tão simples quanto Lobos Prateados comuns.

Fernando olhou para Karol, então sorriu com um leve sorriso.

“Essas são as montarias do seu novo Esquadrão.”